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2. EXPLORAÇÃO SEXUAL: CONCEITOS, APROPRIAÇÕES HISTÓRICAS E

2.2 Os direitos humanos e a exploração sexual como expressão da questão social

A investida capitalista sobre os indivíduos e as relações sociais, os modos de imprimir em nossa formação societária uma verdadeira cultura do consumo, retroalimentados pela materialidade e coisificação de todas as esferas da vida, favorecem um cenário através do qual é possível que ocorram arbitrariedades como a exploração sexual, mas também outros agravos como a pauperização de inúmeros grupos sociais, segregação e competição entre os atores da sociedade, o acirramento das expressões da questão social. Estas são consequências decorrentes do que Faleiros (2004, p.51) define como “processo de mercadorização e fetichização das relações.”

Estas são questões que se originam no bojo das contradições capitalistas e que, direta ou indiretamente, se revelam como mecanismos facilitadores, quando não são de fato determinantes, para a exploração sexual e demais formas de expropriação de direitos humanos e fundamentais historicamente conquistados.

Os movimentos de coisificação da vida e a necessidade de consumo se complementam porque conduzem a sociedade a um processo de produção de sujeitos como objetos, impulsionando uma segregação que resulta em grupos sociais heterogêneos. Neste espaço, os indivíduos são classificados prioritariamente de acordo com o que possuem e em relação ao poder aquisitivo do qual dispõem para que o consumo seja contínuo.

Assim, quando tratamos de crianças e adolescentes envoltos nessa ótica de materialização da vida e das relações sociais, que exalta o ato de “possuir bens e coisas”, o cenário que se esboça adquire singularidades ainda mais complexas, tendo em vista que trazem à tona as sensações de pertencimento, a busca por espaço e

aceitação em diferentes grupos que possuem variados padrões, a cidadania via consumo e tantas outras particularidades dessa fase de seu desenvolvimento.

Essas questões são inerentes ao segmento infanto-juvenil, compõem o processo de construção de suas identidades subjetivas, envolvem o favorecimento de sua autonomia e criticidade, ao passo em que também os torna susceptíveis a cenários e práticas desafiadoras, perigosas, violadoras e prejudiciais, como a exploração sexual, a drogadição e o trabalho infantil.

Tais ações lhes são apresentadas de forma “maquiada”, com o viés da ascensão, da mudança de imagem e de vida, o enriquecimento acelerado, ampliação de facilidades, dentre inúmeras técnicas de aliciamento e cooptação, presentes no processo de produção de alternativas que demonstram uma vida dotada de possibilidades satisfatórias, mas que, na realidade, não asseguram nem sequer direitos humanos básicos, constituindo situações de risco graves para as crianças e adolescentes incluídos nas atividades de exploração.

O conceito de risco social pode ser utilizado em diversas áreas do conhecimento, cabendo, então, com grande relevância também no quadro da exploração sexual de crianças e adolescentes. Embora este conceito esteja amplamente relacionado com outra expressão, a vulnerabilidade social, e de fato se assemelhem, eles não são iguais. Desse modo, é importante conhecermos ambos porque estes estão frequentemente presentes no âmbito da exploração.

A Política Nacional de Assistência Social (PNAS, 2004), utilizando-se de uma noção social de assegurar proteção, aborda tanto o risco quanto a vulnerabilidade e percebe-se que ambas as expressões estão relacionadas com a ocorrência da pobreza. Entretanto, a pobreza não é por si só o único determinante da vulnerabilidade social ou das situações de risco, isto é, existem outros condicionantes que vão além da escassez de renda, como fragilidades e desigualdades no próprio território, carências familiares, nos grupos ou indivíduos, ausência de políticas públicas, planejamento deficiente, falta de acesso à cultura, esporte, lazer, privações, a própria desresponsabilização do Estado e tantas outras questões.

Assim, é possível perceber, então, que a vulnerabilidade congrega inúmeras problemáticas que antecedem o risco social, pois quando juntos estes elementos, sua permanência torna os sujeitos que dela são vítimas susceptíveis à situação de risco, que pode ou não ocorrer porque estão vulneráveis. Logo, observa-se que é possível sim que uma situação de vulnerabilidade possa acarretar uma situação de risco, mas

esta não é uma regra, nem todos os sujeitos vulneráveis socialmente se encontram diretamente em risco pessoal ou social.

