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O Género Genealógico na Historiografia Portuguesa

64 ASA, 1899-1900 65 F.M ALVES, 1981.

66 J.C.MTRANDA 1988, 1994 e 1996, e também os estudos em co-autoria com Resende de Oliveira (AROLIVEIRA e J.CMIRANDA, 1993).

67 AROUVEIRA 1986,1987.1990 e 1994 (vd também a nota anterior).

68 M.SÃO PAIO, 1965 e 1977.

69 Devem-se a estes dois últimos autores alguns dos trabalhos mais seguros e importantes sobre genealogia medieval (E.AC. FREITAS, 1941, 1949, 1962,1963, 1965,1976, 1977a e 1990; L.M.V. SÃO PAIO, 1966,

1987a, 1987b, 1988-91 e 1990 sendo curioso que a ambos se deva a divulgação de várias listas de padroeiros e naturais de mosteiros (1977a e 7990, e 1987a, respectivamente), tendo a de Grijó servido para a nossa

dissertação de mestrado (J. A S.PIZARRO, 1995). AA.FERNANDES, 1950,1970-71 e 1972.

elaborou dezenas de entradas relativas a freguesias, onde se podem colher várias informações sobre personagens medievas. Autor polémico, o seu maior mérito será o de conhecer muito bem a documentação medieval, particularmente até ao see. XHI, tendo mesmo utilizado dados a partir de fontes que durante vários anos estiveram inéditas - como é o caso do Livro das Doações de Tarouca, que viria a publicar já nesta década71. Sobretudo dedicado à figura de Egas Moniz, os seus trabalhos incidem principalmente sobre a região duriense, em torno da área de maior implantação dos de Riba Douro e das abadias de Salzedas e de Tarouca, e das questões que envolvem os inícios da nacionalidade72. Contudo, e será esse o seu principal defeito, reflectido ao longo da obra, nunca procurou sistematizar as informações que ia recolhendo e utilizando, tornando a consulta dos seus trabalhos uma tarefa particularmente difícil, quer pela dispersão quer por alguma incoerências que, sobre o mesmo tema, se detectam de uns trabalhos para os outros; por outro lado, nem todas as suas deduções são suportadas pela documentação aduzida, sendo necessária alguma precaução na consulta dos seus trabalhos73.

Entretanto, e ao longo deste período, foram-se realizando alguns estudos fundamentais para o conhecimento dos nossos livros de linhagens74. Também no campo da inventariação das fontes e da produção genealógicas se deram alguns passos, mas ainda se está muito longe de poder contar com uma obra que corresponda às actuais exigências e necessidades . Contudo, seria injusto que aqui não mencionássemos o nome de Eduardo de Azevedo Soares, autor da conhecida Bibliographia Nobiliarchica Portugueza (1916-47), mas que, representando um notável contributo para aquele inventário, já precisava de uma actualização76.

71 AAFERNANDES, 1991-93, vol.I/1.

72 Para o efeito, consulte-se a lista da sua bibliografia.

73 Estamos particularmente à vontade para fazer estas críticas, como os elogios, uma vez que Almeida Fernandes é um dos autores mais vezes citados nas nossas reconstituições genealógicas. O confronto sistemático dos seus estudos foi-nos de grande utilidade, mas não deixou de comprovar aquilo que aqui afirmamos.

74 Vd. nota 29.

75 Entre as recolhas mais actualizadas, citem-se a Nobreza de Portugal e Brasil (...), e os trabalhos de António Pedro Sameiro, sobre famílias do Alentejo, e de Manuel Artur Norton que, com a colaboração de ivlaria da Assunção Vasconcelos, publicou um índice da revista "Armas e Troféus" (cfr. FONTES E

BIBLIOGRAFIA.Hl).

76 Cfr. FONTES E BIBUOGRAFLA.m. Ainda úteis, são também os trabalhos de Carlos Alberto Ferreira, relativos as genealogias manuscritas do Arquivo Nacional da Torre do Tombo e da Biblioteca do Palácio da Ajuda {ibidem).

