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4. PERSPECTIVAS DE PROTEÇÃO E ENFRENTAMENTO DA REDE EM

4.1 Aspectos relevantes do município de Natal/RN

Segundo o IBGE, no Censo de 2010, a cidade de Natal apresentava um contingente populacional de cerca de 803.739 habitantes, sendo 42,64% do total da população do estado do Rio Grande Norte.

De acordo com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo – SEMURB, a região administrativa de Natal/RN é composta por 36 bairros. Entre estes, há os que possuem maior vulnerabilidade social como os de Mãe Luiza, Passo da Pátria, Rocas, Redinha, Potengi e outros com índices significativos de pobreza e desigualdade social.

Os bairros da zona sul da cidade, em geral, são vistos como aqueles mais ricos, com padrões de reprodução social mais elevados, índices de desenvolvimento humano altos, concentração de bens e riquezas, bem como de emprego e renda, dentre outros elementos que caracterizam bairros desse porte.

O bairro de Ponta Negra, onde está situado o foco da pesquisa para este estudo, está localizado na zona sul e atende a esses indicadores de riqueza. Contudo, ele também apresenta uma parcela de seu território com características fortes de pobreza, a chamada Vila de Ponta Negra.

Em razão de tal contradição e latente divisão dentro de um curto espaço territorial é que o bairro de Ponta Negra foi escolhido como amostra de pesquisa. Além disso, a praia de Ponta Negra localizada alí se configura como um ponto estratégico para a exploração sexual e é central para a entrada e saída de demandas das demais praias do litoral potiguar. Os mapas abaixo ilustram onde se localiza o bairro de Ponta Negra, na zona sul de Natal/RN, e o circuito de praias que compõe o litoral potiguar, respectivamente:

Figura 1 – Configuração da zona sul de Natal.

Fonte: Site oficial da Prefeitura Municipal de Natal – Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo.

Figura 2 - Circuito de praias da região metropolitana de Natal.

Fonte: Site oficial da Prefeitura Municipal de Natal - Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo.

O Atlas da Vulnerabilidade Social nos Municípios Brasileiros, uma publicação do IPEA de 2015, traz dados interessantes, ao mesmo tempo, contraditórios, sobre o Índice de Vulnerabilidade Social (IVS) acumulado nos municípios no período de 2000 a 2010. A publicação revela que as regiões situadas no Nordeste do Brasil, de modo geral, se mantêm na faixa de uma vulnerabilidade social muito alta em mais de 70% dos municípios nordestinos, apesar de algumas reduções nos percentuais no período analisado para a produção do material.

Se considerarmos as duas faixas mais altas de avaliação da vulnerabilidade que a publicação estabelece, sendo estas a alta e a muito alta, a publicação revela que a quantidade de municípios vulneráveis do Nordeste brasileiro chega a atingir um percentual de 80,1%.

Esse Atlas coloca Natal, a capital do estado do Rio Grande do Norte, como sendo um dos poucos municípios nordestinos situados na faixa de vulnerabilidade social baixa, estando junto com outras cidades como Teresina/PI, Aracajú/SE e João Pessoa/PB, além de outros 27 municípios menores em estados nordestinos que, por sua vez, incluem também o Rio Grande do Norte.

As categorias estabelecidas para a construção desse Índice de Vulnerabilidade Social foram os indicadores de trabalho e renda, acúmulo de capital social e infraestrutura urbana. Entretanto, considera-se contraditoriedades no que dispõe o documento, pois, apesar de terem sido apresentadas informações de diminuição nos indicadores traçados, acredita-se ainda que, em um contexto prático, o município de Natal/RN não possui baixo índice de vulnerabilidade social.

Contrariando esse cenário, considerando as problemáticas existentes no município como educação, trabalho e renda, o trabalho infantil, a própria exploração sexual, além de inúmeras outras deficiências, observa-se que as informações apresentadas são conflitantes porque esses indicadores influenciam diretamente no grau de crescimento da vulnerabilidade social, assim como no trabalho e renda, na construção de capital social, etc. A exemplo dessa contradição, o mapa abaixo situa os bairros vulneráveis do município, distribuídos em suas zonas administrativas, e a sua concentração de favelas:

Figura 3 – Concentração de favelas no município de Natal.

