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CAPÍTULO 1 OS ESTUDOS DA VARIAÇÃO LINGUÍSTICA

1.3 AS VARIEDADES DO ESPANHOL NUMA PERSPECTIVA

linguísticas, como afirmado anteriormente. E essas variedades podem ser divididas por diferentes óticas: do ponto de vista social, quando consideramos as variedades diastráticas (idade, sexo, escolaridade), do ponto de vista regional, as variedades diatópicas (países, estados, cidades), e do ponto de vista dos contextos de enunciação, temos as variedades estilísticas (apropriação da linguagem de acordo com as diferentes situações comunicativas).

Ao nos voltarmos para a língua espanhola e toda a sua diversidade, diante de 21 países que a têm como língua oficial, não podemos desconsiderar as variedades diatópicas. Essa multiplicidade de vozes que constitui a língua espanhola não pode ser analisada apenas considerando os aspectos sociais, mas vislumbrando a geografia que também determina as escolhas dos falantes e constitui a variedade diatópica ou regional.

Por esse motivo, recorremos à dialetologia que tanto desenvolve estudos regionais e constroi atlas geográficos, buscando uma delimitação das fronteiras linguísticas entre os diferentes dialetos. Zamora Munné e Guitart (1982) especificam o objeto de estudo da dialetologia:

La dialectología es aquella parte de la lingüística que estudia la heterogeneidad de las lenguas, es decir que observa y explica el hecho de que las lenguas no sean homogéneas, sino que estén compuestas de un mayor o menor número de dialectos, más o menos diferentes entre sí (ZAMORA MUNNÉ; GUITART, 1982, p. 09).

O que se pode observar, com o exposto, é que a heterogeneidade a que se dedica a Sociolinguística também está no bojo da dialetologia, buscando identificar quais dialetos estão presentes numa língua e como suas fronteiras estão delimitadas geograficamente a partir dos aspectos linguísticos.

Se as duas teorias consideram a heterogeneidade da língua, o que as difere? O que seria um dialeto? A dialetologia se preocupa com os dialetos enquanto a Sociolinguística estuda a língua? Há uma diferença entre língua e dialeto? Ao pensar numa comunidade linguística como cada uma dessas abordagens pode corroborar nos estudos da diversidade linguística?

Para tenta responder essas indagações, partiremos do conceito micro para esclarecer de que forma essas duas teorias podem caminhar “de la mano”:

Se puede decir que cada individuo habla un idiolecto (el castellano o español de don Luis, el de la abuela Consuelo, el del joven Alberto) y ese conjunto de idiolectos, con poca variación entre sí, forman el dialecto de una zona geográfica (el castellano o español de Andalucía, Salamanca, Cuba, San Juan de Puerto Rico). El conjunto de dialectos regionales forman lo que usualmente se denomina una lengua (inglés, francés, catalán, gallego, español, alemán). Por lo tanto, siguiendo estas definiciones todos hablamos un idiolecto, pertenecemos a un grupo dialectal y el dialecto forma parte de una lengua histórica y común (SILVA-CORVALÁN, 1989 apud RAMIREZ, 1996, p. 38).

As conceituações acima nos fazem refletir sobre a teia que constitui a configuração da língua. A partir do pressuposto do idioleto, ou seja, cada indivíduo apresenta uma forma própria de falar, com suas peculiaridades e de acordo com as diferentes situações comunicativas e o conjunto de pessoas que têm um falar “próximo” constitui um dialeto. Ao passo que a junção de todos os dialetos de uma comunidade linguística concebe uma língua.

Conflui para essa ideia de dialeto a declaração de Zamora Munné e Guitart (1982):

la forma historicamente determinada de la lengua de un grupo que ocupa un espacio geográficamente definible. En este sentido no puede establecerse una distinción entre hablantes de lengua frente a hablantes de dialecto. Todo el mundo habla algún dialecto, y una lengua no es más que la suma de sus dialectos (ZAMORA MUNNÉ; GUITART, 1982, p. 17).

