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O paradoxo na garantia de direitos: um estudo sobre a rede de enfrentamento da exploração sexual de crianças e adolescentes em Natal/RN

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS URBANOS E REGIONAIS. RENATA ALMEIDA LEÃO. O PARADOXO NA GARANTIA DE DIREITOS: UM ESTUDO SOBRE A REDE DE ENFRENTAMENTO DA EXPLORAÇÃO SEXUAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM NATAL/RN. NATAL/RN 2017.

(2) RENATA ALMEIDA LEÃO. O PARADOXO NA GARANTIA DE DIREITOS: UM ESTUDO SOBRE A REDE DE ENFRENTAMENTO DA EXPLORAÇÃO SEXUAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM NATAL/RN. Dissertação apresentada ao Departamento de Políticas Públicas no Programa de Pós-Graduação em Estudos Urbanos e Regionais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito final para a obtenção do título de mestre em Estudos Urbanos e Regionais pela UFRN. Orientador (a): Profª. Dra. Joana Tereza Vaz de Moura.. NATAL/RN 2017.

(3) Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes - CCHLA Leão, Renata Almeida. O paradoxo na garantia de direitos: um estudo sobre a rede de enfrentamento da exploração sexual de crianças e adolescentes em Natal/RN / Renata Almeida Leão. - 2017. 145 f.: il. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Programa de Pós-Graduação em Estudos Urbanos e Regionais. 2017. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Joana Tereza Vaz de Moura.. 1. Crime sexual contra as crianças. 2. Prostituição de crianças. 3. Rede de enfrentamento. 4. Assistência à menores. 5. Direitos das crianças. I. Moura, Joana Tereza Vaz de. II. Título. RN/UF/BS-CCHLA. CDU 343.541-053.2.

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(5) Aos meus pais, Aldo e Maria de Fátima Leão, pelo apoio incondicional, por acreditarem em meus propósitos e sonhos, hoje e sempre. E à minha avó materna, Maria Dos Anjos Almeida, que há alguns meses nos deixou, por interceder pelo meu sucesso, guardar e abençoar meus dias, onde quer que esteja, e com o mesmo amor..

(6) AGRADECIMENTOS. Primeiramente, à Deus, pelas bênçãos, perseverança e discernimento para seguir em frente nesta jornada difícil, mas de muito aprendizado e alegrias. O mestrado foi um sonho do coração de Deus para a minha pessoa, e conquistou também o meu.. Aos meus pais Aldo e Maria de Fátima Leão, e família, por me conduzirem até aqui com seus esforços, jamais teria conseguido sem o amparo de todos. Obrigada por acreditarem e sonharem junto comigo sempre, e por me darem a força necessária quando fraquejei e desacreditei.. Aos docentes que aceitaram o convite para compor a banca de defesa, alguns estiveram acompanhando a construção do estudo desde o início. Suas contribuições foram extremamente agregadoras, trouxeram aprimoramento e reflexões valiosas.. À minha orientadora, Professora Joana Tereza Vaz de Moura, pelo apoio, conversas, orientações, motivação e carinho sempre. Grata por acreditar nesta proposta desde o início e aceitar o desafio de orientá-la, foi essencial.. Aos docentes e todo o Programa de Pós-Graduação em Estudos Urbanos e Regionais da UFRN, pelo conhecimento agregado à minha formação pessoal e acadêmica, pela colaboração, estágio em docência, auxílios e solicitações empenhadas, foram fundamentais para a realização do mestrado e para a minha trajetória enquanto estudante.. Aos profissionais entrevistados durante o trabalho de campo pela colaboração primordial para a fundamentação deste trabalho. Grata pela disponibilidade, sinceridade, atenção e diálogos concedidos para parte significativa desse estudo, suas falas deram maior sentido e materialidade a realidade descrita aqui.. Aos colegas da turma 2015.1 do programa, à qual tive o orgulho de fazer parte, somar e aprender de modo tão satisfatório, fazendo amigos que ultrapassam os espaços do mestrado, enchendo a minha vida de alegria e gratidão por tê-los ao meu lado daqui para frente. Alguns foram literalmente presentes de Deus, e palavras não seriam suficientes para descrever o quanto significam para a minha pessoa.. À CAPES, pelo apoio financeiro a este trabalho..

(7) A palavra “sujeito” traduz a concepção da criança e do adolescente como indivíduos autônomos e íntegros, dotados de personalidade e vontade próprias que, na sua relação com o adulto, não podem ser tratados como seres passivos, subalternos ou meros “objetos”, devendo participar das decisões que lhe digam respeito, sendo ouvidos e considerados em conformidade com suas capacidades e grau de desenvolvimento. (Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária, 2007, p. 28)..

(8) RESUMO. O fenômeno da exploração sexual de crianças e adolescentes consiste em um problema antigo, grave e persistente na cena contemporânea, não recebendo, ainda, a atenção massiva que pressupõe, nem tampouco o engajamento fundamental que nos conduza a um enfrentamento resolutivo. Trata-se de uma das mais graves violações de direitos humanos, representando falhas no Sistema de Garantia de Direitos (SGD), e na proteção integral do segmento infanto-juvenil. Constitui-se, assim, um paradoxo entre o que preveem os marcos legais e o que de fato é assegurado na prática, além das consequências físicas e psicológicas oriundas dessas violações, ao passo em que deveriam ser vistos com prioridade absoluta, como sujeitos de direitos reais e não somente no discurso. Nesta direção, a rede de enfrentamento à exploração sexual é uma importante ferramenta para a compreensão das especificidades da problemática e, por esta razão, é relevante conhecer a rede disponível, observando seus desdobramentos, justificando, portanto, a pertinência do estudo. Os percursos percorridos para este trabalho partiram do seguinte questionamento: “Que instituições compõem a rede de enfrentamento à exploração sexual em Natal/RN e suas respectivas estratégias de combate ao fenômeno e garantia de direitos?” Como objetivo geral analisou-se as instituições da rede de enfrentamento da exploração sexual de crianças e adolescentes, bem como as políticas públicas para este segmento, que devem ser implementadas através dela no município. Neste sentido, foi elaborada uma pesquisa exploratória do tipo qualitativa, para conhecer a rede, os principais atores e parceiros. Assim, realizou-se pesquisa bibliográfica e documental, bem como pesquisa de campo, a partir de visitas institucionais e entrevistas semiestruturadas com os profissionais, auxiliadas por um roteiro de questões abertas. A partir desse estudo, identificou-se que há uma rede de serviços disponíveis, mas não uma rede voltada mais diretamente para o trato da exploração sexual. Ela conta com forte presença do Terceiro Setor, incidindo nas lacunas deixadas pelo Estado. Tem-se uma rede ainda não consolidada, possui baixa intersetorialidade e necessita de ampliação, pois tem dado respostas pontuais diante das violações de direitos. Apesar de importantes conquistas, avalia-se que o SGD existe mais no nível do discurso que na prática, haja vista que o ECA não alcançou, ainda, a materialidade pensada desde a sua formulação. Espera-se que o estudo contribua com a elaboração de discussões e referências que sejam subsidiárias ao debate e à apreensão mais qualificada desse problema. PALAVRAS-CHAVE: Exploração sexual; Prioridade enfrentamento; Proteção integral; Garantia de direitos.. absoluta;. Rede. de.

