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A alternância entre o pretérito perfecto simple (PPS) e o pretérito perfecto compuesto (PPC) em Monterrey e Ciudad de México: uma análise sociolinguística

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DEPARTAMENTO DE LETRAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM MESTRADO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO LINGUÍSTICA TEÓRICA E DESCRITIVA

MARAÍSA DAMIANA SOARES ALVES

A ALTERNÂNCIA ENTRE O PRETÉRITO PERFECTO SIMPLE

(PPS) E O PRETÉRITO PERFECTO COMPUESTO (PPC) EM

MONTERREY E CIUDAD DE MÉXICO: UMA ANÁLISE

SOCIOLINGUÍSTICA

NATAL/ RN 2018

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A ALTERNÂNCIA ENTRE O PRETÉRITO PERFECTO SIMPLE

(PPS) E O PRETÉRITO PERFECTO COMPUESTO (PPC) EM

MONTERREY E CIUDAD DE MÉXICO: UMA ANÁLISE

SOCIOLINGUÍSTICA

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Linguística.

Orientadora: Professora Drª Shirley de Sousa Pereira

NATAL/RN 2018

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes - CCHLA

Alves, Maraisa Damiana Soares.

A alternância entre o pretérito perfecto simple (PPS) e o pretérito perfecto compuesto (PPC) em Monterrey e Ciudad de México: uma análise sociolinguística / Maraisa Damiana Soares Alves. - 2018.

110f.: il.

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem. Natal, RN, 2018.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Shirley de Sousa Pereira.

1. Sociolinguística. 2. Pretérito Perfecto Simple. 3. Pretérito Perfecto Compuesto. 4. PRESEEA. 5. Monterrey (Nuevo León). 6. Ciudad de México (México). I. Pereira, Shirley de Sousa. II. Título. RN/UF/BS-CCHLA CDU 81'27

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A ALTERNÂNCIA ENTRE O PRETÉRITO PERFECTO SIMPLE

(PPS) E O PRETÉRITO PERFECTO COMPUESTO (PPC) EM

MONTERREY E CIUDAD DE MÉXICO: UMA ANÁLISE

SOCIOLINGUÍSTICA

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Linguística.

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________ Profa. Dra. Shirley de Sousa Pereira

Orientadora – UFRN/UFPE

______________________________________________ Profa. Dra. Tatiana Maranhão de Castedo

Examinadora externa – IFPB

______________________________________________ Prof. Dr. Carlos Felipe da Conceição Pinto

Examinador externo - UFBA

NATAL/RN 2018

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Dedico este trabalho a Maria da Luz Soares da Silva (minha mãe) que sempre esteve a meu lado, a Pedro Santino Alves (meu pai, in memoriam) que me ensinou que a educação era o bem mais precioso de um ser humano, ao meu marido Amaury Sérgio da Silva pela incansável companhia e apoio e a meus filhos Gabriel, Gabrielly e Grazielly que enchem minha vida de cor.

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Começar a escrever numa página em branco causa desespero e muitas vezes o sentimento de fracasso...parece que não vamos conseguir expor tudo o que lemos e tantas reflexões que desenvolvemos durante o tempo de estudo. Muitos devaneios passam por nossa mente, mas manter-nos perseverante contribui para que esses medos sejam vencidos e as ideias possam fluir e assim sair do nosso imaginário e se materializar em letras que possam decodificar o que se passa em nossas mentes.

Uso essas palavras para tentar expressar o que foram esses 24 meses de dedicação ao mestrado e, com isso, agradecer às pessoas que foram extremamente significativas nesse processo. Primeiramente, agradeço a Deus pela vida, por ter sido minha fortaleza e por ter me encorajado quando eu pensei que não seria mais capaz.

A minha mãe, que tanto batalhou para me educar e fazer com que eu me tornasse uma pessoa íntegra, que quase todos os dias me ligava para saber como estava o trabalho. Obrigada, mãe, por cada semente de amor que a senhora plantou na minha vida, sem a senhora nada disso teria sido possível.

Aos meus irmãos Maisa e Pedro Paulo, pelo afago nos momentos precisos. Ao meu amado marido Amaury Sérgio da Silva, que sempre apoiou minhas decisões e esteve a meu lado quando eu parecia não conseguir. Você foi fundamental nesse processo, pois estava sempre me dando a mão e me ajudando a levantar quando eu não conseguia me sustentar diante das dificuldades.

Aos filhos que a vida me deu: Gabriel, Gabrielly e Grazielly. Vocês sempre alegraram meus dias mais difíceis, quando eu estava angustiada, chegavam com um abraço, um sorriso ou até mesmo um “mamãe”, que fazia tudo isso valer muito a pena.

Ao IFRN, pelo afastamento durante parte do mestrado, que possibilitou o avanço da minha pesquisa.

A la Universidad de Nuevo León por disponibilizar los datos del corpora PRESEEA- Monterrey. ¡Muchas gracias!

Al Proyecto PRESEEA por desarrollar una investigación tan grandiosa que posibilita generar distintos estudios en el mundo a partir de los datos disponibilizados en su sitio.

À minha orientadora, que me guiou nessa tarefa de forma tão iluminada e tranquila, com sua doçura, tudo isso pareceu ser mais fácil do que na verdade foi. Existem pessoas no mundo que entram na nossa vida para nos mostrar que, com dedicação, mas

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Ao professor Dr. Carlos Felipe Pinto, por ser tão generoso e sempre disponibilizar-se a me ajudar, disponibilizar-seja com o envio de textos, disponibilizar-seja com as reflexões que impulsionaram ainda mais a escrita deste texto. Muito obrigada!

À professora Dra. Tatiana Maranhão de Castedo, por na graduação despertar em mim o desejo de estudar a diversidade da língua espanhola. Tenha certeza que uma sementinha foi plantada naquela época e este trabalho certamente é fruto de sua motivação em inquietar os seus alunos a buscar outros horizontes. Muito obrigada!

À professora Dra. Ilane Ferreira Cavalcante, minha mãe acadêmica, por sempre me estender a mão e me ensinar os caminhos pelos quais devo trilhar. Desde que entrou na minha vida, me mostrou, com seu exemplo de dedicação, seriedade e comprometimento a verdadeira missão acadêmica: fazer a diferença! Ahh, mas sem esquecer de dar a vida pitadas de bom humor que fazem os dias ganharem uma doçura necessária para não enlouquecermos. Muito obrigada por tantos ensinamentos!

Ao professor, amigo e cunhado Allan Robert da Silva, por me ajudar na quantificação dos dados e na elaboração das tabelas e gráficos. Muito obrigada pelo tempo desprendido, sua contribuição foi de extrema importância neste texto.

A um anjo, o professor Felipe Morais de Melo, que eu conheci no meio desse processo, mas que me ajudou tanto, sem nunca sequer ter me visto. Sua busca incansável por textos do México colaborou demais com minha pesquisa. Muito obrigada!

Aos amigos resilientes, o que dizer deles, Juzelly e Júlio. Nossas terapias em grupo sempre me deram muita motivação e entusiasmo para enfrentar o mundo inexplicável da investigação. A força da nossa amizade contribuiu para que, a partir dos erros cometidos, eu percebesse que não era preciso vê-los como momentos de fraqueza apenas, mas que serviam de exemplo e combustível para motivar os meus próximos passos.

Aos filhos - amigos que a academia me presenteou: Patrícia Farias, Juliana Fernandes e Carlos Rilke. Obrigada pela preocupação e por emanar tanta energia positiva sempre na minha vida, vocês deram leveza a esse árduo processo.

Aos tantos amigos que sempre se preocuparam com o andamento do meu trabalho e mandavam energias positivas, mensagens de motivação ou que ofereciam ajuda de alguma forma. Não vou conseguir citar todos, mas agradeço o estímulo que me deram: Carla Falcão, Monick Munay, Tacicleide, Lenina, Wigna, Bruno Rafael, Girlene, Neylane, Verônica, Jussara, entre tantos outros que são exemplos para mim.

