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Aspectos legais das atribuições dos diretores de escola

MECANISMOS DE PROVIMENTO DE DIREÇÃO ESCOLAR NOS SISTEMAS DE ENSINO DOS ESTADOS, DO DF E DAS CAPITAIS, POR REGIÃO DO BRASIL 1996 A 1998.

1.1.7.3 Aspectos legais das atribuições dos diretores de escola

As atribuições do diretor de escola ficaram estabelecidas durante longo tempo - mais precisamente entre 1978 e 1998 - pelo Regimento Comum das Escolas de 1º e 2º Graus do Estado de São Paulo que, conforme o próprio nome explicita, era único a todas as escolas estaduais do Estado. Este Regimento foi encaminhado pelo Parecer CEE (Conselho Estadual de Educação) nº. 390/78 (SÃO PAULO, 1978), aprovado em 19 de abril de 1978 por meio do processo CEE nº. 2054/707, e, em seu artigo 5º, trata do Núcleo de Direção de Escola da seguinte forma: “Direção da Escola é o núcleo executivo que organiza,

superintende, coordena e controla as atividades desenvolvidas no âmbito da unidade escolar”. No artigo 6º coloca os respectivos integrantes do núcleo: o Diretor de Escola e o Assistente de Diretor de Escola, acrescentando no Parágrafo Único deste artigo que a Direção terá como órgão consultivo o Conselho de Escola.

O rol de atribuições explicitado no artigo 7º e transcrito abaixo ilustra a vasta e histórica abundância de atribuições e competências que se destinam a este profissional, evidentemente dificultando-lhe a rotina e impondo-lhe exigências, nem sempre possíveis de serem atendidas:

I - Organizar as atividades de planejamento no âmbito da Escola: a) coordenando a elaboração do Plano Escolar;

b) assegurando a compatibilização do Plano Escolar com o Plano Setorial de Educação;

c) superintendendo o acompanhamento, avaliação e controle da execução do Plano Escolar;

II - Subsidiar o planejamento educacional:

a) responsabilizando-se pela atualização, exatidão, sistematização e fluxo dos dados necessários ao planejamento do sistema escolar;

b) prevendo os recursos físicos, materiais, humanos e financeiros para atender às necessidades da Escola a curto, médio e longo prazos;

c) propondo as habilitações profissionais a serem oferecidas pela Escola em função da demanda, em nível de Escola, e dos recursos disponíveis; III - Elaborar ou coordenar a elaboração do relatório anual da Escola; IV - Assegurar o cumprimento da legislação em vigor, bem como dos regulamentos, diretrizes e normas emanadas da administração superior; V - Zelar pela manutenção e conservação dos bens patrimoniais;

VI - Promover o contínuo aperfeiçoamento dos recursos físicos, materiais e humanos da Escola;

VII - Assegurar a inspeção periódica dos bens patrimoniais, solicitar baixa dos inservíveis e colocar os excedentes à disposição de órgãos superiores; VIII - Exercer controle sobre a produção escolar e dar-lhe o destino próprio de acordo com as normas em vigor;

IX - Coordenar a elaboração de projetos de execução de trabalhos de interesse para a aprendizagem, não constantes das programações básicas, submetendo-as à aprovação dos órgãos competentes;

X - Garantir a disciplina de funcionamento da organização; XI - Promover a integração escola-família-comunidade:

a) proporcionando condições para a participação de órgãos e entidades públicas e privadas de caráter cultural, educativo e assistencial, bem como de elementos da comunidade nas programações da Escola;

b) assegurando a participação da Escola em atividades cívicas, culturais, sociais e desportivas da comunidade;

c) proporcionando condições para a integração família-escola; XII - Organizar e coordenar as atividades de natureza assistencial;

XIII - Criar condições e estimular experiências para o aprimoramento do processo educativo.

