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OUTRAS VARIÁVEIS QUE INFLUENCIAM A DISTRIBUIÇÃO DE

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.6 CONTRIBUIÇÕES DA DISTRIBUIÇÃO DE PRESSÃO DE INTERFACE

2.6.3 OUTRAS VARIÁVEIS QUE INFLUENCIAM A DISTRIBUIÇÃO DE

Neste item, serão apresentadas variáveis que influenciam a distribuição de pressão como: o tempo, o gênero e as características da poltrona.

2.6.3.1 PRESSÃO X TEMPO DE EXPOSIÇÃO

Entre as causas externas que contribuem para o aparecimento de úlceras, a pressão em relação ao tempo parece ser a mais importante. Quando a pressão de interface excede a pressão média nas veias capilares, as veias tendem a entrar em colapso. Se essa situação for mantida durante um período de tempo prolongado, necrose isquêmica irá se desenvolver nessa área (EITZEN, 2004).

Reswick e Rogers (1976) definiram uma curva de caracterização que relaciona a pressão exercida versus o tempo de aplicação da mesma. Essa curva, definida apenas como uma recomendação geral pode ser vista na Figura 2.42. Seigler (2002), também sugere essa recomendação, que segundo ele, é baseada na fisiologia humana. Todas as células vivas necessitam de fornecimento de nutrientes para sobreviver, especialmente de oxigênio. O oxigênio é transportado para as células através da circulação sanguínea e a sua pressão parcial ocorre em torno de 95mmHg. Se o pico de pressão no tecido excede 95mmHg, as células ficam sem suprimento de oxigênio, porém conseguem sobreviver uma vez que liberam energia por glicolise. De qualquer forma, as células conseguem sobreviver por um tempo limitado em condições anaeróbias e este é o tempo limitante que define o limite que leva a formação de úlceras na pelo efeito da pressão. Como já comentado anteriormente, para poltronas em geral deve-se minimizar a duração do pico de pressão (SEIGLER, 2002).

Um estudo mais recente, desenvolvido por Henderson et al. (1994) sugere que danos aos tecidos só começariam após uma exposição continua a uma pressão de 60 mmHg (ou 8 kPa) por um período superior a 1 hora. Posteriormente, Tanimoto et al. (1998) e Hamanami et al. (2004) validaram os resultados de Henderson et al. (1994).

Figura 2.42 - Relação entre pressão e tempo sentado

Fonte: SEIGLER (2002)

2.6.3.2 INFLUÊNCIA DO ENCOSTO DA POLTRONA NO CONFORTO GLOBAL

O encosto da poltrona é considerado como sendo de grande importância para o aumento do conforto e redução de desconforto em uma poltrona de automóvel (OUDENHUIJZEN et al., 2003). Porém, segundo esse mesmo autor, a maioria dos autores avalia apenas o conforto geral do assento sem se importar com as contribuições específicas do encosto e do assento. Um estudo realizado por Dhingra, Tewari e Singh (2003), mostrou que bancos de tratores confortáveis são aqueles que proporcionam suporte à região lombar. Dessa forma, esse autor concluiu que a pressão de apoio na região lombar pode ser considerada como um dos padrões para avaliar a qualidade de poltronas e que a diminuição do raio da curvatura do encosto, provoca um aumento na área de contato lateral.

2.6.3.3 INFLUÊNCIA DA RECLINAÇÃO

Do ponto de vista biomecânico e fisiológico, estudos têm demonstrado que alterações posturais associadas à variação no ângulo do encosto de uma poltrona podem ter um efeito significativo sobre o ocupante (VOS et al., 2006). Ao analisar a influência da reclinação na distribuição de pressão, Stinson et al. (2003) notou que

uma reclinação de 30° reduz significativamente a pressão média de uma poltrona, enquanto reclinações entre 10° e 20° não produzem efeitos significativos nessa medida. Um estudo feito por Souza (2009) com 12 participantes, verificou a redistribuição de pressão sobre assento e encosto de poltronas aeronáuticas quando da adoção de um mecanismo de reclinação conjunta do assento com o encosto, com abertura fixa, em comparação com o mecanismo convencional adotado pela indústria. Observou-se que a maioria dos casos apresentaram melhorias da distribuição de pressão e em todos os casos foi verificado aumento da área de contato do encosto, o que representa um maior suporte da coluna, levando a um aumento de conforto.

