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4. PERSPECTIVAS DE PROTEÇÃO E ENFRENTAMENTO DA REDE EM

4.3 Desafios e possibilidades à consolidação de direitos para a infância e

Tendo caracterizado os serviços e o formato adquirido pela rede em Natal/RN, é de suma importância destacar aqui os principais aspectos, limitações e desafios identificados a partir dos diálogos e entrevistas com os profissionais em seus locais de trabalho, pois consistem em aspectos práticos da tarefa desafiadora que representa a materialização da proteção integral e da prioridade absoluta.

Sabe-se que toda essa discussão não se esgota neste item, mas trata-se de um compilado importante para a compreensão das falhas no Sistema de Garantia de Direitos, e da persistência da exploração sexual. Como reflexo disso temos, inclusive, inúmeras questões e fragilidades apontadas de forma recorrente no discurso de diversos profissionais entrevistados que vivenciam os rebatimentos disso no cotidiano da rede em Natal/RN e atribuem a tais aspectos o paradoxo na garantia de direitos que se tem com a vigência da exploração sexual e as violações.

Dentre os aspectos que são comuns ao discurso dos profissionais da rede está a noção de que há uma preocupante desvalorização do profissional, assim como a escassez de espaços de trabalho, precarização e grande rotatividade de profissionais na rede pública de serviços.

Isso pode ser observado em grande medida na área da assistência social, onde se concentra prioritariamente a rede da qual estamos tratando, seja pelo fato de que esta foi uma vertente da política pública negligenciada e secundarizada historicamente

em diversas questões, seja pelo movimento de contenção que vive o país atualmente. Essa é uma conjuntura que evidencia o fato de termos os serviços socioassistenciais de proteção e garantia de direitos em segundo plano, quando a sua priorização é primordial para mudanças no quadro da violação de direitos.

Em 2016, o município promoveu, por determinação do Ministério Público, um concurso público para o provimento de cargos na área da saúde e assistência social. Havia, anteriormente, uma grande quantidade de profissionais que atuavam na rede por meio de contratos, com vínculos profissionais frágeis e equipes que frequentemente eram transferidas para outros locais, evidenciando a veracidade das inquietações dos profissionais relativas à desvalorização, precarização, rotatividade de profissionais, como posto acima.

Essa rotatividade dificultava os encaminhamentos, o diálogo entre os profissionais e o próprio andamento da rede como um todo. Apesar dos ganhos obtidos com a realização do concurso, os entrevistados ainda relataram a insuficiência de outros profissionais e persistência de contratos em alguns espaços da rede.

Com o percurso de inserção na rede de atendimento para a pesquisa, foi possível perceber que, no que tange à esfera da assistência social em Natal/RN, o principal lócus de pesquisa para este trabalho, há uma questão política fortemente envolvida e, embora conflitos políticos sejam inerentes às políticas públicas, essa é uma questão que se considera importante relatar. Existe uma quantidade ainda relevante de cargos comissionados distribuídos nesta área no município, cargos de “confiança política” que se alteram com as mudanças de gestão a cada quatro anos e que, por sua vez, influenciam diretamente na forma como se dá a prestação de serviços no âmbito municipal, condicionando os profissionais às prioridades que consideram os gestores.

Notou-se, além disso, uma centralização muito forte da Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social em relação aos dados, o andamento e as características dos serviços dos espaços de assistência em Natal/RN. Uma simples visita para buscar dados gerais de atendimentos, quantitativo de casos e outras informações dessa natureza requer ofícios formalmente assinados pela então secretária municipal de assistência social, Ilzamar Pereira, e, na ausência dessa espécie de “autorização”, os profissionais ficam impedidos de fornecerem tais informações e dados.

Toda essa formalidade torna mais lento, ou até inviabiliza, o acesso a dados e instituições vinculados a essa secretaria, o que dificulta, sobretudo, as pesquisas

acadêmicas, comprometendo a busca pela construção de estudos que socializem informações e características subjetivas do município e que podem auxiliar no incremento das políticas, constituindo-se como mais um dos desafios aos quais está submetida a rede de atendimento.

