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As Linhagens

Esta Segunda Parte é inteiramente dedicada à reconstituição genealógica de 25 linhagens da nobreza medieval portuguesa. No entanto, esse número representa apenas as linhagens enquanto troncos principais, ou seja, aquilo a que habitualmente se designa como linhagem-mãe. Uma vez, porém, que algumas delas sofreram um processo de segmentação, dando origem a ramos secundários que se foram gradualmente autonomizando, o seu verdadeiro número é consideravelmente superior. Assim, e em consequência da segmentação da sua maioria (15 em 25), acabamos por atingir 101 linhagens, tantas quantas, na realidade, foram reconstituídas.

Este número representa, aproximadamente, mais do que a sétima parte do universo de 770 "nomes" recenseados ao longo da nossa pesquisa, já que alguns deles são alcunhas ou meros identificativos de proveniência geográfica, sem que se tenham afirmado como verdadeiros apelidos. Outros, ainda, registaram-se para um único indivíduo, sem que se possa saber se depois foram adoptados pelas gerações seguintes1.

De qualquer forma, e mesmo tendo em conta o seu número global, parece-nos que o conjunto de linhagens reconstituidas, e estudadas, pode ser considerado como uma amostragem com algum significado.

Tínhamos, à partida, um universo de 323 linhagens susceptíveis de serem tratadas, dado o número de indivíduos e de elementos documentais que lhes diziam respeito, mais 130 com dados insuficientes mas onde se poderiam colher informações aproveitáveis. Além disso mais 317 nomes sem informações suficientes. Desse conjunto escolhemos as 25 linhagens- mãe com os critérios que indicaremos a seguir, e aquelas que delas procediam por

1 A lista completa, com a indicação dos nomes que considerámos alcunhas, encontra-se no final do Volume H (vd. ANEXO - ELENCO DAS LINHAGENS MEDIEVAIS PORTUGUESAS).

segmentação, o que prefaz as 101 acima indicadas.

O número de 25 impôs-se, em primeiro lugar pela necessidade de terminarmos esta tese dentro do prazo de que dispúnhamos. Tentámos temperar a escolha necessariamente aliatória com alguns critérios de racionalidade. Mas antes, ainda, uma breve explicação. A selecção que vamos comentar, resultou de uma escolha prévia, relativa ao tipo de linhagem que pretendíamos estudar.

De início pensámos em dois tipos possíveis de linhagens: as mais conhecidas e poderosas ou, pelo contrário, as ignoradas pela investigação. A escolha levantava algumas dificuldades: por um lado, as primeiras tinham a seu favor, precisamente, o facto de estarem mais documentadas, sendo por isso previsível que não se lavantariam tantos problemas nas reconstituições genealógicas como na identificacãos dos indivíduos; e, contra, a possibilidade de nos levar, na maioria dos casos, a referir o conhecido ou a repetir o que outros já tinham dito; por outro lado, as segundas tinham a vantagem de garantir, à partida, mais "novidades", mas a desvantagem de estarem condicionadas a uma maior pobreza de informação, correndo-se o risco de "produzirem" pouca matéria para análise, ou demasiadas incertezas devido a eventuais lacunas.

Verificámos depois que as linhagens mais conhecidas se podiam abordar numa perspectiva inteiramente nova, pelo facto de muitas delas não serem unidades isoladas, mas sim partes de outras unidades maiores. Obtínhamos assim uma variedade de situações que tornava possível a análise das genealogias nas perspectivas sociológica e da estrutura do parentesco. Desde as mais conhecidas e poderosas até algumas perfeitamente obscuras.

Após uma sondagem prévia, orientada segundo alguns critérios, como o grau de segmentação, a antiguidade e a longevidade, a dimensão, ou o número e a importância global das informações, etc. - muito embora, e como é natural, ao longo do trabalho se tenham definido outros, como, por exemplo, a variedade regional - acabamos por chegar às tais 25 linhagens. Vejamos, finalmente, quais são, explicando as razões da escolha, bem como da sua ordenação.

Um trabalho sobre a nobreza do período dionisino não podia deixar de abordar, por razões óbvias, a própria Família Real, até porque, quer D.Dinis quer o seu pai foram

"férteis" em bastardos, fenómeno que também nos interessava analisar. Naturalmente, coroa a lista.

