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CAPÍTULO II AS FORMAS PRETÉRITAS DO ESPANHOL: PPC vs PPS

2.3 CARACTERÍSTICAS DO PPC vs PPS

2.3.1 O pretérito perfecto compuesto – PPC segundo as gramáticas

A construção morfológica constituída pelo verbo auxiliar do espanhol haber unida a um verbo em particípio é o que representa o PPC, he cantado, e essa composição está revestida de significados que definem esse tempo verbal:

[...] el participio posee cierta libertad sintáctica en los tiempos verbales, suelen tenerse en cuenta varios argumentos para mantener los tiempos compuestos en los paradigmas de flexión verbal, aunque, em principio, su estructura (haber +participio) podría dar a entender que se asimilan plenamente a las perífrasis verbales. El primero es el hecho de que el participio de los tiempos compuestos es invariable en género y número sea cual sea el sujeto […] El segundo argumento a favor de integrar los tiempos compuestos en los paradigmas morfológicos es el hecho de que, si los tiempos compuestos se eliminaran de la conjugación para agruparse con las perífrasis verbales, ocuparían un grupo aislado dentro de esas unidades y se alejarían indebidamente de los tiempos verbales simples. Sin embargo, presentan muchas afinidades con ellos (RAE, 2009, p. 1678).

Logo, percebemos que a inserção do PPC aos paradigmas verbais, junto com os tempos simples, se distanciam das perífrases verbais, já que a forma do partícipio é invariável, tanto em gênero quanto em número, e por suas características aspectuais serem semelhantes às formas simples, tratando-se do PPC e do PPS, por exemplo.

A delimitação ocorrida historicamente do PPC, conforme visto no item anterior, faz-nos perceber seu traço de anterioridade, empregado nas ações perfectivas, apesar de ganhar uma ampliação temporal em alguns contextos de uso. O autor Gili Gaya (1980) reafirma essas características em seus estudos sintáticos:

El participio precedido de un verbo auxiliar conjugado forma frases verbales de significación perfectiva. El sentido perfectivo de la acción así expresada, tiende a evolucionar hacia la representación de un “tiempo” anterior en el cual se produce la perfección o terminación del acto. Por esto la idea del pretérito, o de la anterioridad temporal, acompaña al significado perfectivo y a veces se sobrepone a él, como ha ocurrido en la historia de la conjugación española (GILI GAYA, 1980, p. 115).

Essa mudança de sentido propiciada pela perífrase resultativa é o que determina o traço de atualidade do PPC ou que, nas palavras de Gili Gaya (1980, p. 159), “quedó la perífrasis convertida en un tiempo pasado que se halla en relación con el presente”. Desse modo, a ação está concluída, mas estabelece relação com o presente. Conforme os exemplos abaixo:

(1) Hoy hemos ido de excursión a Toledo11.

(2) Este año ha aumentado el número de turistas en España. (3) Esta semana no he hecho ningún circuito.

Os exemplos listados apresentam esse traço de atualidade defendido pelos autores aqui elencados, o que evidencia uma manutenção do uso do PPC com a qualidade de ação concluída anterior ao momento atual, mas que estabelece relação temporal com a atualidade. Esse traço de atualidade é explicado por Cartagena da seguinte maneira:

11 Os exemplos 1, 2 e 3 utilizados nesta seção foram retirados de MORENO GARCÍA, C. Temas de

El significado fundamental de esta forma es indicar que una acción se realiza antes del punto cero que nos sirve de referencia para medir el tiempo, pero dentro del ámbito que tiene como centro la coexistencia o simultaneidad de dicho punto con el momento del habla. Dicho de otro modo, he hecho no significa acción simplemente ocurrida fuera del ámbito de nuestro presente, sino en relación directa con este (CARTAGENA, 1999, p.2941).

A relação direta com a atualidade expressa pelo PPC, apresentada no item 2.2.3, sobre o ponto zero de enunciação, é defendida por Cartagena (1999) para explicar a significação do PPC, em que entende como essencial marca dessa forma verbal a sua efetivação, no continuum temporal, antes do ponto zero, ou seja, antes da enunciação. Entretanto, considera o falante dentro do âmbito temporal enunciativo, estabelecendo uma relação com o presente:

El proceso referido pertenece al ámbito del presente, porque “la acción se realiza en presencia del hablante”, para formularlo en los términos en que la gramática latina define el perfectum praesens o “perfecto propiamente tal”. En este valor no se trata tanto de que la acción sea inmediatamente anterior al punto cero desde donde se mide el tiempo, sino más bien de que existe en ese punto un resultado o consecuencia suya: ej. En este momento se le ha caído el peine a tu prima (CARTAGENA, 1999, p. 2941, grifos do autor).