Por isso, são entendidos como categorias distintas, sendo, portanto, o risco social observado como um perigo potencial, uma ameaça ainda mais gravosa que os danos já representados pela vigência da vulnerabilidade. Com isso, não se quer dizer que a ocorrência da vulnerabilidade social, em suas mais variadas expressões, não seja suficientemente grave para a vida dos indivíduos que nela estão inseridos, apenas ocorre que, na diferenciação entre risco e vulnerabilidade, a situação de risco representa um perigo ou violação mais iminente, por vezes com necessidades imediatas de resolução porque pode trazer risco de vida para o indivíduo.

Cabe aqui, então, reconhecermos a importância e a necessidade de que as vulnerabilidades não sejam naturalizadas no cotidiano social, nem tampouco nas alternativas dadas pelo Estado, visto que, se elas antecedem o risco social iminente, devem ser tratadas com ampla atenção para que, dessa forma, possamos ter menor incidência de risco social nas distintas camadas da nossa sociedade. A respeito dessa iminência do risco social, Janczura acrescenta que:

A noção de risco implica não somente iminência imediata de um perigo, mas também a possibilidade de, num futuro próximo, ocorrer uma perda de qualidade de vida pela ausência de ação preventiva. A ação preventiva está relacionada com o risco, pois não se trata de só minorar o risco imediatamente, mas de criar prevenções para que se reduza significativamente o risco, ou que ele deixe de existir (JANCZURA, 2012, p. 306).

Neste cenário, a PNAS objetiva atuar nas vulnerabilidades a partir da proteção social para prevenir as situações de risco, buscando impedir que elas aconteçam. A própria Política Nacional de Assistência Social (BRASIL, 2004, p. 37) descreve como risco a incidência ou mesmo a probabilidade de que ocorram os seguintes eventos: abandono, negligência, maus tratos, sejam eles físicos ou psicológicos, abuso sexual, uso de substâncias psicoativas, cumprimento de medidas socioeducativas, situação de rua, situação de trabalho infantil, entre outros. Vale salientar que a qualidade dessa atenção protetiva e sua efetividade possuem uma estreita interface com o Sistema de Garantia de Direitos, o que requer precisamente uma gestão mais complexa e compartilhada com o Poder Judiciário, com o Ministério Público e outros órgãos e ações do Executivo (PNAS, 2004, p.37).

Quando a dimensão da pobreza se soma a essa conjuntura, tem-se uma das mais graves formas de apoderar-se dos sujeitos na contemporaneidade, pois a condição de pobreza por si só já é condicionante de diversas violações e submete os sujeitos a degradações que nem sempre são passíveis de mensuração. Porém, ao adentrarem na ótica da exploração sexual, passam a fazer parte de uma realidade na qual sua existência é tomada pela ausência quase que total de direitos, respeito, dignidade, valorização. Em resposta às degradações às quais são expostos, os indivíduos enrijecem sua trajetória com a falta de perspectiva e de possibilidades de ascensão, ampliando a situação de risco na qual se encontram e dificultando ainda mais a construção de outra conjuntura de vida.

Acredita-se que uma das principais contradições desse contexto de ausência de perspectiva, senão a maior delas, reside justamente no fato de crianças e adolescentes serem conduzidos para o âmbito da exploração sexual por acreditarem no discurso enganoso de que essa prática representa uma oportunidade significativa de ascenderem socialmente, garantirem um padrão de vida mais satisfatório e, com isso, uma suposta dignidade e cidadania.

Entretanto, após se envolverem com a exploração e todos os transtornos que cercam a prática, muitos dos indivíduos observam que a atividade sexual não lhes assegura aquilo que objetivavam inicialmente, pelo contrário, rouba a sua dignidade e demonstra que a ascensão e o padrão de vida prometidos não correspondem e não são válidos se comparados ao somatório de desgastes14 aos quais são obrigados a

se submeterem.