Fonte: Site oficial da Prefeitura Municipal de Natal - Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo.

Em pesquisa30 anterior realizada pela autora em Natal/RN, que identificou o

público inserido na ótica da exploração sexual no município, foi possível constatar que mais de 70% dos jovens passam a ser explorados na faixa etária dos 12 aos 16 anos de idade, ou seja, ainda na fase inicial da adolescência. Esse período é bastante crítico para que este segmento sofra os rebatimentos da exploração sexual, haja vista que, nesta fase, inúmeros elementos da formação humana e cidadã estão sendo formados, como, por exemplo, a autonomia, criticidade, sensações de pertencimento, o desenvolvimento da identidade, autoestima, etc.

A pesquisa identificou, ainda, que esse público apresenta baixos níveis de escolaridade, seja pela precarização do ensino ou por ocorrência de evasão escolar, atraso no ensino fundamental. O afastamento escolar é nocivo para a formação humana, cívica, educacional e profissional dos indivíduos porque, com a defasagem no processo de escolarização, tornam-se cada vez mais restritas as oportunidades de emprego e renda para o segmento, dificultando o distanciamento desses sujeitos do contexto da exploração sexual, além da estigmatização sofrida por eles quando se toma conhecimento de sua inserção em atividade sexual, seja pela sociedade ou por parte da própria família.

Outra questão que foi observada na amostra analisada para a pesquisa foi que cerca de 40% do público já tinha pelo menos um filho. Esse fator é determinante, em muitos casos, para a entrada na exploração sexual, pois há a necessidade objetiva de assegurar o sustento dos filhos ou ajudar a família nas despesas, uma vez que muitos jovens residem com as famílias, predominantemente em bairros periféricos de Natal/RN.

Dentro dos dados coletados, observou-se que cerca de 48% dos sujeitos envoltos no ambiente de exploração afirmavam ter sido influenciados por um aliciador ou por pessoas conhecidas, geralmente amigos que já estavam na atividade e relatavam o discurso do “dinheiro fácil”.

30 A pesquisa em questão, que teve alguns de seus dados utilizados também neste estudo, foi realizada no ano de 2013, no Projeto ViraVida SESI/RN, em Natal, para subsidiar o trabalho de conclusão de curso em Serviço Social da autora, que realizou estágio curricular na instituição. Na ocasião, foram analisados relatórios de entrevistas realizadas com os adolescentes e jovens do projeto, de onde foram extraídos os dados relativos ao tempo de ocorrência da exploração, escolaridade, família, gênero e que aqui foram descritos. Destaca-se que a amostra analisada na pesquisa foi de 50 relatórios de um total de 100 dos jovens, de 16 a 21 anos, que entraram no projeto em 2013, e relacionava-se com os jovens que apresentavam índices de pobreza significativos que influenciavam sua inserção na exploração sexual e não chegavam a proporções de enriquecimento com tal atividade, pois é esse o público alvo do ViraVida.

A figura do aliciador é ainda mais complexa quando se trata da exploração porque ele, em geral, integra uma rede que lucra com a prática da atividade sexual. São os aliciadores que realizam o intermédio dos contatos, os acordos necessários e agendamentos, ficando com parte do montante requerido pelo negócio. Eles tendem a enrijecer o mercado formado a partir da comercialização empreendida com a exploração sexual.

Estes indivíduos contam com a atratividade que o município oferece em suas praias, região litorânea, a rede hoteleira e atividades noturnas, bares etc. Esses são alguns dos elementos que ajudam a compor o cenário da exploração sexual em Natal/RN e em diversas outras cidades do Nordeste brasileiro.

4.2 BREVE HISTÓRICO E CARACTERIZAÇÃO DA REDE DE PROMOÇÃO,