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Capítulo 3 – Metodologia

3.5 A descrição dos procedimentos utilizados na coleta de dados

3.5.4 As sessões colaborativas

Neste trabalho, defini as sessões colaborativas21 como um espaço interacional dedicado ao debate colaborativo e teoricamente informado sobre temas relevantes para a formação docente e para o cotidiano escolar. As sessões colaborativas tinham, então, três características principais: (a) formavam um espaço de participação igualitária destinado ao desenvolvimento da autonomia individual, assim como ao aperfeiçoamento do grupo como um todo, (b) constituíam-se num ambiente em que a tensão colaborativa era produtiva e motivada, inicialmente, pelo discurso da pesquisadora, (c) formavam um espaço de aprendizagem em que diferentes experiências e variadas perspectivas eram analisadas e compartilhadas. Desse modo, a pesquisadora, que naquele momento dispunha de mais experiência na ação-colaborativa e também mais familiaridade com o aporte teórico-crítico da formação docente, orientava o grupo e intervinha, sempre que necessário, para provocar a reflexão e debater a relação teoria-prática de maneira crítica e contextualmente situada. Esse processo foi também apresentado no Quadro 1, que descreve o construto tensão colaborativa (c.f. 3.4 deste capítulo).

As sessões colaborativas deste estudo tinham a duração média de uma hora e meia cada e ocorriam com a presença das três professoras participantes e da pesquisadora. Elas foram realizadas a cada quinze dias, de março a novembro de 2004, tendo sido gravadas em áudio e transcritas (c.f. Quadro 2 C neste capítulo). As sessões eram também orientadas por um conteúdo temático, aqui denominado tema de ação-

colaborativa (TAC). Os temas surgiam da análise, feita pela pesquisadora, das aulas observadas na escola pública, à qual as professoras participantes tinham acesso. Com base nisso, e na tentativa de criar um espaço fértil para a integração teoria-prática, três movimentos discursivos principais foram registrados durante as sessões colaborativas: (a) a discussão, pelas participantes, da análise feita pela pesquisadora das aulas observadas na escola pública, geradora dos TACs, (b) o debate colaborativo sobre o conteúdo de textos teóricos, relacionados aos TACs, (c) a discussão ou relato de propostas de mudança na ação docente, com base em aspectos problemáticos ressaltados durante os dois movimentos discursivos anteriores (a) e (b).

È importante acrescentar que, como as participantes tinham acesso, durante as sessões colaborativas, à análise das observações de suas aulas, feita preliminarmente pela pesquisadora, elas podiam reformular, alterar, ou corroborar, o conteúdo dessa análise. O procedimento exigiu um exame quase diário dos dados, concomitante à sua coleta, trabalho bastante exigente. Permitiu, contudo, ouvir as vozes das participantes sobre a interpretação de suas próprias falas. O pequeno distanciamento temporal entre a ocorrência das aulas e sua discussão possibilitou, ainda, uma apreciação das informações menos rasa e mais crítica. O procedimento requisitou também, da pesquisadora, não apenas certa dose de humildade, mas, principalmente, o refinamento da habilidade de saber ouvir e observar ou, como propõe Erickson (1990), mais clareza e coerência na intenção qualitativa da pesquisa.

22 A relação dos textos teóricos utilizados nas sessões colaborativas pode ser consultada no C deste

Quanto aos textos para leitura teórica23, eles eram retirados de livros e periódicos da área de LA. Eram, em geral, trazidos pela pesquisadora para as sessões colaborativas e selecionados com base nos temas de ação-colaborativa. As participantes escolhiam alguns títulos entre vários trazidos, que trocavam depois entre si. O conteúdo dessas leituras era sempre retomado por elas nas sessões posteriores ou, quando isso não ocorria, a pesquisadora intervinha para que a relação fosse feita.

Além disso, houve também, nas sessões colaborativas, episódios em que as participantes compartilhavam, espontaneamente, textos teóricos e atividades para uso em sala de aula. Elas, então, faziam comentários sobre o material e sugestões de como melhor aproveitá-lo ou adaptá-lo, por exemplo. Reforçava-se, nessas ocasiões, o trabalho de rede, com eixos verdadeiramente teórico-práticos.

Não obstante, nas primeiras sessões, fatores como a maior proteção das faces e a natural ausência de rapport entre as participantes e a pesquisadora limitaram o debate genuíno. Contudo, ao longo do trabalho, houve a efetivação de uma real ambiência de grupo. Assim, nesse espaço, a interação verbal emoldurou a aprendizagem das professoras e foi possível identificar como se desenha o contorno da estrada que pode levar à prática docente emancipada.

3. 5.5 Os diários

Entre os vários instrumentos reflexivos propostos pelo EDUCONLE, existe a prática da construção de diários pelos professores em formação, nas aulas de metodologia. Os diários seguem um roteiro pré-estabelecido pelo responsável por cada módulo de metodologia e os professores são motivados a pensar sobre suas aulas, de modo a avaliar objetivos, conteúdos, fundamentação teórica e resultados. Dois desses diários foram escolhidos pelas professoras participantes desta pesquisa e compuseram a análise de dados. Neles as professoras relatavam suas aulas e faziam observações reflexivas sobre seus modos de agir na sala de aula, bem como dos resultados obtidos. Os diários se constituíram, assim, num instrumento importante de triangulação de dados, pois objetivavam a compreensão mais extensiva de como professoras criavam e recriavam o processo de aprender e ensinar e suas justificativas sobre isso, com base na relação teoria-prática discutida no EDUCONLE .