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3. AS JUNTAS ADMINISTRATIVAS DA PROVÍNCIA DO CEARÁ

3.4. A INVENÇÃO DO ESTADO REPRESENTATIVO NO CEARÁ: IDEIAS LIBERAIS

Possivelmente, o primeiro movimento interno a pensar o Ceará como corpo político, surgiu em princípios da década de 1820, no citado projeto dos Castro e Silva apresentado à Junta Administrativa de Porbem Barbosa, assim como na “Instrução de

350 Segundo P. Théberge, o vigário interino da paróquia de Fortaleza, Pinheiro Landim, foi enviado para negociar os interesses dos comerciantes de Fortaleza no novo governo a partir do sertão. Esboço

histórico sobre a província do Ceará. Tomo II. Op. Cit. p. 76-77.

351 O pensamento político deste grupo pode ser facilmente estudado através das páginas do jornal Diário do Governo do Ceará, publicado entre abril e novembro de 1824. Diário do Governo do Ceará. Org. Jorge Brito, Fortaleza: Museu do Ceará, 2006.

Polícia” de 1822. Estes dois documentos se somaram a experiência política da convocação dos eleitores das diferentes paróquias da província, tanto para elegerem um governo local, como para escolherem representantes para as Cortes de Lisboa. Experiências que estabeleceram empatias e estranhamentos entre as populações das diferentes ribeiras que compunham o território do Ceará, mas que também promoveu uma primeira ideia de governo representativo de uma forma mais ampliada. Todavia, é prudente nos perguntarmos sobre o sentido político que os comerciários de Fortaleza e Aracati davam quando falavam em constituir um governo local. Para tentar responder a esta questão, achamos necessário não apenas analisarmos o discurso das juntas formadas pelos comerciantes, como feito acima, mas também o discurso de quem se opunha aqueles governos.

Não é o bem dos Povos que eles procuram porem sim o seu próprio; em todo o tempo tem tomado os sedutores a palavra da liberdade por divisa, e por ela tem querido persuadir que trabalham incansáveis para bem dos Povos, e na verdade assim tem sido, mas não tem sido a liberdade dos outros mas sim a sua deles em particular é o alvo, a que tem dirigido seus planos Estes Agentes de mudança política ou revolucionários não se ocupam senão de projetos de ambição; gritam para chegar a seus fins: não querem ser escravos, porém querem que todos estejam sujeitos aos seus arbítrios, e que contribuam segundo estes para a sua própria conveniência.352

O texto citado é parte de uma circular353, escrita pelo então governador do

Ceará, Francisco Alberto Rubim, dirigido às câmaras e capitães-mores das vilas. O governador informava ali às autoridades locais, sobre os movimentos em prol do projeto de constituição portuguesa de 1820 e da adesão das províncias do Pará, Bahia e Pernambuco ao mesmo. Mas também alertava para a existência de simpáticos ao constitucionalismo no Ceará: em especial o padre Antônio José Moreira e Manoel do Nascimento de Castro e Silva354. Nesta rebelião de 1821, apesar de também atacarem

o absolutismo, percebe-se que parte dos indivíduos ao se levantarem a favor do juramento à constituição portuguesa na província, como os acusa Rubim, o faziam

352 Cópia de uma circular do Governador do Ceará Alberto Rubim às autoridades das vilas cearenses

em 25 de março de 1821. Cit.

353 “Circular” era o nome que se dava aos ofícios enviados pelo governo da província para informar às

autoridades das vilas sobre alguma questão mais geral, não se destinando a uma pessoa especificamente. Ou seja, tratavam de assuntos em comum que deveriam ser levados a todas as vilas, portanto, não eram destinadas a uma autoridade específica.

354 Cópia de uma circular do Governador do Ceará Alberto Rubim às autoridades das vilas cearenses

tanto a partir de interpretações bem próprias do liberalismo, como de interesses particulares:

...um e outro [o padre Antônio José Moreira e Manoel do Nascimento de Castro e Silva]355, que se demoravam seus fins [tornarem-se

governadores da província], tiveram o delírio de espalhar com a maior publicidade, que à Bahia não obedecia ao Príncipe Regente, que este só Governava à Província do Rio de Janeiro, que cada Província estava sobre si, as Cortes em linha, e que estes aprovaram quanto cada uma das Províncias fizesse, o que somente era bastante para entre poderosos ignorantes, e Povos rústicos como o são os desta produziu uma Anarquia.