(9) ABSTRACT. The phenomenon of the sexual exploitation of children and adolescents consists of an old, serious and persistent problem in the contemporary scene, not yet receiving the massive attention that it presupposes, nor the fundamental commitment that leads us to a resolute confrontation. This is one of the most serious violations of human rights, representing failures in the System of Guarantee of Rights (SGD), and in the integral protection of the child and youth segment. It is thus a paradox between what legal frameworks provide and what is actually ensured in practice, as well as the physical and psychological consequences of these violations, while they should be viewed with absolute priority, as subjects of rights Real and not just in speech. In this direction, the sexual exploitation coping network is an important tool for understanding the specificities of the problem and, for this reason, it is relevant to know the available network, observing its unfolding, thus justifying the pertinence of the study. The paths covered for this work were based on the following question: "Which institutions make up the network to combat sexual exploitation in Natal / RN and their respective strategies for combating the phenomenon and guaranteeing rights?" As a general objective, the institutions of the network Of coping with the sexual exploitation of children and adolescents, as well as the public policies for this segment, which must be implemented through it in the municipality. In this sense, an exploratory research of the qualitative type was developed, to know the network, the main actors and partners. Thus, bibliographical and documentary research was carried out, as well as field research, based on institutional visits and semi-structured interviews with professionals, assisted by a script of open questions. From this study, it was identified that there is a network of services available, but not a network geared more directly to the treatment of sexual exploitation. It has a strong presence of the Third Sector, focusing on the gaps left by the State. There is a network that has not yet been consolidated, has a low intersectoriality and needs to be expanded, since it has given specific responses to violations of rights. Despite important achievements, it is estimated that the SGD exists more at the level of discourse than in practice, since the ECA has not yet reached the materiality thought since its formulation. It is hoped that the study will contribute to the elaboration of discussions and references that are subsidiary to the debate and the more qualified apprehension of this problem. KEYWORDS: Sexual exploitation; Absolute priority; Network of coping; Integral protection; Guarantee of rights..

(10) LISTA DE SIGLAS. CECRIA – Centro de Referência de Estudos e Ações sobre a Criança e o Adolescente CEDECA – Centro de Defesa da Criança e do Adolescente CPI - Comissão Parlamentar de Inquérito CRAS – Centro de Referência da Assistência Social CREAS – Centro de Referência Especializada da Assistência Social CMDCA – Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente CONSEC – Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente CONANDA – Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente DCA – Delegacia da Criança e do Adolescente ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente ESCA – Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes FUNDAC – Fundação Nacional da Criança e do Adolescente FIA – Fundo para a Infância e Adolescência IVS – Índice de Vulnerabilidade Social LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social OBIJUV - Observatório da População Infanto-Juvenil em Contextos de Violência OIT - Organização Internacional do Trabalho ONG – Organização Não-Governamental ONU – Organização das Nações Unidas PAIR - Programa de Ações Integradas e Referenciais de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes PNAS – Política Nacional de Assistência Social RN – Rio Grande do Norte SDH/PR – Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República SEMTAS – Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social SGD – Sistema de Garantia de Direitos SESI – Serviço Social da Indústria UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância.

(11) SUMÁRIO. 1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................12 1.1 Procedimentos Metodológicos.............................................................................20 2. EXPLORAÇÃO SEXUAL: CONCEITOS, APROPRIAÇÕES HISTÓRICAS E DIREITOS HUMANOS...............................................................................................25 2.1 O percurso histórico da exploração sexual e sua dimensão conceitual.................25 2.2 Os direitos humanos e a exploração sexual como expressão da questão social..39 2.3 Estado da arte na exploração sexual: pesquisas e desafios deste tema em outros cenários no Brasil.......................................................................................................55 3. O SISTEMA DE GARANTIA DE DIREITOS (SGD): CARACTERIZAÇÃO, MARCOS LEGAIS E A PROTEÇÃO SOCIAL...........................................................64 3.1 A composição e relevância do SGD......................................................................64 3.2 Os marcos legais, a integralidade de direitos e proteção social............................74 4. PERSPECTIVAS DE PROTEÇÃO E ENFRENTAMENTO DA REDE EM NATAL/RN: APRESENTANDO O TRABALHO DE CAMPO.....................................87 4.1 Aspectos relevantes do município de Natal/RN....................................................87 4.2 Breve histórico e caracterização da rede de promoção, proteção e defesa dos direitos de crianças e adolescentes em Natal/RN.......................................................92 4.3 Desafios e possibilidades à consolidação de direitos para a infância e adolescência em Natal/RN.......................................................................................116 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................130 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................134 APÊNDICES.............................................................................................................141 Cronograma..............................................................................................................142 Roteiro de Pesquisa de Campo................................................................................144.

(12) 12. 1. INTRODUÇÃO. O fenômeno da exploração sexual de crianças e adolescentes consiste em um problema antigo, mas que se torna persistente e adquire contornos cada vez mais graves na cena contemporânea. Isto porque, com o passar de décadas, novas formas de exploração e escravização foram sendo redescobertas sobre novas bases que garantem a permanência de um padrão perverso de submissão dos indivíduos inseridos nessa realidade, até mesmo sendo estes crianças e adolescentes, pois são precocemente explorados quando, na realidade, deveriam ser protegidos. Em meio a esse quadro, evidencia-se o paradoxo que se tem na garantia de direitos, a partir da ocorrência dos descompassos na prioridade absoluta, na proteção e integralidade de direitos. A vigência de práticas como a exploração sexual, outras modalidades de trabalho infantil, negligências e desatenção para com o segmento infanto-juvenil, salienta que temos essa ocorrência paradoxal entre o que descrevem os marcos legais, estatutos e políticas e o que de fato eles são capazes de gerar de modo real para o seu público-alvo. Há, portanto, significativas lacunas e falhas no modo como prevemos essa garantia de direitos e como damos materialidade a ela. Em 2015, ainda no primeiro semestre, o relatório do Disque 100, o Disque Direitos Humanos1, já havia recebido mais de 66 mil denúncias, destas, 63,2% (mais de 42 mil denúncias) foram relacionadas à violação de direitos contra crianças e adolescentes no Brasil, dentre elas a violência sexual está presente, incluindo a exploração sexual. Se pensarmos no contingente de violações que não são denunciadas e que, por isso, não contribuem com a composição das estatísticas nacionais, perceberemos, então, que o somatório de violações de direitos é ainda maior que os percentuais que se apresentam. Esse aspecto fragiliza os dados disponíveis através do Disque 100, visto que poderíamos ter um quantitativo ainda mais substancial de sujeitos violados em seus 1. O Disque Direitos Humanos é um serviço de utilidade pública da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) destinado a receber demandas relativas a violações de Direitos Humanos, especialmente de crianças e adolescentes, pessoas idosas, pessoas com deficiência, população LGBT, em situação de rua, em privação de liberdade, comunidades tradicionais, entre outras que atingem populações em situação de vulnerabilidade. O serviço é coordenado pela Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos que tem a competência de receber, analisar e encaminhar manifestações de violações de direitos humanos. Assim como, também, disseminar informações e orientações acerca de ações, programas, campanhas, direitos e de serviços da rede de atendimento, promoção e proteção em Direitos Humanos e também de responsabilização, quando houver violação de direitos disponíveis no âmbito Federal, Estadual e Municipal (BRASIL, 2015, p. 11)..