Com o trabalho de campo, observou-se, também, a rede como uma paliativa “sequência de encaminhamentos” e revitimização dos sujeitos, não tendo uma instituição como referência, de modo que as instituições permanecem restritas às suas atribuições, com pouca comunicação e articulação com as demais. Ainda que consiga funcionar e executar suas ações, dando soluções que minimamente respondem às demandas recebidas, trata-se de uma rede ainda fechada.

Estando restritos às suas ações, não é possível observar, dentro da rede pública de serviços, ações práticas que pautem o empoderamento e o protagonismo juvenil, por exemplo, que são essenciais ao incremento da rede e de políticas para a juventude. Constatou-se que essa atribuição é transferida para o âmbito das organizações não-governamentais e tais questões estão distantes, na maioria das instituições públicas, que apenas soluciona, quando possível, as demandas encontradas ou realiza encaminhamentos.

A ideia de transformação dos sujeitos violados em protagonistas de novas histórias, de empoderá-los e buscar a ressignificação de suas trajetórias de vida, mudando suas perspectivas, é cada vez mais distanciada pela sequência de encaminhamentos empreendida no serviço público, na grande maioria de seus programas, instituições, ações e serviços.

As restrições e sequências de encaminhamentos são reflexos de uma secundarização na questão da doutrina da proteção integral e da noção de prioridade absoluta, assim como da violência sexual, refletindo no tratamento e atenção limitados que a rede oferta em Natal/RN, ainda que os marcos legais ressaltem uma prática diferenciada e mais agregadora. O município possui um Plano Municipal de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes que é extremamente antigo, desatualizado, e nem mesmo está disponível para consulta pública nos veículos de comunicação ligados ao município e à gestão.

Afirma-se que não é possível atuar positivamente na perspectiva de enfrentamento da violência, em suas variadas modalidades, quando até mesmo os elementos normativos dos quais dispomos não recebem a atenção necessária. Eles são os elementos que deveriam nortear as ações das políticas e práticas para que se

tenha legitimidade normativa também. Entretanto, isso não ocorre, como é observável na defasagem do Plano Municipal de Enfrentamento da Violência Sexual e na escassez de maior atenção e problematização de questões que coloquem os sujeitos violados como protagonistas.

Uma das consequências desse quadro é que, não havendo uma instituição de referência, os encaminhamentos são realizados em quantidades ainda maiores, fazendo com que o usuário passe por variadas instituições, discursando reiteradas vezes sobre uma situação que o constrange, ao passo em que nem todas as instituições tem de fato alternativas viáveis a oferecer-lhes diante de sua demanda, gerando a sucessão de encaminhamentos já referida.

Alguns profissionais entrevistados apontaram, inclusive, o fato de o problema da violência sexual ser culturalmente visto como sendo algo “menor”, no que diz respeito à gestão, às políticas públicas e à sociedade, recebendo, por isso, uma atenção de caráter secundário por parte do Estado, conforme se evidencia nas palavras de uma das entrevistadas:

Ficar só com a palavra dos profissionais não é suficiente, o município precisa oferecer alternativas pra a criança ou o adolescente que é atendido no serviço, e isso não acontece, infelizmente [...] Por isso, a exploração sexual é um dos maiores desafios que temos aqui no CREAS (Psicóloga do CREAS zona sul, 2016).

A abordagem da entrevistada situa-se na avaliação através da qual Dos Santos (2004) alerta para o fato de que o cenário de enfrentamento da exploração sexual teve conquistas importantes, mas que esse é um contexto que envolve muitas ideologias e interesses distintos, o que faz com que não seja tão simples quanto possa parecer. Muitas negociações são necessárias para dar visibilidade a questões que antes não recebiam essa atenção.