Tão corrente passa estas doutrinas, que recebendo do Rio de Janeiro vários Processos vitais feitos a soldados de linha, vindo estes com as sentenças do Conselho Supremo militar a Ordem do Príncipe Regente para os fazer cumprir; Marianno Gomes da Silva teve o valor de me dizer, que a Tropa se devia opor e não consentir que se desse Cumprimento...356

Para alguns daqueles homens envolvidos na rebelião de 1821 do Ceará, a proposta de constituição representava a oportunidade de formar um governo local, o chamado autogoverno. Como relatado no ofício de Rubim, acreditava-se que, com a constituição, cada província estava sobre si, o que significava dizer que as Cortes aprovariam todas as decisões políticas dos governos locais. A presença deste desejo de autonomia política, presente na adesão ao projeto de Constituição de Lisboa, representava também uma luta para se assenhorear do governo provincial, mas ao mesmo tempo sem romper com Lisboa, mas sim em apoiar-se nesta.

Além desta questão, a ênfase de Rubim em destacar dois grupos políticos distintos na capital da província que falavam, ambos, em nome do liberalismo e tinham em comum a crítica à intervenção dos governadores nos interesses dos comerciários locais, em especial no que se referia a cobrança dos impostos e a distribuição dos cargos administrativos, dar-nos então uma boa ideia do que representava este ímpeto por cobrar um governo de si. Tinha-se então, dois movimentos que falavam em nome

355 O padre Antônio José Maria era acusado por Rubim de defender os ideais do tempo da Revolução

Pernambucana e de ser o chefe do partido desta tendência no Ceará. Segundo Rubim, o citado padre pregava abertamente a independência. Enquanto Manoel do Nascimento de Castro e Silva, mais moderado, criticava o governo e parecia voltar-se mais para um federalismo sem necessariamente romper com Portugal.

356 CONSELHO ULTRAMARINO-CEARÁ. Oficio do [secretário de estado dos Negócios da Marinha e

Ultramar], Inácio da Costa Quintela, ao [Presidente das Cortes Gerais], João Batista Filgueiras, remetendo oficio do governo do Ceará, Francisco Alberto Rubim, sobre os reflexos da revolução de 1817, ocorrida em Pernambuco, na capitania do Ceará. Doc. cit.

do liberalismo, apoiando o ideal constitucionalista luso, mas ambos ligados aos conflitos familiares locais e, como tal, ligados aos interesses imediatos de duas casas do litoral. Estas duas famílias, como veremos adiante, formaram a base dos partidos políticos provinciais na década de 1830, mas que neste momento, tanto os Moreira Gomes como os Castro e Silva, separadamente lançavam críticas às políticas centralizadoras dos antigos governadores. Todavia, ao assumirem o governo, em especial a primeira casa, também recorreu à uma prática administrativa que visava a centralização política, controlando ou submetendo os potentados do sertão, aos interesses do governo provincial.

Os constitucionais do Ceará, grupo basicamente formado por comerciantes de grosso trato, juristas, padres e burocratas, pareciam lutar sim, como alerta Rubim, por suas casas ou possíveis vantagens econômicas mais diretas357. No entanto,

apesar do alerta de Rubim para o “risco” de separatismo por parte dos rebeldes, não nos parece que houvesse entre os comerciários de Fortaleza, tanto da casa dos Castro e Silva, como dos Moreira Gomes; estas pretensões. Como bem observou Evaldo Cabral de Mello “Não havia sentimento nacionalista na América portuguesa em 1822; o que havia era ressentimento antilusitano”358 e, no caso do Ceará, este

rancor ao “europeu” era materializado, principalmente, na pessoa dos governadores de província, responsabilizados pelas elites locais por aumentar os impostos e limitar as autonomias, ao passo que impunham a lei e decretos reais.

Uma centralização que só se fez sentir com maior força no Ceará depois da elevação desta à capitania autônoma em 1799 e, já em um segundo momento, com a transferência da sede do governo para o Rio de Janeiro, tendo seu auge na administração do governador Inácio de Sampaio359. Contraditoriamente, justamente

os dois principais momentos de maior expansão econômica e consolidação dos comerciários de Fortaleza.

