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1. INTRODUÇÃO

1.1 PROBLEMÁTICA E CONCEITOS CENTRAIS

1.1.6. Os destinos dos dependentes no autocuidado após a alta hospitalar e as

1.1.6.1. As respostas sociais e de saúde na comunidade, no âmbito da pessoa

Mostramos alguns dados que consideramos importantes relativamente à região de Braga, por se tratar da area geográfica do contexto da presente investigação. Assim, a Tabela 1.4 mostra-nos o número de equipamentos sociais disponíveis às pessoas dependentes, no distrito de Braga, em 2011.

A capacidade de respostas sociais para pessoas dependentes nos concelhos do distrito de Braga, está representada na Tabela 1.5. Da sua análise, verificamos que o índice de dependência dos idosos11 é mais elevado nos concelhos mais periféricos do distrito de Braga (Terras do Bouro, Vieira do Minho, Cabeceiras de Basto, Celorico de Basto, Póvoa do Lanhoso e Vila Verde). No entanto, também, são estes os concelhos que apresentam uma acentuada diminuição da população residente. Braga, Guimarães, Vila Nova de Famalicão e Barcelos são, destacadamente, os concelhos com mais população residente e, em simultâneo, os que apresentam um índice de dependência dos idosos mais baixo, apenas ultrapassados pelo concelho de Vizela (16,1). Significa, pois, que à medida que nos afastamos

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das zonas mais urbanas para as zonas mais rurais verifica-se um maior envelhecimento da população, como, de resto, acontece ao nível de todo o território nacional.

O concelho de Vila Nova de Famalicão, proporcionalmente aos restantes concelhos e tendo em conta a população residente (o terceiro mais populacional do distrito) e o índice de dependência dos idosos (dos mais baixos do distrito), é aquele que dispõe de mais oferta social às famílias no que diz respeito a centros de dia (500) e a serviços de apoio domiciliário aos idosos (1.106) e com um número de lares de idosos proporcionalmente adequado comparado com os restantes concelhos.

O concelho de Braga, sendo o mais populacional, mas, também, dos que apresentam um índice de dependência dos idosos mais baixo (o segundo mais baixo do distrito, a seguir ao concelho de Vizela) é aquele que oferece mais centros de dia (530) e lares de idosos (962), no entanto, como já referimos, quanto aos serviços de apoio domiciliário aos idosos (796) é ultrapassado pelo concelho de Vila Nova de Famalicão (1.106).

Carta Social – Rede de Serviços e Equipamentos: Relatório 2011

Se nos focalizarmos nos concelhos com maior índice de dependência dos idosos (Terras do Bouro, Vieira do Minho, Cabeceiras de Basto, Celorico de Basto, Póvoa do Lanhoso e Vila Verde) o que significa, também, maior probabilidade de existir um maior número de pessoas dependentes, os concelhos de Terras do Bouro e de Vieira do Minho (os mais periféricos e rurais do distrito) são aqueles que apresentam valores mais elevados de todo o distrito de Braga, respetivamente, 39,7 e 36,1. No entanto, visto também apresentarem-se como os concelhos menos populosos do distrito, em termos de respostas sociais e proporcionalmente aos restantes concelhos mais envelhecidos, são aqueles que estão mais apetrechados em número de centros de dia, lares de idosos e serviços de apoio domiciliário aos idosos.

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Em Portugal, com o objetivo de dar respostas mais adequadas às novas necessidades de saúde e sociais, associadas ao fenómeno do envelhecimento das populações e o consequente aumento de pessoas em situação de dependência, numa perspetiva de continuidade de cuidados integrados12, foi criada em 2006, a Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI).À data, no âmbito dos Ministérios da Saúde e do Trabalho e da Solidariedade Social (Decreto-Lei n.º 101/2006, de 6 de Junho):

“Neste âmbito, o Programa do XVII Governo Constitucional define como meta a instauração de políticas de saúde, integradas no Plano Nacional de Saúde, e de políticas de segurança social que permitam: desenvolver ações mais próximas das pessoas em situação de dependência; investir no desenvolvimento de cuidados de longa duração, promovendo a distribuição equitativa das respostas a nível territorial; qualificar e humanizar a prestação de cuidados; potenciar os recursos locais, criando serviços comunitários de proximidade, e ajustar ou criar respostas adequadas à diversidade que caracteriza o envelhecimento individual e as alterações de funcionalidade” (p. 3856). Na sua composição, a RNCCI inclui unidades e equipas de cuidados continuados de saúde, apoio social, e cuidados e ações paliativas, com origem nos serviços comunitários de proximidade. Abrange, também, os hospitais, os centros de saúde, os serviços distritais e locais da segurança social, a Rede Solidária e as autarquias locais (artigo 2º).