Essa natureza de submissão é expressa nos estudos de Souza (2004) acerca da modernização e cidadania no Brasil. Para o autor, houve um processo efetivo de modernização de grandes proporções e que foi sendo implantado paulatinamente em países periféricos, como o nosso, a partir do início do século XIX, gerando a formação de “subcidadãos”.

De acordo com o autor, nossa desigualdade é opaca e de difícil percepção, pois é naturalizada na vida cotidiana moderna porque valores e instituições são bem- sucedidos no sentido de realizar importações “de fora para dentro”, ou seja, valores e instituições modernos também são naturalizados de forma até impessoal. Acrescenta-

14 Por estes desgastes entende-se a excessiva jornada de exploração, os abusos, agressões físicas e verbais, a estigmatização, a perda do respeito social e pessoal, a quebra de vínculos familiares e demais relações afetivas, as consequências físicas e psicológicas da exploração sexual.

se que nesse universo de valores estão também contidos os valores de classes sociais, distintos grupos que se dividem de acordo com critérios de renda, modernização, poder de consumo, movidos por uma alienação mercadológica, econômica e societária, que conduz ao estabelecimento de rígidos critérios de sobrevivência dentro dessa estratificação social.

Além disso, ele também alerta para o fato de que apenas o crescimento econômico não seria capaz de sanar tais problemas. Logo, entende-se que o cenário desenhado por Souza (2004) demonstra o desequilíbrio na oferta de cidadania. Os elementos modernos que nos foram apresentados, como o próprio autor denomina de “modernidade periférica” (p. 80), não nos asseguram uma cidadania real, principalmente na sociedade de classes que temos.

Ainda segundo Souza (2004), o mercado e o Estado são influenciados pelo que ele define como “hierarquias valorativas” (p.81) que estão, na verdade, implícitas e opacas, por essa razão, não são perceptíveis no cotidiano. Desse modo, como não se tem necessariamente consciência acerca dessa hierarquia imposta, ela acaba por ser naturalizada com uma roupagem de algo neutro e meritocrático, isso legitima a ordem social desigual e de subcidadania que conhecemos.

Conforme esse quadro, temos uma formação societária dotada de valores que ela mesma não reconhece, fazendo com que as raízes dessa subordinação sejam cada vez mais profundas. Como desdobramento disso, constata-se que o exercício da nossa cidadania, por exemplo, está condicionado a valores sociais e mercadológicos contraditórios, fortalecendo a subcidadania alertada por Souza (2004).

Para uma apreensão mais qualificada de tais situações relativas à exploração sexual, é preciso esclarecer que este trabalho faz a opção por tratar da exploração sexual enquanto atividade que tem a pobreza como sua principal condicionante, isto é, crianças e adolescentes que adentram neste campo porque possuem necessidades objetivas de sobrevivência e não vislumbram outras possibilidades viáveis para assegurarem o seu sustento e o de suas famílias. Contudo, trata-se de sujeitos que não enriquecem com essa prática, não chegam a compor o mercado luxuoso do sexo, pois seu foco é a sobrevivência e não o enriquecimento e a superficialidade, o consumo exacerbado.

Percebe-se, assim, que para essa parcela da sociedade, a pobreza e vulnerabilidade acabam tornando-se maiores do que a autonomia e as possibilidades

de escolha desses indivíduos, de maneira que são “empurrados” para a exploração sexual, não porque buscam ou compactuam com tal atividade, mas sim porque, por muitas vezes, esta é a oportunidade que se apresenta em determinados momentos críticos da vida e, posteriormente, gera relações de dependência e opressão das quais é difícil se desvencilhar.

Por esta razão, observa-se que a pobreza e a exploração sexual, no contexto que aqui se apresenta, estão intimamente relacionadas, tendo em vista que, embora não seja uma regra, é inegável que um fenômeno acaba por abrir espaço para que o outro ocorra e as violações são somadas. A pobreza retira dos sujeitos inúmeros elementos importantes para o exercício da cidadania.

Essa íntima relação entre a questão social e a exploração sexual envolve dois aspectos de fundamental importância dentro da conjuntura que aqui se expõe: as relações de poder desencadeadas em diversos aspectos do exercício das atividades de exploração, e o processo de “inclusão precarizada” (MARTINS, 1997), haja vista que embora ocorra uma possibilidade de consumo e aquisição de bens, os sujeitos dessas circunstâncias permanecem na condição de vulnerabilidade e à margem da sociedade, senão pela ausência do consumo, por uma série de outras questões, como as fragilidades na educação e na saúde, ou a baixa remuneração, por exemplo.