Então? Quais eram estes interesses locais? Já vimos acima que existiam pretensões dos comerciários de Fortaleza, que formaram majoritariamente as duas primeiras juntas administrativas, em “civilizarem” o sertão da província. Ou seja, de se

357 Essa presença de um desejo por um autogoverno provincial fora muito discutido também nos

debates da Assembleia legislativa de 1823. Ver BRASIL. Annaes do Parlamento brasileiro (Assembleia Constituinte). Tomo I. Doc. Cit.

358 MELLO, Evaldo Cabral de. Um imenso Portugal: história e historiografia. São Paulo: Ed. 34, 2002, p. 15.

institucionalizar a presença do governo da capital, Fortaleza, sobre o sertão, através da nomeação de autoridades policiais subordinadas à Junta Administrativa.

Mas foi esta pretensão colonizadora e disciplinadora do litoral sobre o sertão, que motivou o levante contra Rubim e a formação de um governo local? Não cremos. Pelo menos na fala dos comerciários de Fortaleza, mediante o levante contra Rubim, estes alegavam lutar por um governo local, favorecendo a agricultura e o comércio local360. Uma proposta semelhante a esta já era, se não exercida, pelo

menos planejada desde o governo Sampaio (18012-1820). Antes, o que se chamava de favorecer à agricultura, era eliminar destas os impostos. Neste sentido, pensamos que este olhar “civilizador” do litoral para o interior, aconteceu em um segundo momento, como consequência da instalação de um governo provincial e, como tal, na necessidade de pensar como um governo geral da província.

Daí a importância da avaliação de Rubim sobre a junta que o destituiu. Para aquele capitão-mor governador, os comerciários de Fortaleza queriam um governo para atender interesses econômicos e familiares bem diretos. O mesmo era, em nível local, um movimento que visava dar governo aos “vogais do lugar”361. Então, se era

este o principal foco dos liberais da capital, o que explicaria o citado projeto civilizador de 1822? Simples, os comerciários de Fortaleza e Aracati só tiveram de pensar em um governo para a província, quando se tornaram governo de fato. Até então, o que existia era um ressentimento às medidas centralizadoras representada pela criação da capitania do Ceará e da Junta da Fazenda. Uma insatisfação que se somou durante o constitucionalismo, ao desejo de colocarem o Estado para atender seus interesses. Abordar esta questão das reivindicações dos liberais do Ceará em prol da criação de um governo da província, é entender que as ações daqueles homens

360 Termo de juramento, que presta a Nobreza, Clero, e Povo, desta Villa, e mais que nelle se contem abaixo. In: Documentos do Tempo do Governador Rubim. Cit. p. 396-401.

361 “Vogais do lugar” ou “principais do lugar” eram os termos atribuídos aos homens mais influentes da

província ou vila. Vogal, aparentemente é uma derivação do termo francês “voguel” = remo de barco, em português o sentido do termo ganhara a conotação de alguém que conduz os demais. Vogal também eram aqueles que tinham poder de voto nas ordens religiosas medievais. No século XIX ganhara o sentido de “pessoa que tem [poder de] voto nas comunidades”. Ver respectivamente VIEIRA, Domingo. Grande Diccionario portuguez: ou Thesouro da Lingua portugueza. V.5, Porto: Imprensa literária-comercial, 1873, p. 986-987. Disponível em https://archive.org/details/grandediccionari05vieiuoft. Consultado em 05/05/2014; BLUTEAU, D. Raphael. Vocabulario Portuguez e Latino. Tomo VIII. Lisboa: Officina de Pascal da Sylva, MDCCXXI, p. 585. “pelas quatro horas da tarde os Excellentissimos Presidente, Governador das Armas, e os tres Vogais do governo da Junta do Governo entrarão na capital com mil cento e quatro homens...” Diario do Governo do Ceará, nº 5, 1 de maio de 1824, p.3.

envolvidos no movimento constitucionalista de 1820, ou mesmo as lutas de Filgueiras e Alencar Araripe rumo à adesão a independência, eram práticas recheadas de interesses pessoais, que demandavam negociações e distribuição de cargos com o intuito de ajustar o governo às muitas reinvindicações familiares ali presentes. Enfim, eram lutas para se edificar não só um governo da casa, mas também para a casa, no sentido de apoderar-se do Estado. Para melhor entender esta questão, continuemos com a denúncia de Rubim sobre os rebeldes de novembro de 1821:

