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CAPÍTULO I – ENQUADRAMENTO TEORICO DO ESTUDO

3. O TRABALHO DO PROFESSOR

3.7. Estudos realizados

Numa altura de tantas viragens e expectativas elevadas em torno do trabalho do professor e em que os resultados do ensino são tão discutidos, estudar a forma como os professores incrementam ou poderão desenvolver o seu trabalho poderá marcar o caminho para as mudanças necessárias no processo de ensino e de aprendizagem, tão preconizado por todos os agentes relacionados com o ensino e pela sociedade em geral.

Vários estudos têm sido realizados a nível mundial sobre a temática. Referindo-nos nomeadamente a estudos nacionais, apresentaremos quatro.

Correia (2007), numa investigação de carácter essencialmente qualitativo com uma metodologia centrada num estudo de caso, encontra algumas respostas sobre as formas de perspectivar e desenvolver o trabalho colaborativo e reflexivo entre os professores, no âmbito do projecto educativo de escola, assim como tentar compreender as dificuldades que se colocam aos professores nesse processo. Como conclusões, refere a necessidade de reestruturação do modo de actuação dos departamentos curriculares, no que se refere à escassez de tempo, e à organização do modelo de trabalho onde as

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lideranças assumem relevo. Apela a um novo estilo de liderança que seja capaz de fomentar a confiança, envolvimento, a participação, o questionamento e a reflexão conjunta e a existência de tempos comuns no horário não lectivo dos professores. São argumentos que fomentam a colaboração e a reflexão entre os professores, em particular, nesta investigação, tendo como referência o Projecto Educativo. Os indicadores evidenciados que caracterizam as dificuldades e constrangimentos que se deparam ao trabalho colaborativo, na opinião dos professores, são: “a gestão dos horários dos professores; a intensificação do trabalho dos professores; o desenvolvimento das reuniões e a ausência de uma liderança efectiva” (Correia, 2007: 132).

Brites (2002) realiza uma investigação que tem como figura nuclear a articulação curricular entre o 1º e 2º ciclos num agrupamento vertical de escolas. O objectivo é desocultar e clarificar os sentidos das práticas organizacionais e colaborativas através de um estudo de caso com recolha de dados eminentemente qualitativos. Conclui que a articulação curricular vertical ainda decorre de forma reservada ou mesmo passiva, embora seja reconhecida a sua intenção. Mostra, ao questionar diversos entrevistados sobre trabalho em equipa, nomeadamente a realização de reuniões constituídas por professores dos 1º e 2º ciclos, que as mesmas ocorrem unicamente no início e término do ano lectivo. Como descreve “apenas há a preocupação de se darem informações sobre os alunos que saem do 1º ciclo e entram no 2º ciclo. Estas são essencialmente entre professores do 4º ano e directores do 5º ano de escolaridade” (Brites, 2002: 174). Em termos da articulação vertical entre ciclos, nomeadamente 1º e 2º ciclos, refere que:

“a ideia de se concretizar a articulação curricular entre o 1º e 2º ciclos ao receber a informação dos conteúdos que tinham sido desenvolvidos no ano anterior, julgamos ser apenas uma questão de continuidade, pois que a articulação é muito mais que pegar em conteúdos e dar-lhe sequência nos anos lectivos subsequentes “ (Brites, 2002: 177).

Este investigador aponta como factores que dificultam uma articulação curricular vertical: incompatibilidade de horários e uma falta de cultura para este trabalho que reconhece dever ser feito em parceria.

Pereira (2002) realiza uma investigação, usando uma metodologia de estudo de caso, que pretende caracterizar o trabalho desenvolvido pelos professores num Departamento Curricular assente em práticas colaborativas na gestão do currículo. Reconhece que embora esta forma de cultura docente não surja nem facilmente nem

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espontaneamente existem contudo factores que potenciam a sua promoção, nomeadamente os departamentos curriculares. Conclui que:

 o departamento curricular visa promover a articulação entre disciplinas do mesmo Ciclo;

 não há uma prática regular e sistemática do trabalho colaborativo no que diz respeito a planificação de aulas, produção de materiais pedagógicos e partilha de metodologias;

 algumas formas elementares de colaboração entre docentes revestem-se em trocas esporádicas e informais de ideias e soluções para determinados problemas educativos e na planificação do ensino e de outras actividades educativas.

Enumera algumas dificuldades na implementação e desenvolvimento do trabalho colaborativo evidenciadas pelos professores que foram objecto de estudo. Catalogou as dificuldades em três categorias, a saber:

 dificuldades relacionadas com aspectos técnico-administrativo - horários dos professores não prevêem tempos comuns para reuniões, falta de espaços físicos, nomeadamente uma sala ou gabinete específico, dispersão dos professores devido ao exercício de diversas actividades na escola;

 dificuldades inerentes à pouca familiaridade com o trabalho colaborativo - dimensão dos grupos de trabalho, desenvolvimento das reuniões de departamento, conciliação da vida profissional com a vida familiar;

 dificuldades inerentes ao significado atribuído à colaboração e à colegialidade - existência de pessoas com diferentes sensibilidades dentro do Departamento, falta de motivação, ausência de uma liderança efectiva. Como condições facilitadoras, descreve algumas não deixando de mencionar que os professores revelam alguma dificuldade na sua enumeração: a existência de um tempo comum, marcado no horário dos professores; a existência de uma sala de trabalho; o respeito pelas diferenças; formação de subgrupos de trabalho mais reduzidos, constituídos de acordo com preferências individuais e a existência de motivação para trabalhar colaborativamente.

Estas investigações demonstram-nos a convergência das conclusões.

Qualquer que seja a perspectiva de estudo sobre o trabalho do professor, converge na existência de uma cultura de escola que valorize e promova a colaboração e a colegialidade entre os professores.

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Reportando-nos, particularmente, ao trabalho dos professores, a Associação de Professores de Matemática realizou um estudo, em 1998, onde referencia também a problemática das práticas colaborativas entre os professores. O estudo realizado a nível nacional está compilado numa obra intitulada Matemática 2001- Diagnóstico e

recomendações para o Ensino e Aprendizagem da Matemática. Passamos a citar uma

das recomendações evidenciadas:

“…os professores mostram-se receptivos à colaboração informal, mas devem ser sensibilizados para a necessidade de se envolverem mais profissionalmente em processos mais formais de colaboração profissional, a nível da sua escola ou território educativo ou com professores de outras regiões com quem tenham afinidades. Estas actividades colaborativas podem dizer respeito ao diagnóstico de problemas de aprendizagem dos alunos, à definição de projectos e estratégias de intervenção ou à preparação de materiais e de aulas, com a correspondente reflexão sobre as actividades lectivas e os seus resultados” (APM, 1998: 57).

Todas as abordagens sobre o trabalho do professor merecem investigações pertinentes e profundas no sentido das escolas portuguesas conhecerem um desenvolvimento significativo.

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