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Aspectos contextuais das questões sociocientíficas

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3. QUESTÕES SOCIOCIENTÍFICAS NA EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS: O QUE

3.2. Aspectos contextuais das questões sociocientíficas

De acordo com Jong (2006, p. 1) a reforma da educação química está em andamento em muitos países. Uma razão importante para esta reforma é a crescente insatisfação com a posição de muitos educadores químicos quanto aos currículos: bastante isolados do interesse pessoal dos alunos, da sociedade atual e dos problemas da ciência e tecnologia da química moderna. O autor afirma que um dos esforços para abolir o atual isolamento do currículo é o uso de contextos significativos para o ensino e a aprendizagem de química.

A abordagem das Questões sociocientíficas embora não se caracterize por uma discussão aprofundada da ideia de contexto, pode ser feita caracterizada também como uma abordagem na qual diferentes contextos (políticos, econômicos, éticos, ambientais, etc.) relativos à ciência e tecnologia emergem dos conteúdos problematizados social e culturalmente. Nesse sentido, a ideia de contexto apesar de não se constituir como foco nas pesquisas sobre a abordagem das QSC está presente quando questões dessa natureza são evocadas no âmbito escolar.

A noção de contexto aparece com diferentes significados, e longe de discutirmos teoricamente tais significados, atentaremos apenas para uma breve discussão sobre o significado do contexto e a importância dos aspectos contextuais na abordagem das QSC.

Para Jong (2006, p.2) os contextos podem ser definidos de várias maneiras. Podendo ser muitas vezes, descritos como situações que ajudam os alunos a dar sentido a conceitos, regras, leis e assim por diante. Outra definição, por vezes apresentada, pode ser expandida pela noção de que os contextos também podem ser descritos como práticas que ajudam os alunos a dar sentido às atividades na sala de aula. No entanto, essas definições são bastante gerais e não descrevem de maneira clara e eficiente o significado de contextos e seu uso na educação química. Na visão desse autor os aspectos contextuais se relacionam aos domínios de suas origens e de acordo com esses domínios podem ser categorizados em quatro grupos distintos.

O quadro 2, busca resumidamente articular essas premissas, elencando a origem do contexto, como nas situações de aprendizagem o contexto e o conhecimento químico científico de relacionam, as contribuições ou a função que o contexto assume na abordagem e exemplos e/ou aplicações:

Quadro 2: Sistematização das diferentes origens de um contexto, contribuições ou funções Origem de um

contexto

Situações de ensino e aprendizagem

Contribuições ou funções Exemplos de um contexto Domínio

Pessoal

Química

Vida Pessoal (cotidiano)

Contextos retirados deste domínio são importantes porque contribuem para o desenvolvimento pessoal dos estudantes através da conexão da química com suas vidas pessoais. Muitas questões da vida cotidiana são úteis.

Cuidados com a saúde, alimentação e/ou higiene pessoal. Efeitos tóxicos de substâncias no corpo/ processos Bioquímicos/ loções corporais/ características químicas dos componentes dessas loções. Domínio

Social e da Sociedade

Química

Sociedade/ambiente

Contextos retirados deste domínio são importantes porque podem contribuir para preparar os alunos para seus papéis como cidadãos responsáveis, esclarecendo muitos

Mudanças climáticas/ processos de combustão ou reações entre radicais na camada de ozônio da atmosfera.

temas sobre a química e seu papel nas questões sociais.

Domínio da Prática Profissional

Química

Prática Profissional

Contextos retirados deste domínio são relevantes porque contribuem para preparar os alunos para o seu próximo papel como profissionais em áreas públicas ou privadas.

Várias práticas são úteis: Produção de pequena escala de colas ou polímeros/ prática de analistas químicos associados a um tema químico/ investigar a qualidade de água, alimentos ou medicamentos. Domínio Científico e Tecnológico Química Desenvolvimento científico e tecnológico e suas implicações História da Ciência

Contextos retirados deste domínio são relevantes porque podem contribuir para o desenvolvimento científico e tecnológico, da alfabetização científica dos alunos.

Várias questões podem ser usadas, especialmente questões que esclarecem informações científicas. Formas de manipulação e raciocínio. Métodos de pesquisa científica / inquérito aberto/ Modelos históricos e teorias.