Isso nos mostra que mesmo o poder de consumo não garante cidadania plena e dignidade. Tal poder de consumir bens e coisas não impede que os indivíduos continuem marginalizados e tendo seus direitos negados porque não deixam de integrar as camadas periféricas da sociedade.

Oliveira (2003) também se refere a tal processo de precarização por meio de uma inclusão perversamente subordinada ao capital e que, por outro lado, gera uma parcela significativa da população que não consegue ser absorvida por ele e, assim, não vai existir para os capitalistas. Produz-se, então, um excedente sempre maior do que a real necessidade, favorecendo o processo de acumulação capitalista.

Quanto às relações de poder mencionadas, estas também ganham força e expressividade a partir dessa acumulação do capital, pois o contexto financeiro traça as definições que dividem categorias para a oferta de serviços, consumo, relações sociais e diversos aspectos sobre os quais impera o dinheiro. Todavia, o poder empenhado dentro da ótica da exploração sexual também é proveniente das apropriações históricas, realizadas entre os adultos e as crianças e adolescentes, bem como entre o sexo masculino e o feminino.

Desse modo, é possível perceber que, historicamente, crianças e adolescentes foram vistos como objetos da dominação dos adultos e assim, conforme salienta SALUM (2010, p. 49), “a criança era vista como um adulto em miniatura, participando da vida social e do trabalho como adultos”. Ela complementa, ainda, destacando que é relativamente recente a distinção que se tem hoje entre a infância e adolescência, pois esta data do final do século XVIII e início do século XIX, antes disso a criança não tinha suas particularidades levadas em consideração, o que só se materializa legalmente com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

No entanto, mesmo após o advento do ECA, ao observar as particularidades de sua condição de desenvolvimento, crianças e adolescentes são tidos como seres inacabados, em formação e que, por isso, precisam de supervisão e dominação, pois se julga mais fácil moldá-los à medida que estejam sob as relações de poder impressas sobre eles por parte dos adultos.

Essa concepção e cuidado não são de todo nocivos para crianças e adolescentes, porém, é com embasamento nessa perspectiva de “dominação e redefinição” que a exploração sexual encontra subsídios para gerar os vínculos de permanência e opressão que, tanto incidem sob a cooptação inicial do público-alvo para a atividade sexual, quanto impulsiona mecanismos que impeçam que eles deixem a prática. Isto porque a exploração sexual se aproveita dos parâmetros sociais que colocam o público infanto-juvenil como aqueles que ainda necessitam de dominação e controle, estabelecendo relações dentro e fora do âmbito da exploração sexual, onde os adultos impõem a sua vontade acima da vontade expressa pelas crianças e adolescentes.

Outra questão emblemática que nos auxilia na compreensão desse aparato histórico de submissão são as relações de gênero15 presentes na nossa formação

societária. Sobre isso, Faleiros (2004) acentua que:

A sexualidade no Brasil tem de ser compreendida em suas determinações históricas. A formação econômica, social e cultural do Brasil, assentada na colonização e na escravidão, produziu uma sexualidade de classe, racista, machista e adultocêntrica, cujo exemplo extremo são os ‘leilões de virgens’, ainda existentes no Brasil (FALEIROS, 2004, p. 84).

15 Entende-se a relevância do debate em torno das questões relativas ao gênero, inclusive no contexto da exploração sexual. No entanto, essa é uma discussão extensa e que não se esgota neste trabalho, visto que a temática central pretendida é a rede de enfrentamento. Assim, serão realizadas colocações breves sobre o assunto, podendo ser aprofundadas em trabalhos futuros.

A posição da autora traz à tona a natureza machista e patriarcal da nossa sociedade e demonstra como o recorte de gênero é emblemático para discutirmos a vigência da exploração sexual na contemporaneidade. Mesmo nos dias atuais, crianças, adolescentes, jovens continuam a ser objetificadas, vistas como corpos a serem utilizados para satisfação pessoal, o que não é diferente no mercado do sexo, pelo contrário, neste espaço, a figura feminina, seja ela em qualquer idade, é expressivamente coisificada, mercantilizada, como se servisse exclusivamente como objeto de dominação dos homens, não havendo necessidade de ter seus direitos, vontades e histórias de vida respeitadas.