As cinco linhagens seguintes - Sousa, Bragança, Maia, Baião e Riba Douro - não precisam de apresentações; o seu prestígio era por tal forma evidente, que o Livro Velho de Linhagens as associava à própria génese do Reino; a sua ordenação é a proposta por aquela fonte linhagística e, em si mesma, talvez nos venha a merecer algumas reflexões. Todas elas

segmentaram-se, muito embora em graus muito variados.

Não hesitámos, depois, em escolher os Barbosas. Para isso, pesou bastante o prestígio da origem e o facto de se terem aparentado com a família real. Não deram origem a qualquer ramo secundário. Seguiram-se os Riba de Vizela, de origens bem mais modestas mas que, inegavelmente, constituíram uma das linhagens mais importantes do séc. XTTT e do início da centúria seguinte. Deu origem a alguns ramos com trajectórias interessantes. Em nono e décimo lugares, aparecem os Guedões e os de Lanhoso. São duas linhagens antigas e com bastante prestígio no séc. XE, decaindo depois gradualmente; ambas se segmentaram, mas os Guedões num grau bastante elevado. O seu posicionamento pode ser discutível face à linhagem seguinte. Com efeito, os Briteiros ocuparam, sobretudo a partir de D.Afonso El, um lugar destacado no conjunto da nobreza de corte mas, no nosso critério, tinham contra si a origem recente.

Seguem-se os Valadares, os Soverosas e os Cabreiras. Os primeiros mantiveram uma posição continuada na corte até ao final do séc. XÏÏL para além de representarem um tipo de linhagens com implantação junto da fronteira galega, o que nos interessava analisar. Dessa forma, a sequência com Soverosas e Cabreiras era natural, uma vez que ambas procediam da Galiza. Valadares e Cabreiras segmentaram-se, provindo dos segundos uma das linhagens mais importantes do séc. XIV. Os Soverosas, muito embora se tivessem extinguido no reinado de D.Dinis, tiveram uma acção destacada naquela centúria. Seria lógico que os Trastâmaras acompanhassem o grupo anterior, atendendo também à sua origem galega. Contudo, foram precedidos pelos Nóbregas. Não podemos esquecer que estes deram origem a uma das figuras mais emblemáticas da nobreza ducentista, o célebre Dom João de Aboim, enquanto que aqueles, pese embora o prestígio da origem e do lugar destacado que ocuparam, sobretudo durante o séc. XE, praticamente desaparecem na centúria seguinte, para só renascerem no séc. XIV por intermédio dos Pereiras.

Até este ponto foram seleccionadas famílias que, claramente, atingiam a rico-homia, muito embora com diferentes graus de frequência e em cronologias diversas. As três famílias seguintes, Portocarreiros, Cunhas e Correias só muito raramente tiveram ricos-homens no seu seio, mas são notáveis pela sua persistência junto dos meios da corte. Faziam parte das famílias que considerámos da nobreza média, mas com claros sinais de distinção relativamente a outras do mesmo nível.

Do vigésimo até ao último lugar a escolha recaiu em linhagens situadas num plano mais modesto face às anteriores. Assim, Moines, Urgezes, Moreiras, Madeiras, Dades e

Farinhas-Góis surgem pela diversidade regional da origem. Com efeito, a maioria das

Interessava-nos, também, analisar linhagens oriundas de zonas diversas, ou que desde cedo tivessem abandonado aquela área, e que de alguma forma representassem uma nobreza média, mas de âmbito mais local, ou seja, com fracos índices de mobilidade geográfica e com poucos, ou nenhuns contactos com a Corte. A sua escolha, por outro lado, permitia chamar a atenção para outras regiões, valorizando a sua importância como "bolsas" de senhorialização, mais ou menos afastadas da área senhorial por excelência.

Definidas e, segundo cremos, justificada a selecção das 25 linhagens principais, convirá explicar uma ou outra ausência, porventura mais polémica.