...o Ouvidor [Adriano José Leal] de proposito se havia retirado, porque tudo até aqui ajeitado tem consigo a melhor inteligência e harmonia não queria ter influência alguma pública sobre este objeto que tinham comprado segundo dizem por 300 [mil reis] o Sargento de Linha José Marcello, o Fran.co A. José Pinto, e o Cabo de Esquadra Antônio Ricardo, prometendo-lhe mais promovê- los a Alferes, se eles seduzissem todos os inferiores do Batalhão ao Cap. Graduado e Comandante interino da 4ª Companhia dizem que o Vigário lhe deu a 200 r$ que sendo convocado o Ajudante José Narciso Xavier Torres respondera, que tal se não podia fazer sem derramar muito sangue, porem que se lhes prometessem que seu Pai Francisco Xavier Torres seria Presidente tudo se havia de fazer em paz, ao que se lhe respondeu que fizesse em que à Tropa o Nomeasse ao Sargento-mor Comandante das 1ª Companhia se lhe prometeu o Comando do Batalhão se a sua Companhia obrasse de acordo, o que me parece ter lugar porque dias antes o Vigário [Antônio José Moreira] me havia dito, que insinuasse ao Comandante do Batalhão desse parte de doente, que entregasse o Comando ao Sargento-mor Ferreira, que era mais antigo, e havia de pôr a Tropa em melhor disciplina [...]. O Tenente Marcos Antônio Brício, respondeu, que só empunhara pela espada se seu Pai do mesmo nome e atual Escrivão da Junta da Fazendo Nacional fosse nomeado para membro do Governo, ao que se lhe respondeu que sim, que a Tropa o havia de nomear [...]. Foram nomeados nove incluso Presidente, e Secretário, havendo entre estes dois irmãos, o Ouvidor pela Leis, e o Secretário, Marcos Antônio Brício, e seu Genro Lourenço da Costa Dourado porém nesta assembleia se pode disfarçar porque nela causa alguma se fará, que não seja a vontade do Vigário, e ai da aquele que se lhe oporem.

[...] se fez nesta Villa as Eleições de Paroquia, pois só foram eleitos quem quis o Vigário, e Manoel do Nascimento ...362

Segundo Rubim, os comerciantes de Fortaleza e do Aracati, a frente dos quais estava a casa Moreira Gomes, conseguiram o apoio da tropa de linha e burocratas da capital, frente a promessa de vantagens, tais como cargos rentáveis no novo governo e, por vezes, tão somente dinheiro em troca de apoio.

Como posto, a primeira junta administrativa da província do Ceará foi

362 Francisco Alberto Rubim. In: CONSELHO ULTRAMARINO-CEARÁ. Oficio do [secretário de estado

dos Negócios da Marinha e Ultramar], Inácio da Costa Quintela, ao [Presidente das Cortes Gerais], João Batista Filgueiras, remetendo oficio do governo do Ceará, Francisco Alberto Rubim, sobre os reflexos da revolução de 1817, ocorrida em Pernambuco, na capitania do Ceará. Doc. Cit.

presidida pelo então sargento-mor Francisco Xavier Torres, militar e português da Europa. Porém, segundo Rubim, a condição para que este fosse “eleito” presidente da junta foi ajustada entre seu filho, José Narciso Xavier Torres, oficial militar em Fortaleza; e o líder do movimento constitucional no Ceará, padre Antônio José Moreira. Para Rubim, o acordo consistia no cargo de presidente em troca da adesão militar da tropa de linha ao levante contra o governador. Ao que parece, Xavier Torres, que então ocupava o cargo de comandante das armas do Ceará, para não se comprometer com o levante, caso o mesmo não desse certo, fingiu ir a um compromisso no interior e entregou o comando da tropa de Fortaleza ao Tenente Marcos Antônio Brício, que liderou de fato aquele movimento363.

