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2 REDES: UM LEQUE DE CONCEPÇÕES

2.3 As Redes: Da Economia Mundial à Economia Global

Tratando-se de contextualização, cabe incluir as redes de informação que concretizaram uma mudança histórica na economia. Castells (2000) relata que a economia mundial de acumulação e expansão de capital existe pelo menos desde o

século XVI no Ocidente. A história do Brasil é ilustrativa desta rota expansionista. Entretanto, para transformar-se em economia global, foi necessário contar com as novas tecnologias de comunicação e de informação a partir da década de 80, pois ela se caracteriza por um funcionamento dos procedimentos que envolvem a economia em seus fluxos financeiros, em escala planetária em tempo real.

Contudo, o autor alerta que, enquanto os governos nacionais utilizarem a concorrência econômica como estratégia política para sua própria proteção, ainda haverá por muito tempo restrições quanto ao crescimento de muitos lugares. Ele refere que este novo paradigma competitivo quanto à capacidade tecnológica tanto promove a interdependência entre países na economia global, surgida nos anos 80, como fortalece antigos padrões de dominação estabelecidos anteriormente ao longo da história das nações. Recém-vindo o século XXI, já assistimos ao ideal democrático de liberdade e instantaneidade de trocas de informações, idealizadas pela internet, ser ameaçado por interesses políticos e econômicos que passam a suspender, omitir, censurar e controlar informações veiculadas na web.

Castells (2000) levanta uma hipótese importante para refletir sobre a transformação de bases significativas como o espaço e o tempo para a sociedade em que se vive um espaço de fluxos e o tempo intemporal: “As funções dominantes são organizadas em redes próprias de um espaço de fluxos que as liga em todo o mundo, ao mesmo tempo em que fragmenta funções subordinadas e pessoas no espaço de lugares múltiplos, feito de locais cada vez mais segregados e desconectados uns dos outros” (p. 504).

Acompanhando seu raciocínio, ele afirma que a construção social destas formas dominantes de espaço e tempo cria uma metarrede que ignora os grupos sociais subordinados, as funções e os territórios desvalorizados, ocasionando uma brutal

distância entre as pessoas, atividades e locais do mundo e esta. Tal mecanismo ocorre através da criação de códigos culturais e de valores nos quais se decide o poder, mas o seu sentido estrutural desaparece na lógica invisível da metarrede.

Cada vez mais, a nova ordem social, a sociedade em rede parece uma metadesordem social para a maior parte das pessoas. Ou seja, uma seqüência automática e aleatória de eventos, derivada da lógica incontrolável dos mercados, tecnologia, ordem geográfica ou determinação biológica (Castells, 2000, p. 505). Todos estes fatos promovem uma transformação qualitativa da experiência humana, expressos pela mudança das relações entre a Natureza e a Cultura. Ainda conforme o autor, um primeiro modelo de relação entre estes dois aspectos era de luta pela sobrevivência. Há milênios, os seres humanos enfrentavam uma natureza gigantesca e severa.

No segundo modelo de relação, avista-se a Modernidade e a Revolução Industrial, conquistando um domínio da Cultura sobre a Natureza. O advento da Razão torna-se essencial, e o processo de trabalho forma a sociedade. Ademais, um novo momento ou estágio está sendo vivido por nós em que a “Cultura se refere à Cultura” (Castells, 2000, p. 505). Resgatando Santos (2003), chegamos ao conhecimento do conhecimento e almejamos o conhecimento de nós mesmos.

Estes períodos de transformação ou passagem configuram, como refere Silva (2005), uma flexão no modo de subjetivação e, neste caso, podemos dizer que “a característica dos sistemas políticos modernos é integrar os indivíduos na totalidade através de uma técnica de patrulhamento das populações” (p. 51). O nosso tempo é compreendido também como passagem da sociedade disciplinar – desenvolvida teoricamente por Foucault (1986, 1991) – para a sociedade de controle – desenvolvida

por Deleuze (1992). Ao situarmos as redes em nosso tempo, elas se apresentam em tensão, como já referi, entre o controle e a proteção.

Com estas assertivas, proponho pensar a rede como paradigma ao ser reiteradamente utilizada como referência para múltiplas áreas e domínios de conhecimento. Podemos dizer, quanto às áreas, que se referem às redes topológicas, como as redes fisicamente estabelecidas e de sociabilidade como as redes que emergem através dos vínculos. Os domínios de conhecimento – Maturana (2001) define a ciência como domínio cognitivo – congregam grupos que compartilham determinados saberes,

criando parâmetros, legitimando (ou não) sua produção científica.

Em muitos domínios de conhecimento, como vimos, as redes estão presentes como fundamento e concepção. A rede, nesta direção, condensa ferramenta, noção e, ainda, de modo especial, um modo de subjetivação. Quando ultrapassa as fronteiras de determinadas áreas e, inclusive, de domínios de conhecimento, revela-se como um motor inovador que gera novos sentidos para uma sociedade. A rede já está presente no linguajar, pois, de algum modo, tem sido das experiências mais significativas da década de 90 até nossos dias. A constituição subjetiva que se abre para conexões antes inimagináveis é muito recente. Quando se afirma que crianças têm uma assimilação especial, estamos assumindo que a nova experiência de contato com os meios tecnológicos as subjetiva de forma a assimilarem e descobrirem, como se estes sempre pertencessem ao seu mundo e, de fato, recentemente pertencem ao mundo do final do século XX, subjetivando-se com e através destas vivências. Nós, adultos, que vivemos a infância e adolescência sem o acesso aos meios tecnológicos, temos uma equação a realizar, ou seja, um exercício de constante integração; conceber hipertextos, links, comunicação em tempo real, passa a compor nossa subjetividade diferentemente das crianças.