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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.4 POSTURA SENTADA

2.4.1 ASPECTOS ANATÔMICOS DA POSTURA SENTADA

A coluna vertebral é uma estrutura que compreende 33 vértebras dispostas uma sobre a outra longitudinalmente, unidas por juntas cartilaginosas, formando um conjunto que se estende pela nuca, tórax, abdome e pelve. A coluna vertebral transfere força e movimentos de torção e flexão da cabeça e ombros até a pelve, além de proteger a medula espinhal (KROEMER et al., 1994, CHAFFIN et al., 2001). A Figura 2.21 ilustra os aspectos da coluna vertebral.

Figura 2.21 - Classificação das vértebras da coluna

Fonte: IIDA (1990)

Na vista lateral do corpo de uma pessoa em pé é possível notar as curvaturas normais da coluna vertebral (Figura 2.22). A primeira curvatura de baixo para cima é a chamada lordose lombar, que é caracterizada pela disposição das vértebras em forma de arco com a concavidade para trás. A seguir, está a cifose torácica formada pelas vértebras torácicas com concavidade voltada para frente. Já na parte superior da coluna vertebral está localizada a lordose cervical, cujas vértebras possuem concavidade para trás (COURY, 1995).

Segundo Couto (1995), a passagem da postura em pé para a postura sentada resulta em uma condição totalmente diferente com relação à distribuição de pesos e compressões na coluna vertebral. Ao sentar, algumas mudanças básicas ocorrem na disposição dos elementos do corpo humano, ocasionando na mudança do formato da coluna, como pode ser visto na Figura 2.23. Primeiramente a articulação do quadril é dobrada. Com isso, os ossos da bacia são rotacionados, fazendo com que as pontas dos ossos apontem para baixo. Dessa forma, a lordose lombar é “esticada”, sofrendo uma diminuição ou eliminação de sua curvatura dependendo da inclinação do tronco com relação às coxas. Nessa condição, portanto, parte do peso do corpo é descarregada através das duas pontas dos ossos da bacia ou tuberosidades isquiáticas (COURY, 1995).

Figura 2.22 - As quatro divisões da coluna: cervical, torácica, lombar e sacro

Fonte: CHAFFIN et al. (2001)

Figura 2.23 - Mudanças que ocorrem na coluna e nos ossos da bacia com a passagem da postura em pé para a sentada

em pé sentado reto (900)

sentado inclinado para frente (600)

Fonte: COURY (1995)

De acordo com Schoberth (1962) a coluna na postura sentada pode adotar três configurações com relação à localização do centro de gravidade do corpo e da proporção do peso corporal transmitida ao chão e pelos pés: anterior, média e posterior, dependendo da tarefa e da cadeira utilizada (Figura 2.24). Essa divisão é baseada no ponto em que está localizado o centro da massa corporal e afeta curvatura da coluna lombar e a proporção do peso do corpo transmitida para as diferentes superfícies de apoio (CHAFFIN et al., 2001).

Figura 2.24 - A pelve e a parte lombar da coluna de um indivíduo quando: (a) sentado; (b) relaxado na posição sentada, com sacro sem suporte na posição média; (c) sentado ereto, com suporte para o sacro; (d) sentado na posição de inclinação anterior; e (e) relaxado na posição sentada na postura de

inclinação posterior.

Fonte: CHAFFIN et al. (2001)

Coury (1995) apresenta em seu livro outras três conseqüências possíveis da permanência na postura sentada para as costas. A primeira conseqüência é o aumento da pressão dentro do disco intervertebral. A passagem da postura em pé para a sentada aumenta em aproximadamente 35% a pressão do núcleo dentro do disco vertebral, uma vez que ocorre a diminuição da curva lombar. Com isso, a posição das vértebras muda, diminuindo o espaço entre elas na frente e aumentado o espaço de trás, além de deslocar o núcleo que estava no centro do disco para trás (Figura 2.25).

Figura 2.25 - Mudanças na coluna lombar na passagem para a postura sentada

Fonte: COURY (1995)

A segunda consequência é o estiramento das estruturas que ficam na parte de trás da coluna (ligamentos, pequenas articulações e nervos que saem da medula) devido ao achatamento do arco lombar. Uma vez que essas estruturas são muito sensíveis,

com o passar do tempo pode aparecer dor na região lombar, sobretudo quando o tronco é inclinado para frente (COURY, 1995).

A terceira consequência é decorrente das duas primeiras e está relacionada com o deslocamento do núcleo para trás. Quando isso acontece, o núcleo pressiona a parte de trás do disco, enfraquecendo a região e facilitando o aparecimento de pequenas rachaduras. Se condições diversas também estiverem presentes, como idade acima de 35 anos, predisposição individual, esforço manual excessivo ou repentino, aumentam as chances de ocorrer uma hérnia de disco (COURY, 1995).