Entrados na década de 60, e como deixámos referido na parte inicial deste capítulo, os trabalhos de reconstituição genealógica e de síntese sobre nobreza dos sees. XI-XIV, da autoria de José Mattoso, bem como a sua edição crítica dos livros de linhagens medievais, vieram renovar profundamente o panorama dos estudos, tanto genealógicos como da nobreza, para aquelas centúrias77.

Com efeito, foi ele o primeiro Autor a interpretar os dados genealógicos à luz da sociologia, quer da sociologia em geral quer da sociologia do parentesco e das classes sociais. Ou seja, para além do aproveitamento dos dados genealógicos para situar os indivíduos no tempo e no espaço, também os utilizou para compreender a posição sociológica desses mesmos indivíduos, ou dos grupos que eles formavam - alta, média ou baixa nobreza, nobreza de corte ou de província, ricos-homens, infanções, cavaleiros, fidalgos, etc. - e das suas características - ligação ao poder político, nível do poder económico, estratégias de aliança, etc.

A partir de então, o número de trabalhos multiplicou-se substancialmente mas, acima de tudo, e o que mais demonstra o dinamismo da nossa historiografia relativamente a esta matéria, é o variado leque de abordagens temáticas que a utilização da genealogia, bem como da prosopografia, em articulação com as investigações sobre nobreza, têm permitido.

Assim, e sem pretensões de exaustividade, enunciemos alguns dos campos em que essa renovação mais se fez sentir. Desde a sua dissertação de licenciatura, mas sobretudo no seu doutoramento sobre o monaquismo, que José Mattoso acentuava a importância da articulação entre a história monástica e as famílias patronais78. Desde então, os estudos sobre diversas comunidades monásticas passaram a ter em conta essa realidade, como sejam os dedicados a Arouca por Maria Helena da Cruz Coelho, ou por Robert Durand a Grijó79; por outro lado, a importância das famílias patronais, em particular, e da nobreza em geral, para a constituição das comunidades monásticas, sobretudo femininas, encontra-se bem patente nos trabalhos de Maria do Rosário Morujão, Joel Ferreira Mata e Rui da Cunha Martins, respectivamente sobre Celas, Semide e Santos80; mas também em relação às ordens militares, como foi demonstrado por Paula Pinto Costa em relação aos hospitalários81.

7 Sendo por demais conhecidos, remetemos a sua lista para a Bibliografia Citada deste trabalho (cfr.

FONTES EBIBLIOGRAFIA.W).

78 J.MATTOSO, 1962 e 1968.

79 M.H.C.COELHO, 7977 [1971], e R.DURAND, 1971.

80 M.R.B.MORUJÃO, 1991, J.S.F.MATA, 1991, e R.C.MARTTNS, 1992. Refira-se ainda o excelente estudo que sobre essa matéria, com o caso de Arouca, realizaram M.H.C.COELHO e RC.MARTTNS (1993).

Os diferentes tipos de laços que uniam os mosteiros à nobreza, aparte as suas naturais rivalidades, não podiam ter deixado de se repercutir no povoamento e na senhorialização do espaço. Também esse fenómeno foi estudado por Maria Helena da Cruz Coelho e por Robert Durand para regiões a Sul do Douro82, sendo particularmente elucidativos os estudos realizados para áreas situadas no Norte senhorial, como Aguiar de Sousa, Paços de Ferreira e a Terra de Santa Maria, sob a direcção de José Mattoso83.

Tradicionalmente hostil à nobreza, o mundo urbano medieval foi-se abrindo lentamente aos nobres, prenunciando a realidade Moderna. Sendo a história urbana uma das áreas temáticas que mais se tem desenvolvido, não será de estranhar que muitas das monografias publicadas nos últimos anos tenham dedicado alguma atenção às relações cidade/nobreza; são os casos, entre muitos outros, de Santarém, de Évora, da Guarda ou de Óbidos84.