Da análise do Decreto-Lei, a RNCCI, na assunção dos seus objetivos específicos e no respeito pelos seus princípios (artigo 4º e 6º, respetivamente) ressaltam, entre outras, duas dimensões que nos parecem muito centradas no objeto do nosso estudo: por um lado, a oferta aos cidadãos de um conjunto de cuidados focalizados na reconstrução da sua autonomia face à condição de dependência e, por outro lado, a oferta aos cidadãos de um conjunto de cuidados centrados nos processos de aprendizagem do FC, capacitando-o para tomar conta. Fica também explicita, a intenção de manter, sempre que possível, a pessoa dependente no seu domicílio, mesmo que esta necessite de suporte terapêutico e apoio social para a manutenção da sua saúde e bem-estar. Portanto, no contexto das políticas de saúde, o ambiente familiar continua a ser assumido como o lugar privilegiado da prestação de cuidados às pessoas em situação de dependência. O capítulo IV do referido Decreto-Lei, define a tipologia da RNCCI. Assim, a prestação de cuidados é assegurada por:

1) Unidades de internamento:

Unidades de convalescença (internamentos com previsibilidade até 30 dias consecutivos - artigo 13º);

Unidades de média duração e reabilitação (internamentos com previsibilidade superior a 30 e inferior a 90 dias consecutivos - artigo 15º);

Unidades de longa duração e manutenção (período de internamento superior a 90 dias consecutivos - artigo 17º);

Unidades de cuidados paliativos. 2) Unidades de ambulatório:

Unidade de dia e de promoção da autonomia (funciona oito horas por dia, no mínimo nos dias úteis - artigo 21º).

12 No Decreto-Lei 101/2006, de 6 de junho, Artigo 3º define-se Cuidados Continuados Integrados como “o conjunto de intervenções sequenciais de saúde e ou de apoio social, decorrente de avaliação conjunta, centrado na recuperação global entendida como o processo terapêutico e de apoio social, ativo e contínuo, que visa promover a autonomia melhorando a funcionalidade da pessoa em situação de dependência, através da sua reabilitação, readaptação e reinserção familiar e social”.

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3) Equipas hospitalares:

Equipas de gestão de altas (encontram-se sediadas em hospitais de agudos e devem integrar, no mínimo, um médico, um enfermeiro e um assistente social - artigo 23º);

Equipas intra-hospitalares de suporte em cuidados paliativos (devem integrar, no mínimo, um médico, um enfermeiro e um psicólogo – artigo 25º).

4) Equipas domiciliárias:

Equipas de cuidados continuados integrados 13 (são equipas multidisciplinares da responsabilidade dos cuidados de saúde primários e das entidades de apoio social para a prestação de serviços domiciliários, decorrentes da avaliação integral, de cuidados médicos, de enfermagem, de reabilitação e de apoio social, ou outros, a pessoas em situação de dependência funcional, doença terminal ou em processo de convalescença, com rede de suporte social, cuja situação não requer internamento mas que não podem deslocar-se de forma autónoma - artigo 27º);

Equipas comunitárias de suporte em cuidados paliativos (equipas multidisciplinares da responsabilidade dos serviços de saúde com formação em cuidados paliativos e devem integrar, no mínimo, um médico e um enfermeiro – artigo 29º).

O Gráfico 1.1 mostra-nos o “peso” de cada região na referenciação do território nacional para a RNCCI.

Verifica-se, pois, que a região Norte foi aquela que, em 2011, mais percentagem de casos referenciou, com uma percentagem muito superior às restantes regiões (39%). Ao invés, a região do Algarve foi a que apresentou a menor percentagem de doentes referenciados (8%).

Fonte: UMCC - Relatório Intercalar de Monitorização da Rede Nacional de

Cuidados Continuados Integrados (RNCCI): 1º Semestre de 2011 (p. 25)

Em relação ao total dos doentes referenciados para a RNCCI e por região, o Gráfico 1.2 mostra-nos que o Algarve foi a região que em 2011 mais percentagem de casos referenciou para as ECCI (33%). A região Centro, foi aquela que menos doentes foram referenciados (6,2%) do total dos casos nesta região.

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As Equipas de cuidados continuados integrados (ECCI) asseguram: a) Cuidados domiciliários de enfermagem e médicos de natureza preventiva, curativa, reabilitadora e ações paliativas; b) Cuidados de fisioterapia; c) Apoio psicossocial e ocupacional envolvendo os familiares e outros prestadores de cuidados; d) Educação para a saúde aos doentes, familiares e cuidadores; e) Apoio na satisfação das necessidades básicas; f) Apoio no desempenho das atividades da vida diária; g) Apoio nas atividades instrumentais da vida diária; h) Coordenação e gestão de casos com outros recursos de saúde e sociais (Decreto-Lei 101/2006, artigo 28º).