De acordo com o autor, o processo expresso pelo PPC pertence ao espaço temporal do presente, já que a ação é realizada diante do falante que é o enunciador do evento. Contudo, a imediatez desse processo não é a marca crucial desse valor expresso pelo evento, mas ele traz consigo um resultado ou consequência que é sentida e/ou percebida pelo falante nesse continuum de atualidade que reflete o passado.

Portanto percebemos que, para Cartagena, a repercursão do evento atinge a atualidade do falante que se encontra no presente. Desse modo, o PPC expressa uma ação que pode ter início no passado e ser refletida no presente, posicionando o enunciador no ponto zero do continuum enunciativo. Logo, essa ação gerada no passado ecoa no contexto atual do falante. Confluem com esse pensamento as ideias de Gili Gaya sobre o espanhol atual:

En español moderno significa la acción pasada y perfecta que guarda relación con el momento presente. Esta relación puede ser real, o simplemente pensada o percibida por el que habla. Por esto nos servimos de este tiempo para expresar el pasado inmediato (he dicho = acabo de decir) u ocurrido en un lapso de tiempo que no ha terminado todavía, p. ej.: esta mañana me he levantado a las ocho; este año ha

habido buena cosecha; durante el siglo presente se han escrito infinidad de novelas (GILI GAYA, 1980, p. 159).

Para Gili Gaya, assim como para Cartagena, a ação passada e finalizada externa um passado imediato que preserva uma relação com a atualidade do falante, com o presente. A hodiernidade, segundo esses autores, determina a aplicação do PPC. Ao inserir os eventos dentro desse limite temporal, as ações são projetadas para o presente dos falantes.

Outro fator que corrobora com o uso do PPC, estabelecendo esse vínculo entre ações finalizadas e a atualidade do falante, pode ser associado ao uso de verbos permanentes (como oír, ser, ver) - que significam a existência mesmo após o execução da ação - associados a advérbios como siempre e toda la vida, conforme os exemplos abaixo (CARTAGENA, 1999):

(4) Siempre ha sido médico.

(5) Toda la vida he oído los tangos de Carlos Gardel.

Os exemplos 4 e 5 ilustram as afirmações feitas por Cartagena, ao passo que relacionam a natureza do verbo a determinados advérbios (ou marcadores temporais)12 como motivadores pela escolha do uso do PPC. Os verbos permanentes associados aos marcadores siempre e toda la vida sugerem continuidade dos eventos que tiveram seu ponto de partida no passado, mas continuam vigentes na atualidade dos falantes.

Para Alarcos Llorach (1970, p. 32), o PPC “siempre designa una acción que se aproxima al presente gramatical, esto es que se produce en el ‘presente ampliado13’, en un período desde un punto del pasado hasta el ‘ahora’ en que se habla o escribe”. Dessa forma, o uso desse tempo verbal, que expressa uma ação concluída no passado, sempre estará subordinado a ações que tenham um vínculo com o presente.

Ademais, Alarcos Llorach vincula o uso dessa forma pela significação implícita na ocorrência - mesmo sem um marcador temporal que anuncie o tempo verbal - de um “hasta ahora” associada a ações durativas ou iterativas, ou seja, ações que expressam duração no tempo ou que são repetitivas, recorrentes.

(6) ¡Yo no lo he herido!14

(7) Carlos ha visto esta película tres veces.

12 Mais adiante será detalhada a influência dos advérbios ou marcadores temporais na utilização dos dois pretéritos.

13 O presente ampliado defendido por Alarcos Llorach é determinado subjetivamente pelo falante, quando da avaliação da ação com vínculo ao presente e por isso se opta ou não pelo PPC, de acordo com o entendimento subjetivo do falante.

No exemplo 06, podemos perceber o caráter durativo expresso pela construção temporal (yo no lo he herido) compondo um sentido de duração até o momento da enunciação ou ao presente ampliado. Enquanto no exemplo 07, a opção pelo PPC ocorre pela reiteração do evento realizado (ha visto...tres veces), confluindo para a afirmação de Alarcos Llorach sobre a natureza dessas ações.

Alarcos Llorach (1970) também faz referência à utilização recorrente do PPC em interrogações, enfatizando o caráter de indefinição determinado pelo questionamento realizado, que normalmente não estabelece em que ponto do passado a ação ocorreu, o que produz um enunciado a partir do momento em que a pergunta é feita.