Por sua vez, o Parecer 67/98 (SÃO PAULO, 1998b), que versa sobre as Normas Regimentais Básicas para as Escolas Estaduais, aprovado pelo Conselho Estadual de Educação de São Paulo em 18/03/98, estabelece que, a partir dele, ao longo do ano de 1998, cada unidade escolar deveria elaborar seu próprio regimento. Tal documento tece críticas aos Regimentos Comuns das Escolas, referindo-se a eles como “regimentos comuns da época da ditadura, frutos de uma lei arbitrária, a 5692/71” e lembra a necessidade da autonomia regimental por parte das escolas, tendo em vista que “hoje há uma nova realidade, um movimento de mudanças e transformação para as escolas públicas estaduais”.

Segundo o artigo 62, do referido Parecer, o núcleo de direção da escola é o centro executivo do planejamento, da organização, da coordenação, da avaliação e da integração de todas as atividades desenvolvidas no âmbito da unidade escolar, sendo que, de acordo com o parágrafo único, integram o núcleo de direção o diretor de escola e o vice-diretor. As competências e as atribuições estão contempladas no Artigo 63, sob a denominação de funções a serem exercidas pela direção, para garantir:

I- a elaboração e a execução da proposta pedagógica;

II- a administração do pessoal e dos recursos materiais e financeiros;

III-o cumprimento dos dias letivos e hora de aula estabelecidos;

IV-a legalidade, a regularidade e a autenticidade da vida escolar dos

alunos;

V- os meios para o reforço e a recuperação da aprendizagem de alunos;

VI-a articulação e integração da escola com as famílias e a comunidade;

VII- as informações dos pais ou do responsável sobre a freqüência e o

rendimento dos alunos, bem como sobre a execução da proposta pedagógica;

VIII- a comunicação ao Conselho Tutelar dos casos de maus-tratos

envolvendo alunos, assim como de casos de evasão escolar e de reiteradas faltas, antes que atinjam o limite de 25% das aulas previstas e dadas.

O artigo 64 especifica:

Cabe, ainda, à direção de escola subsidiar os profissionais da escola, em especial os representantes dos diferentes colegiados, no tocante, às normas

vigentes, a representar aos órgãos superiores da administração, sempre que houver decisão em desacordo com a legislação.

Ao se compararem as atribuições do Diretor de Escola da década de 1960, do Regimento Comum de 1977, com as atuais, pode-se constatar que foram poucas as mudanças quanto às competências, com visível predomínio das funções administrativo-

burocráticas sobre as sociais e as pedagógicas.

É interessante ressaltar os votos e as justificativas dos Conselheiros do Conselho Estadual de Educação em relação ao Parecer 67/98 (SÃO PAULO, 1998b). A conselheira Raquel Volpato Serbino votou favoravelmente à aprovação do Parecer que trata das Normas Regimentais Básicas, porque entendeu que estas, contemplando os dispositivos da Lei 9394/96, são apresentadas de forma flexível e aberta e, ao mesmo tempo, garantem a necessária orientação para implantar inovações. Explicita que a Secretaria da Educação exerce seu papel orientador, sem, no entanto, impedir ou inibir o exercício da autonomia das escolas, que deverão organizar-se para elaborar um regimento próprio envolvendo a comunidade escolar. Para ela, as Normas Regimentais constituem etapa fundamental para a concretização, na rede pública de ensino, da almejada escola cidadã, autônoma, democrática e comprometida com o sucesso. Cita alguns itens considerados muito positivos, principalmente a inclusão do capítulo: “Norma de gestão e convivência”, enfatizando que, assim, preserva-se o espírito democrático da lei e a representatividade de todos os envolvidos no processo educativo, em especial dos pais e alunos.