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Aos amigos interestaduais Liliane, Susana, Rodrigo e Josinaldo. Vocês adoçam minha vida nos momentos mais amargos e difíceis, o laço que nos une transpõe a barreira geográfica.

À Alessandra Santa Rosa, obrigada pela revisão do texto, você entrou na minha vida há tão pouco tempo e já se faz tão presente que nem tenho como explicar.

Às queridas Suyanne e Ana Mércia, companheiras de mestrado, entramos juntas neste barco e graças a Deus vamos finalizar juntas. Foi muito bom compartilhar com vocês as dificuldades e os medos que iam surgindo, assim nos fortalecemos a cada dia e agora podemos dizer, enfim, CONSEGUIMOS.

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La escala de proximidad o lejanía es mucho más segura en nuestras representaciones del pasado que en las del porvenir. Los recuerdos se suceden en nuestra memoria con escalonamiento preciso, en tanto que las acciones venideras son siempre más o menos borrosas e inciertas (GILI GAYA, 1980)

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As múltiplas formas de dizer a mesma coisa estão presentes nas diferentes línguas e é uma atribuição da Sociolinguística conceber essa característica inerente ao sistema linguístico. Tomando em consideração essa realidade, os estudos da Variação e da Mudança Linguística refletem a heterogeneidade da língua que subjaz os fatores condicionantes sociais percebidos nas diferentes variedades de uma língua (WEINREICH; LABOV; HERZOG, 2006 [1968]). Neste estudo, interessa-nos investigar essas diversas formas de falar que, a partir de suas delimitações próprias, moldam as comunidades linguísticas estabelecendo suas normas. Com base nesses preceitos, esta pesquisa, de natureza quantitativa e qualitativa, tem como objetivo geral descrever e analisar a variável dependente forma pretérita perfeita do espanhol, através das variantes

pretérito perfecto compuesto (PPC) e o pretérito perfecto simple (PPS) com o intuito de

identificar a alternância entre essas formas em dois dialetos do México, na cidade de

Monterrey e na Ciudad de México. Para tanto, foram selecionadas 36 entrevistas

sociolinguísticas, sendo 18 de cada cidade, a partir do corpus linguístico PRESEEA –

Proyecto para el estudio sociolinguístico del español de España y de América. Para a

análise, partimos da conceptualização das formas pretéritas, assim como da possível diferenciação tempo-aspectual que possa existir entre o PPC e PPS, conforme apontam Cartagena (1999), Lope Blanch (1992), Moreno de Alba (2002). Em seguida, foram considerados os fatores condicionantes tanto linguísticos quanto extralinguísticos. Como fatores linguísticos, tivemos: a) a presença e/ou ausência de advérbios que indicam anterioridade ao ponto zero da enunciação; b) a presença e/ou ausência de advérbios que indicam simultaneidade ao momento da enunciação. Os condicionantes extralinguísticos constituem: c) idade; d) escolaridade; e) localidade e f) sexo. Os resultados obtidos na análise das 3644 ocorrências das formas pretéritas (em que 3174 foram eventos marcados com o PPS, enquanto 470 com o PPC) apontaram para uma predominância do PPS, inclusive com a presença do ADVs que estabelece vínculo atual do falante ao momento enunciativo, revelando uma variação da forma ADVs+ PPC substituída pela forma ADVs + PPS; assim, a temporalidade relacionada ao ponto zero da enunciação, que deveria remeter à forma prototípica PPC, foi expressa pelo emprego do PPS, demonstrando como a variação está em evidência nas entrevistas examinadas. Ademais, os dados apontaram para a necessidade de um futuro estudo classificativo das formas sob a ótica léxico-semântica, com o propósito de definir se a variação que ocorre no México é ocasionada pela temporalidade estabelecida nos contextos enunciativos ou pela aspectualidade verbal expressa pelos eventos.

Palavras- chave: Sociolinguística; pretérito perfecto simple; pretérito perfecto

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THE ALTERNATION BETWEEN THE SIMPLE PAST PERFECT (SPP) AND THE COMPOUND PAST PERFECT (CPP) IN MONTERREY AND CIUDAD DE

MÉXICO: A SOCIOLINGUISTIC ANALYSIS.

The multiple ways of saying the same thing are present in the different languages and it is an attribution of Sociolinguistics to conceive this inherent characteristic of the linguistic system. Taking into account this reality, the studies of Variation and Linguistic Change reflect the heterogeneity of the language that underlies the social conditioning factors perceived in the different varieties of a language (WEINREICH; LABOV; HERZOG, 2006 [1968]). In this study, we are interested in investigating these diverse forms of speech that, from their own delimitations, shape the linguistic communities establishing their norms. Based on these precepts, this research, of quantitative and qualitative nature, has as general objective to describe and analyze the dependent variable past perfect form of the Spanish, through the compound past perfect variants (CPP) and the simple past perfect (SPP) in order to identify the alternation between these forms in two dialects of Mexico, in Monterrey City and in Ciudad de México. For this reason, 36 sociolinguistic interviews were selected, 18 of each city being based on the linguistic corpus PRESEEA – Proyecto para el estudio sociolinguístico del español de España y de América. In order to reach this goal, we started from the conceptualization of the past forms, as well as the possible time-aspectual differentiation that may exist between the CPP and SPP, as pointed out by Cartagena (1999), Lope Blanch (1992) and Moreno de Alba (2002). Then, there were considered the linguistic and extralinguistic conditioning factors. As linguistic factors, we had: a) the presence and/or absence of adverbs that indicate anteriority to the zero point of the enunciation; b) the presence and/or absence of adverbs that indicate simultaneity at the time of enunciation; the extralinguistic conditioners are: c) age; d) schooling; e) locality and f) sex. The results obtained in the analysis of the 3644 occurrences of the past forms (in which 3174 were events marked with SPP, while 470 with CPP) pointed to a predominance of SPP, including the presence of ADVs that establishes the speaker's current link to the enunciative moment, revealing a variation of the form ADVs + CPP replaced by the form ADVs + SPP; thus, the temporality related to the zero point of the enunciation, which should refer to the prototypical CPP form, was expressed by the use of SPP, demonstrating how the variation is evident in the examined interviews. In addition, data pointed to the need for a future classificatory study of forms under the lexical-semantic perspective, with the purpose of defining whether the variation occurs by the temporality established in the enunciative contexts or by the verbal aspectuality expressed by the events.

Keywords: Sociolinguistics; simple past perfect; compound past perfect; PRESEEA;

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LA ALTERNANCIA ENTRE EL PRETÉRITO PERFECTO SIMPLE (PPS) Y EL PRETÉRITO PERFECTO COMPUESTO (PPC) EN MONTERREY Y CIUDAD DE

MÉXICO: UN ANÁLISIS SOCIOLINGÜÍSTICO

Las múltiples formas de decir una cosa están presentes en las diferentes lenguas y es una atribución de la Sociolingüística concebir esa característica inherente al sistema lingüístico. Por considerar esa realidad, los estudios de la Variación y del cambio lingüístico reflejan la heterogeneidad de la lengua que subyace los factores condicionantes sociales percibidos en las distintas variedades de una lengua (WEINREICH; LABOV; HERZOG, 2006 [1968]). En este estudio, nos interesa investigar esas diversas formas de hablar que, por medio de sus propias delimitaciones, delinean las comunidades lingüísticas estableciendo sus normas. Basado en estos preceptos, esta investigación, de naturaleza cuantitativa y cualitativa, presenta como objetivo general describir y analizar la variable dependiente forma pretérita perfecta del español a través de las variantes pretérito perfecto compuesto (PPC) y el pretérito

perfecto simple (PPS) con el propósito de identificar la alternancia entre esas formas en

dos dialectos de México, en la ciudad de Monterrey y en la Ciudad de México. Para eso, fueron elegidas 36 encuestas sociolingüísticas, con 18 de cada ciudad, a partir del corpus lingüístico PRESEEA – Proyecto para el estudio sociolingüístico del español de España

y de América. Para lograr esa finalidad, partimos de la conceptualización de las formas

