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ADEQUAÇÃO TECNOLÓGICA

Capítulo 7: Adequação tecnológica

7.2. As técnicas alternativas

Capitulo 7: Adequação tecnológica 77

O barateamento é perseguido sem levar em conta a qualidade do edifício e da qualidade de vida necessária às famílias que irão ocupar habitando ou trabalhando. As pesquisas do concreto armadas têm evoluído, permitindo utilização de tensões de trabalho cada vez maiores, permitindo vigas e pilares cada vez mais delgados, nos concretos de alto desempenho. As paredes, via de regra, com blocos de vedação, geralmente de seis, oito ou dez furos, têm suas espessuras também reduzidas para acompanhar a evolução do concreto e não as qualidades de isolamento que as paredes necessitam para melhorar o conforto térmico e acústico necessários a uma boa qualidade de vida dos usuários. As paredes muito finas, com revestimentos diretos não impedem nem ao menos a passagem da umidade que se infiltra pelas frestas geradas pelas fissuras de retração dos materiais. A legislação de licitações públicas deu abertura para a discriminação do desempenho do elemento construtivo, ao invés do material com que se executa, permitindo uma adequação tecnológica sem forçar material inadequado ou inexistente no local onde se constrói. Para redução de custos diretos são utilizadas lajes pré-moldadas mistas com vigotas de concreto e blocos cerâmicos, reduzindo a incidência de concreto e o peso próprio. Essas lajes são leves, porém, com peso reduzido não permitem o necessário isolamento acústico de uma unidade habitacional para outra imediatamente abaixo. Faltam isolamentos acústicos, como pisos flutuantes, materiais isolantes ou adequação dos projetos às reais necessidades acústicas. As coberturas, geralmente são executadas com telhas onduladas de cimento-amianto, que não fazem bom isolamento térmico porque foram concebidas nos países frios de origem para armazenarem calor. Quando projetadas com telhas cerâmicas comuns, passam a ter melhores condições de conforto térmico, porém, via de regra, custa um pouco mais, além das desagradáveis conseqüências das terríveis goteiras, que somente aparecem quando já deram prejuízo irreparável.

Para acompanhar a “moda”, em nossa região, utiliza-se telha cerâmica plana, assentada em forma de “escama”, criada em países frios, para evitar a aderência da neve. Essa telha deve ser colocada sempre com caimento grande para evitar o acúmulo de peso da neve sobre o telhado. Telha virou “moda” num país tropical, onde as chuvas torrenciais são comuns. Esse tipo de telha em referência não protege das fortes chuvas, ciando verdadeiros vexames nas obras que a utilizam, como no Terminal Rodoviário de Rio Negrinho, onde a chuva entra exigindo guarda-chuva em baixo da cobertura.

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Além da “moda”, há um conceito errado de barateamento de obra. Para ter-se uma casa realmente confortável, é necessário recolocar muitas funções que foram eliminadas da casa tradicional para redução dos custos como se fossem funções supérfluas, "despindo" para reduzir custos, como se elementos construtivos necessários a um bom padrão de construção fossem uma vestimenta que se tira para reduzir os custos, não importando se faz calor ou frio. Um biquíni pode ser o traje ideal para a praia, no verão, mas não é um traje ideal para o inverno em São Joaquim ou em outras cidades de clima frio. Não se pode, simplesmente despir para reduzir as condições necessárias à qualidade de vida que o cidadão e sua família têm o direito de obter de seu abrigo para que fique realmente confortável e aconchegante.

Os conjuntos habitacionais até hoje construídos têm proporcionado unidades habitacionais padrão, com áreas mínimas, para ficarem acessíveis ao limite máximo do poder aquisitivo do usuário, sem atender às reais necessidades mínimas de espaço físico ou de conformo das famílias que abriga. Apesar de se tratar de um projeto de vida da família que vai abrigar, nota-se uma negligência no respeito humano que as famílias que se beneficiarão do empreendimento poderiam usufruir. (Szucs, 1996).

Faz-se a casa possível de pagar, mas não a necessária para abrigar o proprietário e sua família, com as funções mínimas indispensáveis à sua vida doméstica, cultural e social. A redução de investimento cria unidades pouco valorizadas empobrecendo ainda mais as pessoas de poucos recursos, que perdem a oportunidade da valorização imobiliária, devido aos baixos investimentos. O conceito de classe pobre é assumido culturalmente, fazendo com que esta classe jamais melhore seu padrão de vida. A população empobrece e o município também.

Se o padrão de vida melhorar, a cidade melhorará e todos se beneficiarão. Trata-se de uma cultura de massa que irá permitir uma evolução do município como um todo. Se a população enriquece, todo o município irá igualmente enriquecer. E isso nem sempre é lembrado pelos dirigentes. A reabilitação das atividades produtivas e a própria reabilitação do consumidor irão permitir uma evolução social e econômica para o município.