Por outro lado, a genealogia e o conhecimento da nobreza têm-se revelado da maior importância para os arqueólogos, quando se torna necessário identificar senhores de castelos ou de torres, ou as suas memórias funerárias. I este campo, seja-nos permitido destacar os nomes de Manuel Real85 e de José Custódio Vieira da Silva86, mais vocacionados para os elementos artísticos, mas sobretudo o de Mário Barroca, responsável, depois do labor do seu Mestre, o saudoso Professor Carlos Alberto Ferreira de Almeida, pelos trabalhos mais inovadores da arqueologia medieval portuguesa dos últimos anos87.

Numa outra área, as fontes linhagísticas medievais, bem como a reconstituição de famílias, permitiram avanços significativos no conhecimento da estrutura do parentesco e da evolução da família nobre, sendo aqui de destacar, de novo, os trabalhos de José Mattoso88, temáticas que posteriormente foram abordadas por outros autores89.

82 M.H.C.COELHO, 1983, e RDURAND, 1982.

83 J.MATTOSO, L.KRUS, e O.BETTENCOURT, 1982, e J.MATTOSO, L.KRUS, e AAANDRADE,

1986 e 1989. Sobre este assunto veja-se ainda I.GONÇALVES, 7975, e A AFERNANDES, 7960, 1964-66 e

7974.

84 MABEIRANTE, 1980 e 7995, RC.GOMES, 7957, e M.S.SILVA, 7957, respectivamente. Alguns dados sobre as linhagens presentes em diversas cidades medievais, encontram-se sintetizados no Atlas de

Cidades Medievais Portuguesas.

85 M.REAL, 1986. 86 J.C.V.SILVA, 7993.

87 M.J.BARROCA 7957, 7955, 7959, 7990-97 e 7995; e M.J.BARROCA e AJ.C.MORAIS, 7956. Recorde-se ainda aqui um velho trabalho sobre algumas torres minhotas (L.F. GUERRA, 7925).

88 Para além das suas sínteses, veja-se J.MATTOSO, 1974 e 1986. J.AS.PIZARRO, 7995 [1987], e L.VENTURA 1992.

No campo das fontes também surgiram algumas mudanças, não tanto, infelizmente, porque tenha aumentado o ritmo da sua publicação, mas pela renovação das abordagens face a "velhas" fontes. Neste aspecto, e para além, como é lógico, dos próprios livros de linhagens , cumpre destacar as listas de naturais de vários mosteiros91, bem como os textos

dos «repartimientos», que proporcionaram a Henrique David dois trabalhos absolutamente inovadores sobre a presença de nobres portugueses nas reconquistas andaluza e aragonesa92.

A história política recebeu também o contributo de alguns estudos que, graças a um melhor conhecimento dos indivíduos e das famílias envolvidas, vieram renovar a interpretação de alguns conflitos políticos e militares, como sejam as guerras civis de 124593

e de 1319-2494, ou mesmo a revolução de 1383-8595.

Enfim, a articulação de diferentes metodologias, como a genealogia, a biografia ou a prosopografia, tem demonstrado a sua fecundidade através da publicação de vários trabalhos específicos sobre nobres ou linhagens96. Fecundidade ainda mais sublinhada, pelo facto de os

sécs. XI a XIV contarem já com várias dissertações97.

Temos vindo até aqui a privilegiar a cronologia agora indicada, uma vez que o panorama sobre o século XV é um pouco diferente. Com efeito, dentro da nossa Idade Média, é o período que conta globalmente com menos estudos sobre nobreza. Para além de a centúria de Quatrocentos ter atraído a atenção sobre outras temáticas, como é o caso, entre várias outras, dos Descobrimentos, aquele desiquilíbrio assenta, quanto a nós, em duas circunstâncias que dificultam bastante a investigação: por um lado, o volume da massa O autor que, no plano simbólico, mais se tem debruçado sobre estas fontes, é sem qualquer dúvida Luís Krus, como já tivemos ocasião de referir (vd. nota 30). A este autor, por outro lado, se devem também alguns estudos excelentes sobre a organização interna e os códigos de valores transmitidos pelos textos das inquirições

(L.KRUS, 1981 e 1989b).