(13) 13. mais variados aspectos, caso os dados chegassem de fato ao seu destino de modo ainda mais expressivo. Contudo, o serviço oferecido contribui de modo amplo para o desenho do contexto de violações sofridas por crianças e adolescentes no país. O mesmo relatório do Disque 100 revelou que, no ano de 2015, quase 22% das denúncias recebidas foram relativas a casos de violência sexual, podendo ser na forma de abuso ou exploração, além de um percentual de cerca de 76% de casos que envolvem negligência2 para com a criança e o adolescente, ressaltando que, por vezes, uma única denúncia envolve mais de um tipo de violência e que os maiores atingidos por tais violações ainda são aqueles do segmento infanto-juvenil. Um ponto relevante e positivo é que, de modo geral, o relatório revela que o percentual de denúncias tem se mantido constante e, em alguns estados, houve até um aumento. Em 2010, o Disque 100 já atendia 4.885 municípios, o que significa dizer que os subsídios para o combate dessas práticas e a elaboração de políticas condizentes com a realidade, que se formam também através dessas denúncias, têm tido um avanço importante, devido à cooperação da sociedade. Contudo, violações de direitos, em todas as suas formas, não podem ser aceitas ou naturalizadas, principalmente as que violam até mesmo a integridade física e psicológica, como na violência sexual. Tais processos violentadores não podem ser tratados de modo secundário e, no contexto contemporâneo, é o que tem ocorrido, pois as violações são vistas como efeitos colaterais oriundos da crise do Estado, da investida capitalista nas relações sociais, das políticas neoliberais e de um contexto geral de desmonte de direitos, conquistas e avanços históricos. A partir disso é possível empreender que as violações são tratadas secundariamente, protelando-se as intervenções, quando deveriam ter maior atenção para a sua minimização. Desse modo fica claro que ainda temos muito a avançar em inúmeros aspectos no Brasil, no que tange ao trabalho em rede, práticas intersetoriais e a garantia universal de direitos aos sujeitos. Os dados apresentados acima contribuem com a veracidade do que a professora e pesquisadora Glória Diógenes, desde 2010, já alertava quando destacava que, naquele ano, a prática da exploração sexual já atingia mais de um milhão de jovens, somente na América Latina. Também em 2010, a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República – SDH/PR mostrava que o Brasil já O relatório do Disque 100 classifica a negligência como sendo “ausência ou ineficiência no cuidado” (BRASIL, 2015, p. 15). 2.

(14) 14. apresentava 930 municípios considerados como extremamente vulneráveis à exploração sexual, e 1.200 pontos vulneráveis mapeados nas rodovias brasileiras. Trata-se de números significativos e que podem ser ainda maiores do que se supõe, porque esta é uma vertente da violência na qual é difícil conseguirmos nos inserir e coletar informações de qualquer natureza. Nesse contexto, impera a cultura do silêncio e do sigilo, é importante esconder a natureza degradante dessa prática e torná-la visível somente para aqueles aos quais ela interessa, os que exploram e lucram com ela. Assim, esta é uma atividade criminosa e, em geral, invisível, que congrega inúmeras violações, é cercada por estigmas sociais e até mesmo familiares, tornando o acesso e a intervenção de políticas públicas algo extremamente necessário, mas ao mesmo tempo complexo também, dada toda essa “invisibilidade” e cultura silenciadora que a cerca, negligenciando direitos historicamente conquistados. Esses elementos revelam como a exploração sexual é uma construção contraditória porque, apesar dos impactos de naturezas diversas que gera essa atividade e da necessidade latente de buscarmos modos de combater tal violência, esse é um problema que não se mostra facilmente no cotidiano e nas apreensões da rede, dos profissionais, da sociedade ou da própria família. As particularidades e complexidades desse cenário de exploração são ampliadas a partir de sua relação com a investida capitalista nas relações humanas, e em todas as outras esferas da vida, bem como com o acirramento das expressões da questão social em suas diversas conjunturas, imprimindo historicamente em nossa formação societária fortes padrões de coisificação e banalização dos sujeitos, de seus direitos e modos de vida. Neste sentido, a rede de enfrentamento à exploração sexual de crianças e adolescentes, que é objeto de estudo deste trabalho, se configura como uma importante ferramenta para que se compreendam as especificidades da problemática que se apresenta, conduzindo à reflexão acerca da importância do fortalecimento da concepção de proteção integral e dos sujeitos de direitos, prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o principal marco legal da área da infância e adolescência no Brasil. Essa rede de enfrentamento integra o chamado Sistema de Garantia de Direitos (SGD) no Brasil e é composta por diversas instituições no âmbito do Estado, do Terceiro Setor, o qual congrega atores da sociedade civil e esfera empresarial que.

(15) 15. atuam diretamente no combate à ampliação do fenômeno da exploração sexual no país. Com isso, observa-se que a rede de enfrentamento à exploração sexual deve prestar atendimento e os devidos encaminhamentos para todas as classes, independentemente do poder aquisitivo que possuam. Faz-se necessário destacar aqui que a exploração sexual não é um fenômeno oriundo apenas das classes mais pauperizadas da nossa sociedade. Apesar de atingir prioritariamente os mais pobres, ela está presente em todas as classes sociais, inclusive, por esta razão, entende-se este como sendo um problema fortemente ligado à questão social e ao capitalismo. A pobreza é um forte determinante para a inserção nas atividades de exploração sexual nas camadas periféricas da sociedade, além do mercado e dos lucros que se organizam em torno delas, fruto das sucessivas investidas capitalistas, que intensificam a desigualdade social, os níveis de necessidade aos quais os indivíduos estão subjugados, bem como criam e ampliam as diferenciações sociais. Desse modo, ressalta-se que a questão social não é o objeto crucial a ser tratado aqui, porém, este é um elemento entendido como pano de fundo das contradições, do paradoxo na garantia de direitos e que, constantemente, é revisitado na abordagem utilizada para este trabalho porque perpassa o cenário de determinações a serem descritas, tendo a exploração sexual como um de seus rebatimentos. O fenômeno da questão social corresponde, então, ao “conjunto de expressões das desigualdades sociais engendradas na sociedade capitalista madura, impensáveis sem a intermediação do Estado” (IAMAMOTO, 2001, p.16). Para a autora, a questão social é fruto da contraposição entre a produção que tem caráter coletivo e a apropriação privada do trabalho humano, dos meios de produção necessários à sua realização e os frutos dessa atividade, conforme ocorre com o aproveitamento proveniente da exploração sexual e o universo coisificado e mercadológico que a cerca. Por isso, ela entende que a questão social não pode ser separada da figura do trabalhador, que vende a sua força de trabalho para a satisfação de suas necessidades vitais, sendo este um processo cercado pela desigualdade social, consciência de luta e o reconhecimento dos direitos dos indivíduos (IAMAMOTO, 2001). A realidade descrita pela autora não está distante da realidade vivenciada por aqueles que, precocemente, são inseridos na ótica da exploração sexual, da.