Adriano José Leal, vice-presidente, também português da Europa e até então juiz de fora e ouvidor interino de Fortaleza364, ao lado do padre Antônio José

Moreira, foi um dos orquestradores do levante militar que impôs o constitucionalismo e destituiu Rubim em três de novembro de 1821. O Citado padre Moreira também compôs a junta administrativa, este natural de Aracati, vigário da cidade de Fortaleza e considerado por Rubim o chefe maior do movimento.365 Além destes, Henrique José

Leal, irmão do ouvidor Leal366 foi mais um dos “eleitos”. Também compunham a

primeira junta Marcos Antônio Brício, até então escrivão da junta da fazenda de Fortaleza e pai do tenente Brício, que comandou o levante militar; Orlando Lourenço da Costa Dourado, Capitão-mor e comerciante em Fortaleza e genro do anterior. Segundo Rubim, a participação do escrivão e do capitão-mor no governo teria sido combinada entre o tenente Marcos Brício e o padre Moreira367. No acordo, os militares

deveriam ser eleitos membros do governo em troca do apoio do batalhão comandado pelo tenente368. Fechando o pacto que compôs o primeiro governo, estavam Mariano

363 Francisco Alberto Rubim. In: CONSELHO ULTRAMARINO-CEARÁ. Ofício do [governador do Ceará, Francisco Alberto Rubim], a Francisco Maximiliano de Sousa [Junta Provisional do Governo Supremo do Reino em Lisboa], acusando o recebimento da carta assinada pelo governador de Pernambuco, Luís do Rego Barreto, no qual participava haver el-rei jurado a constituição que se fizer pelas cortes em Portugal, e dá-la ao seu reino no Brasil. Fortaleza, 14 de maio de 1821, caixa 22, n. 1310, AHU.

364 CONSELHO ULTRAMARINO-CEARÁ. Oficio do [secretário de estado dos Negócios da Marinha e

Ultramar], Inácio da Costa Quintela, ao [Presidente das Cortes Gerais], João Batista Figueiras, remetendo oficio do governo do Ceará, Francisco Alberto Rubim, sobre os reflexos da revolução de 1817, ocorrida em Pernambuco, na capitania do Ceará. 8 de fevereiro de 1822, Queluz. Caixa 23, Doc. Nº 1343, AHU

365 Idem. 366 Idem 367 Idem 368 Idem.

Gomes da Silva, comerciante em Fortaleza369; José Antônio Machado, Capitão de

milícia em fortaleza da casa Moreira Gomes e José Raimundo dos Passos Porbem Barbosa, português da Europa e ex-ouvidor da Comarca do Crato370. A ausência da

casa Castro e Silva deste governo, nos faz entender que o levante contra Rubim também representou uma jogada política dos Moreira Gomes contra aqueles senhores do Aracati.

Neste sentido, para Rubim, os membros que compunham a primeira junta eram oportunistas, que se valendo da onda constitucionalista, apoiaram-se nela para chegarem ao poder. Uma crítica demasiadamente próxima ao que dois anos depois denunciou o então vigário interino do Icó e membro da junta de 1823, Vicente José Pereira, referente à Junta de Landim. O interessante é que, como posto na tabela 4, a Junta de Landim era predominantemente formada por casas sertanejas do sertão central e sul da província. E tal qual os comerciários do litoral, tais casas, literalmente, colocavam os cargos administrativos e militares da província para promoções pessoais. Como os acusam Rubim, no que se refere às casas do litoral, e o Padre Vicente, ao falar do então Governador das Armas, José Pereira Filgueiras e de sua prática de distribuição dos cargos militares para atender interesses pessoais de aliados. Além disto, Filgueiras é acusado pelo mesmo padre de não atentar nem para as necessidades militares reais, nem para as limitações financeiras da província:

...sem atender aos déficits do[s] cofres nacionais sobrecarregados de imensa dívida com os habitantes do centro cria um novo batalhão de 1ª linha que unido ao outro já criado lhe deu o nome de brigada. Foram nomeados para esta brigada de oito companhias um Coronel, dois tenentes coronéis efetivos, quatro majores, oito tenentes, e dois alferes para cada companhia, fora ajudantes, que também nomeou e muitos oficiais adidos do estado maior; e outros agregados expressamente proibidos por lei. [...] entre tanta oficialidade de 1ª linha existente não se tiram entre todos meia dúzia que preencham as suas obrigações. Manda o mesmo Senhor Filgueiras, que toda essa oficialidade use de suas insígnias militares, e que percebam o soldo da nação. [...]. Se é difícil preencher aquele [o antigo batalhão] com 400 homens, capazes, de modica despesa de só se fardarem, como se pode achar 800