• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO III UM PANORAMA DO ESPANHOL MEXICANO

CAPÍTULO 5 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

5.3 AS VARIÁVEIS EXTRALINGUÍSTICAS

5.3.4 Variedade dialetal

Nesta seção, pretendemos apresentar um comparativo entre as cidades de

Monterrey e Ciudad de México, avaliando a variável linguística independente ADV unida

5.3.4.1 O encadeamento entre as cidades e o uso dos PP

Durante a análise fizemos um comparativo das variáveis independentes por cidade, por pensar que, desta forma, elucidaríamos as principais diferenças e semelhanças no uso das formas pretéritas nos corpora investigados. Por isso, na tabela 01, da página 81, apresentamos que o percentual total na Ciudad de México de ocorrências do PPS foi de 88%, enquanto do PPC 12%. Na cidade de Monterrey, os dados coletados apresentaram um percentual de 85% de ocorrências de PPS e 15% de ocorrências de PPC.

Esses dados demonstram um alto índice de ocorrências da forma simples (PPS) nas duas cidades, quando comparados os números de eventos identificados ao total contabilizado em cada cidade. Abaixo o gráfico explicita esses valores:

Gráfico 08 - ocorrências de PP por cidade

Fonte: autoria própria (2018)

Do total de ocorrências quantificadas em cada cidade, incluindo os valores com a presença ou não de marcadores temporais ou advérbios temporais - os ADV, observamos os seguintes resultados.: das ocorrências quantificadas, observamos que em cerca de 80% dos dados, em média, em cada uma das cidades, houve a aplicação do PPS sem a presença de um marcador temporal.

O percentual de ocorrências de uso do PPS sem a presença de advérbio, comparando as duas cidades, foi aproximado, visto que na Ciudad de México 88% dos casos ocorreram dessa forma, enquanto 85% dos eventos foram identificados em

Monterrey. Tal constatação aponta a necessidade de um estudo futuro com o propósito de

analisar cada evento demarcado no corpus e ver sua função léxico-semântica aplicada aos contextos reais de fala.

A partir da comparação entre as duas cidades, percebemos que, na Ciudad de

México, a forma PPC ocorre em 77% dos eventos sem a presença de um marcador

temporal; a presença de um ADVs foi registrada em 21% dos dados, enquanto o ADVa associado ao PPC apareceu em apenas 1% das ocorrências.

Em Monterrey, a ocorrência do PPC sem o ADV foi percebida em 66% dos casos; em 30% dos eventos, foi registrada a presença de um ADVs; já na presença de um ADVa, esse registro foi de apenas 3% da totalidade dos registros.

Houve uma tendência, em Monterrey, a um maior uso do PPC associado ao ADVs, 30% dos casos, enquanto Ciudad de México apresentou um percentual médio de 21% dos casos. No entanto, para perceber se ocorre uma variação aspectual das formas, como proposto por Lope Blanch (1989, 1992) e Moreno de Alba (2002), seria necessário analisar semanticamente cada um dos eventos associados ao PPC, neste corpus, não sendo possível essa tarefa para este trabalho. Por enquanto, detivemo-nos a identificar a possível alternância entre as duas formas e verificar a ocorrência quantitativa que os dados apresentam.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nos estudos realizados sobre as formas pretéritas perfeitas do espanhol, PPS e PPC, observamos a coexistência entre essas formas nas duas cidades analisadas,

Monterrey e Ciudad de México, a partir do corpus PRESEEA. Todavia, apesar das duas

formas estarem presentes no corpus oral analisado, há uma predominância de uso da forma PPS, inclusive com a presença de marcadores de simultaneidade, que remetem ao uso do PPC. Assim, esses advérbios estão sendo empregados com o PPS, o que aponta para a ocorrência do fenômeno de transição, defendido por WLH (2006 [1968]), com a forma PPS em prevalência na totalidade dos eventos, 88% dos registros.

A partir da análise da presença do ADVa e do ADVs, podemos concluir que o advérbio de anterioridade mantém o traço conservador de emprego do PPS, conforme orientado nas gramáticas normativas; enquanto o ADVs sinaliza uma inovação, de acordo com os índices percebidos quanto a sua utilização com o PPS, ao invés do PPC.

Esses dados nos inquietam a analisar, futuramente, os eventos nas duas formas, PPS e PPC, em seus contextos, visto que percebemos a variação da forma PPS em contextos de uso do PPC marcado pelo teor “imperfectivo” que é defendido por alguns autores. O que nos mostra uma variação do PPS em substituição do PPC. Para tanto, é necessário uma análise léxico-semântica dos verbos para verificar como ocorre essa alternância entre as formas.