91 L.M.V.SÃOPAIO, 1987, e J.AS.PIZARRO, 1995 [1987].

92 H.DAVID, 1986 e 1989, e, na sequência do seu primeiro trabalho, H.DAVID e J.AS.PIZARRO, 1987. 93 J.MATTOSO, 1984, e L.VENTURA 1992.

94 J.MATTOSO, 1982c.

95 MJ.P.F.TAVARES, 1983 e J.MATTOSO, 1985c. Sobre a ligação da nobreza a estes, como a outros acontecimentos, veja-se ainda H.DAVTD e J.AS.PIZARRO, 1989, e J.AS.PIZARRO, 1993.

96 L.VENTURA 1985 e 1986b; M.H.C.COELHO e L.VENTURA 1986b e 1987; H.DAVÏÏ3, ABARROS e J.ANTUNES, 1987; B.SÁ-NOGUEIRA e M.VIANA 1988; M.S.SJLVA 1989; M.L.ROSA 1991; B.SÁ- NOGUEIRA 1991; I.C. PINA 1993; L.C.AMARAL, 1995, e M.C.F.FERREIRA 1990 e 1995.

97 J.AS.PIZARRO, 1995 [1987]; L.KRUS, 1989; L.VENTURA 1992; AROLIVEIRA 1994; e B.V.SOUSA 1995.

documental disponível é muito superior ao das centúrias anteriores; por outro, a ausência de livros de linhagens, face à razão anterior, torna particularmente difícil a reconstituição genealógica das linhagens.

Dentro deste período, no entanto, conta-se com importantes estudos sobre casas senhoriais. Aliás, deve-se a Humberto Baquero Moreno o primeiro trabalho que, para essa cronologia, utilizou o método prosopográfico, permitindo-lhe reconstituir a casa do Infante D.Pedro . O seu exemplo pioneiro foi seguido por vários autores, contando-se já hoje com estudos sobre outras casas senhoriais, tais como a do Condestável D.Pedro99, a do Infante D.Henrique100 e a de Bragança101.

Em conclusão, podemos afirmar que a historiografia portuguesa, ao longo dos últimos trinta anos, foi sendo enriquecida com o contributo de um número significativo de estudos sobre a nobreza medieval. Esses estudos, em alguns casos, permitiram renovar por completo o conhecimento sobre diversas matérias, e mesmo sobre a evolução da sociedade nobre medieval, o que foi ficando patente nas sínteses de diferentes autores102. Mas, o que mais nos importa agora, é saber que essa mesma historiografia se foi apercebendo que alguns dos passos mais importantes daquele desenvolvimento, foram dados a partir de novas abordagens metodológicas, entre as quais teve um papel destacado a genealogia, quer através das fontes linhagísticas medievais quer das reconstituições genealógicas.

Razão que, como já referimos, nos levou a adoptar essa metodologia para tentar conhecer um pouco mais a nobreza portuguesa do período dionisino. Reconstituições genealógicas que agora passaremos a apresentar.

H.BAQUERO MORENO, 1973. De resto, pode-se dizer que tem sido o Autor que mais atenção tem dedicado à nobreza Quatrocentista.

99 L.A.FONSECA, 1982.

100 M.C.ACUNHA e M.C.G.PMENTA 1984, e J.S.SOUSA 1991. 101 M.S.CUNHA 1990.

102 J.MATTOSO, 1982a, 1985b e 1993a; AH.O. MARQUES, 1987; J.AS.PIZARRO, 1991; B.V.SOUSA e N.G.MONTEIRO, 1993; L. VENTURA 1993. Em 1979, Luís de Bivar Guerra publicou uma síntese sobre a nobreza portuguesa, mas privilegiou sobretudo os períodos moderno e contemporâneo (L.B.GUERRA 1979).