2.6.3.4 DIFERENÇAS NA DISTRIBUIÇÃO DE PRESSÃO DE HOMENS E MULHERES

Stinson (2003) analisou a distribuição de pressão de 63 estudantes considerando 3 ângulos de reclinação do encosto e situações com e sem apoio para os pés. Ele percebeu que as medidas de pressão média e máxima são independentes do sexo, mas que a pressão média está relacionada com o índice de massa corpórea (IMC). Um estudo mais recente desenvolvido por Vos et al. (2006) com 24 participantes mostrou que os valores de pressão média masculina são superiores aos valores femininos. Vos et al. (2006) também observou que o uso do apoio de braços não afetou a distribuição de pressão feminina, enquanto houve uma pequena diferença na distribuição de pressão masculina com o uso dos apoios de braço. Esses resultados podem ser possivelmente explicados por uma série de diferenças antropométricas existentes entre homens e mulheres (VOS et al., 2006). Homens geralmente possuem estruturas pélvicas estreitas, com tuberosidades isquiáticas espaçadas,com um arco púbico apertado, resultando em uma menor carga área das tuberosidades isquiáticas (VAN DE GRAAF; FOX11, 1999 apud VOS et al., 2006). Enquanto a estrutura pélvica feminina proporciona um maior arco púbico, tuberosidades isquiáticas amplamente definidas, resultando em uma ampla estrutura pélvica, que pode servir para melhor distribuição de peso na poltrona (VAN DE

11 VAN DE GRAAF, K.M., FOX, S.I., Concepts of Human Anatomy and Physiology, 5.ed. Boston:

GRAAF; FOX11, 1999 apud VOS et al., 2006). Essas diferenças de sexo também foram relatadas em estudos anteriores (GYI; PORTER, 1999).

2.6.3.5 MUDANÇA DE POSTURA AO LONGO DO TEMPO

Segundo Jenny et al. (2001), durante as alterações posturais ocorre a facilitação da nutrição e alívio da fadiga muscular proveniente da postura sentada. Da mesma forma, Dhingra, Tewari e Singh (2003) sugeriram que as mudanças na posição do corpo deve ser permitida para aliviar a pressão sobre os grupos musculares e relaxá-los. Akerbloom (1948) observou que para uma poltrona ser confortável, ela deve propiciar alterações posturais. Essas mudanças posturais também serão refletidas nos dados de pressão (KYUNG; NUSSBAUM, 2008).

Uma vez que ainda não foi estabelecida uma relação entre a pressão interface e desenvolvimento de úlcera de pressão, é importante observar o comportamento de pessoas sem deficiência física, uma vez que elas normalmente não desenvolvem úlceras de pressão. Lee e Milosic (1995) afirmaram que a mudança frequente de postura está relacionada com a sensação de desconforto. Em seu estudo ele mostrou que condutores de automóveis tendem a se mover com mais frequência quando sentem desconforto, a fim de ajustar a postura e melhorar a situação de desconforto.

Reenalda et al. (2009) analisou o comportamento de 25 pessoas sadias sentadas em uma cadeira de rodas no intervalo de uma hora percebeu que elas continuamente mudaram de postura ao longo de um tempo que elas ficam sentadas. Com esse estudo foi possível verificar que esses indivíduos se movimentam em média 7,8 + / - 5,2 vezes por hora e que em cada mudança de postura, há um aumento em média de 2,2% na oxigenação subcutânea, indicando um efeito positivo das mudanças de postura sobre o tecido mole ao redor das tuberosidades isquiáticas. Outro estudo similar, realizado por Linder-Ganz et al. (2007), concluiu que os indivíduos não deficientes mudam aproximadamente 6,7 vezes por hora a sua postura no plano sagital e aproximadamente 10 vezes no plano frontal.

2.6.3.6 INFLUÊNCIA DO MATERIAL DA ESPUMA

Um estudo piloto feito na Georgia Tech utilizou modelos de nádegas em ensaios de medida de pressão de interface para tentar eliminar a variabilidade de tecidos moles no estudo de diferentes poltronas. As medidas foram tomadas em tempo de 0, 1, 3, 5, 8 e 10 minutos e foi verificado um aumento de até 44% em pressão total durante 1-8 minutos. O maior aumento ocorreu entre os tempos 0 e 1, enquanto que pequenas mudanças ocorreram, pelo menos entre 5 e 8 minutos, mostrando que os valores de pressão levaram alguns minutos para estabilizar (DAVIS; SPRIGLE, 2008). Segundo Stinson et al. (2003), o tempo necessário para os valores de pressão de interface para estabilizarem é de 6 minutos para pessoas sadias, mas dependendo do tipo do material escolhido para a espuma da poltrona, esse tempo pode variar. Por exemplo, assento e encosto compostos por espumas de alta resiliência possuem baixo tempo de acomodação se comparado com espumas viscoelásticas, (STINSON et al., 2003).