As variáveis independentes extralinguísticas idade e escolaridade apresentaram uma significativa ocorrência de variação, apontando uma inovação. No fator condicionante idade, identificamos variação elevada entre os três níveis considerados, quando cruzamos o fator idade vs. presença de ADVs associada ao PPS, atigindo um alto percentual entre as pessoas dos três grupos.

Ao comparar as duas cidades, percebemos que na Ciudad de México o grupo 02 apresentou um percentual mais elevado do uso inovador da forma PPS + ADVs, com 78% das ocorrências. Enquanto em Monterrey, os valores foram crescentes de acordo com a elevação da idade (grupo 01 – 48%; grupo 02- 62% e grupo 03 – 68%), revelando a manutenção do padrão normativo entre os mais jovens, o que nos inquieta a tentar compreender os motivos por esse uso normativo entre os mais jovens, tendo em vista que nos demais grupos a variante inovadora foi mais perceptível.

Sobre a variável escolaridade, observou-se uma alternância entre as formas, com uma tendência para o uso do PPS. Entretanto, entre as ocorrências de ADVa relacionadas

ao PPC, o que revela um traço inovador, identificamos, entre as pessoas com nível de escolaridade superior, um maior índice, apontando um percentual de 9,52%.

Quanto à variável independente extralinguística sexo, os dados apontam para uma variação de 13% entre os homens de Monterrey no emprego da forma convencional, indicando o uso de ADVa + PPC. Mesmo com esse resultado, se mantém predominante o uso do PPS nos diferentes grupos de fatores analisados, ou seja, há uma equiparação entre pessoas de ambos os sexos, demonstrando uma preferência pelo uso do PPS.

De acordo com os gráficos e tabelas expostas, percebemos que o número de ocorrências de PPS sem a presença de marcador temporal foi elevado, dado o quantitativo dos dados verificados, ratificando a preferência pelo uso do PPS em detrimento do PPC. Para conclusões mais detalhadas sobre a aplicação desse tempo verbal, é necessária uma análise do aspecto verbal que indique os contextos em que esse tempo é aplicado.

Os resultados apontam que a condicionante linguística presença do ADVs exprime um traço inovador no corpus em questão, pois, do total de ocorrências de ADVs, 63% evocaram o uso do PPS, o que se afasta da normativa e indica a variação da forma PPS associada ao ADVs no corpus.

Portanto, esse traço inovador nos impulsiona a dar continuidade ao estudo, a fim de verificar, dentre os eventos associados ao ADVs, tanto a forma PPS quanto a forma PPC, o que os dados linguísticos têm a nos mostrar sobre essa variação. E além disso, tentar compreender os eventos de PPC que se mantêm presentes no corpus para entender se o aspecto verbal influencia na manutenção dessa forma verbal no corpus, conforme defendido por Lope Blanch (1992).

Com base nessa explanação, questionamo-nos: se o valor lexical ou o valor contextual pode corroborar na compreensão do processo, o aspecto verbal não sofreria alteração? Se o PPC apresenta uma concepção durativa ou de repetição, não estaria se afastando da ideia de conclusão do evento? As respostas a essas perguntas não poderão ser respondidas neste estudo, mas nos impulsionam a dar continuidade em estudos futuros, na tentativa de analisar o aspecto verbal do PPC e do PPS aplicados aos contextos de fala em Monterrey e na Ciudad de México.

REFERÊNCIAS

ALARCOS LLORACH, E. Perfecto simple y compuesto. In:______. Estudios de gramática funcional del español. Madrid: editorial Gredos, S.A, 1970. p. 13-49. ALVAR, M. ¿Qué es un dialecto? In: _______. El Español de España.

Barcelona:Ariel, S.A, 1996. p. 05-14.

AIROLDI, F. C. Sobre el uso del perfecto en el español. In: BÁEZ, G. E.; LUNA TRAILL, E. (Orgs.). Disquisiciones sobre filología hispánica: in memoriam Juan M. Lope Blanch. México: Universidad Nacional Autónoma de México, 2004.

AZOFRA SIERRA, M.E. Situación del paradigma de perfecto entre los siglos XIV y XVI. León: Actas del XXXV Simposio Internacional de la Sociedad Española de Lingüística. Publicación electrónica en:

<http://www3.unileon.es/dp/dfh/SEL/actas.htm>, acesso em 21 de fevereiro de 2017. BELLO, A. Significado de los tiempos. In: _____ Gramática: gramática de la lengua castellana destinada al uso de los americanos. Edición digital a partir de Obras completas. Tomo Cuarto, 3ªed., Caracas, La Casa de Bello, 1995 [1951], Disponível em:

<http://cervantesvirtual.com/servlet/SirveObras/04694925499104944157857/index.htm > acesso em 27 de fevereiro de 2017.

