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3. AS JUNTAS ADMINISTRATIVAS DA PROVÍNCIA DO CEARÁ

3.2. A ASCENSÃO DOS COMERCIÁRIOS

A classe dos comerciantes de Fortaleza e do Aracati, que estava afrente dos citados governos e projetos políticos de 1821/22, para além da óbvia e já estudada expansão provocada pelo crescimento da demanda europeia por algodão321, passou

por dois ciclos de ascensão econômicas no início do século XIX, provocados também por novas condições políticas locais ou da América portuguesa. O primeiro ciclo foi uma consequência direta da separação do Ceará da praça de Pernambuco. Até então, os comerciantes das ribeiras do Acaracú, Ceará e Jaguaribe, não negociavam diretamente com a metrópole e sim com o Maranhão, a Bahia e, principalmente, Pernambuco; que por sua vez revendiam as mercadorias para Portugal. Aparentemente esta dupla dependência como colônia lusa e como subordinada à praça de Pernambuco, Bahia e Maranhão, impossibilitava o surgimento de uma burguesia mercantilista mais influente na região: “Em toda esta capitania não tem [...] um vassalo que verdadeiramente se possa dizer, rico: a maior parte dos homens dela,

318 VIEIRA, Fr. Domingos Grande Diccionario portuguez ou tesouro da língua portuguesa. Segundo volume, Porto, Ernesto Chardron e Bartholomeu H. de Moraes, 1873, p.243

319 BLUTEAU, Raphael. Vocabulario portuguez e latino. V.6. Lisboa: Officina de Pascoal da Sylva, MDCCXX (1720), p. 575

320 VIEIRA, Fr. Domingos Grande Diccionario portuguez ou tesouro da língua portuguesa. Quarto volume, Porto, Ernesto Chardron e Bartholomeu H. de Moraes, 1873, p. 827.

321 Cf. SILVA, José Borzacchiello da. O algodão na organização do espaço. In: SOUZA, Simone.

são pobres e indigentes, e os remediados, têm toda a sua substância, em gado, ou em agricultura”322, queixava-se a câmara de Fortaleza no alvorecer do século XIX.

Não sabemos o momento exato em que estes plantadores e criadores tornaram-se comerciantes de grosso trato do Ceará, ao estabeleceram relações comerciárias direto com Portugal. Sabemos que até 1802 não o faziam, e que em 1804 o brigue Dois Irmãos, do então sargento-mor Antônio José Moreira Gomes, aportava no Mucuripe vindo de Lisboa323, trazendo para o Ceará desde tecidos de

Hamburgo e louças inglesas, à bolachas, biscoitos e vinhos portugueses, além de facas holandesas e “miçangas, rosários, e outros mexedoras desta qualidade”324.

Desde então, iniciou-se não apenas uma expansão econômica, mas também a formação da classe dos comerciários de Fortaleza, que atuavam seja importando através dos portos portugueses, seja contrabandeando, mas sempre empanturrando o comércio local e das vilas mais prosperas do Ceará com os mais diferentes gêneros de manufaturados europeus. No sentido inverso, em 1807, a agora galera “Dois Irmãos”, do mesmo Moreira Gomes, já estabelecia rota comerciária regular diretamente com as cidades portuguesas, não só trazendo manufaturados, mas principalmente transportando produtos locais, tais como algodão, arroz, sola, couro, goma, madeira, etc. Na viagem de 1807, a carga da galera Dois Irmãos, levando produtos locais para Portugal, foi calculada em quase vinte contos de reis325. Por esta