(16) 16. necessidade que conduz à venda de sua força de trabalho, e até mesmo de seus corpos, para obter poder de consumo e melhoria das condições de vida. Nesta direção, a rede de instituições componentes do SGD na cidade de Natal/RN foi eleita como objeto de estudo. O município de Natal/RN possui uma vasta região litorânea, praias e atrativos turísticos nesse contexto que permitem a formação de um ambiente propício à ocorrência da exploração sexual, pela demanda de turistas que atrai para estes espaços de convivência, além das áreas periféricas, com os níveis significativos. de. pobreza. que. possui.. Esse. quadro. congrega. incertezas,. vulnerabilidade e risco social, pauperização, segregação e desigualdade, o que acaba por construir uma parcela significativa do público-alvo que pode ser cooptado para atividades de exploração dentro e fora do país. Apesar dessa conjuntura não ser de modo isolado a causa da exploração sexual, temos em sua ocorrência um reforço relevante para a disseminação da exploração. Isso porque, dispondo de todo esse arcabouço de possibilidades, atores e espaços para que se disseminem as práticas de exploração, além da rede de aliciamento e cooptação de crianças e adolescentes para o mercado do sexo, temos, nesse elemento que podemos chamar empiricamente de “espaço turístico”, uma questão preponderante no trato de condicionantes para as atividades de exploração sexual, pressupondo um debate sério em relação ao observado no município. A motivação para o debate do tema da exploração sexual de crianças e adolescentes surgiu, portanto, ainda na graduação em Serviço Social, no período de estágio curricular realizado no Projeto ViraVida do SESI, que atua com adolescentes e jovens inseridos na exploração sexual oferecendo-lhes oportunidades de emprego e renda, assim como a ressignificação de suas trajetórias de vida. Partindo deste ambiente, e tendo desenvolvido trabalhos anteriores voltados para os sujeitos que são vítimas dessa modalidade de exploração, optou-se, para este estudo, que o objeto seja a rede de enfrentamento à exploração sexual. Essa rede representa “o outro lado” da temática relativa à exploração, isto é, ao invés de pautarse uma reflexão centrada nos sujeitos, busca-se identificar e caracterizar os entraves presentes na rede, que tem como prerrogativa congregar esforços de instituições que visem a oferecer proteção e garantia de direitos para o público-alvo de suas ações. Tem-se, assim, como objetivo geral neste trabalho, o de analisar as instituições da rede de enfrentamento da exploração sexual de crianças e adolescentes, bem.

(17) 17. como as políticas públicas para este segmento, que devem ser implementadas através dela no município de Natal/RN. Como forma de atingir essa perspectiva, foram traçados como objetivos específicos: apresentar a rede de enfrentamento à exploração sexual e as políticas públicas para crianças e adolescentes implementadas através dela em Natal/RN; problematizar a rede, conhecendo as instituições e os profissionais que a compõem, e no que diz respeito ao seu papel na perspectiva da proteção social e garantia de direitos; realizar uma análise crítica acerca da exploração sexual de crianças e adolescentes no município de Natal/RN; expor o padrão de política pública que será identificado frente aos determinantes da exploração sexual, observando a materialização de estratégias para o enfrentamento da exploração em Natal/RN. Dessa forma, o trabalho ora exposto busca, principalmente, aprofundar as reflexões sobre a temática relativa à exploração sexual de crianças e adolescentes, através da ótica da rede de enfrentamento disponível em Natal/RN e, ainda, contribuir para a elaboração de discussões e referências que sejam subsidiárias ao debate e à apreensão desse problema, dada a sua relevância social e acadêmica. Entende-se, com isso, que tanto a sociedade civil, quanto as instituições de ensino superior se configuram como importantes espaços promotores de discussões qualificadas em torno da exploração sexual e da rede de enfrentamento que a cerca, identificando sua composição, os atores sociais e políticos que a integram, bem como os. determinantes. das. atividades. exploratórias,. incrementando. concepções. desmistificadas e não culpabilizantes da exploração sexual e suas vítimas. Da mesma forma, podem colaborar com o desenvolvimento de estratégias, políticas e ações de enfrentamento mais abrangentes e efetivas, justificando, portanto, a pertinência do tema a ser tratado. Na conjuntura contemporânea, na qual vivenciamos um processo de crise do Estado, com influências de práticas neoliberais em suas ações e formas de gestão, sabendo que tal quadro também está relacionado ao projeto de acumulação capitalista e suas investidas na sociedade, tem-se como resultado disso a construção de ações e políticas públicas ainda tímidas na área da infância e adolescência no Brasil. São modelos de intervenção que precisam ser redimensionados, com vistas ao seu aprimoramento e adequação, para melhor atender as demandas do segmento infantojuvenil, sobretudo, no que diz respeito à rede de instituições que atuam diretamente na proteção e defesa dos direitos desses sujeitos em desenvolvimento..