CARTAGENA, N. Los tiempos compuestos. In: BOSQUE MUÑOZ, I. e DEMONTE BARRETO, V. Gramática descriptiva de la lengua española 2: las construcciones sintácticas fundamentales – relaciones temporales, aspectuales y modales. Madrid: Espasa Editorial, 1999. p. 2935-2976.

COELHO, I. L.; GÖRSKI, E. M. ; NUNES DE SOUZA, C. M. ; MAY, G. H. . Para conhecer sociolinguística. 1. ed. São Paulo: Contexto, 2015. v. 1.

COMPANY COMPANY, C. La engañosa apariencia sintáctica del español

americano. ¿Conservador o innovador? Publicado na Revista Hispánica de los países bajos, 2000, p. 15-26.

COMPANY COMPANY, C. “Reanálisis, ¿mecanismo necesario de la

gramaticalización? Una propuesta desde la diacronía del objeto indirecto en español” Publicado en Revista de Historia de la Lengua Española, 5, 2010, p. 35- 66. Disponível em: <http://www.concepcioncompany.com/2012/07/2010b-

reanalisis-mecanismo.html> acesso em 13 de março de 2017.

COMPANY COMPANY, C. Sintaxis y valores de los tiempos compuestos en el español medieval. Nueva Revista de Filología Hispánica, 1983. Edição 32, nº 02, pp.

235-257 (disponível em: <http://www.concepcioncompany.com>, acesso em 15 novembro de 2017).

DE MIGUEL, . O aspecto léxico. In: BOSQUE MUÑOZ, I. e DEMONTE BARRETO, V. Gramática descriptiva de la lengua española 2: las construcciones sintácticas fundamentales – relaciones temporales, aspectuales y modales. Madrid: Espasa Editorial, 1999.

FARACO, C. A. Lingüística Histórica: uma introdução ao estudo da história das línguas. São Paulo: Parábola Editorial, 2005.

FONTANELLA DE WEINBERG, M.B. El español de América. Madrid: Editorial MAPFRE, 1992.

GILI GAYA, S. VOX: curso superior de sintaxis española. Barcelona: Bibliograf S.A, 1980. Disponível em: < http://upea.reyqui.com/2017/06/curso-superior-de-sintaxis- espanola-de.html>, acesso em 15 de agosto de 2017.

GUY, G. R.; ZILLES, A. Sociolinguística quantitativa – instrumental de análise. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.

HENRIQUEZ UREÑA, P. Observaciones sobre el español de América. Revista de Filología Española. Nº VIII, Madrid: 1921. p. 357-390.

LABOV, W. Padrões sociolinguísticos; tradução Marcos Bagno, Maria Marta Pereira Scherre, Caroline Rodrigues Cardoso. São Paulo: Parábola Editorial, 2008 [1972]. LOPE BLANCH, J. M. Anomalías en la norma lingüística mexicana. Actas X: AIH. Centro Virtual Cervantes, 1989. p. 1221-1226. Disponível em <

https://cvc.cervantes.es/literatura/aih/pdf/10/aih_10_4_045.pdf> acesso em: 08 de agosto de 2017.

LOPE BLANCH, J. M. Supuesto arcaísmo del español americano. In: Estructuralismo e historia. Miscelánea Homenaje a André Martinet. Vol. III. Canarias: Universidad de la Laguna, 1962. p. 99-165.

LOPE BLANCH, J. M. Esbozo histórico del español en México. In: HERNÁNDEZ ALONSO, C. Historia y presente del español de América. Valladoid, Junta de Castilla y León, 1992. p. 607-626.

LOPE BLANCH, J. M. La falsa imagen del español americano. Revista de Filología Española, vol. 72. Nº ¾, 1992. Disponível em:

<http://revistadefilologiaespañola.revistas.csic.es/index.php/rfe/article/view/563/628>, acesso em 09 de novembro de 2017.

LOPE BLANCH, J. M. Ensayos sobre el español de América. México: Universidad Autónoma de México, 1993.

LOPE BLANCH, J. M. La norma lingüística hispánica. Revista Anuario de Letras: Universidad Nacional Autónoma de México, 2002, p. 23-41. Disponível em:

<https://revistas-filologicas.unam.mx/anuario-letras/index.php/al/article/view/3/3> , acesso em 09 de agosto de 2017.

LOPE BLANCH, J.M. México. In: ALVAR, M. Manual de dialectología hispánica: el Español de América. Barcelona: Editorial Ariel, S.A., 1996, 81-88.

