• Nenhum resultado encontrado

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.3 CONTRIBUIÇÕES DO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO

2.3.3 EVOLUÇÃO DAS CABINES DE PASSAGEIRO

A experiência de voo na primeira metade do século passado era glamourosa, apesar dos aviões serem barulhentos, não pressurizados, com baixa autonomia de voo e não oferecerem os recursos de conforto disponíveis em grandes transatlânticos e trens de luxo da época. O simples fato de voar era uma oportunidade para poucos (BERNARDO, 2009). Desde o início do transporte aéreo de passageiros em 1919 até então, as aeronaves passaram por diversas transformações como pressurização, melhoria do ruído interno e conforto térmico, introdução de equipamentos de entretenimento, proibição do fumo e liberação do uso de celular em voo. Aparentemente, a maioria das mudanças teve o intuito de melhorar a experiência de voo de seus passageiros, proporcionando um ambiente mais próximo possível ao que eles teriam em suas casas ou escritórios.

No entanto, com o passar do tempo, fatores econômicos forçaram as empresas a racionalizar o espaço interno de seus aviões e criar classes de voo de acordo com o poder aquisitivo de cada passageiro. Essa ruptura no conceito de voar levou a necessidade de aumentar o número de fileiras nos aviões, ocasionando numa diminuição do espaço do passageiro. Foi o fim da era da 1ª classe, que foi reduzida para tamanhos mínimos que pudessem ainda traduzir uma atmosfera diferenciada e exclusiva e o início da classe executiva e econômica, com distâncias mínimas entre as poltronas, quase nenhuma reclinação nos encostos e um serviço de bordo bem racionalizado (BERNARDO, 2009).

A falta de um requisito claro que estabeleça as dimensões mínimas entre uma poltrona e outra faz com que as companhias aéreas muitas vezes pratiquem distância entre as poltronas mínimas. A distância entre poltronas ou seat pitch é o espaço linear entre um ponto de uma poltrona até o mesmo ponto na poltrona da

frente, sendo comumente dado em polegadas (in). A Figura 2.10 mostra como medir o seat pitch. Vale ressaltar que a escolha do seat pitch adotado em uma aeronave é opção da companhia aérea. O fabricante do avião é responsável apenas por oferecer uma poltrona certificada para operar dentro de uma faixa de seat pitches (Exemplo: pitch variando de 29”(73,66 cm) a 33” (83,82 cm)).

Figura 2.10 - Distância entre poltronas ou seat pitch

Fonte: adaptado de VINK; BRAUER (2011)

O SeatGuru5 é um website que traz informações detalhadas das aeronaves das principais companhias aéreas do Brasil e do mundo que operam nos Estados Unidos. Analisando as cartas de comparação disponíveis nesse website, é possível perceber que quase metade dos modelos de aeronaves listados que fazem voos de até 3 horas (os chamados voos de curta duração) utiliza um seat pitch de 31” (78,74 cm), sendo o menor pitch encontrado de 28”(71,12cm) e o maior de 38”(96,52cm). Bernardo (2009) em seu texto diz que os membros da Star Alliance, uma parceria entre várias companhias aéreas, adotam um pitch mínimo de 32”(81,28 cm).

5http://www.seatguru.com/

Algumas pessoas relacionam o espaço para as pernas diretamente com o seat pitch, porém é preciso ter cuidado para não tirar conclusões precipitadas. A próxima fileira de poltronas pode estar posicionada a um pitch de 34”(863,60cm), mas se essa poltrona possuir um encosto espesso e um porta revistas cheio de papéis, por exemplo, o espaço para o joelho ficará prejudicado (ver Figura 2.10) (VINK; BRAUER, 2011). Por isso, o conceito de espaço útil é mais utilizado quando se deseja comparar o espaço disponível para agir.

Em paralelo a redução do seat pitch nas cabines de passageiros, houve um grande avanço em tecnologia e ergonomia no projeto de poltronas de aeronaves. Um estudo piloto feito pela ANAC - Agência Nacional de Aviação Civil (SILVA; MONTEIRO, 2009) verificou que o espaço entre as poltronas não estava obrigatoriamente relacionado com o seat pitch, mas sim com o design dos diversos tipos de poltronas instaladas nas aeronaves. A Figura 2.11 mostra um estudo similar desenvolvido pela Airbus.

Figura 2.11 - Avanço tecnológico permitiu o desenvolvimento de poltronas mais leves e menores

Fonte: adaptado de Airbus (2005)

É possível perceber que na década de 70 as poltronas de classe econômica eram muito mais robustas do que as de hoje em dia, que apresentam encosto fino, são mais leves e ocupam menos espaço. São as chamadas poltronas high-density ou de alta densidade, em português. Outros benefícios da nova geração de poltronas

aeronáuticas é a incorporação de recursos que somente eram previstos em assentos das classes superiores como apoio ajustável para a cabeça, descanso para os pés e almofada inflável na região lombar. Segundo Bernardo (2009) esses novos recursos funcionariam como alternativas para minimizar o desconforto e compensar a falta de espaço. Infelizmente não são todas as configurações de aeronaves que possuem esses recursos.

Outro conceito que está sendo bastante discutido no momento é o de poltronas em pé como mostra a Figura 2.11 e a Figura 2.12. Apesar de ainda não ter sido instalada em nenhuma aeronave, já existem companhias aéreas dispostas a adquirir o produto e fabricantes de poltronas interessados em fornecê-la. Na maior feira internacional de interiores de aeronaves de 2011, a Aircraft Interiors6, a empresa italiana fabricante de poltronas aeronáuticas Avio Interiors apresentou um protótipo de poltrona semi-sentada, ilustrado na Figura 2.12.

Figura 2.12 - Poltrona semi-sentada apresentada pela Avio Interiors

Fonte: http://www.ukipme.com/mag_aircraftinteriors.htm

Recentemente a Skyscanner, site global de pesquisa de viagens, realizou uma pesquisa com mil passageiros de diversos países para delinear como seria o avião dos sonhos. Observe na Figura 2.13 que entre os principais desejos dos viajantes aparecem dormitórios do tipo cápsula, seção para crianças com isolamento acústico, serviços de cinema e chuveiro e bar (PASSAGEIROS [...], 2012). Segundo o diretor

geral da Skyscanner no Brasil, Mateus Rocha, mesmo sendo recursos bastante atraentes não há conhecimento de planos de qualquer companhia aérea para incluí- los no mercado neste momento. De fato, é um grande desafio de projeto para as cias aéreas reunir tantos recursos a um custo acessível para o passageiro.

Figura 2.13 – Características mais votadas em uma pesquisa sobre o avião dos sonhos

Fonte: http://www.skyscanner.com.br/noticias/artigos/2012/06/012881-10-principais-requisitos-para-o- aviao-dos-sonhos.html