322 CONSELHO ULTRAMARINO-CEARÁ. Carta da Câmara da vila de Fortaleza ao [príncipe regente D. João] sobre as dificuldades atravessadas pela capitania, devido à seca de 1791-1793 Doc. Cit. 323 O então capitão-mor governador João Carlos Graverburg como “mercadorias vindas das cidades portuguesas”, sem descrever de que se tratava exatamente. CONSELHO ULTRAMARINO-CEARÁ. Oficio do [governador do Ceará], João Carlos Augusto d’Oeynhausen e Graverburg, ao [secretário de estado dos Negócios da Marinha e Ultramar], visconde de Anadia, [João Rodrigues de Sá e Melo, sobre a chegada ao porto do Mucuripe do brigue Dois Amigos, pertencente a Antônio José Moreira Gomes, negociante estabelecido na vila de Fortaleza, trazendo gêneros do Porto e de Lisboa. Fortaleza, 28 de dezembro de 1804, caixa 18, doc. 1068. AHU

324 Antônio José de Barros (fiscal da Alfândega). Lista das Fazendas, que entraram nesta alfândega, e nela se despacharam, pertencentes à Paloca denominada Felicidade, de que é capitão Sebastião Rodrigues da Silva, vinha da Cidade de Lisboa, e ancorada no porto desta vila do Ceará em 3 de dezembro de 1803. In: CONSELHO ULTRAMARINO-CEARÁ. Oficio dos [governadores interinos do Ceará], José Henrique Pereira e Luís Martins de Paula, ao [secretario dos negócios da marinha e ultramar], visconde de Anadia, João Rodrigues de Sá e Melo, remetendo relação das fazendas que entraram na Alfândega e foram despachadas, pertencentes a polaca Felicidade de que é capitão Sebastião Rodrigues da Silva, vinda de Lisboa e ancorada no porto da vila de Fortaleza. Anexo: 2ª via e relação. Caixa e número [inelegíveis], Fortaleza, 28 de dezembro de 1803, AHU.

325 CONSELHO ULTRAMARINO-CEARÁ. Ofício do governo interino do Ceará, ao [sargento de estado dos Negócios da Marinha e Ultramar], visconde de Andia, [João Rodrigues de Sá e Melo] comunicando a remessa do mapa da carga da galera Dois Amigos. Fortaleza, 25 de abril de 1807, caixa 21, doc. 1182, AHU.

mesma época, a escuna Espírito Santo, de Pedro José da Costa Barros326 além do

Brigue e a escuna Dourado, de propriedade de Lourenço da Costa Dourado, também passaram a fazer as mesmas rotas e, no caso do último, acrescido do comércio de escravos vindos da Bahia para o Ceará327.

Já o segundo ciclo de expansão comerciária foi alavancado tanto pela instalação da família real no Rio e a consequente Abertura dos Portos, assim como pela retomada do crescimento da demanda por algodão, como relatou Manuel do Nascimento de Castro Silva em 1822:

Na minha província até 1808 era a sua receita dos direitos de exportação do algodão 1:279$285 rs.; e depois da publicação daquela carta régia, já no ano seguinte de 1809 rendeu 4:747$821 rs.; no de 1810, 5:876$031 rs., e assim progressivamente, sendo o dos últimos três anos 1819, 39:887$656 rs.; 1820, 33:762$173 rs.; e 1821, 34:845$289 rs...328

Castro Silva falava ali especificamente da arrecadação do dízimo do algodão que, segundo este, chegou a ampliar-se na província em mais de trinta e oito vezes em um espaço de onze anos (entre 1808 a 1819). Um fato que dá uma dimensão tanto da importância da expansão da atividade algodoeira para o processo de formação e ascensão política dos comerciários de ribeira do Ceará e Jaguaribe, através da comercialização do algodão e peles, além da citada importação de manufaturados, mas também do que significou à vinda da Família Real e a Abertura dos Portos para a formação de uma classe comerciária do Ceará.

326 CONSELHO ULTRAMARINO-CEARÁ. Ofício do governador do Ceará, João Carlos Augusto d’Oeynhausen e Gravenburg, ao [secretário de estado dos negócios da Marinha e Ultramar], Visconde de Anária, [João Rodrigues de Sá e Melo], remetendo mapa da carga transportada do porto do Aracati para o de Fortaleza na Sumaca Espírito Santo, pertencente a Pedro José da Costa Barros e comandada por João Antônio Lontra. Fortaleza, 13 de junho de 1805, caixa s/n, doc. 088. AHU.