pretéritas, así como de la posible diferenciación tiempo-aspectual que pueda existir entre el PPC y el PPS, de acuerdo con los estudios de Cartagena (1999), Lope Blanch (1992), Moreno de Alba (2002). Enseguida, fueron considerados los factores condicionantes tanto lingüísticos como extralingüísticos. Como factores lingüísticos, tuvimos: a) la presencia y/o ausencia de adverbios que indican anterioridad al punto cero de la enunciación (ADVa); b) la presencia y/o ausencia de adverbios que señalan simultaneidad al momento enunciativo (ADVs); los condicionantes extralingüísticos constituyen: c) edad; d) nivel de escolaridad; e) localidad y f) sexo. Los resultados obtenidos en el análisis de los 3644 registros de las formas pretéritas (en que 3174 presentan eventos señalados con el PPS, mientras 470 con el PPC) apuntaron para una predominancia del PPS, incluso con la presencia del ADVs que establece vínculo hodiernal del hablante al momento enunciativo, relevando una variación de la forma ADVS + PPC sustituída por la forma ADVs + PPS; de ese modo, la temporalidad relacionada al punto cero de la enunciación, que debería evocar la forma prototípica PPC, fue expresada por el empleo del PPS, demostrando como la variación está en evidencia en las entrevistas analizadas. Además, los datos señalaron la necesidad de un estudio posterior clasificativo de las formas bajo la óptica léxico-semántica, con el fin de definir si la variación que ocurre en México es originada por la temporalidad establecida en los contextos enunciativos o por la aspectualidad verbal expresada por los eventos.

Palabras clave: Sociolingüística; pretérito perfecto simple; pretérito perfecto compuesto; PRESEEA; Monterrey; Ciudad de México

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LISTA DE TABELAS

Tabela 01 - Ocorrências de PP por cidade ...80

Tabela 02 - Ocorrências de PP associadas ou não a ADV...82

Tabela 03 - Ocorrências de ADVa associadas aos PP...84

Tabela 04 - ADVs associado aos PP vs cidade...85

Tabela 05 - Nível de escolaridade: associação entre os PP e o ADVa...89

Tabela 06 – Nível de escolaridade - PP associados aos ADVs...90

Tabela 07 - Cruzamento entre idade e uso dos PP...95

Tabela 08 - Cruzamento entre faixa etária, uso dos PP e ADVa...97

Tabela 09 - Cruzamento entre ADVs e PP associados ao sexo...98

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Gráfico 01 - Ocorrências de ADVa x ADVs na totalidade de eventos...83

Gráfico 02 - Ocorrências de ADVa associadas ao PP e o nível de escolaridade...88

Gráfico 03 - nível de escolaridade vs PP por cidade...91

Gráfico 04- ADVs associado aos PP por idade...94

Gráfico 05 - Faixa etária: PP vs ADVs...95

Gráfico 06 - cruzamento entre sexo, PP e cidade...98

Gráfico 07 - cruzamento da variável sexo: PP e cidade...99

Gráfico 08 - ocorrências de PP por cidade...101

LISTA DE QUADROS Quadro 01 – Dados gerais: Ciudad de México ...70

Quadro 02 - Dados gerais: Monterrey...71

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ADV – Advérbio

ADVa – Advérbio temporal de anterioridade

ADVs – Advérbio temporal de simultaneidade

ALFAL – Associação de Linguística e Filologia da América Latina

PILEI – Proyecto Interamericano de Linguística y Enseñanza de Idiomas

pp – Particípio

PP – Pretéritos Perfectos

PPC - Pretérito Perfecto Compuesto

PPS – Pretérito Perfecto Simple

PRESEEA – Proyecto para el estudio sociolinguístico del español de España y de América

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Sumário

INTRODUÇÃO ... 18

CAPÍTULO 1 - OS ESTUDOS DA VARIAÇÃO LINGUÍSTICA ... 23

1.1 A VARIABILIDADE DA LÍNGUA E SUA HETEROGENEIDADE ... 26

1.2 OS PROBLEMAS DA VARIAÇÃO E MUDANÇA ... 28

1.3 AS VARIEDADES DO ESPANHOL NUMA PERSPECTIVA DIALETOLÓGICA ... 30

CAPÍTULO II - AS FORMAS PRETÉRITAS DO ESPANHOL: PPC vs. PPS ... 36

2.1 ORIGEM E FORMAÇÃO DO PPC ... 36

2.2 A RELAÇÃO ASPECTO- TEMPORAL NAS FORMAS PP DO ESPANHOL 41 2.2.3 A temporalidade verbal ... 41

2.2.4 A aspectualidade dos verbos ... 43

2.3 CARACTERÍSTICAS DO PPC vs PPS ... 48

2.3.1 O pretérito perfecto compuesto – PPC - segundo as gramáticas ... 48

2.3.2 Pretérito perfeito simples (PPS) ... 54

2.3.3 A presença dos marcadores temporais – ADVs vs. ADVa ... 56

CAPÍTULO III - UM PANORAMA DO ESPANHOL MEXICANO ... 59

3.1 A FORMA PRETÉRITA NO MÉXICO: UMA QUESTÃO ASPECTUAL? ... 63

CAPÍTULO 4 - PERCURSO METODOLÓGICO ... 69

4.1 CARACTERIZAÇÃO DOS DADOS ... 71

4.2 A VARIÁVEL DEPENDENTE ... 75

4.3 AS VARIÁVEIS INDEPENDENTES ... 76

4.3.1 O traço – marcador temporal de anterioridade (ADVa) ... 77

4.3.2 O traço – marcador temporal de simultaneidade (ADVs) ... 77

4.3.3 O traço – nível de escolaridade ... 78

4.3.4 – As variáveis sexo e idade ... 79

4.3.5 A localidade: variação dialetal ... 80

CAPÍTULO 5 - DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ... 82

5.1 AS OCORRÊNCIAS DE PPS vs. PPC- O UNIVERSO DOS DADOS ... 82

5.2 – O TRAÇO - ADVÉRBIO TEMPORAL ... 83

5.2.1 Advérbios de anterioridade associados aos pretéritos - ADVa vs. PP ... 86

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5.3.3 A variável sexo ... 99

5.3.4 Variedade dialetal ... 102

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 105

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INTRODUÇÃO

A expressão da sociedade por meio da linguagem passou a ser o cerne de estudos linguísticos a partir da década de 1960. Com a propulsão dos estudos labovianos (2008 [1972]) a língua passou a ser considerada como um sistema organizado e heterogêneo conduzido pela perspectiva social, que influencia diretamente nos processos de variação. Ao ponderarmos esse atributo da língua, deparamo-nos com as variedades que constituem um idioma e portanto são envoltos pelas múltiplas formas de falar de cada comunidade, possibilitando que os falantes possam expressar-se de diferentes maneiras

para expressar um mesmo sentido (LABOV, 2008 [1972]).

Cada comunidade linguística apresenta suas diferentes normas, que corroboram com essa heterogeneidade, e é pensando nisso que temos, como ponto de partida, estudar uma variedade da língua espanhola, a mexicana, com o propósito de analisar como duas formas pretéritas, o pretérito perfecto compuesto (PPC) e o pretérito perfecto simple (PPS), são usadas em um corpus de fala em duas cidades do México, Monterrey e Ciudad

de México.

Para compreender como esse fenômeno ocorre nessas cidades, buscamos um

corpus de fala representativo de cada cidade. Por isso, exploramos o corpus

sociolinguístico PRESEEA - Proyecto para el estudio sociolinguístico del español de

España y de América -, que contempla diferentes variedades do espanhol americano e

peninsular. Este projeto envolve diversas universidades, as quais aderiram à pesquisa com o propósito de construir um corpus que seja representativo das comunidades hispânicas.

Partimos dos pressupostos teórico-metodológicos dos estudos da Variação e da Mudança Linguística que entendem a língua revestida de formas diferentes, que coexistem e que são representativas de uma comunidade de fala (WLH, 2006[1968]). Aliada a essa concepção, fundamentamo-nos também na dialetologia, que busca classificar essa heterogeneidade com base nos dialetos de cada comunidade linguística do ponto de vista geográfico; enquanto a Sociolinguística busca classificar a variação a partir dos aspectos sociais que constituem cada comunidade.