MACEDO, A.V.T. Linguagem e contexto. In: In: MOLLICA, M. C; BRAGA, M.L. (Orgs.). Introdução à Sociolinguística. São Paulo: Contexto, 2012. p. 59-66. MARTÍN BUTRAGUEÑO, P. La división dialectal del español mexicano. In: BARRIGA VILLANUEVA, R; MARTÍN BUTRAGUEÑO, P. História de la sociolinguística en México. México: El colégio de México. Disponível em <

http://lef.colmex.mx/Sociolinguistica/Cambio%20y%20variacion/La%20division%20di alectal%20del%20espanol%20mexicano.pdf> acesso em 23 de novembro de 2016. MORENO BURGOS, J. El pretérito perfecto compuesto en el ámbito hispánico. Anuario de Letras, Lingüística y Filología: Univerisda de México, volumen III, 2015, p. 87-130. Disponível em < https://revistas-filologicas.unam.mx/anuario-

letras/index.php/al/article/view/72/72> acesso em: 26 de outubro de 2017.

MORENO DE ALBA, J.G. Frecuencias de formas verbales en el español hablado en México. 1972 , p. 175- 189. Revista Anuario de Letras: Universidad Nacional

Autónoma de México. Disponível em: <https://revistas-filologicas.unam.mx/anuario- letras/index.php/al/article/view/274/273>, acesso em 20 de novembro de 2016. MORENO DE ALBA, J.G. ¿Puede ser imperfecto el pretérito perfecto? Revista Anuario de Letras: Universidad Nacional Autónoma de México, 2002. Disponível em: <https://revistas-filologicas.unam.mx/anuario-letras/index.php/al/article/view/5/5> acesso em 15 de outubro de 2017.

MORENO FERNÁNDEZ, F. Lengua e historia. Sociolinguística del español desde 1700. In: Estudios sociolinguísticos del español de España y América. Madrid: Editorial Arco Libros, 2006.

MORENO FERNÁNDEZ, F. La lengua española en su geografía. Madrid: Arco Libros, 2009.

MORENO GARCÍA, C. Temas de gramática: nivel superior.Madrid: SGEL, 2001.

MOLLICA, M. C. Fundamentação teórica: conceituação e delimitação. In: MOLLICA, M. C; BRAGA, M.L. (Orgs.). Introdução à Sociolinguística. São Paulo: Contexto, 2012. p. 9-14.

OLIVEIRA, L.C. As duas formas do pretérito perfeito em espanhol: análise de

corpus. 2007, 130 f. Dissertação - Mestrado em Linguística. Universidade Federal de

RAMÍREZ, A. G. Dialectología y Sociolingüística. In: ALVAR, M. Manual de

dialectología hispánica: El Español de España. Barcelona:Ariel, S.A, 1996. p. 37-48. REAL ACADEMIA ESPAÑOLA. El verbo (I). Tiempo y aspecto. El aspecto léxico. Los tiempos del modo indicativo. In: ____. Nueva gramática de la lengua española. Morfología/ Sintaxis I. Madrid: Espasa libros, 2009. p. 1673-1742.

RODRIGUEZ MOLINA, J. Difusión léxica, cambio semántico y gramaticalización: el caso de haber + participio en español antiguo. Revista de Filología española, 2004, p. 169-204. Disponível em: < http://revistadefilologiaespañola.revistas.csic.es/> acesso em 20 de abril de 2017.

RODRIGUEZ UREÑA, P. Observaciones sobre el español de América. Revista de Filología Española. VIII (1921), p. 357-390.

ROJO, G.; VEIGA, A. El tiempo verbal. Los tiempos simples. In: BOSQUE MUÑOZ, I. e DEMONTE BARRETO, V. Gramática descriptiva de la lengua española 2: las construcciones sintácticas fundamentales – relaciones temporales, aspectuales y modales. Madrid: Espasa Editorial, 1999, p. 2867-2934.

SARDINHA, Tony Berber. Lingüística de corpus: histórico e problemática. D.E.L.T.A., Vol. 16, N.º 2, 2000 (323-367).

TARALLO, F. A pesquisa sociolinguística. 8ª ed. São Paulo: Ática, 2007.

PRESEEA (2011): “Guía PRESEEA para la investigación lingüística”. Vers. 2.0 22‐ 01‐2011. Disponível em: <http://www.linguas.net/preseea> acesso em 15 de dezembro de 2016.

WEINREICH, U.; LABOV, W.; HERZOG, M. I. Fundamentos empíricos para uma teoria da mudança linguística; tradução Marcos Bagno. São Paulo: Parábola Editorial, 2006 [1968].

WAGNER, C. Notas: El Atlas lingüístico de México. Nueva Revista de Filología Hispánica: 2003, volume 51, número 01, p. 193-203. Disponível em:

<http://nrfh.colmex.mx/index.php/nrfh/article/view/2513/2493>, acesso em: 20 de setembro de 2017.

ZAMORA MUNNÉ, J.C; GUITART, J.M. Dialectología Hispanoamericana: teoria – descripción – historia. Salamanca: Colégio de España, 1982.