Sendo a exploração sexual um desafio a ser enfrentado, tem-se a relatar um aspecto importante e favorável do ponto de vista do combate ao fenômeno, que é o fato de os profissionais entrevistados terem o conhecimento não só conceitual da exploração, mas da expansão da prática no município, da natureza criminosa que cerca essa atividade e do tratamento tímido que ela recebe no território. Foi acentuada, em diversos momentos do diálogo com os entrevistados, a questão da

responsabilidade da rede de hotelaria, bares e restaurantes de Natal/RN na ocorrência da exploração sexual.

O olhar secundário empreendido contra a prática da exploração sexual está contido de forma direta no modo como o município lida com os determinantes dessa atividade, isto é, os condicionantes que conduzem crianças e adolescentes para a ótica da exploração e que são tratados de modo focalista.

É sabido que a conjuntura em que se dá a exploração envolve, dentre outras questões, as trocas financeiras e, em diversos casos, envolvem ainda a drogadição. Porém, quando buscamos a observância da contrapartida do município para rebater tais determinações, constatamos que o tratamento ofertado de natureza pública é extremamente precário e insuficiente.

No aspecto financeiro, a situação limita-se mais, porque há escassez de oportunidades distintas de emprego e renda para esses sujeitos que não sejam vinculadas a exploração sexual, afunilando suas perspectivas. Caracterizando esse cenário, uma das entrevistadas destaca:

Tudo que oferecemos para as nossas crianças e adolescentes é de resultado a médio e longo prazo, e ele está tendo um ganho a curtíssimo prazo, em uma sociedade que nos julga pelo que temos ou não [...] No fim, nós trabalhamos muito apagando o incêndio e esse é um problema grande. Tratamos do problema quando ele já tem uma dimensão muito grande, depois que ele já se instalou (Psicóloga do CREAS, 2016).

Percebe-se que existe um contexto de “necessidade” que foi relatado pela psicóloga, caracterizando a presença da desigualdade social inerente a esse processo em que as possibilidades de emprego e renda são suprimidas. Neste sentido, corrobora-se com Iamamoto (2001) ao apontar que o processo de venda da força de trabalho dos indivíduos para a satisfação de suas necessidades é dotado, também, da desigualdade social que está presente na sociedade capitalista e que não pode ser desvinculado da intervenção do Estado.

Os ganhos e trocas aos quais a psicóloga entrevistada se refere estão presentes também na conotação de “jogo sexual” que Azevedo e Guerra (1998) atribuem às práticas de violência sexual em suas diversas formas, estimulando sexualmente as vítimas e tirando proveito das mesmas para satisfação de um ou mais adultos.

A conselheira tutelar entrevistada reforça que a rede pública precisa fornecer um suporte maior e de longo prazo para prevenir a ocorrência da exploração, mas que não identifica ainda essa condição no serviço público:

Para não ser diferente, o adolescente entra nessa atividade levado pelo pensamento de que “se todo mundo faz, eu também faço” ou “todo mundo tem, eu também preciso ter”. Com isso, ele entende que se não tiver tal padrão será diferente ou rejeitado pelo grupo, não será aceito. São várias as questões que estão por trás da decisão de um jovem ou uma jovem que permite a exploração sexual [...] quando o adolescente está envolvido em uma situação como essa, por trás dela tem sempre uma história de vida familiar muito complexa, e os CREAS e CRAS precisavam realmente, assim como a própria Secretaria de Assistência Social, a Secretaria de Saúde, a Secretaria de Educação, enfim [...] dar suporte a essas famílias para evitar esse futuro acontecimento da exploração (Conselheira Tutelar da Zona Sul, 2016).

Dentre os condicionantes que existem por trás do envolvimento dos sujeitos com a exploração, pode-se citar a violência intrafamiliar apontada por Faleiros (1998) como uma importante dimensão de vulnerabilização de crianças e adolescentes e que pode, por sua vez, fragilizar os grupos familiares, somando-se ainda a pobreza, desemprego, e outros aspectos. O autor considera a violência sexual como sendo algo sistemático que objetiva o lucro, através de uma apropriação comercial dos corpos, envolvendo relações de opressão e mercantilização, favorecendo um mercado em torno disso. O contexto do “mercado negro” ao qual Faleiros (2004) se refere.

