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CAPÍTULO I – ENQUADRAMENTO TEORICO DO ESTUDO

3. O TRABALHO DO PROFESSOR

3.1. O Professor do século XXI

“A mudança em educação depende daquilo que os professores pensarem dela e dela fizerem e da maneira como eles a conseguirem construir activamente. A mudança dependerá, por conseguinte, das estratégias adoptadas pelos diversos actores. Essas estratégias devem por um lado, favorecer a mudança das

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atitudes e das práticas dos professores, e, por outro, melhorar o funcionamento dos lugares de trabalho – os estabelecimentos escolares –, nos quais eles trabalham e interagem.”

(Thurler, 1991: 33)

Ser professor envolve, hoje, uma complexidade infinita de conceitos: currículo, gestão flexível do currículo, competências gerais, competências essenciais, competências específicas, competências transversais, projecto curricular de escola, projecto educativo, projecto curricular de turma, diferenciação pedagógica, área disciplinar, áreas curriculares não disciplinares, direcção de turma, coordenação de departamento, projectos, clubes, formação contínua, tecnologias da informação e da comunicação, avaliação, entre outros. Todos estes conceitos orientam-se para um único fim: obter-se uma educação de qualidade.

Mas como se contribui hoje, em pleno século XXI, para uma educação de qualidade? Como ser um “Professor” num mundo stressante em que as teorias já não resultam ou não se praticam, com crescentes choques entre civilizações, com os meios de informação a assumirem um papel preponderante e com a convicção de que tudo está à mão e é fácil? Como diz Cury (2004: 14) “temos uma indústria de lazer complexa. Deveríamos ter a geração de jovens mais felizes que já pisaram esta terra, mas produzimos uma geração de insatisfeitos…”.

As Tecnologias de Informação e Comunicação multiplicaram enormemente as possibilidades de pesquisa de informação e os equipamentos interactivos e multimédia permitem aos alunos dispor de um manancial inesgotável de informações. Munidos destes novos instrumentos, os alunos podem tornar-se exploradores activos do mundo que os envolve.

Cada vez mais é essencial ensinar os alunos a avaliarem e a gerirem na prática a informação que lhes chega. Os alunos necessitam de um optimizador desse mesmo conhecimento e saber, convertendo-se assim num organizador do saber; fornecedor de meios e recursos de aprendizagem; estimulador da arte de pensar; estimulador do diálogo, da reflexão e da participação crítica, estimulador dos afectos. Precisam de professores!

Não é possível pensar a sociedade sem educação. À medida que a vida se torna mais complexa e os conteúdos da educação mais enriquecidos, o professor aparece como aquele que é capaz de co-construir, com as gerações mais novas, um conjunto de valores e de competências indispensáveis para a construção de uma sociedade mais enriquecida e humanizante a todos os níveis.

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Durante vários anos, a imagem do professor perante a sociedade foi-se modificando e, actualmente, sendo considerado um profissional altamente especializado, são-lhe devidos salários compatíveis com o exercício da sua profissão, bem como um sistema de formação inicial e contínua de grande qualidade.

Segundo a Lei de Bases do Sistema Educativo e o Estatuto da Carreira Docente, ao professor compete instruir, educar, dar apoio extra-lectivo aos alunos, desenvolver acção educativa no meio, cuidar de equipamentos e instalações, realizar estudos e trabalhos de investigação e dirigir serviços. O professor assume um papel primordial em vários contextos quer seja na sala de aula, na escola, na comunidade educativa quer na sociedade. A muitos níveis ele exerce o seu mandato e é também a vários níveis que ele detém poder, que deve usar em favor das crianças e dos jovens que lhe foram confiados.

Então, a escola, seguindo o estudo de Arends (1999), não é já reclamada como um direito e garantia de ascensão social e económica, mas como um dever para o aluno. Neste contexto, os programas e a formação dos professores têm sofrido alterações de forma a (cor)responder a esta nova realidade, que supostamente deveria integrar alunos de diferentes origens culturais, com necessidades educativas especiais dentro da mesma comunidade escolar. Exige-se, consequentemente, que o professor alargue as suas estratégias e modifique o seu trabalho, os seus métodos, adapte os currículos no sentido de que o conhecimento possa ser perspectivado enquanto algo pessoal e que o seu significado seja construído em função da experiência vivida.

Aos professores do século XXI, desta forma, “será exigido proficiência em vários domínios (escolar, pedagógico, social e cultural) e que também sejam profissionais com capacidade de reflexão e de resolução de problemas” (Arends, 1999: 8). Essa proficiência manifestar-se-á, ainda na esteira de Arends, no cultivar de quatro características indispensáveis aos profissionais de educação deste século:

 Dominar o conjunto de conhecimentos existente relativo ao ensino e aprendizagem;

 Dominar o reportório de práticas educativas (modelos, estratégias e procedimentos);

 Apresentar uma atitude e competências necessárias à optimização das suas capacidades, estando sempre num processo contínuo de “aprender a ensinar”;

 Apresentar uma atitude e uma competência reflexivas, democráticas e orientadas para a resolução de problemas no seu trabalho.

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As características enumeradas debatem-se, contudo, com “uma vivência institucional sistematicamente orientada para uma estruturação centralizada e funcionalizada da acção profissional do docente” (Roldão, 1999b). Este confronto leva, muito frequentemente, a posições de resistência por parte da classe docente que não conseguiu, ainda, distanciar-se da perspectiva de currículo e práticas uniformizantes que foram caracterizando a actuação dos professores sobretudo a partir da unificação do ensino técnico-profissional e liceal - o já tão referido “currículo pronto-a-vestir de tamanho único” referido por Formosinho (1997a). Sendo assim, os currículos escolares, continuando na esteira de Arends, não poderão ser entendidos como documentos contendo informações importantes e regras a seguir religiosamente, mas sim como um conjunto de acontecimentos e actividades de aprendizagem (mediação entre o aluno, o conhecimento e o próprio professor) através do qual os principais actores do processo de ensino e de aprendizagem (alunos e professores) elaborem conjuntamente conteúdos e significados. As questões curriculares com as quais os professores se debatem actualmente obrigam a reequacionar as formas de conceber e trabalhar o Currículo numa altura em que a sociedade e a escola sofrem múltiplas mudanças.

Nóvoa (2007) propõe um conjunto de desafios para o trabalho dos professores neste século, configurando uma nova identidade profissional aos professores, numa palestra intitulada “Desafios do trabalho do professor no mundo contemporâneo”. Esta identidade está assente num tripé que é composto por três ideias: a escola centrada na aprendizagem, a escola como sociedade e a escola como instituição. Refere que este “tripé é que define verdadeiramente a possibilidade de uma escola baseada na inclusão” (Nóvoa, 1997: 12). Como desafios propõe que:

 Sejam encontrados modelos de organização nas escolas que mudem as formas como os professores se organizam, como a profissão está organizada;

 A formação dos professores seja mais centrada nas práticas e na análise das práticas;

 Se desenvolva a credibilidade do trabalho do professor, no que diz respeito à avaliação e prestação de contas, numa dinâmica para os próprios professores e para os seus colegas, à liderança profissional e à intervenção política.