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Uma visão “McLuhaniana” do mundo contemporâneo

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CAPÍTULO I: O PROCESO COMUNICACIONAL NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

Necessidadesfisiológicas:

2. Uma visão “McLuhaniana” do mundo contemporâneo

Marshall McLuhan foi um dos primeiros a propor uma discussão acerca do impacto das evoluções tecnológicas na forma de vivermos e agirmos em sociedade. Para o autor (2002, p. 250) a tecnologia e os meios de comunicação são extensões do Homem, e como tais

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Satélite criado pelo cientista Arthur C. Clarke que paira em um mesmo ponto em relação à Terra por possuir a mesma velocidade de rotação desse planeta.

36 são desenvolvidos para aumentar as funções humanas auxiliando-nos a desempenhar tarefas que seriam impossíveis de serem realizadas sem a sua existência.

Compartilhando desse pensamento Logan (2007, p33) afirma que sempre que uma determinada forma de linguagem se torna obsoleta e não mais consegue explicar sozinha o mundo a sua volta (tal como ocorreu com a oralidade ou a escrita), o mundo entra em crise e transforma-se em um caos comunicacional que obriga o desenvolvimento de uma nova forma de interação que aumente a capacidade comunicacional do Homem através da criação de novos universos dialógicos. De acordo com essa teoria torna-se possível entender que o surgimento da internet e sua disseminação global estão intimamente ligados a essa necessidade do homem em relacionar-se de maneira massiva e ao mesmo tempo pessoal.

A esse respeito, é importante salientar que a internet não foi o primeiro aparato tecnológico desenvolvido com o poder de aglutinar a sociedade. Outras mídias eletrônicas como o rádio e a televisão, por exemplo, permitiram a agregação social e a mobilização a distância, e a imprensa, ainda anteriormente a elas, tornou mais acessível à informação retirando o seu monopólio das mãos da Igreja ou de outros membros da elite.

Contudo a internet foi a primeira a aproximar mundos tão distantes (geográfica e intelectualmente) através da interação. A televisão e o rádio permitem uma comunicação massiva (e em alguns casos global), porém de forma unilateral e sem possibilidade de interação interpessoal. Em contrapartida os rádios amadores e os telefones permitem um contato interpessoal, porém não garantem uma interação massiva. A internet nesse contexto é a única que permite a interpessoalidade e a interação massiva por ser uma hibridização desses meios de comunicação.

Assim, concordando com McLuhan, é possível afirmar que a internet é uma extensão do Homem no sentido de que amplia suas capacidades comunicacionais e dialógicas em uma escala que se tornaria impossível de ser alcançada sem o advento desse aparato tecnológico ou de outro similar, e ainda assim permite que o internauta não deixe de ser “Homem” e refém de suas necessidades corpóreas (fome, sede, cansaço, excitação, etc.), da mesma forma com que ele não abandona seu corpo e suas sensações fisiológicas ao utilizar o telefone, por exemplo. Recuro (2002). A internet nesse sentido amplia nossas capacidades sem, no entanto, fazer de nós menos Homens.

37 Esse aumento das nossas possibilidades dialógicas fez com que a civilização humana ampliasse também seus níveis de interação promovendo, pela primeira vez na história, uma ação comunicacional massiva, plurilateral e a distância construindo, sob o viés comunicativo, uma única sociedade mundial, a Aldeia Global.

A expressão Aldeia Global foi cunhada pela primeira vez por McLuhan (1962, p.26) e representa a existência de uma única sociedade global construída a partir da aproximação cultural de diversos países, advinda das evoluções técnico-comunicacionais. Para o autor, quanto mais à sociedade evoluísse e refinasse a forma de se comunicar maior seria o acesso à informação, e com isso não mais existiriam culturas e sociedades isoladas, mas sim uma única sociedade global resultante da aproximação dialógica dos diversos países e constituída por fragmentos culturais das diversas nações.

O termo aldeia utilizado nesse contexto pelo teórico diz respeito ao próprio comportamento aldeão. Segundo ele as condutas sociais em uma aldeia são diferentes das condutas sociais em uma grande metrópole uma vez que nesses povoados, graças ao baixo número de moradores, todos os habitantes se conhecem, se ajudam e fiscalizam-se, algo que não acontece nas grandes cidades graças à alta densidade demográfica.