(18) 18. Para tanto, é importante que todo o quadro de atores e instituições, sociais e políticas, envolvidos nesse processo busque a qualidade e estrutura necessárias à prestação de um serviço capaz de atuar sistematicamente como elemento propulsor de uma diminuição nos hiatos entre os direitos conquistados e a sua efetivação. A proteção integral e a prioridade absoluta que estão previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), por exemplo, ainda não alcançaram a efetivação prática, existindo outros direitos amplamente violados dentro e fora do âmbito da exploração sexual, onde novamente se evidencia o paradoxo já apontado. Cabe, por conseguinte, mencionar a essencialidade da concepção de crianças e adolescentes como sujeitos de direitos e que estão em condições peculiares de desenvolvimento, como claramente define o ECA. Faz-se necessário, então, o respeito a tais particularidades porque possuem relevância na construção de sua subjetividade a curto, médio e longo prazo, o que reflete de forma direta na nossa sociedade e nos indivíduos que formamos a partir dela. Desta noção devem partir todas as práticas, intervenções e propostas para crianças e adolescentes, desde a formulação até o processo de implementação, tamanha é a importância de se considerar relevante a dimensão de integralidade destes indivíduos e os impactos, positivos ou negativos, a serem gerados em suas trajetórias de vida, relações sociais, autonomia e outros aspectos. Esse processo relaciona-se com a natureza das experiências vivenciadas por eles, podendo favorecer o seu crescimento pessoal, ou conduzi-los a sérias condições de risco pessoal e social. Modalidades de exploração de naturezas diversas constituem violações de direitos em variados níveis. Contudo, a exploração sexual evidencia-se como a pior delas, e não está atrelada apenas à violação de direitos, mas também consiste na violação da integridade e do processo de formação e construção de indivíduos que, por vezes, não têm sequer a dimensão de seus direitos, nem tampouco conhecem a violação dos mesmos, não se percebendo como sujeitos violados. Todavia, esta não é uma questão que remete apenas ao respeito, mas também consiste em uma questão de efetivação, de assegurar direitos que na prática deveriam ser invioláveis, sendo assim concretizados na vida de todo e qualquer cidadão. É neste quadro que a rede de enfrentamento à exploração sexual de crianças e adolescentes se faz imprescindível, porque é dela que devem partir as alternativas para a garantia desses direitos, reestabelecimento de vínculos e proteção integral..

(19) 19. Esses elementos representam a atenção conferida a esse segmento por parte dos atores, instituições e serviços envolvidos em seu processo de formação. Isso demonstra que essa rede é, prioritariamente, a “porta de entrada” para o estabelecimento de uma cultura sólida de investimento e respeito para com as crianças e adolescentes. Diante do exposto, os percursos percorridos para este trabalho partem do seguinte questionamento: “Que instituições compõem a rede de enfrentamento à exploração sexual em Natal/RN, e suas respectivas estratégias de combate ao fenômeno e garantia de direitos?”. Estes questionamentos conduziram à elaboração desta pesquisa, a fim de compreender e analisar criticamente o formato que se tem na rede de enfrentamento à exploração sexual. Busca-se observar como essa rede, por sua vez, vem implementando as políticas e ações para o segmento infanto-juvenil, vítima da exploração sexual em Natal/RN, a estrutura disponível, as propostas em andamento, os profissionais e demais atores que atuam diretamente com a problemática em questão e como isso repercute na qualidade dos serviços prestados. Essa temática recebe destaque neste estudo devido à significativa relevância do assunto, que precisa ser tratado com urgência e atenção. Na cena contemporânea, este se caracteriza como um fenômeno cada vez mais latente, com raízes e proporções ainda pouco conhecidas e, consequentemente, possui poucas discussões profundas e eficazes que materializem estratégias de enfrentamento e preservação dos direitos, influenciando de modo direto nas ações que objetivam seu enfrentamento. Partindo desse pressuposto, o estudo será dividido em cinco seções. Na introdução, se pautam os primeiros direcionamentos sobre a temática a ser tratada, justificativas, e as características da pesquisa. A introdução conta com uma subseção, construída para a apresentação dos direcionamentos metodológicos adotados para todo o trabalho. A segunda seção aborda de forma mais precisa os conceitos de violência, abuso e exploração sexual, os novos desenhos que possuem na contemporaneidade, algumas apropriações históricas do fenômeno e a violação de direitos que nele ocorre. Além disso, busca-se, nesta segunda seção, realizar um levantamento, ainda que breve, acerca do estado da arte na ótica da exploração sexual, com comentários sobre textos, obras e relatórios importantes já realizados sobre o tema no Brasil..

(20) 20. A terceira seção deste estudo traz a apresentação e caracterização do Sistema de Garantia de Direitos (SGD) em suas perspectivas de proteção social e os marcos legais com os quais está relacionado, porque é dentro desse sistema que a rede de enfrentamento à exploração sexual está situada. Na quarta seção, pretender-se-á tratar dos resultados e discussões obtidos no decorrer do estudo, bem como as características da rede de enfrentamento, as apreensões da pesquisa de campo, os mecanismos que a rede dispõe para lidar com o problema, diálogos e observações construídas no contexto do município de Natal/RN. Por fim, apresentam-se as considerações finais que concluem o trabalho, tecendo um breve resumo das reflexões e apropriações oriundas da pesquisa em sua totalidade, permitindo a sistematização e socialização de tais informações ao fim do trabalho.. 1.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS. Foi realizada uma pesquisa de cunho exploratório com o objetivo de embasar, ainda que empiricamente, um conhecimento mais crítico e aprofundado em relação à rede de enfrentamento à exploração sexual de crianças e adolescentes e a existência, ou não, de ações e políticas voltadas para lidar com a ocorrência de tais práticas exploratórias em nível municipal. Neste sentido, LAKATOS e MARCONI (1991, p.80) ressaltam que “a ciência é um. conjunto. de. conhecimentos. racionais,. certos. ou. prováveis,. obtidos. metodicamente, sistematizados e verificáveis, que fazem referência a objetos de uma mesma natureza.” O processo de construção do estudo contou com pesquisa bibliográfica e documental para que fossem observados aspectos como a exposição dos autores sobre o fenômeno da exploração sexual e as implicações da rede de enfrentamento em Natal/RN, sua composição, seus entraves e possibilidades diante das violações de direitos humanos e sociais, perspectivas de proteção social por meio das políticas, dentre outras questões complementares e pertinentes ao trabalho..

(21) 21. Além disso, com vistas ao incremento do estudo, foram realizas também pesquisas de campo, a partir de visitas institucionais e entrevistas do tipo semiestruturadas, direcionadas por um roteiro de questões abertas que possibilitaram respostas relacionadas ao cotidiano vivenciado e à demanda recebida por cada instituição, assim como suas formas de responder aos encaminhamentos recebidos. Esse processo de construção do conhecimento que alia vivências práticas e teorias que auxiliam na sua compreensão de forma qualificada é de suma relevância para o pesquisador em todos os níveis de sua formação. Assim, entende-se que teoria e metodologia devem caminhar sempre juntas, sendo indissociáveis, contando, também, com um conjunto de técnicas claro, coerente e elaborado para que seja capaz de dar encaminhamentos adequados para os impasses teóricos e os desafios oriundos das atividades práticas (MINAYO, 2001, p. 16). Participaram da pesquisa os profissionais representantes de instituições e serviços que integram a rede de promoção, proteção e defesa da criança e do adolescente e o próprio Sistema de Garantia de Direitos (SGD) no município de Natal/RN, ao qual a referida rede deve estar vinculada. Não houve critérios específicos ou previamente definidos para a escolha dos entrevistados, pois o interesse principal era a natureza das instituições e suas ações no que tange à exploração sexual. Todavia, os profissionais mais entrevistados, em geral, foram assistentes sociais e psicólogos, pois quanto ao tema tratado eram estes os profissionais que representavam as instituições visitadas e que se dispunham a responder mais claramente os questionamentos apresentados. Ao todo, foram realizadas oito entrevistas com representantes de instituições públicas do município, e também com algumas das integrantes do Terceiro Setor. A aproximação com os representantes das instituições impulsionou interações valiosas, objetivando a identificação do cenário social em que se insere a rede a ser caracterizada, onde se processa em larga escala a exploração sexual e as possíveis estratégias para o seu enfrentamento. Posteriormente foi realizada a análise do conteúdo dessas entrevistas a partir de sua transcrição para recolher e organizar de modo sistematizado, objetivo e claro os dados descritivos e indicadores relevantes para o incremento do estudo, através dos diálogos e da importância do conhecimento e vivências dos profissionais entrevistados (BARDIN, 2009)..