Comecemos pelos Teles. Pode parecer estranho que uma das linhagens mais marcantes da nobreza de Duzentos esteja ausente deste trabalho, sobretudo quando um dos seus membros foi mordomo-mor de D.Dinis, e senhor do primeiro condado que houve em Portugal. Contudo, eram de origem castelhana, e ao contrário do que aconteceu com linhagens de proveniência galega mas que, desde cedo, se radicaram em Portugal, a sua presença foi esporádica e sem continuidade, sobressaindo muito mais pelas carreiras individuais do que pelo conjunto da linhagem. Na verdade, só alguns anos depois da morte de D.Dinis, e com a morte do Conde D.Pedro, é que os Teles recuperaram o condado de Barcelos, tornando-se, indiscutivelmente, a primeira linhagem da nobreza durante a segunda metade do séc. XIV, ou seja, num período já muito afastado da nossa cronologia.

Pela mesma ordem de razões também os Limas não foram tratados. Outras, como os Silvas ou os Vinhais, levantavam outro tipo de problemas. Os primeiros, depois de, nos finais do séc. XI e inícios do séc. XII, terem ocupado uma posição destacada, passaram quase ao anonimato, pelo menos político, durante o séc. XIII, com a excepção do arceb° D.Estêvão Soares, só voltando a ganhar relevo na segunda metade de Trezentos. Os segundos, contaram com uma ou outra carreira individual de prestígio em Castela, pelo que a sua presença em Portugal foi discreta, mesmo que no nível da rico-homia, extinguindo-se muito cedo. Ainda dentro da alta nobreza se podia falar dos Quartelas-Portugal ou dos Castros, mas as suas trajectórias não diferem muito das anteriores.

Havia ainda um outro tipo de linhagens que foram excluídas, ou porque recentemente tinham sido tratadas, como é o caso dos Pimentéis, ou porque as suas características estavam já exemplificadas por outras linhagens semelhantes, tanto ao nível do estatuto como dos

percursos.

De qualquer forma, e admitindo que uma ou outra das ausentes poderia contribuir com outras variáveis, entendemos que a selecção feita permite atingir uma variedade considerável de tipologias, desde as linhagens de corte às locais, passando pelas da alta, média e baixa nobreza, até às que se distinguiram pelo conjunto ou pelas trajectórias individuais.

Uma última palavra, ainda, sobre os textos que antecedem as reconstituições genealógicas. Entendemos que estas não deveriam aparecer sem uma breve introdução que, de uma forma sintética, enquadrasse os dados individuais no âmbito mais vasto da evolução da linhagem. Só assim, no nosso entender, alguns deles ganhariam o seu real significado.

Procurou-se, desta forma, analisar uma série de variáveis, que de alguma maneira permitissem perceber quais os processos sorridos por cada linhagem, desde a origem até ao reinado dionisino.

As variáveis escolhidas foram três: o património e a sua mobilidade geográfica, as alianças matrimoniais, e o grau de relacionamento da linhagem com os meios da corte. Naturalmente que esses vectores, que consideramos fundamentais para a caracterização das linhagens, foram analisados em articulação entre si, assim como com outros factores igualmente importantes, como os dados sobre a origem, quer em termos de tempo como de espaço, a influência política dos seus membros, ou a ligação às ordens monásticas e militares.

Por outro lado, e a nosso ver, revelou-se particularmente fecunda a análise comparativa, quando era o caso, do processo evolutivo das linhagens provenientes de um tronco comum, o que permitiu detectar as soluções preferenciais, ou alternativas, adoptadas por cada uma para se autonomizarem e desenvolverem.

Finalmente, o que poderá ser discutível, pareceu-nos mais útil apresentar estes textos antes das reconstituições genealógicas, do que reuni-los num capítulo autónomo. Assim, aquelas não surgem isoladamente, como um mero acumular de informações, permitindo ainda valorizar este ou aquele pormenor num quadro mais vasto, que se tem bem presente graças à leitura, imediatamente anterior, das análises sobre a sua evolução.

Passemos então às histórias genealógicas, ordenadas segundo a sequência enunciada mais acima. Quando se dá o caso de uma linhagem se segmentar em ramos secundários, então estes são descritos imediatamente a seguir àquela. Para se saber quais as 101 linhagens que foram estudadas, ou em que linhagem-mãe se deve procurar um dos seus ramos secundários, basta consultar o índice Remissivo de Famílias, que já a seguir se apresenta.

INDICE REMISSIVO DE FAMÍLIAS