Nesse sentido, a intenção desta pesquisa é verificar se ocorre diferença de variação entre duas cidades / regiões de um mesmo país, uma vez que o nosso interesse repousa em analisar a variação social e geográfica que está atrelada à variação linguística dessas comunidades de fala. Por isso, optamos pelo corpus PRESEEA, que está

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organizado em diferentes níveis de escolaridade, faixas etárias e sexo, fatores que, por sua vez, estão agrupados por cidade.

O fenômeno ora investigado trata da variação entre as formas pretéritas perfeitas do espanhol – pretérito perfecto compuesto e pretérito perfecto simple. Essas formas são equivalentes, segundo Cartagena (1999), já que estabelecem uma relação de anterioridade ao momento da enunciação e ambas são perfectivas, ou seja, expressam ações concluídas antes do enunciado ser proferido.

A variação linguística, definida por Labov (2008[1972]) como a coexistência de formas diferentes que expressem um mesmo significado, é o que fundamenta este trabalho para a delimitação da variável escolhida, as formas pretéritas perfeitas do espanhol, PPS e PPC. A seleção desse fenômeno, dessa variável dependente1, ocorre pelo alto índice de ocorrências na conversação de maneira espontânea, fator fundamental para que possa ser esquematizada a partir de contextos não– estruturados (LABOV, 2008 [1972]). Portanto, a seleção da variável aqui investigada se explica pela ocorrência significativa do fenômeno presente em entrevistas sociolinguísticas, pois, naturalmente, os informantes costumam narrar eventos de diversos âmbitos da sua vida, o que possibilita verificar o uso das formas pretéritas do indicativo, nas cidades de Monterrey e Ciudad de México.

Por entender que a língua é representativa de uma sociedade, este trabalho tem como intuito descrever e analisar as variações entre as formas de uso do pretérito, PPC e PPS, na língua falada destas duas cidades do México, Monterrey e Ciudad de México. Acreditamos, portanto, que este estudo possibilitará reflexões sobre o uso dessas formas e, nessa perspectiva, poderá colaborar para o desenvolvimento de outras pesquisas sobre o tema.

Os estudos da variação e da mudança linguística situam a língua como o cerne da sociedade, portanto indissociável de uma comunidade de fala. Essa relação intrínseca é percebida pelos aspectos sociais refletivos através dos diferentes usos da língua. Por isso, não há como pensar em estudar um fenômeno linguístico sem considerar os fatores condicionantes que possibilitam a heterogeneidade presente na língua (LABOV, 2008 [1972]).

Por possibilitar essa representação da comunidade de fala, pretendemos buscar (a partir do estudo do PPC x PPS nas duas cidades do México, anteriormente citadas) as

1 Conceito que iremos detalhar no capítulo teórico, mas, grosso modo, compreende-se como uma variação que pode ser alterada de acordo com fatores externos, como a idade, sexo, escolaridade, nível social, ou seja, é dependente de fatores sociais.

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possíveis variações no uso dos pretéritos. Convém aclarar que a forma PPS expressa ações pontuais, realizadas no passado e sem relação com o momento enunciativo; enquanto a forma PPC expressa ações finalizadas que apresentam relevância na atualidade do falante (cf. Cartagena, 1999).

Para o alcance desse fim, serão considerados fatores condicionantes tanto linguísticos quanto extralinguísticos. Como fatores linguísticos temos: a) a presença e/ou ausência de advérbios que indicam anterioridade ao ponto zero da enunciação (ADVa); b) a presença e/ou ausência de advérbios que indicam simultaneidade ao momento da enunciação (ADVs); os condicionantes extralinguísticos constituem: c) idade; d) escolaridade; e) sexo e f) localidade.

No entanto, essa pressuposição de que as formas PPS e PPC são variantes, não é vista de forma igualitária por estudiosos da língua espanhola. Autores como Lope Blanch (1992), Moreno de Alba (2002), Airoldi (2004) defendem que a aplicação entre as duas formas ocorre de forma diferenciada no México, sendo definida por uma questão aspectual, de completude da ação para o PPS e de ação durativa, inacabada para o PPC, divergindo do que defende Cartagena (1999).

Com base nesses pressupostos, pretendemos descrever o espanhol mexicano refletido em duas comunidades de fala (Monterrey e Ciudad de México), pelo viés das entrevistas sociolinguísticas, buscando perceber quais as semelhanças e as diferenças na aplicação dos pretéritos PPC e PPS nesses dialetos.

Como hipótese geral do trabalho, defendemos que ocorre variação das formas pretéritas no espanhol do México, porém não sabemos se a temporalidade ou a aspectualidade influenciam na escolha por uma das formas: a) PPS com advérbios de simultaneidade; b) PPC com aspecto imperfeito; c) PPC substituindo o PPS; d) PPC com advérbios de anterioridade. Para tentar contestar essa suposição, topicalizamos as seguintes questões:

1) As duas variantes PPS e PPC se fazem presentes nas entrevistas sociolinguísticas do México – Ciudad de México e Monterrey?

2) A presença dos advérbios temporais influencia no uso de uma das variantes? 3) As variáveis independentes linguísticas e extralinguísticas são significativas no uso de uma das formas?

4) Que diferenças são percebidas entre as ocorrências da Ciudad de México e de

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Com o intuito de responder a essas questões, temos como objetivo geral deste trabalho descrever e analisar a variável dependente, a forma pretérita perfeita do espanhol, através das variantes PPC e PPS, em entrevistas sociolinguísticas das cidades de

Monterrey e Ciudad de México.

Como objetivos específicos:

a) Identificar e descrever as formas pretéritas perfeitas presentes no corpus PRESEEA – Ciudad de México e Monterrey;

b) Verificar a presença de advérbios temporais de simultaneidade (ADVs)2 e anterioridade (ADVa) presentes no corpus e como eles contribuem para a variação;

c) Analisar de que modo as variáveis independentes (ou fatores condicionantes) contribuem para que ocorra variação no uso das formas.

d) Examinar se ocorre diferença de uso entre as localidades estudadas.

Para responder a tais questionamentos, o nosso trabalho está organizado da seguinte maneira:

No capítulo 01, trazemos uma apresentação teórico-metodológica sobre os preceitos labovianos, especificando as questões referentes à variação e mudança, os problemas percebidos no estudo da variação e como a dialetologia pode contribuir com o nosso trabalho.

No capítulo 02, explicitamos o fenômeno linguístico sobre o qual nos debruçamos, e para isso buscamos caracterizar/descrever a variável dependente elencada, formas pretéritas perfeitas do espanhol, explicando cada uma das variantes que consideramos (PPS e PPC), a partir de um panorama histórico e, em seguida, apresentamos as diferenças tempo-aspectuais a que se dedicam os estudos para aproximar e diferenciar os usos de cada uma das formas. Além disso, apresentamos uma classificação gramatical de cada uma das formas.

No capítulo 03, apresentamos um panorama do espanhol mexicano, retratando as separações dialetais realizadas no México e alguns estudos sobre as formas PPS e PPC nesse país, que consideram essas formas com um teor aspectual diferente.

No capítulo 04, indicamos o percurso metodológico realizado para alcançar os objetivos aqui propostos, apresentando a metodologia adotada, assim como a descrição dos corpora das duas cidades e das variáveis independentes (ou fatores condicionantes) escolhidas.

(22)

No capítulo 05, traçamos uma análise dos dados com base nas variáveis independentes, verificando sua possível interferência na variável dependente – formas pretéritas perfeitas.

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CAPÍTULO 1 - OS ESTUDOS DA VARIAÇÃO LINGUÍSTICA

A Sociolinguística é uma teoria incorporada à Linguística que tem como cerne analisar a língua em uso nas diferentes comunidades de fala, relacionando aspectos linguísticos e sociais. A língua, a partir do seu aspecto concreto, é o que motiva as pesquisas sociolinguísticas, considerando o seu teor heterogêneo, que antes era desconsiderado nos outros campos da Linguística.