(22) 22. Inicialmente, não se pretendia que as instituições vinculadas ao Terceiro Setor fizessem parte das entrevistas e trabalho de campo, pois não se buscava a inserção da discussão acerca do Terceiro Setor e o Estado. Entretanto, ao iniciar o processo de entrevistas e diálogos com os profissionais, o Terceiro Setor passou a ser citado reiteradas vezes e com significativa relevância de sua atuação para a rede. Assim, identificou-se a necessidade de incluir instituições representantes do Terceiro Setor no município para possibilitar a apropriação do impacto de sua participação na rede a ser caracterizada. Conforme foi observado, existe um número vasto de organizações nãogovernamentais que atuam em Natal/RN envolvendo o trabalho com crianças e adolescentes. Foi feita, então, a opção de entrevistar a organização que trabalha com a exploração sexual especificamente, além de duas outras que atuam com casos emblemáticos envolvendo violações de direitos do segmento infanto-juvenil e com empoderamento feminino, respectivamente. Corrobora-se, então, com MINAYO (2001, p.14) quando afirma que “[...] não é apenas o investigador que dá sentido a seu trabalho intelectual, mas os seres humanos, os grupos e as sociedades dão significado e intencionalidade a suas ações e a suas construções.” Evidencia-se nesse quadro, a importância das descrições ofertadas pelos profissionais entrevistados acerca do seu cotidiano e espaços ocupacionais. A entrevista é um dos instrumentos mais flexíveis de coleta de dados e contribui muito com as ciências sociais, além de ser uma técnica bastante vantajosa para coletar informações frente à outros instrumentos, pois facilita a adaptação do entrevistador, esclarece significados e desenvolve a pesquisa (GIL, 1999). As entrevistas foram executadas com membros de instituições e serviços que, em geral, atendem toda a região metropolitana do município de Natal/RN. Contudo, há aquelas que têm sede em mais de um bairro da cidade, atuando de acordo com a distribuição das regiões administrativas e em bairros com fortes índices de vulnerabilidade. Isso fez com que fosse necessário que a pesquisa elegesse, também, uma das regiões administrativas para que a entrevista ocorresse com uma das instituições que representaria as demais. Foi eleito, então, o bairro de Ponta Negra como amostra e lócus de pesquisa, na zona sul de Natal/RN. Dados da Prefeitura Municipal de Natal/RN informam que o município está dividido em quatro regiões administrativas, sendo elas: Norte, Sul, Leste e Oeste..

(23) 23. Destas, aquela que apresenta menores índices de vulnerabilidade social é a zona sul, se comparada com as demais. Porém, alí está localizado um dos bairros que demonstra significativo contraponto entre as camadas sociais, entre ricos e pobres: o bairro de Ponta Negra, porque lá existe também a Vila de Ponta Negra. O referido bairro é considerado um dos bairros “ricos” de Natal/RN e a Vila de Ponta Negra, um local que concentra índices de pobreza, sendo o espaço mais empobrecido daquela região. Nesta localidade estão situados pontos e fluxos de exploração sexual, devido a essa diferenciação de poder aquisitivo, e por ser uma região que faz parte do litoral, com a chamada praia de Ponta Negra, assim como dispõe de bares, casas noturnas e muitos turistas, de modo que acaba sendo rota de oferta e demanda para práticas de exploração sexual. Vale ressaltar que o recorte de instituições da rede que foi utilizado nesta pesquisa é o que corresponde aos serviços socioassistenciais, de proteção e garantia de direitos porque estão mais diretamente ligados a questão da violência sexual em suas diversas modalidades e ao segmento infanto-juvenil como um dos mais afetados, bem como são os espaços que mais podem contribuir com os objetivos da pesquisa e os questionamentos. Dentre os espaços que foram conhecidos em Natal/RN3, está um dos Centros de Referência Especializada da Assistência Social (CREAS) do município, o de Ponta Negra. Os Centros de Referência constituem parte importante da rede de enfrentamento nas cidades que possuem esse serviço e atuam diretamente com a política de proteção social especial, situação em que se enquadra a questão da exploração sexual de crianças e adolescentes. Foram conhecidos também o Conselho Tutelar, no bairro de Ponta Negra, através de entrevista com uma conselheira tutelar, e o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA), a partir da participação em uma das reuniões do conselho. Os profissionais destes locais conhecem as demandas das famílias e dos jovens, realizam intervenções com vistas à garantia de direitos e buscam soluções para a superação dos problemas apresentados.. 3. O detalhamento do processo de entrevistas, bem como a caracterização das instituições que contribuíram com a pesquisa, será realizado na seção quatro. Para fins de procedimentos metodológicos será feito, aqui, apenas um breve levantamento da quantidade de entrevistas e justificativas para as escolhas dos espaços a serem visitados no decorrer do trabalho de campo..

(24) 24. Realizou-se entrevista com a delegada da DCA – Delegacia da Criança e do Adolescente, e com representante do CONSEC – Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente. É importante destacar que a DCA é a única delegacia especializada na criança e no adolescente no estado do Rio Grande do Norte, o que possibilitou à pesquisa a obtenção de informações sobre a rede a partir da percepção dos atores que atuam diretamente com os marcos legais, e a responsabilização dos sujeitos violadores. PLAN Internacional, CEDECA – Casa Renascer e Projeto ViraVida foram as organizações. não-governamentais,. no. âmbito. do. município. de. Natal/RN,. selecionadas para as entrevistas com instituições vinculadas ao terceiro setor. Como já relatado, estas foram escolhidas por serem consideradas três grandes organizações que atuam no segmento infanto-juvenil na cidade e por estarem direta ou indiretamente ligadas ao enfrentamento da violência sexual. No âmbito da pesquisa social, é necessária a utilização de parâmetros, métodos e técnicas para que possamos caminhar no conhecimento (MINAYO, 2001). Nesta direção, tem-se que, quanto à forma de abordagem, a pesquisa em questão será do tipo qualitativa, uma vez que se pode descrever e interpretar as informações coletadas com base na vivência do contexto institucional e diálogo com os profissionais, fortalecendo e incrementando a veracidade das constatações e discussões postas no decorrer do trabalho. Isso ocorre a partir de dados coletados que permitem a materialização do formato e andamento da rede a ser apresentada no estudo, além de possibilitar sua observância de modo mais subjetivo, conforme ressalta MINAYO (2001, p.13) “a pesquisa social é sempre tateante, mas, ao progredir, elabora critérios de orientação cada vez mais precisos.” O processo de construção de dados em torno da temática da exploração sexual é difícil e dotado de certa morosidade, o que intervém negativamente no esboço de estatísticas, haja vista que a exploração, apesar do conhecimento que temos de sua existência, não é um fenômeno facilmente visível na sociedade. Desse modo, os aspectos qualitativos acabam sendo privilegiados nos estudos desse tema, tendo mais a mostrar no que diz respeito a natureza das violações e da própria exploração sexual. Com isso, não se retira a importância dos dados quantitativos e a necessidade sempre latente de aprimorá-los, entretanto, também revelam o quanto pode ser.