Na dialetologia, o conceito de língua parte do individual para o coletivo. Considera-se que os usos individuais unidos geram os dialetos e a congregação desses dialetos constituem a língua, um processo considerado inverso ao pensamento saussuriano, pois parte de uma unidade menor, o idioleto inerente a cada falante, que, unido a um determinado grupo, produz um dialeto e os diferentes dialetos integram o que chamamos de língua (MORENO FERNÁNDEZ, 2009).

Outra perspectiva sobre os conceitos de dialeto e língua é propagada por Alvar (1996), a partir de um viés histórico, que posiciona uma diferenciação da seguinte maneira:

La diferencia entre literaria y dialecto es, pues, un concepto histórico o, por mejor decir, derivado de la historia. Por razones distintas (políticas, sociales, geográficas, culturales), de varios dialectos surgidos al fragmentarse una lengua hay uno que se impone y que acaba por agostar el florecimiento de los otros. Mientras el primero se cultiva literariamente y es vehículo de obras de alto valor estético, hay otros que no llegan nunca a escribirse, y si lo son, quedan postergados en la modestia de su localismo. Mientras el primero sufre el cuidado y la vigilancia de una nación, los otros crecen agrestemente (ALVAR, 1996, p. 07).

Segundo o autor, uma língua para tornar-se língua precisa de uma amplitude e uma disseminação na comunidade de fala, ganhando força e propiciando uma produção literária que seja representativa da comunidade. Nesse momento, ocorre a diferenciação do dialeto para a chamada “língua nacional”, quando a comunidade se vê representada nos diferentes meios de comunicação e difusão dos aspectos culturais que são gerados pela própria comunidade. No tocante à delimitação dos conceitos que regem a dialetologia, Moreno Fernández (2009) remete aos limites geográficos que definem os dialetos, afirmando que não é tão simples quanto parece, pois há várias nuances que dificultam sua precisão:

sus limites son imprecisos, cuando no confusos, o de que resulta imposible la caracterización exclusiva de los ámbitos geolinguísticos que configuran una lengua. En realidad, la geografía de la lengua española muestra unos caracteres ideales para entender todos los problemas teóricos que plantea el concepto de dialecto: dentro del español existen variedades desarrolladas a partir del castellano antiguo; algunas de estas variedades conviven con otras cuyos orígen se remonta al latín; en otros casos la convivencia se produce con lenguas de la misma familia o de familias diferentes; las fronteras dialectales son borrosas; y muchos rasgos lingüísticos son compartidos de forma desigual por hablas diferentes (MORENO FERNÁNDEZ, 2009, p. 57).

Como vimos, os dialetos não são formados apenas pelo molde de uma nação, mas dentro de suas fronteiras. Vários aspectos corroboram com a construção de um dialeto, assim, em um país, temos as diferenças que vão desde as regiões até as comunidades de fala definidas por grupos de falantes específicos, como de zonas rurais e urbanas, por exemplo.

[...] dialecto es toda manifestación real del sistema linguístico abstracto que es la lengua, de manera que la lengua española está integrada por una gran variedad de dialectos nacionales y de subdialectos regionales, comacarles, locales y aun individuales – idiolectos -, cada uno de los cuales, por su parte, estará integrado por dialectos socioculturales diversos (LOPE BLANCH, 2002, p. 26)

Um dialeto tem como objetivo caracterizar uma localidade, mas necessitamos ter em mente que não há uma unidade em sua totalidade. O que ocorre, na verdade, é a predominância de características que definem determinado dialeto de uma cidade ou de uma região, mas outros eventos linguísticos podem estar presentes numa língua que é tão mutável e heterogênea.