Em oposição aos investigadores apresentados até o momento, Lope Blanch problematiza o sentido do aspecto entre os dois pretéritos, PPC e PPS. O autor afirma que, de forma diversa ao que se ratifica sobre a diferença temporal entre esses tempos, o emprego do uso do PPC é definido por uma questão aspectual, diferente do PPS: “El ante- presente no ha caído en desuso en América, sólo que se emplea, como lo ha mostrado para el español de México, con un valor diferente muy semejante al del portugués actual, el de tiempo durativo, reiterativo aún presente” (LOPE BLANCH, 1961 apud CARTAGENA, 1999, p. 2947).

Cartagena (1999) critica essa classificação feita por Lope Blanch, afirmando que a maior parte dos usos de ante-presente que se apresentam no espanhol americano também correspondem à norma peninsular, sendo eles:

1)[…] tiempo imperfectivo, durativo, reiterativo, presente; 2) […] ‘imperfectividad latente’, acciones particulares efectivamente

concluídas en el pasado, pero que el hablante interpreta como

repetibles; 3)[…] imperfectividad latente según Moreno de Alba, se

niega una situación para el pasado, que aún puede ocurrir en el futuro;

4) […] valor perfectivo, pero que expresan relevancia afectiva (CARTAGENA, 1999, p. 2949, grifos nossos).

Abaixo, exemplos que representam cada uma dessas funções de acordo com a classificação apresentada pelo autor.

8) Hay que reconocer el valor con que ha procedido siempre15.

9) Es la única exposición que he hecho.16 10) Todavía no ha llegado.

15 Os exemplos 08, 10 e 11 são de Lope Blanch (1961 apud CARTAGENA, 1999). 16 Exemplo de Moreno de Alba (1978 apud CARTAGENA, 1999).

11) Y cuando ya estaba en plena carretera, ¡me he llevado un susto…!

A tese de Lope Blanch, defendida também por Moreno de Alba, fundamenta que o aspecto do verbo no PPC é de caráter imperfeito, ou seja, expressa ações durativas, reiteiradas, presentes, portanto inacabadas. Cartagena apresenta essa descrição do espanhol mexicano e afirma que:

Si aceptamos las descripciones de Lope Blanch y Moreno de Alba, debemos aceptar también la existencia de un ‘perfecto imperfecto’ de igual valor en el español peninsular y en el canario y limitar la diferencia en el uso de la forma compuesta al contexto de anterioridad inmediata […] (CARTAGENA, 1999, p. 2949).

Cartagena questiona a característica apresentada e defendida pelos autores Lope Blanch e Moreno de Alba, e defende que se o PPC for considerado como imperfecto, assim também deve ser visto o PPC na Península. Defende ainda que a oposição entre os usos das duas regiões se deve ao uso da forma composta em contextos de anterioridade imediata, utilizado na Península, enquanto se utiliza o PPS no México para os mesmos contextos de imediatez. Após essa reflexão sobre o sentido entre as regiões apresentadas, Cartagena nega a possibilidade de imperfeição do PPC e defende a ocorrência de uma confusão sobre os conceitos:

Recordemos que la perfección gramatical indica simplemente que una acción verbal ha terminado, acabado antes del momento cero del habla, es decir, se refiere al punto en que el tiempo de la situación concluye, independientemente de las implicaciones derivadas del tiempo de foco o validez del referido proceso, que dependen fundamentalmente del valor léxico del verbo y/o del significado oracional y co(n)textual. Por esto solo algunos verbos, a saber los de estado – y todos los ejemplos de Lope Blanch corresponden a verbos de este tipo desde el punto de vista léxico u oracional – conllevan regularmente, a menos que el contexto lo niegue, la implicación de que el referido proceso dura hasta el presente o más allá de sus límites (CARTAGENA, 1999, p. 2950).

Segundo a reflexão de Cartagena, a perfeição nada mais é que a conclusão de uma ação antes do momento enunciativo e que a determinação do processo da ação depende do seu sentido lexical ou de seu contexto oracional. O autor ainda aponta que os exemplos de Lope Blanch são todos com verbos de estado que possuem uma carga semântica que ecoa na temporalidade presente ou que ultrapassa esses limites.

Com base nessa explanação, questionamo-nos: se o valor lexical ou o valor contextual pode corroborar na compreensão do processo, o aspecto verbal não sofreria

alteração? Se o PPC apresenta uma concepção durativa ou de repetição não estaria se afastando da ideia de conclusão do evento? Se o autor afirma que há um teor de imperfeição latente, que é mantida nas orações negativas, essa ação não seria imperfeita? Retomaremos esses questionamentos mais adiante. Passemos às diferenciações do PPS

vs. PPC.