(25) 25. subjetivo o universo qualitativo em torno da violência sexual, porque os dados obtidos podem construir e desconstruir observações da realidade, assim como apontam outras e novas questões sobre as quais ainda é necessário refletir. No que se refere à metodologia, este trabalho faz a opção pelo método críticodialético, onde se pretendeu-se descortinar a realidade do contexto de enfrentamento da exploração sexual de crianças e adolescentes através das instituições que compõem a rede existente em Natal/RN, analisando, com isso, as múltiplas determinações que cercam este objeto, buscando a sua essência para desmistificar concepções equivocadas e juízos de valor a partir de uma aproximação direta da rede e dos atores que dela fazem parte.. 2. EXPLORAÇÃO SEXUAL: CONCEITOS, APROPRIAÇÕES HISTÓRICAS E DIREITOS HUMANOS. 2.1 O PERCURSO HISTÓRICO DA EXPLORAÇÃO SEXUAL E SUA DIMENSÃO CONCEITUAL. As apropriações históricas em torno do fenômeno da exploração sexual de crianças e adolescentes enquanto ferramenta de submissão para auferir lucro são inúmeras,. ocorriam. e. ainda. persistem. em. variados. contextos. históricos,. contemporâneos ou não, contando sempre com novas roupagens, distintos atores sociais envolvidos, redes e mercados elaborados e subsidiados por técnicas que se reinventam na tentativa de empreender uma cooptação que é amparada pelo dinheiro e pelo poder, que se complementam neste espaço. No Brasil, a problemática da exploração sexual, segundo Libório (2004), passou a ter visibilidade de fato no início da década de 1990, com a realização de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que tinha como principal objetivo investigar os casos de prostituição infantil no território brasileiro. A partir deste trabalho, o tema passou a ser alvo da atenção tanto de pesquisadores quanto de determinadas organizações não-governamentais que atuavam na perspectiva da defesa e garantia de direitos do segmento infanto-juvenil no país..

(26) 26. A referida comissão expôs o quadro da exploração sexual que se tinha em diversos estados brasileiros. Como afirmam Silva e Dias (2014), essa CPI pode ser considerada emblemática no tocante à mobilização e divulgação do tema para toda a sociedade, aprimorando assim a compreensão do problema e buscando formas de enfrentamento, implantando projetos sociais de intervenção. Considerando o fato de que, no Brasil, as atenções para o problema da exploração sexual tiveram seu início mais expressivo apenas nos anos 1990, empreende-se que essa conjuntura histórica foi também um período no qual a visão conceitual que se tinha acerca da exploração sexual sofreu modificações, inclusive porque em 1990 foi criado o chamado Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), um marco legal de fundamental importância para o público infanto-juvenil no Brasil, no que tange à sua proteção e direitos. O ECA corresponde à Lei 8.069/1990 e é baseado no artigo 227 da nossa Constituição de 1988, que dispõe sobre:. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, CONSTITUIÇÃO FEDERAL DO BRASIL, 1988).. Ainda na direção dessa atenção dedicada às crianças e adolescentes no Brasil e na importância dos anos 1990 para a infância e adolescência no país, destaca-se que em 1992 foi criado o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA). Trata-se de um órgão permanente que integra a estrutura básica da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR), possui atuação e articulações em nível nacional e atua na promoção e defesa dos direitos de crianças e adolescentes, através da integração de profissionais, instituições, campanhas, acompanhamento, subsídios para a elaboração de legislações relativas ao tema, dentre outras atribuições4. Na mesma década, passaram a ser implantados os Conselhos Tutelares nos municípios brasileiros porque se viu a necessidade da disponibilidade de uma equipe profissional mais próxima da comunidade e que se constituísse como a “porta de 4. Para maiores informações, consultar site oficial da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR). Disponível em:<http://www.sdh.gov.br/sobre/participacao-social/conselhonacional-dos-direitos-da-crianca-e-do-adolescente-conanda>..

(27) 27. entrada” para a garantia de direitos, assim como para realizar os encaminhamentos necessários com vistas à responsabilização dos indivíduos quando os direitos são ameaçados ou violados. Cabe ainda mencionar um fato importante para o contexto da criança e do adolescente em âmbito internacional: a realização da Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, em 1989. Neste evento, a Assembleia Geral das Nações Unidas adotou as disposições firmadas durante a convenção como Carta Magna para as crianças de todo o mundo e, no ano seguinte, o documento foi oficializado como lei internacional. Segundo o UNICEF Brasil, esta convenção é o instrumento de direitos humanos mais aceito na história universal, chegando a ser ratificado por 193 países5. A ocorrência dos eventos citados conduziu o país a um processo de busca do desenho de um novo olhar para as suas crianças e adolescentes, a partir da proteção integral, da garantia e defesa dos seus direitos e da valorização de seu desenvolvimento. Esse novo paradigma que se abre para o âmbito da infância e adolescência no Brasil teve ampla influência desses eventos e discussões, assim como também criaram posturas e compromissos a serem realizados nos anos seguintes e que antes não adentravam na agenda pública de forma subjetiva como ocorreu nesse período. Desse modo, entende-se que os anos 1990 representam o início do enfrentamento e compreensão do problema da exploração sexual, com significativas evoluções conceituais e reflexões que serviram como pano de fundo para os embates posteriores relativos à proteção dos sujeitos envolvidos, os determinantes da exploração, seus direitos e tantas outras questões que pertencem a este cenário de lutas. Corrobora-se então com Faleiros (2000), ao tratar da relevância da década de 1990 para o incremento da compreensão e enfrentamento da exploração sexual e do mercado do sexo, bem como a dimensão do problema, sua complexidade, dentre outros. Segundo a autora, a conscientização gerada nesse momento fomentou um cenário de diversas mobilizações nacionais e internacionais, envolvendo atores e organizações governamentais e não governamentais, como, por exemplo, a. 5. Estas e outras informações mais detalhadas sobre a Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança em 1989, inclusive o documento oficial do evento, estão disponíveis no site do UNICEF Brasil <http://www.unicef.org/brazil/pt/resources_10120.htm>..