A mesma secundarização e precarização do serviço se verifica quando a assistente social do Projeto ViraVida, em Natal/RN, coloca que, nos últimos anos, a rede não tem sequer os 100 jovens pra encaminhar ao ViraVida na etapa de seleção do projeto. A demanda recebida atualmente pelo projeto é mais espontânea, pois ele já é conhecido no município e os jovens divulgam entre si a etapa de seleção. Assim, a demanda é efetuada mais de modo espontâneo do que propriamente pelos encaminhamentos feitos através da rede, conforme acentua a entrevistada:

Antigamente a rede era criticada porque se dizia que não havia um local adequado para onde encaminhar aquelas crianças e adolescentes que se envolviam com exploração sexual em Natal. Mas, há alguns anos, o ViraVida já existe aqui no município, e isso significa que agora eles têm para onde enviar esse público e mesmo assim continuam sem fazer esses encaminhamentos, porque o que vemos é

que a própria rede não tem a quantidade de jovens suficientes para mandar pro ViraVida. A demanda aqui é muito mais espontânea. Hoje em dia são poucos os encaminhamentos formais da rede (Assistente Social do Projeto ViraVida de Natal/RN, 2016).

As constatações da assistente social do projeto deixam claro que os casos relativos à exploração sexual não estão chegando aonde deveriam chegar, a rede não está tomando conhecimento da demanda de exploração que possui e, consequentemente, entende-se que o monitoramento do município está falhando quando se trata da exploração sexual. Dada essa falha no acompanhamento da exploração sexual, abre-se espaço para a persistência do que Faleiros e Faleiros (2001, p.20) destacam como sendo o “uso delituoso, delinquente, criminoso e inumano da sexualidade da criança e do adolescente.”

Além disso, outro agravante que a fala da entrevistada demonstra é o fato de que os jovens tomam conhecimento das poucas alternativas que o município oferece através de outros jovens que já tenham participado de etapas anteriores do ViraVida e que os convidam a participar, quando essa socialização, na realidade, deveria ser massiva para que fosse possível atingir o maior número de jovens envolvidos na exploração.

Muitos dos casos que chegam ao ViraVida, complementa a assistente social do projeto, são de jovens que nunca foram acompanhados ou atendidos por órgão nenhum. Ela conta que eles apenas procuram a instituição no período de inscrição para receberem o encaminhamento formal para o ViraVida, mas não porque necessariamente eram acompanhados e referenciados anteriormente pelas instituições, como o CRAS, o CREAS, o Conselho Tutelar, dentre outras e, sim, porque alguém os informou de que era preciso procurar tais locais para buscar uma solicitação formal para o projeto.

Ressalta-se, diante disso, que o fato de não serem acompanhados ou referenciados nestas instituições não significa que não tenham tido seus direitos violados, significa que houve lacunas onde a rede não tem conseguido chegar e, enquanto existirem espaços sobre os quais a rede não possui impacto algum, aqueles que já se encontram inseridos em atividades de exploração sexual poderão persistir na mesma violação por tempo indeterminado.

A baixa intersetorialidade da rede é uma das causas de tais lacunas, uma vez que, não tendo uma rede coesa, que dialogue constantemente e atue profundamente

em conjunto, não é possível chegar a todas as determinações que precisam conhecer, ocasionando as parcelas de jovens e famílias que a rede ainda não alcançou, além de políticas limitadas e não condizentes com a realidade vivenciada pelos sujeitos.

Há, portanto, uma fragilização dessa rede em sua estrutura, mas também no trabalho coeso. As instituições e serviços comunicam-se pouco, estão restritas cada uma em sua competência e os profissionais distanciam-se, o que dificulta, inclusive, a materialização de estratégias de enfrentamento que considere particularidades ainda desconhecidas pela rede.

Outro elemento importante desse contexto de fragilização é a ausência de um fluxo sólido dentro da rede, o que impede a política pública de funcionar de forma ampla e continuada. Para alguns profissionais, o fluxo existe e não é divulgado na rede, não é de conhecimento de todos os profissionais e serviços. Outros dizem que ele nem mesmo existe e que há a necessidade de criá-lo e estimular o seu fortalecimento.

