• Nenhum resultado encontrado

As Redes, as Redes Sociais e a Sociedade em Rede

No documento Download/Open (páginas 39-45)

CAPÍTULO I: O PROCESO COMUNICACIONAL NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

Necessidadesfisiológicas:

3. As Redes, as Redes Sociais e a Sociedade em Rede

Uma rede, seja ela qual for, é sempre constituída por nós e arestas através das quais os nós se interligam. Cada aresta possui apenas dois nós, porém cada nó pode ter múltiplas arestas.

A Figura 02, segundo Recuero (2009, p19) consiste na representação gráfica do primeiro conceito de rede, o Teorema dos Grafos. Essa teoria foi apresentada pela primeira vez em 1736 pelo matemático Lenoard Euler e é utilizada na tentativa de entender o comportamento de diversos sistemas. No campo das ciências sociais foi apropriada com o intuito de entender o comportamento de um indivíduo em sociedade, ou seja, como uma pessoa pertencente a uma determinada rede social (um nó) se interliga e se interage com outros indivíduos pertencentes à mesma rede (outro nó) através de processos comunicacionais (uma aresta).

Figura 02: Representação gráfica do Teorema dos Grafos

40 Para Barabási (2002, p.87) a descentralização e a liberdade de comunicação entre cada um dos nós são as características principais dessa forma de agrupamento. Pela rede não ter um centro definido e pelos nós não terem um crescimento ordenado, sempre que um determinado nó se articula com outro através de arestas, a rede se expande promovendo novos caminhos dialógicos e garantindo maior força e representatividade à rede, como observa-se na Figura 03.

Figura 03: O Nascimento de uma rede de interação livre

Para Barabási (2002, p.87)

Por possuírem esse modelo de articulação livre, as redes não são dependentes de um determinado nó, conseguindo manter-se comunicativas mesmo com a inexistência de algum de seus elementos. É essa característica livre que garante às redes perenidades e aos usuários a condição ativa de produtores e disseminadores de conteúdo, inclusive a propaganda.

Dessa forma, o conceito de Sociedade em Rede emerge com o intuito de caracterizar uma sociedade que permite ligação e interação livre e direta entre todos os seus membros e setores sociais. Além disso, ela é compreendida como uma sociedade em constante crescimento e desenvolvimento, uma vez que sua evolução é garantida pelo acoplamento de novos nós à sua rede e pela construção de novas arestas que se interligam aos nós já existentes, sempre de forma independente, desordenada e descentralizada. Ou seja, a cada dia novas pessoas ou novas comunidades (nós) inserem-se à sociedade em rede incitadas por tecnologias comunicacionais cada vez mais novas e convergentes (arestas).

Castells define Sociedade em rede como:

(...) [uma] sociedade cuja estrutura social é feita por redes intensificadas por bases de informação microeletrônicas e tecnologias comunicacionais (...) Uma

41

rede é um conjunto de nós interconectados. Um nó é um ponto onde as linhas se intersectam. Uma rede não possui centros, apenas nós. [Tradução minha].(2004, p.03) 19

Com base nesse conteúdo pode-se afirmar que essa articulação sócio-comunicacional observada contemporaneamente tornou-se possível graças às evoluções tecnológicas estimuladas pelo surgimento da internet, garantindo conectividade e interação entre os nós espalhados ao redor do globo. Assim, a internet e as evoluções tecnológicas não criaram os nós elas apenas proporcionaram uma forma de interconectar todos esses nós em escala global.

Esse patamar colaborativo e ilimitado conferiu à internet a função de “Ágora20 eletrônica”, estimulando a liberdade de expressão e a democratização do acesso à informação, transformando o espaço virtual e tornando-o um território fértil para o convívio social propiciando o debate de assuntos de interesse público e privado de forma livre e democrática. (BERTO, 2012). Em um contexto em que o objeto de estudo são as características comunicacionais da internet, falar sobre o estímulo à livre expressão é fator determinante, uma vez que é ela a responsável pelo processo de viralização das ações publicitárias (conceito esse debatido mais adiante).

O enraizamento do uso da internet pela sociedade atual exige dos seus membros uma adaptação às novas linguagens e às novas formas de interação sociais necessárias para que o mesmo possa habitar os novos mundos emergentes que se apresentam. A palavra mundos nesse caso é utilizada no plural uma vez que nessa nova sociedade os usuários precisam se dividir em dois mundos, o físico, ou offline21 e o virtual, ou online22, uma vez que a interação social nesse novo contexto extrapola as barreiras propostas pelo plano físico e alcança o mundo virtual. Agora, através dessa nova constituição social, a presença física dos interlocutores passa a não ser mais necessária para a construção ou a manutenção dos laços afetivos.