327 CONSELHO ULTRAMARINO-CEARÁ. Ofício do [governador do Ceará] Luís Barba Alardo de Menezes, ao [secretário de estado da Marinha e Ultramar], conde das Galveiras, [D. João de Almeida de Melo e Castro], sobre a ordem para remeter mapa dos escravos de Bissau e Cachêu que aportem naquela capitania; informando que até agora não entraram escravos diretamente naquele porto, apenas por intermédio do negociante Lourenço da Costa Dourado, vindos do porto da Bahia. Ceará, 10 de outubro de 1810, AHU_ACL_CU_003. Cx. 41. d. 2367 e Requerimento de Ricardo Pedro de Figueiredo, mestre da escuna Dourado, ao rei [D. João VI], a pedir passaporte para o Ceará. 19 de janeiro de 1819, caixa 22, D. 1279. AHU.

328 Manuel do Nascimento de Castro Silva. Sessão de 26 de setembro de 1822. PORTUGAL: Diário das Cortes gerais, extraordinárias, e constituintes da nação portuguesa. Segundo anno da Legislatura. Tomo sétimo. Lisboa: Imprensa Nacional, 1822, disponível em http://books.googleusercontent.com/books/content?req=AKW5QaeEYAXxv0x3GihQk-

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Uma ascensão tardia, se comparado à outras praças. Segundo Antônio Carlos Jucá de Sampaio, os comerciantes do Rio de Janeiro já alimentavam um sentimento de pertencimento a uma comunidade mercantil, portanto diferente dos que eram apenas senhores de terras, já em meados do século XVIII329, quando as terras

que vieram a formar o Ceará não passavam ainda de um punhado de fazendas isoladas, enviando peles e carnes secas para as praças de Pernambuco e Bahia. Todavia, a ascensão dos comerciários de Fortaleza e Ribeira do Jaguaribe ampliou- se rapidamente em princípios dos oitocentos, paralelamente a influência política que cresceu significativamente em pouco mais de uma década, a ponto de em 1817, ante solicitação dos mesmos, o então Governador Manuel Inácio de Sampaio, criar a Companhia dos Voluntários do Comércio de Fortaleza e o Batalhão dos Nobres do Comércio, como forma de prestigiar os comerciantes locais com títulos e patentes militares. A primeira, uma milícia dos comerciantes locais, em especial ligados à casa de Moreira Gomes. Como dito, com o intuito principal de distribuir patentes e honrarias militares do governo entre estes comerciantes. Antônio José Machado, genro do então capitão-mor Moreira Gomes, foi nomeado capitão comandante da citada companhia330.

Nem os Voluntários do Comércio, nem o Batalhão dos Nobres do Comércio recebiam soldos, muito menos tinham a seu dispor as “cabroeiras” que as ordenanças e milícias do interior comandavam. Portanto, não tinham força militar. Apesar da distinção nos nomes entre a Companhia dos Voluntários do Comércio e Batalhão dos Nobres do Comércio, a única diferença entre estas companhias era a família a quem estavam vinculadas. O batalhão dos Nobres era literalmente uma milícia da casa Castro e Silva331, enquanto os Voluntários do Comércio, da casa Moreira Gomes. As

329 Cf. SAMPAIO, Antônio Carlos Jucá de. Família e negócios: a formação da comunidade mercantil carioca na primeira metade dos setecentos. In: FRAGOSO, João Luís Ribeiro; ALMEIDA, Carla Maria Carvalho de e SAMPAIO, Antônio Carlos Jucá de. Construtores e negociantes: histórias de elites no antigo regime nos trópicos. América Lusa, séculos XVI a XVIII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007, p. 126-164.

