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2.4 CICLO ORÇAMENTÁRIO

2.4.3 Execução do orçamento

2.4.3.2 Execução da receita pública

No livro denominado A Lei 4320/64 Comentada de Machado Jr. e Reis (1993, p. 26), os autores apresentam a seguinte definição para a receita, deixando de lado as operações de crédito e os convênios:

Conjunto de ingressos financeiros com fontes e fatos geradores próprios e permanentes, oriundos de ação e de tributos inerentes à instituição, e que, integrando o

patrimônio na qualidade de elemento novo, produz-lhe acréscimos, sem, contudo, gerar obrigações, reservas ou reivindicações de terceiros.

Na concepção de Sanches (1997, p. 217) receita pública é:

Conjunto de recursos que o Estado e outras pessoas de direito público auferem, de diversas fontes – a partir de autorizações constitucionais e de leis específicas -, com vistas a fazer frente às despesas decorrentes do cumprimento de suas funções (produção de bens ou serviços de interesse das comunidades e execução das tarefas políticas e de organização econômica a seu cargo).

A respeito do mesmo assunto diz Silva (1988, p.77):

Para fazer face às suas necessidades, cumprindo as suas precípuas funções, o Estado dispõe de recursos ou rendas que lhe são entregues através da contribuição da coletividade. O conjunto desses recursos constitui a chamada receita pública e com ela o Estado vai enfrentar todos os encargos com a manutenção da sua organização, com o custeio de seus serviços, com a segurança de sua soberania, com as iniciativas de fomento e desenvolvimento econômico e social e com o seu próprio patrimônio.

As atividades desenvolvidas pelos órgãos arrecadadores com o objetivo de arrecadar dinheiro e outros bens representativos, por força de lei ou de contrato, denominam-se processamento de receita pública. Por atividades desenvolvidas pelos órgãos arrecadadores deve ser entendido tudo quanto for feito pela complexa estrutura da efetivação da receita, a fim de que os recursos sejam carreados para os cofres públicos.

A receita pública (orçamentária) envolve dois períodos distintos de atividades: um período que se denomina de estimação (ou previsão) da receita, durante o qual se desenvolve um complexo de atividades destinadas à elaboração da proposta orçamentária. Um outro período, é o da execução orçamentária da receita, em que as atividades são classificadas em grupos que reúnem operações da mesma natureza. Cada um desses grupos denomina-se estágio. Os estágios da execução da receita pública são: lançamento, arrecadação e recolhimento.

2.4.3.2.1 Lançamento

O lançamento, que é o primeiro estágio da execução da receita, consiste na identificação do devedor ou da pessoa do contribuinte, discriminando a espécie, o valor e o

vencimento do tributo que cada um deve pagar. Só podem ser incluídos nos orçamentos os tributos criados por leis anteriores.

Conforme a Lei 4320/64, em seu artigo 53, “O lançamento da receita é o ato da repartição competente, que verifica a procedência do crédito fiscal e a pessoa que lhe é devedora e inscreve o débito desta”. Já o Código Tributário Nacional, no seu artigo 142, define esta medida como “procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, a matéria tributável, o cálculo do montante do tributo devido, e a identificação do sujeito passivo”.

A legislação fala em termos genéricos. Entretanto, nem todas as receitas públicas são sujeitas ao estágio de lançamento. Este se aplica, fundamentalmente, aos impostos diretos, às receita com vencimentos determinados, enfim às rendas derivadas pré-existentes do poder público contra terceiros.

2.4.3.2.2 Arrecadação

Arrecadação é o segundo estágio do período de execução da receita pública, subseqüente ao estágio de lançamento. Compreende aquele momento em que os contribuintes comparecem perante os agentes arrecadadores a fim de liquidarem suas obrigações para com o Estado.

Os agentes arrecadadores classificam-se em dois grandes grupos:

a. Agentes Públicos: são as próprias repartições do governo com atribuições legais para arrecadar as receitas públicas. Compreende as tesourarias, as delegacias de receitas, os postos fiscais, os caixas recebedores de tributos, etc. b. Agentes Privados: são os bancos privados e estatais investidos das mesmas

atribuições conferidas aos agentes públicos.