19(…) a society whose social structure is made of networks powered by microelectronics-based information and

communication technologies (…) A network is a set of interconnected nodes. A node is the point where the curve intersects itself. A network has no center, just nodes”.

20 Praça principal da constituição da Pólis, normalmente era utilizada como centro de convívios dos cidadãos

gregos aonde tornava-se possível atividades de interesse da esfera pública como o comércio e a discussões políticas e julgamentos populares.

21

Expressão de origem inglesa utilizada para caracterizar aquelas situações em que o usuário não está conectado à rede virtual

22 Expressão de origem inglesa utilizada para caracterizar aquelas situações em que o usuário está conectado à

42 De acordo com Lévy (1999, p.114) nas sociedades orais todos os seus membros possuíam o mesmo acesso as informações e compartilhavam de uma situação idêntica de significação, uma vez que as mensagens eram sempre emitidas no tempo e no lugar que eram recebidas e a sua interpretação ocorria quase em conjunto. Contudo com o surgimento da escrita as informações passaram a ser recebidas de outras formas, o que demandou uma readequação cultural dessas sociedades. O mesmo ocorre com o surgimento da internet.

Até o fim do século XX os membros da sociedade estavam acostumados a receber as informações veiculadas pelas mídias de massa através de determinados formatos e em determinados momentos, a partir da popularização da world wide web esse quadro se modificou e a troca de informações passou a ocorrer em um outro tempo, com um outro ritmo e com outros formatos, forçando uma readequação receptiva e interpretativa para que a sociedade mantivesse-se (ou ao menos tentasse se manter) sempre atualizada.

Vale a pena ressaltar que ao utilizar-se o conceito de sociedade, fala-se no sentido amplo da palavra e dos seus significados, uma vez que, assim como ocorreu no surgimento das sociedades industrializadas, não são todas as sociedades que possuem o mesmo acesso a esse novo mundo dialógico e mesmo dentro de uma mesma sociedade não existe um acesso igualitário entre seus membros.

No que se refere ao diálogo, essa nova sociedade, assim como as demais antes dela, também desenvolveu uma linguagem própria. Crystal (2006, p.21) complementa esse pensamento ao informar que as evoluções tecnológicas contribuíram para essa mudança conversacional gerando novas construções semânticas e esferas enunciativas que tiveram sua origem no mundo virtual e foram apropriadas pelos diálogos do mundo físico, haja vista que a expressão “e-23” possui uso comum no vocabulário social offline identificando a presença

clara da comunicação eletrônica no cotidiano da sociedade.

Santaella (2007b) afirma ainda que esse tipo de linguagem, definido por Crystal (2006, p.38) como etiqueta netiana, segue um padrão sígnico claro é compreensível apenas àqueles nós que estão presos de alguma forma à rede. Um exemplo desse padrão sígnico está apresentado na Tabela 04 organizada por Berto; Gonçalves (2012) e que representa a tentativa do internauta em externar suas emoções no momento da enunciação, online.

23 Segundo Marcuschi (2005, p.14), essas expressões dizem respeito a atividades presentes no mundo físico e

transportadas para o mundo virtual como as cartas (e-mail), os livros (e-books), compra e venda de mercadorias (e-commerce), etc.

43

Tabela 04: Os signos na linguagem digital e seus significados

Signo Significado

: ) O autor está feliz : ( O autor está triste : O O autor está assustado

: * O autor está enviando um beijo ; ) O autor está piscando

: x O autor está proibido de falar : P O autor está mostrando a língua : D O autor está rindo

S2 Coração

Kkkkk Risada

Hahaha Risada

Hehehe Risada

Rsrsrs Risada

Fonte: Berto; Gonçalves (2012)

Tais afirmações reforçam a presença massiva da internet na sociedade atual, uma vez que, se a linguagem da internet é compreensível apenas aos nós presos à rede e ela é cada vez mais identificada nas interações sociais do mundo físico, pode-se crer que há cada vez mais pessoas do mundo offline interagindo com o mundo online.

Ao compararmos a construção da linguagem semântica utilizada pelo mundo online e pelo mundo offline pode-se identificar no primeiro um processo de redução que busca passar o máximo de informação com o mínimo de caracteres possível, algo próprio do processo de modernização da linguagem social, uma vez que a histórica comprova que ao longo dos anos as sociedades tendem a atualizar seu repertório linguístico reduzindo ou reformulando seus vocábulos e expressões. Uma exemplo claro dessa redução pode ser observado na palavra Você que se originou na locução pronominal Vossa Mercedes e que ao longo dos anos modificou-se para Vossa Mercê, Vosmecê, Você, Ocê, e hoje no mundo virtual pode ser descrita apenas como vc ou c.