Além das consequências da passagem da postura em pé para a postura sentada apontadas por Coury (1995), pode-se citar a transferência de peso do tronco para uma área relativamente pequena, que são as tuberosidades isquiáticas e tecidos moles que as circundam. Segundo Moraes e Pequini (2000), ao se sentar, o ser humano apoia cerca de 75% de todo o seu tronco sobre as tuberosidades isquiáticas, cuja área não passa de 26 cm2 (Figura 2.26).

Figura 2.26 - Transferência do peso do tronco pelas tuberosidades isquiáticas na postura sentada Pelve apoiada sobre almofada Vista lateral da pelvis

Fonte: Lueder et al.7(1994 apud Huet, 2003)

Os constrangimentos músculos-esqueléticos consequentes das altas pressões do peso do corpo sobre as tuberosidades isquiáticas, coxas, pelve e tronco podem além de provocar dores e desconforto nos usuários trazer riscos para a saúde do passageiro quando o mesmo encontra-se sentado (HUET, 2003). No caso de

7 LUEDER, R.; DANIELSON, C.; GREENSTEIN, G. C.; HSIEH, J.; PHILLIPS, R.; DESIGN

WORKS/USA Does it matter that people are shaped differently, yet backrests are built the same? In: LUEDER, R.; NORO, K. Hard Facts About Soft Machines: Ergonomics and the Science of Seating London: Taylor and Francis, 1994.

viagens de avião, o passageiro fica muitas vezes sem sair da poltrona e acaba buscando o alivio dessas pressões escorregando a pelve para frente, perdendo o apoio lombar oferecido pelo encosto (HUET; MORAES, 2002).

Segundo Meschan8 (1975 apud PETERSON; ADKINS, 1982), as tuberosidades isquiáticas ficam a cerca de 10 cm do encosto da poltrona para as mulheres e um pouco mais distante para os homens, sendo que essa distancia não é muito influenciada pelo peso a altura da pessoa. Ao sentar-se ereta, sem inclinação pélvica, uma pessoa concentra seu peso nas pontas das tuberosidades isquiáticas e a coluna lombar está retificada ou com uma pequena cifose (CHAFFIN et al., 2001). Além disso, as tuberosidades isquiáticas ficam entre 5 e 13 cm a partir do encosto de uma poltrona, dependendo da massa glútea (Figura 2.27). Ao escorregar um pouco na poltrona, a sínfise da pessoa é inclinada para cima e as tuberosidades isquiáticas são deslocadas para frente na cadeira. Dessa forma, o peso do corpo fica apoiado na ponta posterior das tuberosidades isquiáticas. Quando isso ocorre, os pontos de pressão aparecem a quase 30 cm do encosto da poltrona (Figura 2.28) (PETERSON; ADKINS, 1982).

Figura 2.27 - Posição das tuberosidades isquiáticas na posição sentada em relação ao

encosto da poltrona

Fonte: PETERSON; ADKINS (1982)

Figura 2.28 - Aumento da distância das tuberosidades isquiáticas na posição

“escorregada”

Fonte: PETERSON; ADKINS (1982)

A postura sentada dita anterior ocorre partindo-se da postura média rodando-se para frente a pelve e mantendo-se a coluna ereta, ou flexionando-se a coluna causando

uma leve cifose e rotação da pelve, ou mantendo a rotação da pelve, mas com uma grande cifose da coluna (CHAFFIN et al., 2001). Com a pelve inclinada para frente, a sínfise abaixará e o peso do corpo será suportado pelo ramo inferior do ísquio e púbis. Nessa configuração da pelve, o centro de massa está na frente das tuberosidades isquiáticas e as pernas suportam mais de 25% do peso do corpo e, dessa forma, os pontos de pressão serão mais perto do encosto da poltrona e mais próximos entre si do que o normal por causa da angulação do ramus das tuberosidades isquiáticas (Figura 2.29) (PETERSON; ADKINS, 1982, CHAFFIN et al., 2001).

A postura sentada posterior é normalmente obtida por uma rotação para trás da pelve e, simultaneamente, uma cifose da coluna. Nesta posição, a parte superior do corpo é sustentada pelo encosto da poltrona e menos de 25% do peso corporal é suportado pelas pernas e o centro de massa está atrás das tuberosidades isquiáticas (PETERSON; ADKINS, 1982, CHAFFIN et al., 2001). Quando a pelve é inclinada posteriormente, o peso do corpo é suportado pelo sacro e cóccix (Figura 2.30). A pressão tolerada sobre essas superfícies é menor do que a suportada pelas tuberosidades isquiáticas e deve ser evitada (PETERSON; ADKINS, 1982).

Figura 2.29 - Pelve rotacionada para frente na posição sentada com o peso do corpo no ramo

inferior do ísquio e da púbis.

Fonte: PETERSON; ADKINS (1982)

Figura 2.30 - Pelve rotacionada significadamente para trás com o peso do corpo na superfície do

sacro e do cóccix.