Os estudos sociolinguísticos ganharam amplitude a partir da década de 1960, com as pesquisas de Labov (2008 [1972]), quando investigou a fala dos habitantes da ilha de

Martha’s Vineyard, Massachussetts. O autor passou a fundamentar a variabilidade da

língua como fonte de estudo em suas pesquisas, considerando o caráter heterogêneo e, ao mesmo tempo, sistemático da língua. Além de atrelar as mudanças linguísticas aos fenômenos sociais, denominados fatores condicionantes extralinguísticos, tais como idade e escolaridade, que corroboram na tendência de uso de certas formas em oposição a outras.

Esses fundamentos da teoria sociolinguística variacionista ou sociolinguística laboviana, que relacionam a variabilidade da língua atrelada aos aspectos sociais, foram difundidos por Weirinch, Labov e Herzog (2006 [1968], doravante WLH), reafirmando a interdependência entre língua e sociedade, isto é, apontando que, com o movimento de transformação que ocorre em uma comunidade de fala, consequentemente a língua varia. A partir desse pensamento de integração entre língua e caráter social, os estudos da sociolinguística variacionista ou sociolinguística laboviana ganharam força no século XX, quando os autores passaram a defender que um indivíduo pode produzir um mesmo enunciado com determinada intenção comunicativa de múltiplas maneiras, e são essas diferentes formas de dizer que configuram a variação linguística.

Nesse período, diferentes estudos realizados sob essa perspectiva foram essenciais no estabelecimento de um modelo teórico-metodológico de “um sistema ordenadamente heterogêneo em que a escolha entre alternativas linguísticas acarreta funções sociais e estilísticas, um sistema que muda acompanhando as mudanças na estrutura social” (WLH, 2006 [1968], p. 99). Essa proposta traz à luz a percepção do entrelaçamento entre sociedade e língua, pois a evolução ou alterações sociais são diretamente refletidas nos diferentes contextos comunicativos, sejam eles por variações estilísticas, sociais ou diatópicas.

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Esses diferentes tipos de variações podem ser compreendidos da seguinte forma: as variações estilísticas contemplam os diferentes estilos em que um mesmo falante emprega a língua, adequando ao contexto comunicativo. Conforme Macedo (2012, p. 59), “os falantes possuem um repertório linguístico que pode variar dependendo de onde se encontram e com quem falam”.

A variação social, também conhecida como diastrática, conforme dito anteriormente, está relacionadas a questões como a idade, gênero, nível de escolaridade e nível socioeconômico, verificando como esses fatores podem influenciar na seleção linguística dos falantes.

A variação diatópica ou variação regional, ou ainda geográfica, é “a responsável por podermos identificar, às vezes com bastante precisão, a origem de uma pessoa pelo modo como ela fala. Através da língua, é possível saber que um falante é gaúcho, mineiro ou baiano, por exemplo” (COELHO et al, 2015, p. 38). Os autores esclarecem de que forma os estudos sociolinguísticos fortalecem essa identificação:

O aparato teórico-metodológico da Sociolinguística nos equipara para que possamos sair de um nível impressionístico (e, às vezes, caricato) da variação geográfica e descobrirmos quais são exatamente as marcas linguísticas que caracterizam a fala de uma região em relação à de outra. Em geral, itens lexicais particulares, certos padrões entoacionais e certos traços fonológicos respondem pelo fato de que falantes de localidades diferentes apresentem dialetos (ou seja, variedades) diferentes de uma mesma língua (COELHO et al, 2015, p. 38).

Dito isso, convém refletir sobre as possibilidades que a Sociolinguística oferece às relações entre língua e sociedade, avaliando, investigando, desde as diferentes variedades regionais a questões de estilística que permeiam a linguagem nos seus diferentes grupos, buscando uma sistematização do aparente caos linguístico a que se referia Sausurre (1990) em seus pressupostos linguísticos.

Nesse sentido, a nova concepção de estudar o aparente “caos” da fala e analisar a língua influenciada pela sociedade diversificou o âmbito de investigações da Sociolinguística, que ampliou o escopo de estudos para questões relacionadas ao “contato entre línguas, ao surgimento e extinção linguística, multilinguismo e variação e mudança” (MOLLICA, 2012, p. 10).

Portanto, a Sociolinguística tem como principal finalidade estudar a “variação, entendendo-a como um princípio geral e universal, passível de ser descrita e analisada cientificamente. Ela parte do pressuposto de que as alternâncias de uso são influenciadas por fatores estruturais e sociais” (MOLLICA, 2012, p. 09-10).

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Essas unidades estruturais e sociais são construídas dentro de cada comunidade linguística em que se apresentam diferentes sistemas que coexistem e que são determinados pelos diferentes grupos sociais: o sistema linguístico dos jovens, dos médicos, das pessoas escolarizadas, do sexo feminino, por exemplo. De acordo com WLH (2006), esses diferentes sistemas confluem para o estabelecimento de determinadas propriedades, pois:

oferecem meios alternativos de dizer “a mesma coisa”: ou seja, para cada enunciado em A existe um enunciado correspondente em B que oferece a mesma informação referencial (é sinônimo) e não pode ser diferenciado exceto em termos de significação global que marca o uso de B em contraste com A (WLH, 1968 [2006], p. 97).

O sistema linguístico possibilita essa multiplicidade de formas que está diretamente associada às significações atribuídas por seus falantes, aos diferentes contextos comunicativos, e é essa diversidade de formas de dizer que propicia a mudança linguística ao longo do tempo. No entanto, para que ocorra a mudança linguística é preciso que antes haja variabilidade da língua, o que possibilita que formas concorrentes busquem se estabelecer nas comunidades linguísticas.

Essas formas diferentes que mantém uma mesma significação em um determinado contexto é o que possibilita a diversidade linguística, “meios alternativos de dizer a “mesma coisa” (WLH, 2006, p. 97). No entanto, os fatores condicionantes extralinguísticos, ou variáveis independentes sociais que delimitam os usos da língua associados aos diferentes contextos (supostamente disponíveis a todos os falantes de um idioma) não ocorre na prática. Quando pensamos nas diferentes classes sociais, percebemos que pessoas com um nível de escolaridade mais baixo não têm acesso às mesmas estruturas linguísticas e lexicais que uma pessoa que está em um nível de escolaridade superior. Por essa razão, questões como conhecimento de mundo e escolaridade influenciam diretamente no repertório linguístico do falante:

[...] alguns falantes podem ser incapazes de produzir enunciados em A e B com igual competência por causa de algumas restrições em seu conhecimento pessoal, práticas ou privilégios apropriados ao status social, mas todos os falantes geralmente têm a capacidade de interpretar enunciados em A e B e entender a significação da escolha de A ou B por algum outro falante (WLH, 1968 [2006], p. 97).

A reflexão exposta por WLH nos faz perceber que, de acordo com o nível social, pode haver limitações enunciativas pelos falantes, pois pessoas com diferentes níveis de

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escolaridade e sem acesso a determinados contextos podem não ter domínio de alguns usos vistos como “padrões”. Entretanto, isso não os impossibilita de compreender determinados significantes adotados por outros falantes.

Para compreender melhor essas múltiplas formas da língua que estão vinculadas às variáveis sociais, trataremos, na próxima seção, sobre o que dizem os estudos sociolinguísticos acerca da heterogeneidade linguística.

1.1 A VARIABILIDADE DA LÍNGUA E SUA HETEROGENEIDADE

Conforme defendido pelos estudos sociovariacionistas, a organização da língua é o que permite que suas regras sejam alteradas de forma gradativa, apesar do seu caráter heterogêneo. As mudanças ocorrem o todo tempo, porém há várias etapas para que tais mudanças se estabeleçam neste complexo sistema ordenado que é a língua.

De acordo com WLH (2006[1968], p. 104), “um código ou sistema é concebido como um complexo de regras ou categorias inter-relacionadas que não podem ser misturadas aleatoriamente com as regras ou categorias de outro código ou sistema”. Logo, cada língua é estabelecida e delimitada por regras internas que não são as mesmas de outra língua ou código.