Fonte: Elaborado com base em Jong (2006)

Em nossa concepção, esses diferentes aspectos contextuais podem ser explorados na abordagem de QSC, de tal forma a enriquecer a problematização dos temas e questões exploradas e a sua vinculação com os conceitos científicos e demais saberes a ser construídos. No ensino, a ordem de apresentação de contextos e conceitos relacionados pode variar, e, por essa razão, a função dos contextos também pode variar.

Jong (2006, p. 3) apresenta um conjunto de considerações em relação a algumas abordagens de ensino (tradicionais, mais modernas e recentes) e as funções que o contexto assume em cada uma delas. Para o autor, em muitas abordagens tradicionais baseadas em contexto, os contextos seguem os conceitos. Por exemplo, depois de ensinar os primeiros dez hidrocarbonetos (de metano a decano), é que se aborda o papel destes hidrocarbonetos na sociedade. Neste ensino, os contextos geralmente têm duas funções: em primeiro lugar, a de ilustrar os conceitos que já foram ensinados, especialmente no caso de conceitos abstratos; em segundo lugar, os contextos são apresentados para oferecer a possibilidade aos alunos de aplicar o conhecimento do que foi abordado.

Em relação as abordagens contemporâneas com base em contextos, em muitas delas, os contextos precedem os conceitos. Por exemplo, uma discussão sobre poluição ambiental e a combustão de gasolina em carros e aviões precedem a abordagem dos principais componentes da gasolina e suas características químicas. Neste ensino, o contexto assume duas outras funções. Em primeiro lugar, os contextos são apresentados como o ponto de partida para o ensino dos conceitos

sendo orientadores da abordagem. Em segundo lugar, assumem a função de melhorar a motivação para aprender novos conceitos.

Em alguns contextos mais recentes, as abordagens baseadas em contextos não apenas precedem conceitos, mas esses conceitos também são seguidos de (outros) contextos se configurando numa rede de interlocuções de sentidos e significados. Neste ensino, as quatro funções citadas anteriormente para o contexto são combinadas: ilustração, aplicação, orientação e motivação. Conforme quadro 3, abaixo:

Quadro 3: Função do contexto em diferentes abordagens de ensino Abordagem de

Ensino

Organização Estrutural Função do Contexto

Tradicional Conceitos Contextos (conceitos precedem os contextos)

Ilustração / Aplicação

Moderna Contextos Conceitos

(contextos precedem os conceitos)

Orientação / motivação

Recentes Contextos Conceitos Outros contextos (Os contextos precedem conceitos e (Outros) contextos seguem-nos)

Ilustração/ Aplicação/ Orientação/ Motivação

Fonte: Elaborado com base em Jong (2006)

Acreditamos que a abordagem das QSC, assim como as perspectivas mais recentes que exploram aspectos contextuais, pode contribuir tanto para o desenvolvimento pessoal dos estudantes incorporando as dimensões morais, éticas além dos próprios conhecimentos da química tratados. Além disso, pode contribuir também para o desenvolvimento social, profissional e científico-tecnológico. O contexto nessa abordagem se enquadraria nessa perspectiva mais ampla no qual assume as funções tanto de ilustrar, aplicar e orientar a abordagem dos conhecimentos científicos quanto para motivar os estudantes e até mesmo os professores.

Ao explorar a relação e o papel do contexto na construção dos conceitos científicos na abordagem das QSC é inegável a importância de se explorar aspectos sociais mais amplos inerentes a tais questões.

Para Rodrigues e Mattos (2009), o contexto deve ser considerado como um objeto complexo, com diversos elementos altamente conectados entre si. Isso implica dizer, por um lado que o contexto não é algo exclusivamente mental que tenha determinação individual ou subjetiva, e por outro, não é algo exclusivamente presente na malha social. De acordo com Rodrigues e Mattos

(2007), o contexto vai além da situação que contorna a interação local. O contexto tem uma natureza muito mais ampla, que regula, controla e integra as práticas sociais e o discurso através de marcas do contexto (dêixis contextuais) compartilhadas entre os sujeitos. Nessa perspectiva, não podemos desvincular as interações do contexto, nem podemos limitar o contexto ao cenário local. Devemos entender que o contexto é aquele que tece, através da linguagem, as relações sociais.

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