330 CONSELHO ULTRAMARINO-CEARÁ. Requerimento de Antônio Machado ao rei [D. João VI], a pedir confirmação da patente de capitão comandante da Companhia de Voluntários do Comércio da província do Ceará. Ceará, 5 de julho de 1822. Caixa 23, Doc. 1368. A.H.U. também eram membros da Companhia dos Voluntários do Comércio de Fortaleza, Tenente: Manuel José de Araújo, Alferes Antônio Nunes de Melo, Sargento: Manuel Alves de Carvalho e Furriel: José Teixeira Pinto.

331 Entender que a rivalidade destas casas era significativa o suficiente para o governo dar-se ao trabalho de criar duas milícias distintas, apenas para não misturar em uma única os membros de uma casa rival, é fundamental para compreender o processo de formação do Estado brasileiro na província do Ceará. Questão que será aprofundada no capítulo 3.

informações sobre o chamado “Batalhão dos Nobres do Comércio de Fortaleza”, no entanto, são mais escassas, o que sabemos é que o mesmo já existia durante o processo de ascensão do constitucionalismo no Ceará, o que nos faz supor que, possivelmente, tenha sido criada também por Inácio de Sampaio, para atender os anseios dos Castro e Silva por títulos e patentes militares, posto que o batalhão dos “Voluntários do Comércio”, era um espaço de domínio da principal casa inimiga: a casa Moreira Gomes. O Batalhão dos Nobres, por sua vez, tinha João Facundo de Castro Menezes como comandante e Joaquim José Barbosa, também da casa Castro, como sargento-mor332.

Estas milícias de Fortaleza representavam um excelente exemplo para entendermos o que definimos experiência local ou, hibridização das instituições que formavam o corpo administrativo da província do Ceará. Companhias militares distintas criadas para atender os interesses específicos e rivalidades de duas casas locais, construindo assim espaços específicos para a atuação política de cada família. Então é importante atentarmos para o sentido dado por estes grupos, quando os mesmos falavam em nome da liberdade e do constitucionalismo.

De uma forma mais geral, em 1822, o grupo que se autodefinia como comerciários de Fortaleza, ou seja, os comerciantes de grosso trato ou de grandes casas comerciais na praça de Fortaleza, eram formados por vinte e sete pessoas, distribuídos entre algumas poucas casas: Lourenço da Costa Dourado, José Antônio Machado (da casa Moreira Gomes), Manoel Caitano de Gouveia, Martins e Irmão333,

Joaquim José Barbosa (da casa Castro Silva), Antônio Ferreira da Silva, O Padre Antônio de Castro Silva, Manuel José Theofilo, José Joaquim da Silva Braga, Manoel Joaquim de Almeida Neiva, José Mendes Pereira, Manuel Gomes da Cunha, Francisco José de Carvalho Macedo, João Facundo de Castro e Menezes (Castro Silva), Benedito Luiz dos Santos, João da Rocha Moreira Junior, Joaquim Antunes de Oliveira, Inácio Ferreira Gomes, Laurino Antônio Ribeiro, João da Costa Silva, Antônio

332 José Raimundo de Paços Porbem Barbosa, 21/11/1822. In: Documentos do tempo da Independência. Doc. Cit., p. 313 e José Pereira Filgueiras, 5 de maio de 1824. Offício de José Pereira Filgueiras a Tristão Gonçalves a respeito dos acontecimentos de 14 de abril. In: documentos para a história da Confederação do Equador no Ceará coligido pelo Barão de Studart. Doc. Dit., p. 382-386. 333 Possivelmente, trata-se da casa de comércio dos irmãos Pinto Martins, originalmente de Aracati (João, Bernardo, José e Antônio Pinto Martins). Sobre estes ver NOGUEIRA, Gabriel Parente.

