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2.3 AUTONOMIA UNIVERSITÁRIA

2.3.1 Aspectos legais que regem a autonomia universitária no Brasil

Os aspectos legais colocados a respeito da autonomia das universidades brasileiras remontam ao início do século XX, e antecede até mesma a própria criação da universidade no Brasil, que, com sucesso, só se deu a partir do ano de 1920.

Em 05 de abril de 1911, o governo baixou o Decreto 8659, denominado Lei Orgânica do Ensino Superior e Fundamental da República, como resultado da chamada Reforma Rivadária, que teve como objetivo conceder autonomia às escolas superiores e melhorar a qualidade do ensino oferecido no país. Sem se mostrar eficaz no alcance dos seus objetivos, o decreto foi revogado quatro anos mais tarde, voltando o poder central a controlar de perto o ensino superior.

Raniere (1994), afirma que “O primeiro ato sobre o sistema universitário no Brasil: o estatuto das universidades brasileiras, produto da Reforma Francisco Campos, foi baixado pelo decreto n° 19851, de 11 de abril de 1931”. O documento, em seu artigo 3o. regulamentava a organização das universidades em nível nacional, respeitando as características regionais no tocante à gestão da administração e aos modelos didáticos, e no seu artigo 9o., atribui-lhes personalidade jurídica e garantiu-lhes a autonomia administrativa, didática e disciplinar, nos limites estabelecidos no decreto.

A Lei n°. 4024, datada de 20 de dezembro de 1961, então denominada Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), com fundamento constitucional, estabeleceu expressamente em seu artigo 80, que as universidades gozariam de autonomia didática, administrativa, financeira e patrimonial, na forma de seus estatutos. Sob os aspectos didáticos consistia na criação e na organização de cursos, no estabelecimento do regime didático, sem outras limitações a não ser aquelas constantes na própria lei. Sob o aspecto administrativo, baseava-se essencialmente na elaboração dos estatutos e regimentos, que deveriam ser aprovados pelos conselhos de educação. Quanto aos aspectos financeiros a autonomia consistia, basicamente, na administração do patrimônio, ainda assim, sob controle anual.

A Lei n°. 5540, de 28 de novembro de 1968, editada sob a égide da Constituição Federal de 1967, denominada de Reforma Universitária, cujo objetivo principal era a modernização das universidades brasileiras, trouxe no seu bojo a fixação de normas de organização e funcionamento do ensino superior e sua articulação com o ensino médio. Especificamente com relação à autonomia universitária destacam-se, no corpo da lei, as seguintes determinações:

• Art. 3o., garante à universidade a autonomia didático-científica, disciplinar, administrativa e financeira, a ser exercida na forma da lei e de seus estatutos.

• Art. 2o., estabelece a indissociabilidade entre ensino e pesquisa.

• Art. 4o., impõe a organização administrativa, para as universidades públicas, sob a forma de autarquia de regime especial ou de fundações de direito público (...).

• Art. 5o., estabelece que a organização e o funcionamento das universidades serão disciplinados em seus estatutos e regimentos, submetidos à aprovação do Conselho de Educação competente.

Logo após a publicação da Lei 5540, foi editado o decreto-lei n°. 464, de 11 de fevereiro de 1969, que estabelecia normas complementares à Reforma Universitária, mas revogou o artigo 80 da Lei n°. 4024 – Lei de Diretrizes e Bases – ficando a autonomia universitária assegurada apenas pelo artigo 3o. da Lei 5540.

Em 17 de outubro de 1969, era editada a Emenda Constitucional n°. 1, que reduziu os âmbitos e limites da autonomia universitária que sobrevivera à Lei 5540, justificando que o ensino superior era de interesse público. Em nome desse interesse público, a legislação ordinária que se lhe seguiu, através de mecanismos de controle e de contenção, restringiu as possibilidades de autonomia das universidades. A intimidação constante, a criação de assessorias de segurança e informações dentro das universidades brasileiras, a cassação de direitos políticos, a edição do Ato Institucional n°. 5, de 13 de dezembro de 1968, comprometeram a natureza autônoma.

Com o processo de distensão iniciado no final da década de oitenta, surgiu a redemocratização do país. Então, em 05 de outubro de 1988, nasceu a nova Constituição do Brasil (CB), até hoje em vigor.

Na Constituição atual a autonomia universitária está consagrada de forma clara e objetiva, no seu artigo 207, que diz “in verbis”: “As universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão”. (BRASIL, 1988, p. 138).

Ora, a partir do momento em que a questão da autonomia universitária passou a ser um dispositivo constitucional, em princípio, isto lhe dá maior segurança, pois deixa de ser apenas uma norma legal passível de ser alterada mais facilmente pela via legislativa ordinária. Foi um grande avanço conquistado pelas instituições universitárias do país.

A Constituição do Estado do Paraná, promulgada em 05/10/1989, em vigência, também insere a autonomia universitária no seu artigo 180, onde menciona:

As universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial e obedecerão ao princípio da indissociabilidade entre o ensino, pesquisas, extensão e ao da integração entre os níveis de ensino.

Parágrafo único. As instituições de ensino superior atenderão, através de suas atividades de pesquisa e extensão, às finalidades sociais e tornarão públicos seus resultados (PARANÁ, 1989, p. 71).

Finalmente, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), a Lei 9394, de 20 de dezembro de 1996, promove a descentralização e a autonomia para as escolas e universidades, além de instituir um processo regular de avaliação de ensino.

No artigo 53, detalha aspectos relevantes da autonomia das universidades, quais sejam:

i. criar, organizar e extinguir em sua sede, cursos e programas de educação superior previstos nesta Lei obedecendo às normas gerais da união e, quando for o caso, do respectivo sistema de ensino;

ii. fixar os currículos dos seus cursos e programas observados as diretrizes gerais pertinentes;

iii. estabelecer planos, programas e projetos de pesquisa científica, produção artística e atividades de extensão;

iv. fixar o número de vagas de acordo com a capacidade institucional e as exigências do ensino;

v. elaborar e reformar os seus estatutos e regimentos em consonância com as normas gerais atinentes;

vi. conferir graus, diplomas e outros títulos; vii. firmar contratos, acordos e convênios;

viii. aprovar e executar planos, programas e projetos de investimentos referentes a obras, serviços e aquisições em geral, bem como administrar rendimentos conforme dispositivos institucionais;

ix. administrar os rendimentos e deles dispor numa forma prevista no ato de constituição, nas leis e nos respectivos estatutos.

x. receber subvenções, doações, heranças, legados e cooperação financeira resultante de convênios com entidades públicas e privadas. (BRASIL, 1996, p. 12).

A LDB, por vários anos em tramitação no Congresso nacional, apesar de se apresentar como uma Lei moderna e inovadora, ainda permite dúvidas quanto à aplicabilidade e eficácia em muitos dos seus artigos, ensejando discussões e necessidades de maiores esclarecimentos, como o caso da autonomia universitária.