8 10 23 21 39 0 10 20 30 40 50

Algarve Alentejo Lisboa e Vale do Tejo

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Relatório Intercalar de Monitorização da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI): 1º Semestre de 2011

Centrando-nos na oferta da RNCCI em unidades de internamento e equipas domiciliárias no distrito de Braga, uma vez tratar-se da principal área geográfica do contexto da nossa investigação, verificamos, pela análise da Tabela 1.6, que dispõe de vinte e três (23) unidades de internamento.

Destas, seis (6) são de convalescença, cinco (5) de média duração e reabilitação, onze (11) de longa duração e manutenção e uma (1) unidade de cuidados paliativos. Quanto às equipas domiciliárias, o distrito de Braga dispõe de dezasseis (16) equipas de cuidados continuados integrados (ECCI).

Tendo em conta a análise do Relatório Intercalar de Monitorização da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI): 1º Semestre de 2011 (UMCC, 2011), foram vários os motivos de referenciação dos doentes para a REDE. A Tabela 1.7 mostra-nos os motivos de referenciação e a percentagem de doentes referenciados para cada tipologia da REDE, ordenadas de forma decrescente e numa dimensão nacional. Podemos verificar que, a dependência nas AVD e o ensino ao doente/familiar cuidador, foram os principais motivos de referenciação para a REDE,

33 16,9 26,4 6,2 27,2 0 5 10 15 20 25 30 35

Algarve Alentejo Lisboa e Vale do Tejo

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respetivamente, 67% e 64%, o mesmo acontecendo, sem exceção, para todas as tipologias da REDE. Se analisarmos por tipologia:

Nas ECCI, a dependência nas AVD (70%) e o ensino ao doente/familiar cuidador (73%) foram o principal motivo de referenciação;

Nas UC, a dependência nas AVD (85%), o ensino ao doente/familiar cuidador (79%) e a reabilitação (78%) foram o principal motivo de referenciação;

Nas UCP, a dependência nas AVD (39%), o ensino ao doente/familiar cuidador (36%) foram o principal motivo de referenciação;

Nas ULDM, a dependência nas AVD (47%), o ensino ao doente/familiar cuidador (44%) foram o principal motivo de referenciação;

Nas UMDR, a dependência nas AVD (76%), o ensino ao doente/familiar cuidador (69%) e a reabilitação (64%) foram o principal motivo de referenciação.

Relatório Intercalar de Monitorização da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI): 1º Semestre de 2011

Outro dado que nos parece relevante, é a maior percentagem de doentes com necessidade de tratamento de feridas/úlceras de pressão (29%) e úlceras de pressão múltiplas (12%), terem sido referenciados para as ECCI. Assim como, a maior percentagem de doentes referenciados por necessidade de gestão do regime terapêutico se verificar nas UCP (28%). Pensamos nós que este dado, pode estar associado à maior complexidade do regime medicamentoso a que estes doentes estão submetidos, face à sua condição de saúde particular, sobretudo na fase terminal da sua vida. São doentes que, frequentemente, necessitam de analgesia por via sistémica para controlo da dor crónica, o que conduz ao internamento por ausência de suporte profissional às famílias no contexto domiciliário, cenário que ainda se passa na maioria do território nacional. Por último, uma referência à maior percentagem de doentes referenciados para as ULDM para descanso do familiar cuidador (13%), Tabela 1.7.Todavia parece-nos ser valores muito baixos, se atendermos a que estamos perante um grupo de doentes que, na maioria dos casos, apresentam uma condição de saúde muito vulnerável, com elevados níveis de dependência e, assim, associado a um significativo compromisso ou complicações nos

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“processos corporais” (ICN, 2011)14

. Deste modo, acarreta ao familiar cuidador, uma grande intensidade e complexidade de cuidados no dia-a-dia, potenciador de grande sobrecarga física e emocional, muitas vezes, sem qualquer apoio quer da rede informal quer da rede formal.

Assim, face a esta análise, os principais motivos de referenciação dos doentes para a RNCCI estão, fortemente, focalizados nos aspetos centrais do presente estudo: a transição da pessoa associada à dependência no autocuidado e a transição para o exercício do papel de prestador de cuidados. Há, portanto, um apelo significativo a cuidados de enfermagem, o que ajuda a tornar mais relevante a necessidade de produzir conhecimento sobre esta problemática.