Essa lacuna de reconhecimento e respeito é histórica, e a própria vigência da exploração sexual já nos demonstra claramente que ela ainda não foi superada. Isto porque, ao longo da história, a figura feminina foi sempre vista, tanto socialmente quanto na prática, como objeto de dominação, erotização e subjugação, com a banalização do corpo feminino com foco na reprodução, satisfação e o cuidado familiar ou conjugal.

Nesse ciclo fechado, onde prevalecia a submissão, não havia espaço para que as mulheres se dedicassem a outras atividades que não estivessem voltadas para o lar, ou para a descoberta de outras habilidades e aptidões que não imaginassem. A perpetuação dessa condição de subserviência no decorrer da história fez com que, até hoje, mesmo com avanços, como aqueles que o feminismo alcançou, por exemplo, as mulheres permaneçam sendo “usadas”, “vendidas”, “mercantilizadas” e, em inúmeros quadros, elas ainda são mais observadas pelos corpos que possuem do que pelas demais capacidades que dispõem, como no mercado do sexo e em toda a rede que se forma a partir dele. Essa rede ajuda a reforçar toda essa subjugação feminina.

No que se refere a esse aspecto, tem-se que “as redes que atuam no mercado do sexo são clandestinas, embora o mercado não o seja porque toda venda necessita da exposição de mercadoria” (FALEIROS, 2004, p. 84). A constatação da autora é extremamente relevante para que se verifique o efeito de mercadorização, já referido anteriormente, assim como para atentarmos ao fato de que o mercado é ousado e repleto de artimanhas para operar na clandestinidade.

Essa suposta clandestinidade é, no mínimo, duvidosa porque, como destaca a autora, existe um mercado que de fato “expõe suas mercadorias” e, mesmo diante disso, não encontra freios e punições adequados, além dos lucros que obtém

ilegalmente, as múltiplas ramificações, apoios, contatos e setores sobre os quais impacta.

Para além dessas questões, outro elemento a ser considerado relevante dentro da prática da exploração sexual é a conotação de trabalho análogo à escravidão. Faleiros (2004, p. 95) coloca essa modalidade de violência sexual como sendo uma “moderna estratégia de escravidão”. A autora analisa a problemática sob essa perspectiva porque, em seu ponto de vista, a exploração sexual apresenta características semelhantes às de um trabalho escravo de fato, como a ausência de direitos, envolve relações de propriedade e comercialização, propostas de trabalho enganosas, proibições, vigilância, controle, baixa remuneração e uma superexploração de modo geral.

Esse cenário se materializa como se, ao longo dos processos históricos que vivenciamos, tivesse ocorrido a redescoberta de novas formas de escravidão, ou seja, o padrão de superexploração que se tem na atualidade não possui exatamente as mesmas características dos primórdios da escravidão no Brasil, mas apresenta fortes rebatimentos desse momento da história do país, refletindo a permanência da condição de explorados nos sujeitos, porém realizando sua abordagem a partir de uma outra roupagem, uma espécie de escravidão sob novas bases e distintas formas de persuadir o outro.

Essa situação de risco descrita pela autora apresenta uma significativa relação com o que afirma Libório (2004) ao declarar que as situações de risco deixam crianças e adolescentes expostas e, com isso, acabam por desencadear processos de vulnerabilização, interferindo, assim, em seu desenvolvimento físico, psicológico e social. No caso da temática que buscamos problematizar neste estudo, empreende- se que tais situações de risco podem abrir o caminho para a exploração sexual, gerando fortes condicionantes para a prática.

É possível constatar então que o processo de construção da sexualidade do público infanto-juvenil precisa ser exercido mais adequadamente, o que, embora não pressuponha uma faixa etária específica, exige maior maturação de variados aspectos da subjetividade desses sujeitos. Entende-se, dessa forma, que a sexualidade precisa ser desenvolvida em consonância com questões psicológicas, sociais, culturais, e