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Nos constantes levantamentos de conjuntos habitacionais efetuados por estudantes do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFSC, nos últimos vinte anos, tem-se notado as modificações por que passam essas habitações, para adaptarem-se às necessidades dos moradores (Szucs, 1996). Em pouco tempo o conjunto habitacional fica irreconhecível, porém muito mais integrado à cidade. O projeto padrão torna-se cada vez mais inviável, porque somente é aceito como solução temporária. Assim que tenha condições, o proprietário começa a personalizar sua habitação, o que deveria começar a ocorrer no ato do projeto e da construção.

Nas residências modificam-se os espaços em função de cada caso, com famílias diferentes, com particularidades que de nenhuma forma admitem projeto padrão, com terrenos diferentes, fundações diferentes e um sem número de particularidades que tornam os projetos específicos uma obrigatoriedade. As famílias não são absolutamente “padrão”, uma vez que são cada vez menores e nem sempre têm um casal como cabeça, via de regra tendo somente um dos dois, já que as famílias separadas deixaram de ser raridade. Exigem-se, pelo menos, projetos genéricos adaptáveis às diversas situações (Silveira,

1994).

Até bem pouco tempo, na década de setenta, dizia-se que em Santa Catarina não havia favelas, mas casas populares de madeira relativamente bem construídas. As casas eram vendidas pelos madeireiros, com financiamento próprio e o usuário as executava sem muita dificuldade, porque toda a madeira já vinha em quantidade adequada a determinado padrão, com os respectivos acessórios (esquadrias, assoalho, forro, etc.), segundo depoimento de comerciantes e madeireiros de Florianópolis e de diversos municípios deste estado e de alguns vizinhos, como Paraná e Rio Grande do Sul. A tecnologia da casa de madeira é de domínio público. Já faz parte da cultura popular, com a vantagem de permitir a execução em um final de semana, com um pequeno mutirão de familiares e amigos. Assim, o "envelope" da casa fica pronto, faltando apenas os acabamentos internos que o proprietário executa aos poucos, de acordo com suas disponibilidades ou capacidade de endividamento, dividindo as compras em prestações, com financiamento direto do comércio. A falta de financiamento para as casas de madeira, por parte do extinto BNH, contribuiu para a redução das habitações que poderiam ser as construções ideais para a população de baixa renda.

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A madeira, no início dos anos 80, contribuía com 60% da economia Catarinense (segundo o "Diagnóstico da Economia Catarinense" - Fundação Itep, extinta) e, segundo a Federação das Indústrias de Santa Catarina - FIESC, contribuía, no início dos anos noventa, com apenas 6%. A crise da madeira, que se atribui a uma falta de política apropriada ao setor, política esta já proposta em muitas dissertações e teses apresentadas a UFSC, poderia ter sido eliminada de melhor forma, já que os madeireiros sempre foram a classe política dominante, pelo menos na Região Sul.

Na Grande-Florianópolis, na década de setenta, não haviam indigentes, mas pessoas com menor renda, no entanto em condições de construir sua casa própria de madeira, que podia ser executada aos poucos, ampliando-se na medida das necessidades. Algumas dessas casas ocupavam as encostas dos morros, porém sem problemas graves, uma vez que as propriedades eram respeitadas e as casas de madeira eram implantadas sobre estacas ou pilares sobressaindo do solo, sem escavações que podem ocasionar as terríveis erosões que tanto mal tem causado aos morros. As escavações iniciam os processos de erosão e as águas pluviais e de bicas correntes aumentam o processo. Os tubos colocados para drenagem geram maiores erosões ainda, uma vez que não se considera a energia da água criada com o excesso de declividade, aumentando o processo nas obras públicas que deveriam ser melhores.

Hoje, por falta de uma política de fiscalização das ocupações clandestinas, os morros estão sendo desmatados, escavados e ocupados. Estão sendo ocupadas todas as áreas sem uso aparente, gerando um grande desequilíbrio urbano. As rochas que são desalojadas irão, com certeza rolar sobre a cidade causando danos irreparáveis. O Rio de Janeiro é exemplo do que poderá ocorrer, apesar de ter equipe de especialistas em geotecnia trabalhando constantemente em encostas na contenção de taludes e de blocos.

Os problemas da cidade crescem além dos recursos necessários para seu controle. Na realidade quando cresce a população, a cidade, por falta de um planejamento bem feito, ao invés de crescer, incha, e seus problemas crescem mais que a cidade. As ocupações desordenadas e em locais longínquos do centro exigem infra-estrutura cara, devido às distâncias. As infra-estruturas não podem ser implantadas porque exigem um investimento maior que a receita criada para o município.