Fazendo-se nobre nas fímbrias do império: práticas de nobilitação e hierarquia social da elite camarária

de Santa Cruz do Aracati. Dissertação (mestrado), Universidade Federal do Ceará, Centro de Humanidades, Programa de Pós-Graduação em História: Fortaleza, 2010, p. 159.

José Moreira Gomes, Jacinto Fernandes de Araújo, José Maria Eustaquio Vieira, Antônio José de Mendonça, João José de Carvalho Silva, Bernardo José Teixeira e Camilo Henrique Dias334.

Para termos uma ideia da dimensão e influência que estes comerciantes de Fortaleza adquiriram em pouquíssimo tempo, em 1829 o jurista do Pará, Alberto Patroni, em passagem pelo Ceará, descreve as atividades de um destes comerciantes citados acima: Manuel Caitano de Gouveia e seu sogro Agrela Jardim, segundo este:

...possui [...] uma grande soma de conhecimentos adquiridos nas muitas e delatadas viagens que tem feito pela maior parte da Ásia e Europa. Os usos, e costumes, e línguas estrangeiras, tem feito de sua casa o empório do comércio inglês e americano em o Ceará.335

Mas quanto ao projeto de poder dos comerciários de Fortaleza de 1822? Este foi abruptamente frustrado por um levante organizado a partir da comarca do Crato336. Tão logo as histórias sobre os ataques das Cortes de Lisboa à preservação

de um governo central e autônomo do Brasil passaram a chegar à província; Filgueiras, juntamente com as câmaras da Comarca do Crato, posicionaram-se favoráveis a Pedro I, acusando a Raimundo Porbem Barbosa e José de Agrela Jardim de se colocarem contra a Independência. Todavia, o posicionamento de Filgueiras e da Junta do Sertão, significava também naquele instante, colocar-se contra as Cortes de Lisboa e em defesa da autonomia dos senhores de terra do sertão cearense, representados nos capitães-mores de ordenanças:

...na desenfreada ata [das] Cortes de Lisboa tinham já banido os Capitães- mores de distrito escolhido pelos povos ou capitães de ordenanças e os comandantes de várias repartições em seu lugar a Junta do Ceará substituiu [por] agentes de polícia pela maior parte suas criaturas337.

Era, portanto, um levante que visava também preservar a influência do poder local que vinha sendo atacado no Ceará desde a época do governador Sampaio338. Para além do já apontado acima, Filgueiras e os demais senhores de

334 O Conciliador, n. 130, 09 de outubro de 1822, HDBN.

335 PARENTE, Felippe Alberto Patroni Martins Maciel. Doc. Cit. p. 16 336 Ver mapa 1.

337 Registro de um ofício nº 1º do Governador das Armas desta província ao Ilmo. e Exmo. Senhor José Bonifácio de Andrada e Silva, ministro e secretário de Estado dos Negócios do Império do Brasil com data de vinte de fevereiro de mil oitocentos e vinte e três. Doc. cit.

terras do Crato e Icó, aproveitando-se do processo de Independência já em curso, reagiam contra a perda de poder provocado por propostas políticas das cortes e da Junta Administrativa dos comerciários, que então tentavam centralizar a administração da província, em Fortaleza.

Uma força centrípeta expressa no decreto das Cortes que retiravam dos capitães-mores as funções de comandantes das armas em suas vilas e eliminavam as ordenanças339, bem como às “Instruções de Polícia” de 1822, que entregaram o

policiamento das vilas do Ceará a pessoas simpáticas ao constitucionalismo, escolhidas pela junta administrativa. Portanto, uma tentativa de submeter as vilas ao governo da província, provocaram os rancores e temores das casas sertanejas. Somando-se a estas questões, uma forte rivalidade pessoal de Filgueiras para com o presidente da Junta, Porbem Barbosa, e os comerciantes da capital e do Icó340, foram

os elementos que despertaram o “patriotismo” do capitão-mor do Crato e das casas sertanejas, os impelindo na luta pela Independência.