(28) 28. Organização Internacional do Trabalho (OIT), a Organização das Nações Unidas (ONU), Child Pornography and Trafficking of Children for Sexual Purpose (ECPAT) e outras. Essa referida conscientização e mobilização embasaram a organização de eventos como o “I Congresso Mundial Contra a Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes”, realizado em Estocolmo, em 1996. O Congresso foi promovido pela ECPAT6 e reuniu 122 países que construíram uma agenda de ações a serem cumpridas, da qual o Brasil foi um dos países signatários. O “II Congresso Mundial Contra a Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes” foi realizado em 2001 em Yokohama, no Japão, reunindo cerca de 136 países. Na ocasião, o Brasil apresentou os resultados obtidos a partir da agenda de ações com as quais se comprometeu no I Congresso, dentre elas a elaboração e publicação do Plano Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual Infanto-Juvenil, um instrumento legal importantíssimo para a defesa dos direitos desse segmento da população brasileira, e que havia sido aprovado em julho de 2000 pelo CONANDA. O Plano Nacional organiza propostas e decisões que foram fruto da realização massiva de articulações e mobilizações, de estratégias políticas que vigoravam desde a ocorrência do I Congresso. Dessa forma, o referido Plano “se consolida como um instrumento que traça as diretrizes para a política nacional de enfrentamento à violência sexual contra a criança e o adolescente” (SILVA e DIAS, 2014, p. 190). É válido destacar que, baseado nas diretrizes que o Plano Nacional coloca, os estados brasileiros passaram a se articular com vistas à construção dos planos em nível estadual também. O estado do Rio Grande do Norte já possui o seu plano sistematizado e disponível para consulta pública desde 2005. A partir das diretrizes metodológicas que o Plano Nacional coloca e também em consonância teórica com o artigo 86 do ECA7, em 2003 o governo federal elabora, junto à Secretaria de Direitos Humanos e organismos de cooperação internacional, o Programa de Ações Integradas e Referenciais de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes no Território Brasileiro, o PAIR. O programa conta com objetivos estratégicos definidos, como o de integrar as políticas construindo uma. 6. A ECPAT é uma rede internacional de organizações não governamentais que também possui associadas no Brasil, a ECPAT Brasil. 7 Art.86. A política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente far-se-á através de um conjunto articulado de ações governamentais e não-governamentais, da União, dos estados, do Distrito Federal, e dos municípios..

(29) 29. agenda comum de trabalho entre o governo, a sociedade e os organismos internacionais, desenvolvendo ações de proteção. Além disso, o PAIR prevê ações de organização, fortalecimento e integração dos serviços locais, com o objetivo de que os municípios construam políticas de proteção integral de crianças e adolescentes, contando com a participação social nesse processo. Inicialmente, o programa foi implementado apenas em poucos municípios brasileiros, mas ao longo dos anos outros municípios foram sendo introduzidos, inclusive Natal/RN. Até o ano de 2007, mais de 90 municípios do país já haviam sido inseridos. Como forma de reconhecimento e valorização do comprometimento do Brasil com a causa do enfrentamento da exploração sexual, o país foi convidado a sediar a terceira edição do Congresso Mundial Contra a Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes, realizado em 2008. A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) considera esta terceira edição do Congresso como sendo o maior evento já realizado no mundo sobre o tema, superando, inclusive, os dois primeiros que o antecederam. Chamava a atenção de diversos países o fato de o Brasil estar demonstrando, como prioridade em sua agenda de governo, o engajamento na luta contra a exploração sexual a favor dos direitos de crianças e adolescentes8. Este terceiro congresso realizado no Brasil foi articulado, juntamente com outras organizações, pela recém criada Comissão Intersetorial de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes. A Comissão foi instituída por decreto presidencial em 2007 e, segundo a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR), se configura como uma das estratégias do governo federal, que objetiva construir ações integradas para o enfrentamento da violência sexual cometida contra crianças e adolescentes. Essa Comissão é composta por ministérios, pela sociedade civil organizada e por organismos de cooperação internacional que se articulam para juntos transmitirem informações, sugestões e apoiarem as diversas ações de enfrentamento à violência sexual.. 8. Maiores informações sobre as edições do Congresso Mundial Contra a Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes, consultar os Anais da terceira edição do Congresso realizado no Brasil. Disponível em: <http://www.childhood.org.br/publicacao/anais-iii-congresso-mundial-deenfrentamento-da-exploracao-sexual-de-criancas-e-adolescentes>..

(30) 30. Na direção desses debates e estratégias que se voltam para a garantia de direitos e combate à violência foi criado o Dia 18 de Maio9. Como resultado de assídua mobilização e articulação de inúmeras instituições e atores, essa data representa o Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, firmado pela Lei Federal 9.970/00. Desde a sua criação, essa data foi sendo introduzida massificadamente no calendário dos Estados e municípios, fazendo parte da gestão como um todo e ganhando força a cada ano, chamando atenção para reflexões sobre o problema e trazendo contribuições ao fortalecimento da política de proteção em todos os âmbitos da federação. O envolvimento da gestão e demais atores sociais e políticos em torno da temática do enfrentamento da exploração sexual favoreceram um debate qualificado, uma evolução conceitual significativa, além da construção das agendas de luta e uma percepção menos estereotipada do fenômeno da exploração. Contudo, apesar disso, avaliar o problema em sua totalidade, suas ramificações, sua incidência real, dentre outros indicadores a serem desenhados, ainda é difícil. De acordo com Faleiros (2000), mesmo com tais avanços, é preciso avaliar a exploração de forma quantitativa, porque muito se fala do quanto ela atinge todos os continentes, envolve milhões de jovens, em sua grande maioria do sexo feminino, e que pertencem aos segmentos mais empobrecidos da sociedade. Acrescenta-se que, além dessas questões serem insuficientes para uma apreensão quantitativa e qualificada do problema em questão, pouco se tem tratado também sobre a rede de serviços para a proteção e o enfrentamento da exploração sexual de crianças e adolescentes, o que enfraquece o debate em torno da erradicação do fenômeno, a criação de políticas públicas e demais alternativas para frear o crescimento dessa atividade no país. Ao buscarmos tais reflexões e avanços em nível local, isto é, no que tange aos estados e municípios brasileiros, como é o caso das perspectivas deste estudo, que procura tratar do enfrentamento da exploração sexual em Natal/RN, observamos que fomentar o debate, construir dados estatísticos, realizar pesquisas e análises qualitativas e quantitativas, também passa por entraves, visto que a produção em. 9. O dia 18 de Maio foi escolhido como forma de um registro importante do crime ocorrido em 1973, que vitimou a garota Araceli e ficou impune, mais conhecido no país como o “Caso Araceli”. O crime aconteceu em Vitória/ES. Araceli era uma criança de oito anos que foi covardemente assassinada. A garota foi espancada, estuprada, drogada, morta e carbonizada por um grupo de jovens..

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