O caput do art. 55 da Lei 4320/64 estabelece que “Os agentes arrecadadores devem fornecer recibos das importâncias que arrecadarem”. Seu parágrafo primeiro diz que: “os recibos devem conter o nome da pessoa que paga, a soma arrecadada, proveniência e classificação, bem como a data e assinatura do agente arrecadador”. Estes procedimentos operacionais fazem perceber que a legislação tratou, de certa forma, de estabelecer e ordenar os passos da receita orçamentária.

A arrecadação da receita pública, portanto, está ligada aos pagamentos realizados diretamente pelos contribuintes a repartições fiscais do próprio setor público e da rede

bancária autorizada. Modernamente, observa-se que alguns tributos federais já não percorrem este estágio, sendo diretamente recolhidos pelos devedores ao caixa central do tesouro através da internet.

2.4.3.2.3 Recolhimento

Trata-se do último estágio típico da execução da receita pública. É o ato pelo qual os agentes arrecadadores entregam diariamente ao tesouro público o produto da arrecadação. Pode se dizer, então, que o recolhimento é constituído da entrega de numerário, arrecadado pelos agentes públicos ou privados, às contas correntes pertencentes às repartições públicas.

O caput do art. 56, da Lei 4320/64, estabelece que “O recolhimento de todas as receitas far-se-á em estrita observância ao princípio de unidade de tesouraria, vedada qualquer fragmentação para a criação de caixas especiais”. Isto significa a unicidade de caixa, isto é, que a arrecadação de todas as receitas das diversas entidades governamentais sujeitas a estas normas deveria ser destinada para um só caixa, formando um todo e vedando a utilização de um caixa para cada espécie de receita, exceto, é claro, as vinculações exigidas por dispositivos constitucionais, como por exemplo, a exigência de que 25% dos impostos dos Estados e Municípios devem ser aplicados na manutenção e desenvolvimento do ensino e, no caso da União, 18%.

Em termos práticos, corresponde à remessa das receitas arrecadadas pelos agentes arrecadadores às contas correntes mantidas pelo tesouro público em estabelecimento bancário.

2.4.3.2.4 Restituição e anulação de receitas

Para Kohama (1987, p. 92), “Restituição e anulação de receitas são procedimentos relativos ao processamento e execução da receita orçamentária adotada, para ressarcimento de valores recebidos indevidamente dos contribuintes”.

Denota-se que são valores recolhidos aos cofres públicos por iniciativa dos contribuintes que, posteriormente, constatam haver feito indevidamente o pagamento, ou parte dele. Neste caso, cabe-lhes o direito de restituir aquilo que pagaram indevidamente, devendo a iniciativa de solicitar a devolução partir sempre do contribuinte, mediante requerimento dirigido à repartição competente.

Caso a restituição vier a ocorrer dentro do exercício durante o qual foi recolhido, esta deverá ser contabilizada como anulação (estorno) de receita. A restituição autorizada em

exercício subseqüente ao do recolhimento deverá ser processada regularmente como despesa orçamentária, onerando a dotação de restituições e indenizações; não ocorrendo o pagamento até 31 de dezembro, constitui-se como Restos a Pagar.

2.4.3.2.5 Receita extra-orçamentária

Sanches (1997, p. 219) faz a seguinte definição de receita extra-orçamentária de uma entidade pública:

Designação atribuída aos valores que dão entrada no caixa do setor público sem se enquadrarem nas categorias de receitas previstas no orçamento ou nas rendas típicas do Estado. Seu trânsito pelo caixa do setor público é marcado pela ocasionalidade e transitoriedade, não constituindo, propriamente, receitas públicas, mas sim depósitos de terceiros.

Receita extra-orçamentária, como o próprio nome o diz, não faz parte da lei orçamentária anual. São valores que a administração pública é obrigada a arrecadar, mas que não lhe pertencem. O erário público funciona apenas como um depositário temporário, e nele as receitas extra-orçamentárias são classificadas em contas financeiras adequadas, existentes no plano de contas da instituição.