Sendo assim, “o modelo de um sistema ordenadamente heterogêneo em que a escolha entre alternativas linguísticas acarreta funções sociais e estilísticas, um sistema que muda acompanhando as mudanças na estrutura social” (WLH, 2006[1968], p. 99). Por consequência, existe uma unidade linguística que é determinada culturalmente na constituição das línguas e sua evolução, suas alterações refletem as mudanças nas configurações sociais que ocorrem diacronicamente.

No entanto, mesmo sendo única em cada idioma, essa constituição não ocorre de forma homogênea, mas sim envolta de heterogeneidade que deixa transparecer as características de cada comunidade linguística. Podemos compreender, portanto, que a composição da língua por subsistemas está intrinsecamente organizada por regras que refletem os aspectos socio-culturais de uma comunidade de fala:

reconhecer a língua como uma realidade essencialmente social que, correlacionada com a multifacetada experiência econômica, social e cultural dos falantes, apresenta-se em qualquer situação, como uma realidade heterogênea, como um conjunto de diferentes variedades (FARACO, 2005, p. 67).

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Essa realidade heterogênea, envolta por aspectos sociais contemplados na língua, apresenta um conjunto de subsistemas que se alternam de acordo com um conjunto de regras coocorrentes. No interior de cada um desses subsistemas, encontramos variáveis dependentes que concorrem a uma mesma função, a um mesmo uso dentro da língua. Assim, se pensarmos no pretérito perfecto simple na América vs. o pretérito perfecto

compuesto na Espanha, temos duas formas3 que são concorrentes em subsistemas diferentes, mas que pertencem a uma mesma língua.

Coelho et al (2015) evidencia o cerne da Sociolinguística:

são as regras variáveis da língua, aquelas que permitem que, em certos contextos linguísticos, sociais e estilísticos, falemos de uma forma, e, em outros contextos, de outra forma – ou seja, que alternemos duas ou mais variantes (formas que devem ter o mesmo significado referencial/representacional e ser intercambiáveis no mesmo contexto) (COELHO et al, 2015, p. 60, grifo do autor).

Portanto, em um sistema em variação, a variável dependente é constituída por formas coexistentes que expressam o mesmo significado ou que expressam o mesmo valor dentro de um mesmo contexto. Essas diferentes possibilidades de dizer a “mesma coisa”, numa outra configuração, são chamadas de variantes. Assim, para que haja uma variável é preciso que existam duas ou mais formas concorrentes. Acerca disso, Mollica (2012) explicita que uma variável:

é concebida como dependente no sentido que o emprego das variantes não é aleatório, mas influenciado por grupos de fatores (ou variáveis independentes) de natureza social ou estrutural. Assim, as variáveis independentes ou grupos de fatores podem ser de natureza interna ou externa à língua e podem exercer pressão sobre os usos, aumentando ou diminuindo sua frequência de ocorrência (MOLLICA, 2012, p. 11).

Portanto, uma variável dependente sempre será influenciada por diferentes grupos de fatores que motivem a escolha por uma das formas coexistentes, que podem ser ocasionadas por diversos fatores, desde fenômenos internos à língua até fenômenos externos como o nível de escolaridade, por exemplo.

Apesar disso, Lavandera (1977 apud COELHO et al, 2015, p. 64) critica a proposta laboviana de ampliar os estudos para outros níveis da linguagem, além do fonológico, expressando que “cada forma tem um significado, o que bloquearia a variação”. Com base nisso, Labov:

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relativiza a noção de “mesmo significado”, ao estabelecer que o conceito de variável linguística deveria ser aplicado a “dois enunciados que se referem ao mesmo estado de coisas e que têm o mesmo valor de verdade” (entendendo “estado de coisas” como “significado representacional” (COELHO et al, 2015, p. 64, grifos do autor).

Essa ampliação conceitual possibilitou um avanço e ampliação nos trabalhos sociolinguísticos voltados para variação morfossintática e variação discursiva, as quais antes estavam limitadas ao nível fonológico (COELHO, 2015).

Outro aspecto estudado pela sociolinguística variacionista, atrelada à variação, é a mudança linguística: um processo percebido de “forma lenta e gradual”, nunca de maneira abrupta, que tampouco se faz presente de forma “global e integral”, pois atinge partes da língua e não o seu conjunto. Ao pensarmos na coexistência de duas variantes concorrentes de uma variável, uma delas pode possibilitar que haja ou não uma mudança na língua, porém vários fatores precisam ser analisados para verificar esse fenômeno (FARACO, 2005).

Contudo, o ato da mudança não ocorre corriqueiramente. O processo, como dito, é lento e, em determinados fenômenos, a ocorrência de variantes pode ser uma variação estável ou, caso contrário, uma mudança em progresso (MOLLICA, 2012,). Por isso, é indispensável que haja a análise detalhada de uma quantidade significativa de dados da fala para que se possa alcançar uma representatividade da comunidade linguística investigada.

Para compreender e tentar situar nosso objeto, trataremos, na próxima seção, os problemas relacionados à variação e mudança da língua para posteriormente discutir sobre a etapa em que nosso fenômeno em estudo se encontra.

1.2 OS PROBLEMAS DA VARIAÇÃO E MUDANÇA

Como mencionado no tópico anterior, para investigar o processo de mudança linguística, ou até mesmo para que se possa verificar se está ocorrendo uma mudança ou se trata-se de uma variação estável, é necessário considerar a observação de fatores linguísticos, sociais e pragmáticos a fim de identificar o estágio em que se encontra o fenômeno; se é uma variação estável ou se há uma mudança em curso.

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No entanto, para analisar tal efeito sobre a língua, é preciso ainda considerar alguns problemas que enviezam esse processo, são eles: os fatores condicionantes, a transição, o encaixamento, a avaliação e a implementação, que serão explicados a seguir, com base em WLH, 2006[1968]):

1) Os fatores condicionantes, a restrição – este problema busca compreender quais os fatores que condicionam o processo de mudança. Busca-se identificar de que forma os fatores linguísticos e sociais influenciam, limitando o processo de mudança.

2) A transição – o problema aqui apresentado trata do movimento de coocorrência de formas, do momento em que a variável apresenta duas ou mais variantes que competem na tentativa de uma se sobrepor à outra; porém, é importante salientar que elas também podem coexistir na comunidade sem que haja prevalência, apenas estabelecendo o teor de variação da língua. Além disso, ao avaliar em alguns subsistemas de uma língua, o traço arcaico/ inovador4, pode-se perceber a mudança em curso, quando são encontrados elementos linguísticos do passado perdidos na atualidade.

3) O encaixamento - para que seja considerado em processo de mudança, o fenômeno precisa estar encaixado ao sistema linguístico em sua totalidade. Esse problema está dividido em dois aspectos, o encaixamento na estrutura linguística e na estrutura social. Quanto ao primeiro, necessita ultrapassar os limites de um idioleto5, e que sua co-ocorrência esteja disponível à comunidade de fala com função bem definida para cada variante; com a covariação de elementos linguísticos e extralinguísticos. As variantes podem estar num continuum em que seus usos sejam determinados pelos contextos e que oscilem de acordo com cada situação. Quanto ao segundo, precisa estar encaixado no contexto mais amplo da comunidade, com diferentes elementos sociais e geográficos compondo sua estrutura.

4) A avaliação – deve ocorrer a observação dos dados variáveis, de maneira subjetiva, analisando os diferentes estratos sociais, no intuito de verificar se há a ocorrência da mudança com a prevalência do fenômeno em alteração. E sua verificação não deve ocorrer a partir da estruturalidade da língua, mas dos fatores extralinguísticos. 5) Implementação – esse problema, que define o último passo para a mudança ou para a sua constatação, verifica desde aspectos da língua até questões sociais. Parte da mudança no comportamento social de aceitação do fenômeno, ou de sua expansão pelos

4 No subitem explicitaremos a oposição arcaico vs inovador. 5 No subitem 1.3 explicitaremos o conceito de idioleto.

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diferentes níveis e faixas etárias, assim como sua significação linguística em toda a comunidade de fala.