Dessa forma a evolução dos meios de comunicação e o surgimento da internet permitem uma aproximação das comunidades e grupos sociais fazendo com que todas as pessoas tenham contato direto com todas as pessoas permitindo um acompanhamento próximo, ainda que a distância, dos acontecimentos que ocorrem em outras partes do planeta, tal como aconteceria em uma aldeia.

Ao criar essa expressão, McLuhan não tinha plena consciência da significância que o termo traria às gerações futuras. Ao falar em Aldeia Global o autor não falava especificamente da internet ou das redes sociais virtuais, mas sim do seu mundo. Um mundo que iniciava a era do caos descrita por Logan (2007, p.33) e no qual o rádio e a televisão começavam a desenhar o primeiro esboço de globalização e mundialização, através do qual as economias tornavam-se interdependentes, assim como a política e os pensamentos sociais.

Acerca desse assunto, Mattelart (2003, p.185) afirma que a principal contribuição de Marshall McLuhan ao falar em Aldeia Global não está na introdução desse conceito específico, mas sim no fato de que, pela primeira vez na história, alguém levou o Homem a

38 pensar o seu mundo e a sua sociedade de forma global, ou seja, ele foi a primeira pessoa a mostrar as mudanças sociais impostas pelos meios de comunicação de massa.

Ao falar da influência dos meios massivos na comunicação humana, McLuhan; Fiore (2003, p. 63) foram além ao apresentar a teoria de que o meio é a mensagem. Segundo essa proposição, os meios de comunicação de massa manipulam as informações emitidas através da sua linha editorial, da sua forma de apresentação ou da própria audiência do veículo fazendo com que o receptor tenha uma ou outra atitude frente a um determinado acontecimento. Ou seja, uma mesma notícia veiculada em locais distintos pode ter pesos interpretativos diferentes.

McLuhan debate esse conceito no livro Os meios de comunicação como extensão do Homem (2002) através da analogia da televisão e do cinema, declarando que a televisão nada mais é do que uma evolução do cinema uma vez que reúne em um mesmo ambiente, o televisivo, diversos conteúdos cinematográficos, ou seja, diversos filmes. Para o autor, ao serem apresentados na televisão, os filmes são interpretados de forma diferente daquela ocorrida caso o filme fosse assistido em um cinema uma vez que o meio determina a codificação da mensagem.

A partir dessa teoria, McLuhan distancia-se de maneira radical da linha de pensamento dos estudiosos de sua época que avaliavam o meio e a mensagem de forma distinta, de um lado analisando a maneira pela qual a mensagem era transmitida e de outro o conteúdo apresentado por ela.

Primo; Träsel (2006) aprofundam a discussão ao dizerem que o meio não é simplesmente a mensagem, mas sim que o meio é mensagem, no sentido de que a interpretação de um mesmo conteúdo não apenas é definida pela linha editorial do meio, mas pelas próprias [im]possibilidades discursivas ofertadas por ele.

Em um contexto em que se propõe uma investigação da adaptação da linguagem publicitária em meios de comunicação distintos, a contribuição desses autores tem especial importância uma vez que reforça a necessidade de uma avaliação além do conteúdo da mensagem, levando em conta as qualidades e especificidades de cada mídia, ou seja, se o meio é a mensagem e se uma mesma mensagem veiculada em meios diferentes pode ser interpretada de maneira distinta, a adaptação dos conteúdos veiculados na internet respeitando as características específicas desse meio faz-se necessária, principalmente se levarmos em

39 conta que a internet dispõe de possibilidades semânticas como inserção de conteúdos escritos, sonoros, imagéticos e interativos, não observadas nos outros meios.

Portanto de acordo com a perspectiva “McLuhaniana” a internet ampliou as capacidades comunicativas do Homem promovendo uma [re]organização das sociedades em uma grande aldeia global. Surge dessa forma uma nova organização social estabelecida de forma a prover uma interação plena entre todos os seus membros: a Sociedade em Rede.

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