A ausência desse fluxo contribui massivamente para as falhas no funcionamento da própria rede, além de influenciar no andamento das políticas já existentes, assim como na formulação de outras, haja vista que os elementos necessários à construção ou aprimoramento de uma política, para adequá-la às demandas identificadas, podem ser comprometidos com os desencontros que se criam nessa rede.

Os dados, as estatísticas e registros, por exemplo, não são produzidos com tanta frequência e, nem sempre, não são correspondentes. Isto é, quando essas informações existem de fato, porque, no caso da exploração sexual, não há tantos números que materializem a situação. As instituições têm suas estatísticas que não são socializadas com as demais ou com a sociedade civil. Não há um percentual comumente conhecido da exploração sexual em Natal/RN, os serviços possuem as suas estimativas, mas não há significativa socialização das mesmas, comprometendo a construção de uma visão ampliada do problema.

Nesta perspectiva, há ainda outro aspecto complexo a ser destacado quanto à capacitação continuada dos profissionais da rede em Natal/RN. Dada a complexidade de temas como a questão da exploração sexual, o trabalho infantil e tantos outros, os profissionais deveriam passar por ciclos de capacitações contínuos e regulares para que uma renovação do conhecimento e, consequentemente, da prática, ocorresse no município. Porém, o relato dos profissionais entrevistados revelou que essas

capacitações são esporádicas, que além da experiência adquirida no decorrer do cotidiano profissional, a rede não recebe capacitações com frequência.

Os profissionais não discutem profundamente sobre os temas com os quais trabalham, por vezes a sobrecarga de trabalho nas instituições não permite que processos de estudos da equipe, acerca de seus atendimentos e casos, sejam realizados. As discussões ficam em torno dos encaminhamentos e providências a serem tomadas diante das demandas recebidas. Além disso, alguns dos entrevistados relataram que nem sempre é possível acompanhar os desdobramentos que os casos sofrem após serem encaminhados para outros serviços, justamente pela comunicação deficiente e as restrições que existem de modo enraizado na rede.

Dificuldades estruturais e administrativas também são encontradas nos serviços do município e geram morosidade na atuação da rede. A exemplo disso, temos os atrasos nos laudos do Instituto Técnico-Científico de Polícia, o ITEP, que configuram um obstáculo para o andamento da rede. Há uma espera que chega a durar meses e, enquanto isso, a vítima do abuso ou exploração sexual permanece inserida na mesma realidade, sendo revitimizada, dificultando o rompimento dos chamados “ciclos de violência”.

Por outro lado, o município conta em larga escala com a atuação das organizações não-governamentais em diversos segmentos da atuação com crianças e adolescentes. Considera-se que, devido a essa presença forte de tais instituições no território, há uma desresponsabilização significativa da gestão municipal acerca de suprir as demandas do segmento infanto-juvenil que reside em Natal/RN, uma transferência dessa responsabilidade para as ONG’s.

Dessa forma, as organizações não-governamentais acabam por ter um papel fundamental dentro da rede em Natal/RN. Ao longo do processo de entrevistas, foi possível constatar que as ONG’s são bastante comprometidas com a sua atuação e com a rede, ocupando, ainda, espaços de discussão, resistência, defesa e aprimoramento da política pública municipal e estadual.

Essas organizações são uma parcela relevante da composição da rede. Sem a atuação das mesmas, a política de promoção, proteção e defesa de direitos sofreria grandes lacunas, pois elas atuam justamente nas deficiências das respostas dadas pelo Estado, nas demandas em que o Estado se ausenta.

No âmbito dessa ausência do Estado, está contida também a chamada “cultura do silêncio”, como é comumente denominada pelos profissionais da rede. Conforme

o Estado não oferece proteção adequada para as famílias e usuários, as denúncias em torno de práticas de violência sexual tornam-se restritas, haja vista que os sujeitos não se sentem encorajados a realizar denúncias dessa natureza porque temem