Com base nos problemas apresentados, podemos perceber que o processo da mudança passa por um trajeto longo e lento que se inicia com a difusão da variável por um grupo de falantes, avançando por sua difusão a outros grupos, até ganhar uma consciência social na comunidade e se estabelecer na língua, em detrimento da outra forma concorrente.

Neste trabalho, pretendemos observar se é possível identificar em que “problemas”/ processos podemos inserir o fenômeno das formas perfeitas que estamos estudando, PPS e PPC. Para tanto, além dos grupos de fatores sociais, buscaremos refletir como a variação dialetológica influencia nesse encadeamento. Por isso, no próximo subitem, apresentaremos as variedades do espanhol, a partir desta perspectiva: a dialetológica.

1.3 AS VARIEDADES DO ESPANHOL NUMA PERSPECTIVA DIALETOLÓGICA As línguas são constituídas por subsistemas denominados de variedades linguísticas, como afirmado anteriormente. E essas variedades podem ser divididas por diferentes óticas: do ponto de vista social, quando consideramos as variedades diastráticas (idade, sexo, escolaridade), do ponto de vista regional, as variedades diatópicas (países, estados, cidades), e do ponto de vista dos contextos de enunciação, temos as variedades estilísticas (apropriação da linguagem de acordo com as diferentes situações comunicativas).

Ao nos voltarmos para a língua espanhola e toda a sua diversidade, diante de 21 países que a têm como língua oficial, não podemos desconsiderar as variedades diatópicas. Essa multiplicidade de vozes que constitui a língua espanhola não pode ser analisada apenas considerando os aspectos sociais, mas vislumbrando a geografia que também determina as escolhas dos falantes e constitui a variedade diatópica ou regional.

Por esse motivo, recorremos à dialetologia que tanto desenvolve estudos regionais e constroi atlas geográficos, buscando uma delimitação das fronteiras linguísticas entre os diferentes dialetos. Zamora Munné e Guitart (1982) especificam o objeto de estudo da dialetologia:

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La dialectología es aquella parte de la lingüística que estudia la heterogeneidad de las lenguas, es decir que observa y explica el hecho de que las lenguas no sean homogéneas, sino que estén compuestas de un mayor o menor número de dialectos, más o menos diferentes entre sí (ZAMORA MUNNÉ; GUITART, 1982, p. 09).

O que se pode observar, com o exposto, é que a heterogeneidade a que se dedica a Sociolinguística também está no bojo da dialetologia, buscando identificar quais dialetos estão presentes numa língua e como suas fronteiras estão delimitadas geograficamente a partir dos aspectos linguísticos.

Se as duas teorias consideram a heterogeneidade da língua, o que as difere? O que seria um dialeto? A dialetologia se preocupa com os dialetos enquanto a Sociolinguística estuda a língua? Há uma diferença entre língua e dialeto? Ao pensar numa comunidade linguística como cada uma dessas abordagens pode corroborar nos estudos da diversidade linguística?

Para tenta responder essas indagações, partiremos do conceito micro para esclarecer de que forma essas duas teorias podem caminhar “de la mano”:

Se puede decir que cada individuo habla un idiolecto (el castellano o español de don Luis, el de la abuela Consuelo, el del joven Alberto) y ese conjunto de idiolectos, con poca variación entre sí, forman el dialecto de una zona geográfica (el castellano o español de Andalucía, Salamanca, Cuba, San Juan de Puerto Rico). El conjunto de dialectos regionales forman lo que usualmente se denomina una lengua (inglés, francés, catalán, gallego, español, alemán). Por lo tanto, siguiendo estas definiciones todos hablamos un idiolecto, pertenecemos a un grupo dialectal y el dialecto forma parte de una lengua histórica y común (SILVA-CORVALÁN, 1989 apud RAMIREZ, 1996, p. 38).

As conceituações acima nos fazem refletir sobre a teia que constitui a configuração da língua. A partir do pressuposto do idioleto, ou seja, cada indivíduo apresenta uma forma própria de falar, com suas peculiaridades e de acordo com as diferentes situações comunicativas e o conjunto de pessoas que têm um falar “próximo” constitui um dialeto. Ao passo que a junção de todos os dialetos de uma comunidade linguística concebe uma língua.

Conflui para essa ideia de dialeto a declaração de Zamora Munné e Guitart (1982):

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la forma historicamente determinada de la lengua de un grupo que ocupa un espacio geográficamente definible. En este sentido no puede establecerse una distinción entre hablantes de lengua frente a hablantes de dialecto. Todo el mundo habla algún dialecto, y una lengua no es más que la suma de sus dialectos (ZAMORA MUNNÉ; GUITART, 1982, p. 17).

Na dialetologia, o conceito de língua parte do individual para o coletivo. Considera-se que os usos individuais unidos geram os dialetos e a congregação desses dialetos constituem a língua, um processo considerado inverso ao pensamento saussuriano, pois parte de uma unidade menor, o idioleto inerente a cada falante, que, unido a um determinado grupo, produz um dialeto e os diferentes dialetos integram o que chamamos de língua (MORENO FERNÁNDEZ, 2009).

Outra perspectiva sobre os conceitos de dialeto e língua é propagada por Alvar (1996), a partir de um viés histórico, que posiciona uma diferenciação da seguinte maneira:

La diferencia entre literaria y dialecto es, pues, un concepto histórico o, por mejor decir, derivado de la historia. Por razones distintas (políticas, sociales, geográficas, culturales), de varios dialectos surgidos al fragmentarse una lengua hay uno que se impone y que acaba por agostar el florecimiento de los otros. Mientras el primero se cultiva literariamente y es vehículo de obras de alto valor estético, hay otros que no llegan nunca a escribirse, y si lo son, quedan postergados en la modestia de su localismo. Mientras el primero sufre el cuidado y la vigilancia de una nación, los otros crecen agrestemente (ALVAR, 1996, p. 07).

Segundo o autor, uma língua para tornar-se língua precisa de uma amplitude e uma disseminação na comunidade de fala, ganhando força e propiciando uma produção literária que seja representativa da comunidade. Nesse momento, ocorre a diferenciação do dialeto para a chamada “língua nacional”, quando a comunidade se vê representada nos diferentes meios de comunicação e difusão dos aspectos culturais que são gerados pela própria comunidade. No tocante à delimitação dos conceitos que regem a dialetologia, Moreno Fernández (2009) remete aos limites geográficos que definem os dialetos, afirmando que não é tão simples quanto parece, pois há várias nuances que dificultam sua precisão:

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sus limites son imprecisos, cuando no confusos, o de que resulta imposible la caracterización exclusiva de los ámbitos geolinguísticos que configuran una lengua. En realidad, la geografía de la lengua española muestra unos caracteres ideales para entender todos los problemas teóricos que plantea el concepto de dialecto: dentro del español existen variedades desarrolladas a partir del castellano antiguo; algunas de estas variedades conviven con otras cuyos orígen se remonta al latín; en otros casos la convivencia se produce con lenguas de la misma familia o de familias diferentes; las fronteras dialectales son borrosas; y muchos rasgos lingüísticos son compartidos de forma desigual por hablas diferentes (MORENO FERNÁNDEZ, 2009, p. 57).

Como vimos, os dialetos não são formados apenas pelo molde de uma nação, mas dentro de suas fronteiras. Vários aspectos corroboram com a construção de um dialeto, assim, em um país, temos as diferenças que vão desde as regiões até as comunidades de fala definidas por grupos de falantes específicos, como de zonas rurais e urbanas, por exemplo.

[...] dialecto es toda manifestación real del sistema linguístico abstracto que es la lengua, de manera que la lengua española está integrada por una gran variedad de dialectos nacionales y de subdialectos regionales, comacarles, locales y aun individuales – idiolectos -, cada uno de los cuales, por su parte, estará integrado por dialectos socioculturales diversos (LOPE BLANCH, 2002, p. 26)

Um dialeto tem como objetivo caracterizar uma localidade, mas necessitamos ter em mente que não há uma unidade em sua totalidade. O que ocorre, na verdade, é a predominância de características que definem determinado dialeto de uma cidade ou de uma região, mas outros eventos linguísticos podem estar presentes numa língua que é tão mutável e heterogênea.