44 Dessa forma quando objetiva-se alcançar a maior assertividade comunicacional possível com uma mensagem publicitária, conhecer (e mais do que isso saber utilizar) a linguagem adotada pelos aldeões dessa sociedade em rede pode determinar o sucesso ou insucesso da ação. Entretanto deve-se salientar que as interpretações desses signos podem variar de acordo com a cultura em que o emissor e o receptor estão inseridos. Wolton (2011, p. 89). Afirma que traduções nem sempre são eficientes a ponto de garantir uma comunicação perfeita ou exata quando não se leva em conta o referencial enunciativo utilizado.

No que diz respeito à sociedade contemporânea, uma das principais marcas é a liberdade oferecida ao Homem em conectar-se e relacionar-se com as pessoas pertencentes às suas redes sociais (reais ou virtuais) onde quer que ele esteja, graças à existência de plataformas comunicacionais dialógicas e convergentes24. Com o surgimento de aparatos como os celulares smarthphones e os tablets a interação entre um usuário e os demais nós existentes ocorre em qualquer hora e em qualquer lugar do planeta.

Para Recuero (2009, p.25) o conceito de rede social nesse contexto pode ser compreendido como o conjunto de atores que se socializam, compartilham informações e dividem interesses comuns, tanto no ambiente físico quanto no ambiente virtual, e a partir dessa troca efetuam conexões que asseguram a construção ou a manutenção dos laços sociais. Assim pode-se entender como rede social a família, os amigos, a Igreja, as entidades de poder público, as mídias, ou qualquer outro grupo com o qual o indivíduo se relacione e cujas visões, opiniões e conceitos moldem e/ou ajudem a construir sua atitude social.

Ressalta-se então que a expressão Redes Sociais nesse contexto também é utilizada no plural, uma vez que um mesmo usuário, tanto no mundo online quanto no mundo offline, participa de diversas redes sociais simultaneamente e com diferentes objetivos ou graus de afinidade e interação em cada uma delas.

Entretanto ao discutirmos o estabelecimento de uma sociedade constituída através de redes, é preciso deixar claro que essa organização em si não é um ponto novo na história da

24 Torna-se importante ressaltar que, apesar de disseminada com ênfase a pouco tempo, a ideia de convergência

tecnológica entre múltiplas plataformas não é algo novo. O conceito de convergência foi apresentado pela primeira vez por POOL (1983, p.23) ao identificar um novo processo nas relações intermidiáticas no qual se notava a imprecisão das fronteiras entre os meios de comunicação através do oferecimento complementar de serviços que antes eram entregues de forma separada, e, da forma inversa, a utilização de diferentes meios midiáticos no oferecimento de um mesmo serviço. Esse processo foi batizado por ele como “convergência de modos”.

45 humanidade, uma vez que todas as sociedades até hoje se organizaram dessa forma, o novo apresenta-se no fato dessas redes terem transcendido a interação social no plano físico e terem se convertido em uma rede informacional e dialógica também, e muitas vezes apenas, no plano virtual. (CASTELLS, 2003, p.56; CASTELLS, 2000, p.456)

Na sociedade atual, o conceito de rede social ganhou um significado mais amplo com o surgimento das redes de relacionamento sociais virtuais, como Orkut, Twitter, Facebook, etc. Que são plataformas eletrônicas através das quais os indivíduos se relacionam e compartilham informações necessárias à manutenção social.

A esse respeito Berto; Gonçalves (2012) ressaltam que a interação através redes sociais virtuais ocorre de diversas formas e com diferentes graus de intimidade, podendo ser feita de maneira anônima, ou revelada, de maneira dialógica, imagética ou escrita, em tempo real ou de forma fracionada, de maneira reservada ou dirigida a um grupo, etc. Características essas que garantem um ganho enunciativo significativo aos diálogos online e ofertam a eles uma similaridade muito grande dos observados no plano físico.

Por isso, nota-se que a cultura encontrada no ambiente virtual, nada mais é do que uma hibridização cultural desenvolvida com base nas normas enunciativas e nas regras de condutas sociais encontradas no mundo físico, adaptadas às características específicas do plano virtual. Porém é preciso deixar claro que tal mistura não caracteriza uma cópia ou uma repetição, mas sim uma nova cultura que tal qual uma colcha é constituída a partir de retalhos antigos organizados de uma forma inédita e costurada com uma nova linha. A essa nova cultura mestiça dá-se o nome de cibercultura.

No documento Download/Open (páginas 39-45)