Essa pluralidade da língua possibilita análises sob diferentes óticas. Olhando para a perspectiva dialetológica, percebe-se que “estudia la diversidad geográfica de la lengua; se fija en comunidades que se definen por el espacio que ocupan”; enquanto a sociolinguística corresponde a “estudiar las variedades de lengua […] las variedades socialmente determinadas, las normas que regulan el uso social de la lengua, las consecuencias de poseer una u otra variedad […]” (ZAMORA MUNNÉ e GUITART, 1982, p. 24).

Como vimos, uma língua é constituída de vários dialetos e não podemos omitir essa informação em nossos estudos. Portanto, para que possamos analisar como um fenômeno linguístico se apresenta em uma língua, precisamos esclarecer que nosso

corpus é formado por dois dialetos diferentes, um da Ciudad de México e outro de Monterrey, dialetos que fazem parte da variedade linguística do espanhol mexicano.

Sob essa ótica, não podemos tratar do espanhol mexicano como se todas as subáreas apresentassem as mesmas características, já que estamos falando de comunidades de fala que se diferem, seja por questões culturais, seja por questões geográficas, já que a constituição de uma língua ocorre da união de vários eventos como citado por Moreno Fernández (2009), sejam eles por contato entre outras línguas ou pelas escolhas que a própria comunidade vai realizando diacronicamente.

Lope Blanch (1993) apresenta a importância de um estudo filológico baseado nos preceitos sociolinguísticos:

El filólogo deberá tratar de determinar cuáles son las actitudes del hablante que mayor repercusión tienen en la vida del idioma, que más regularmente alteran o condicionan su estructura, para dedicar a ellas su particular atención, como a factores verdaderamente relevantes dentro de la organización y desarrollo de la lengua como sistema (LOPE BLANCH, 1993, p. 24, grifos nossos).

Esse entrelaçamento entre as atitudes dos falantes e as alterações e/ou condicionamento na língua é o que motiva nosso estudo, buscando perceber quais os fatores que corroboram para as diferenças dialetais dentro da língua espanhola, no nosso caso, na variedade do espanhol mexicano. Pois a Sociolinguística possibilita descobrir e mostrar com suficiente detalhe os elementos de caráter social que influenciam nessas possíveis alterações da língua (LOPE BLANCH, 1993).

Por entender que tanto a dialetologia quanto a sociolinguística são relevantes para nossa pesquisa, pelo teor geográfico e social, consideraremos as palavras de Ramirez, as quais nos embasam:

Cada disciplina amplia nuestros conocimientos sobre la variación lingüística a través del tiempo, el espacio y las personas. La dialectología, con sus estudios de las variaciones inter e intrarregionales (geolinguística) y los nuevos enfoques relacionados con la variación social (dialectología social y dialectología urbana), nos ofrecen valiosa información de la lengua en la sociedad. La sociolinguística de la sociedad (multilinguismo social, estudios del bilinguismo, lenguas en contacto y en conflicto, actitudes linguísticas y comunidades de habla) y la sociolinguística de la lengua (estudios cuantitativos de variacionismo probabilístico, gramáticas en contacto, etnografía de la comunicación y análisis del discurso) aportan otros importantes datos acerca del comportamiento de la lengua y los hablantes (RAMIREZ, 1996, p. 48).

A união desses dois marcos teóricos só pode colaborar para o enriquecimento de nossa pesquisa, pois vislumbraremos como o fenômeno ocorre intrarregionalmente e se ocorre variação nos diferentes níveis sociais (idade, sexo e nível de escolaridade), permitindo que façamos uma descrição contundente dos dados analisados.

Com base nesses pressupostos, pretendemos apresentar como ocorre a alternância das formas pretéritas, PPC e PPS, no espanhol mexicano refletido em duas comunidades de fala (Monterrey e Ciudad de México), pelo viés das entrevistas sociolinguísticas. Para tal fim, propomos uma comparação entre as duas cidades, buscando perceber quais as semelhanças e as diferenças na aplicação desses pretéritos nos dialetos mencionados. Contudo, para que possamos analisar os dados, no próximo capítulo tentaremos caracterizar os aspectos que determinam cada um desses pretéritos.