Já o conselheiro Francisco Antônio Poli votou contrariamente ao Parecer nº. 67/98 (SÃO PAULO, 1998b), apesar de ponderar que as Normas Regimentais Básicas para as escolas estaduais representam pequeno avanço se comparadas ao Regimento anterior (comum para todas as escolas). Destaca, inclusive, a possibilidade aberta ao Conselho de Escola para delegar atribuições, a autonomia para que a comunidade decida sobre o uso do uniforme, e o curso modular para o ensino profissionalizante. Porém, alega que, em geral, estas normas são altamente centralizadoras, contrariam o espírito e a letra da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº. 9394/96), atropelam manifestações do Conselho Nacional e decisões do Conselho Estadual de Educação. Elenca, no Parecer, alguns itens que justificam esta posição, como, por exemplo:

O artigo 1º das Normas afirma que as escolas mantidas pelo Poder Público Estadual serão estabelecidas por regimento próprio, a ser elaborado pela unidade escolar, desde que respeitadas as normas regimentais básicas. Alega que, respeitando-se essas normas regimentais básicas, quase nada sobra para decisão da escola. É o velho discurso da autonomia, flexibilidade, descentralização, desmascarado, na prática, por determinações que não admitem sequer questionamentos. O resultado, certamente, não deverá ser outro: as unidades escolares limitar-se-ão a transcrever, nos seus regimentos, as normas regimentais básicas; ainda mais quando se determina que o regimento de cada escola deverá ser submetido à aprovação da Diretoria de Ensino. Isto significa que qualquer acréscimo, alteração, diminuição na elaboração do regimento terá que ser apreciado pela Diretoria de Ensino.

No seu entender, as Normas são pedagogicamente falhas e politicamente inadequadas, centralizando em excesso, amarrando a escola, sufocando o projeto pedagógico e podendo trazer conseqüências desastrosas ao processo educacional. E só serão implantadas nas escolas da rede estadual por não restar a estas, outra opção.

Por meio da análise dos regimentos de várias escolas da rede pública de algumas Diretorias de Ensino do Estado de São Paulo, é de fato possível constatar que, nos artigos referentes ao núcleo de direção e às suas respectivas funções, repetiu-se basicamente o mesmo texto, que também coincide com a transcrição da Lei de Diretrizes e Bases e das Normas Regimentais, conforme exemplificado a seguir:

Do Núcleo de Direção:

Artigo x - O núcleo de direção é o centro executivo do planejamento, organização, coordenação, avaliação e integração de todas as atividades no âmbito da unidade escolar. Parágrafo Único - Integram o núcleo de direção o diretor de escola e o vice-diretor. Artigo x + 1 - A direção da escola exercerá suas funções objetivando garantir: I - a elaboração e execução da proposta pedagógica;

II - a administração do pessoal e dos recursos materiais e financeiros; II - o cumprimento dos dias letivos e das horas-aula estabelecidos;

IV - a legalidade, a regularidade e a autenticidade da vida escolar dos alunos; V - os meios para o reforço e a recuperação da aprendizagem dos alunos; VI - a articulação e a integração da escola com as famílias e a comunidade;

VII - as informações aos pais ou responsáveis sobre a freqüência e o rendimento dos alunos, bem como sobre a execução da proposta pedagógica;

VIII - a comunicação ao Conselho Tutelar, via Delegacia de Ensino, dos casos de maus tratos envolvendo alunos, assim como de casos de evasão escolar e de reiteradas faltas injustificadas, antes que estas atinjam o limite de 25% das aulas dadas;

IX - a decisão sobre petições e pedidos de reconsideração relativos à verificação do rendimento escolar, à vista do parecer dos conselhos de classe/série;

X - a manutenção e conservação dos bens patrimoniais; XI - condições para o aprimoramento do processo educativo.

Artigo x + 2 - Cabe ainda à direção subsidiar os profissionais da escola, em especial os representantes dos diferentes colegiados, no tocante às normas vigentes, e representar aos órgãos superiores da administração sempre que houver decisão em desacordo com a legislação.

A análise efetuada nos regimentos em vigor expõe, então, a dificuldade ou a impossibilidade das escolas em propor autonomamente as atribuições do diretor de escola, em função das amarras colocadas pela legislação.