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AS TÉCNICAS E INSTRUMENTOS DE RECOLHA DE INFORMAÇÃO

CAPÍTULO II – ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO DO ESTUDO

3. AS TÉCNICAS E INSTRUMENTOS DE RECOLHA DE INFORMAÇÃO

Abre-se este ponto tecendo algumas considerações sobre as técnicas e instrumentos de recolha de informação qualitativa, utilizadas no estudo realizado.

Na linha de pensamento de Almeida e Pinto, cabe ao investigador “seleccionar as técnicas adequadas, controlar a sua utilização e integrar os resultados parciais obtidos” (1990: 84), tornando-se “indispensável um grande controlo crítico dos procedimentos metodológicos, das suas possibilidades e limitações, para que os instrumentos de pesquisa se adeqúem à realidade visada” (Lima, 1987: 19).

Neste contexto, entendeu-se que as técnicas de recolha de informação mais adequados são a análise documental, a observação e a inquirição, permitindo, o seu cruzamento obter uma imagem o mais completa e compreensível possível do fenómeno em estudo.

Prossegue-se com uma apresentação síntese das técnicas e instrumentos de recolha de informação seleccionados para as diferentes etapas da investigação traçando- se um plano de trabalho aberto e flexível.

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3.1. A análise documental

Esta técnica permite um leque importante de informações, conduzindo a um conhecimento cabal da realidade em estudo, complementando a informação e entrelaçando esta com elementos colhidos através das outras técnicas. Esta afirmação é defendida por Ludke e André, realçando que “os documentos são usados no sentido de contextualizar o fenómeno, explicitar suas vinculações mais profundas e complementar as informações colectadas através de outras fontes” (1986: 28).

No estudo que se desenvolveu, a análise documental assentou em registos formais produzidos ao nível exo e macro. Ao nível exo, engloba-se os projectos produzidos pela tutela, que consistem num conjunto de normativas cobrindo o sistema educativo. Ao nível macro, realça-se o projecto curricular da escola, o projecto educativo e o regulamento interno.

3.2. Inquirição

Esta técnica, complementada com a da observação (participante) é o meio mais eficaz para que o investigador se aproxime dos sistemas de representação, classificação e organização do universo estudado. Neste caso optou-se pela inquirição por entrevista que consiste numa conversa intencional, geralmente entre duas pessoas, mas que poderá envolver mais (Morgan, 1988). A entrevista é dirigida pelo investigador e tem como objectivo principal captar informações sobre o entrevistado. Embora seja uma das técnicas de recolha de dados mais dispendiosa, nomeadamente pelo “tempo e qualificação exigidos ao entrevistador” (Leal, 1992: 143) é, no entanto, propiciadora de um conhecimento aprofundado da informação a recolher. Num contexto qualitativo, a entrevista veste um modelo próprio. Pode ser utilizada de duas formas distintas: como estratégia dominante para a recolha de dados ou utilizada em conjunto com outras técnicas. O recurso a esta técnica de recolha de dados permitirá, de acordo com Bogdan (2000: 134), “recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspectos do mundo”.

A empatia desenvolvida entre os participantes e o investigador proporciona que as entrevistas se afigurem, na maior parte das vezes, como conversas entre amigos, não descurando os aspectos de confidencialidade, sigilo, coerência e seriedade que lhe deverão estar subjacentes.

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No estudo realizado, a entrevista foi semi-estruturada e orientada por um guião. Elementos recolhidos através de outras técnicas foram decisivos para a sua construção. Recorreu-se ao tipo de entrevista que Patton (1982) designa de “abordagem guiada” e “normalizada de perguntas abertas-fechadas”. O que caracteriza este tipo de entrevista é a ordem que as questões seguem. A entrevista “normalizada de perguntas abertas- fechadas” recorre sempre às mesmas questões pela mesma ordem, permitindo uma comparação entre as respostas dos vários sujeitos. Assim, afigura-se como uma tarefa impessoal, irrelevante e mecanicista porque inibe o entrevistado de qualquer processo criativo. No entanto, esta opção fez com que o tratamento dos dados recolhidos se tornasse mais simples, permitindo estabelecer comparações e categorizações.

Foram elaborados três guiões de acordo com o nível a que se encontra o entrevistado: macro, meso ou micro (anexo 5).

O guião era composto por um bloco de perguntas iniciais que permitiram caracterizar os entrevistados. O outro bloco de perguntas foi organizado de acordo com os objectivos propostos para o estudo em causa.

3.3. Observação

Na opinião avalizada de Junker, “tudo o que é observado e seleccionado para registo deve ser claramente descrito com toda a riqueza de pormenor, todos os comentários, palavra por palavra, e todos os aspectos concebíveis do contexto precisados com cuidado e justeza” (1960: 18). A eleição desta técnica potencia um contacto pessoal entre o investigador e o fenómeno estudado, ainda que este possa provocar alterações no comportamento dos sujeitos a observar, por um lado, e o envolvimento do investigador possa vir, eventualmente, a distorcer o fenómeno observado, por outro.

Por outro prisma, a observação poderá assentar em quatro características no que diz respeito ao papel do investigador e aos seus objectivos: “participante total”, “participante como observador”, “observador como participante” e “observador total” (Ludke e André, 1986).

A forma de observação privilegiada na investigação desenvolvida perspectivou o “observador como participante”, na medida em que este interagiu com os professores que observou declarando, desde o primeiro momento, quem é e quais eram os seus objectivos. Como diz André, “a observação é chamada de participante porque parte do

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princípio de que o pesquisador tem sempre um grau de interacção com a situação estudada, afectando-a e sendo por ela afectado.” (2000: 28).

Como refere Peretz: “ a negociação será feita em primeiro lugar ao mais alto nível da hierarquia […], solicitará primeiro autorização à administração [Conselho Executivo e Conselho Pedagógico,] para ir onde pretende e observar os diversos aspectos da vida da instituição [Agrupamento de Escolas], falar com quem ele queira, permanecer no local […] e consultar documentos” (2000: 105). Foi o que se fez.

Assim, a investigadora começou por dialogar com a Presidente do Conselho Executivo que cumulativamente também exercia a função de Presidente do Conselho Pedagógico, apresentando o estudo: quem é, o que pretendia, que metodologia ia utilizar, qual o calendário e outros itens considerados pertinentes. Estes primeiros contactos permitiram desenvolver uma atitude de empatia essencial, passando a ser aceite no seio do Agrupamento, à vista de todos os elementos ou quase todos os que a compunham, circulando livremente, consultando os diferentes documentos (já evidenciados) e podendo ainda tomar notas.

A observação facultou dois tipos de registo no bloco de notas de natureza distinta, que se complementaram: a parte descritiva, que compreende as notações decorrentes de tudo aquilo que se foi observando, nomeadamente a caracterização dos espaços da escola, os encontros dos participantes e a parte reflexiva (interpretativa) que inclui as notas pessoais da investigadora: impressões, ideias, dúvidas e possíveis decepções.