Essa pluralidade da língua possibilita análises sob diferentes óticas. Olhando para a perspectiva dialetológica, percebe-se que “estudia la diversidad geográfica de la lengua; se fija en comunidades que se definen por el espacio que ocupan”; enquanto a sociolinguística corresponde a “estudiar las variedades de lengua […] las variedades socialmente determinadas, las normas que regulan el uso social de la lengua, las consecuencias de poseer una u otra variedad […]” (ZAMORA MUNNÉ e GUITART, 1982, p. 24).

Como vimos, uma língua é constituída de vários dialetos e não podemos omitir essa informação em nossos estudos. Portanto, para que possamos analisar como um fenômeno linguístico se apresenta em uma língua, precisamos esclarecer que nosso

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corpus é formado por dois dialetos diferentes, um da Ciudad de México e outro de Monterrey, dialetos que fazem parte da variedade linguística do espanhol mexicano.

Sob essa ótica, não podemos tratar do espanhol mexicano como se todas as subáreas apresentassem as mesmas características, já que estamos falando de comunidades de fala que se diferem, seja por questões culturais, seja por questões geográficas, já que a constituição de uma língua ocorre da união de vários eventos como citado por Moreno Fernández (2009), sejam eles por contato entre outras línguas ou pelas escolhas que a própria comunidade vai realizando diacronicamente.

Lope Blanch (1993) apresenta a importância de um estudo filológico baseado nos preceitos sociolinguísticos:

El filólogo deberá tratar de determinar cuáles son las actitudes del hablante que mayor repercusión tienen en la vida del idioma, que más regularmente alteran o condicionan su estructura, para dedicar a ellas su particular atención, como a factores verdaderamente relevantes dentro de la organización y desarrollo de la lengua como sistema (LOPE BLANCH, 1993, p. 24, grifos nossos).

Esse entrelaçamento entre as atitudes dos falantes e as alterações e/ou condicionamento na língua é o que motiva nosso estudo, buscando perceber quais os fatores que corroboram para as diferenças dialetais dentro da língua espanhola, no nosso caso, na variedade do espanhol mexicano. Pois a Sociolinguística possibilita descobrir e mostrar com suficiente detalhe os elementos de caráter social que influenciam nessas possíveis alterações da língua (LOPE BLANCH, 1993).

Por entender que tanto a dialetologia quanto a sociolinguística são relevantes para nossa pesquisa, pelo teor geográfico e social, consideraremos as palavras de Ramirez, as quais nos embasam:

Cada disciplina amplia nuestros conocimientos sobre la variación lingüística a través del tiempo, el espacio y las personas. La dialectología, con sus estudios de las variaciones inter e intrarregionales (geolinguística) y los nuevos enfoques relacionados con la variación social (dialectología social y dialectología urbana), nos ofrecen valiosa información de la lengua en la sociedad. La sociolinguística de la sociedad (multilinguismo social, estudios del bilinguismo, lenguas en contacto y en conflicto, actitudes linguísticas y comunidades de habla) y la sociolinguística de la lengua (estudios cuantitativos de variacionismo probabilístico, gramáticas en contacto, etnografía de la comunicación y análisis del discurso) aportan otros importantes datos acerca del comportamiento de la lengua y los hablantes (RAMIREZ, 1996, p. 48).

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A união desses dois marcos teóricos só pode colaborar para o enriquecimento de nossa pesquisa, pois vislumbraremos como o fenômeno ocorre intrarregionalmente e se ocorre variação nos diferentes níveis sociais (idade, sexo e nível de escolaridade), permitindo que façamos uma descrição contundente dos dados analisados.

Com base nesses pressupostos, pretendemos apresentar como ocorre a alternância das formas pretéritas, PPC e PPS, no espanhol mexicano refletido em duas comunidades de fala (Monterrey e Ciudad de México), pelo viés das entrevistas sociolinguísticas. Para tal fim, propomos uma comparação entre as duas cidades, buscando perceber quais as semelhanças e as diferenças na aplicação desses pretéritos nos dialetos mencionados. Contudo, para que possamos analisar os dados, no próximo capítulo tentaremos caracterizar os aspectos que determinam cada um desses pretéritos.

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CAPÍTULO II - AS FORMAS PRETÉRITAS DO ESPANHOL: PPC vs. PPS

Neste capítulo, pretendemos apresentar as diferenças e semelhanças entre as formas pretéritas PPC e PPS. Para isso, partimos da conceituação histórica e do processo de gramaticalização da perífrase haber + participio (pp) que originou a forma verbal PPC. Ademais relatamos as diferentes atribuições dessa forma até chegar ao seu uso atual.

Em seguida, relatamos a questão tempo-aspectual que possibilita as relações de proximidade e distanciamento das formas, além de apresentar como cada uma das formas é vista sob a ótica gramatical e a influência dos marcadores temporais associados a cada uma das formas pretéritas, PPS e PPC.

2.1 ORIGEM E FORMAÇÃO DO PPC

O sentido atribuído às palavras ganha nova significação com o passar do tempo, influenciado socialmente e impulsionado pela necessidade comunicativa de cada época. Assim ocorreu com a perífrase do espanhol haber + participio, que apresentava diferentes finalidades no espanhol clássico, e evoluiu para a forma verbal haber conjugado +

participio (he cantado) devido à necessidade de novas funções comunicativas que lhe

foram atribuídas.

Conforme Rodriguez Molina (2004), a primeira estrutura citada está presente no castelhano antigo, assim como no período medieval, marca das demais variedades de romances, o que nos elucida sobre a importância do sentido estabelecido naquela época pelo uso dessa perífrase. O autor explicita que outros usos eram atribuídos ao verbo haber:

para expressar posse em várias acepções; em construções resultativas transitivas ativas e para usos impessoais.

É necessário ressaltar, porém, que o sentido unificado do verbo habere +

participio (construção latina) não era percebido inicialmente, ou seja, o verbo e o

partícipio tinham acepções isoladas. Somente ao longo do tempo, essa formação passou a expressar um sentido único:

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En latín, el verbo habere, unido a cierto tipo de participios, indicaba el resultado de la acción significada por el verbo: habere y el participio funcionaban como unidades léxicas independientes que conservaban plenamente su significado referencial. Por el contrario, en español actual el verbo haber se ha gramaticalizado como auxiliar temporal: la construcción entera hace referencia a la anterioridad verbal, no denota ya necesariamente un valor resultativo y ha rigidizado su estructura sintáctica, de modo que haber y el participio no son ya unidades independientes (RODRIGUEZ MOLINA, 2004, p. 170).

Em confluência com as afirmações de Rodriguez Molina (2006), Azofra Sierra (2006) discorre que a natureza de possessão desta forma, PPC, vai se extinguindo até tornar-se apenas uma forma auxiliar:

El perfecto compuesto del español tiene su origen en la construcción latina de habeo + CD + participio de perfecto referido a ese objeto y concordando con él, por ejemplo en epistolam scriptam habeo; en su origen, el significado sería ‘tengo escrita una carta’, con valor resultativo. En la evolución posterior, el participio tiende a agruparse con haber, que a su vez va perdiendo progresivamente su valor de posesión, se desemantiza y se gramaticaliza hasta convertirse en simple auxiliar (AZOFRA SIERRA, 2006, p. 152-153, grifos nossos).

Assim, ocorreu de maneira pragmática uma alteração de sentido, pois, unidas, as formas habere + particípio apresentavam teor resultativo de uma ação que estava categorizada pelo verbo, mas quando isoladas mantinham integralmente o seu valor referencial. No entanto, houve uma redução do significado do verbo habere à composição de auxiliar das formas compostas, ou seja, acompanhava o particípio para sintetizar um único sentido, perdendo o caráter de independência léxica do passado.

A forma haber, empregada na perífrase (haber + particípio), corroborou na constituição dos diferentes tempos compostos da língua espanhola, atribuindo novos sentidos, de forma gradual, e corroborou também para delinear as formas perfeitas do espanhol, conforme afirmado na Nova Gramática da Real Academia Espanhola (RAE):

Referências

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