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CAPÍTULO IV. O ENQUADRAMENTO INSTITUCIONAL DOS BALDIOS

2. Actores e interacções institucionais na gestão dos baldios

2.1. Órgãos de Gestão

2.1.2. Assembleias de Compartes e Conselhos Directivos

Os restantes 26 baldios são hoje geridos por Conselhos Directivos (CD), criados para o efeito em diferentes momentos na história. Enquanto a maior parte dos CD existentes dentro do PNPG são de formação recente, alguns são quase tão antigos quanto a legislação que os criou (DL nº 39/76 e DL nº 40/76). Fafião e Pincães no concelho de Montalegre, e Ermida e Vilar da Veiga, no concelho de Terras do Bouro, formaram CD logo a seguir à criação da legislação, em 1976/1977. Os restantes CD formaram-se nas últimas duas décadas, regra geral com fins muito definidos.

O conceito de conselho directivo (CD) foi introduzido pelo DL nº 39/76 que determinava a forma como as comunidades se deveriam organizar para que lhes fossem retornados os baldios. Esta concepção foi beber às ideias de cooperativa e associação que proliferavam naquela época revolucionária em que a actuação conjunta do povo era incentivada como contraposição a um passado recente de supremacia de um Estado autocrático. A estrutura concebida para o órgão de gestão, composta pelo CD, com cinco membros30, pela Assembleia de Compartes, representada pela mesa da Assembleia através do seu presidente e dois secretários, e pela comissão de fiscalização,

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correspondia no fundo à estrutura de qualquer associação. Enquanto no DL nº39/76 a organização dos compartes visava a reapropriação dos recursos e direitos das comunidades serranas, negligenciadas durante o Estado Novo, na actualidade a decisão de formar o CD vai além dos princípios de justiça e democracia. Efectivamente são vários os incentivos à formação dos CD nos tempos que correm, todos pretendendo salvaguardar direitos e benefícios já existentes, ou garantir o acesso a novos. Por exemplo, alterações ocorridas na estrutura administrativa e política local e também novas possibilidades de financiamento levaram a que algumas comunidades cujos baldios que se encontravam sob a gestão de Juntas de Freguesia optassem por assumir a gestão do baldio.

Efectivamente, alterações à organização da administração local, designadamente ao nível das Junta de Freguesia, motivaram a alteração dos órgãos de gestão, o que nalguns casos implicou também a alteração dos limites das propriedades comunitárias. Em freguesias que abrangem mais do que uma aldeia ou povoação, é frequente o órgão administrativo da Junta de Freguesia incluir representantes de cada aldeia. Quando nem todas as povoações estão representadas na equipa eleita, cria-se um tipo de situação que levou à desintegração de um ou outro baldio, em que a aldeia não incluída na equipa da Junta, receando ser excluída dos propósitos do colectivo, quis salvaguardar os seus recursos. Outra situação, e talvez com um impacto mais generalizado sobre a divisão dos baldios, foi a união de freguesias que resultou da reforma administrativa ocorrida em 2013. Receando que os recursos até ali usados prioritariamente por uma determinada povoação/comunidade passassem a ser obrigatoriamente partilhados com todos os habitantes da nova (união de) freguesia, algumas comunidades preferiram assumir a gestão da sua área de baldio e candidatar-se autonomamente às medidas agroambientais. Ao mesmo tempo, como vimos e aprofundaremos adiante, o sucesso de determinadas medidas de apoio incluídas nos apoios comunitários da UE introduziu algumas alterações à gestão dos baldios, principalmente do ponto de vista estrutural.

Em paralelo, uns anos antes outra iniciativa motivara a formação de CD, designadamente o DL nº179/99 de 21 de Maio, através do qual o Estado incentivava os gestores de áreas florestais, privados ou públicos, a formarem equipas de sapadores florestais, garantindo para isso alguns apoios à manutenção das equipas. Quando a equipa é entregue à Junta de Freguesia, cada baldio pertencente a essa freguesia usufrui apenas de uma parte do tempo da mesma. Se as comunidades pretendessem uma equipa

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que trabalhasse na sua área de baldio em regime de exclusividade, teriam que alterar a escala da gestão para o nível da comunidade, organizando-se para isso. Em Cabreiro, por exemplo, o CD surgiu desta vontade,

[O CD foi formado] foi por causa dos sapadores florestais e para também… eu na altura também era presidente da Junta de Freguesia e também achava que o baldio deve ser um órgão autónomo, não tem que estar ligado à Junta, tem que ser coisas separadas, o baldio é uma coisa e a Junta de Freguesia é outra, foi mais a pensar em separar as águas (AC1).

Pelas mesmas razões, algumas comunidades que partilhavam o uso e gestão dos seus baldios, optaram por se separar e formar órgãos de gestão autónomos. Assim, num espaço de tempo relativamente curto formaram-se vários CD, principalmente no início do século XXI. Os últimos foram os de Cabana Maior (2012) e Lamas de Mouro (2013). O incentivo à formação de equipas de sapadores, a introdução de programas de financiamento à gestão de áreas protegidas directamente dirigidos aos órgãos gestores dos baldios, e por fim a união de freguesias, foram os vectores principais das alterações verificadas e que levaram a que nos últimos cerca de 17 anos se registasse um aumento do número de CD na área do PNPG.

Perante a constatação de que existem razões bem definidas para a recente organização dos compartes, e que vão além da vontade de gerir os seus próprios recursos, há quem afirme que os CD se encontram algo corrompidos, partindo-se do princípio de que a sua formação serve interesses muito particulares que envolvem o acesso a benefícios. Diz por exemplo o presidente do CD de Cela e Sirvoselo:

Os CD já não têm bem a mesma essência do que era antigamente. Porque antigamente o fito era mesmo para gerir... 90% dos CD que existem [hoje] nasceram porquê? Foi porque as Juntas de Freguesia tinham um determinado peso e são eleitas politicamente e quando às vezes acontecia uma eleição ao contrário formava-se um CD com a outra facção. Acaba por haver aqui uma mistura porque depois a Junta de Freguesia gere o dinheiro do FFF, do Governo, e os CD acabam por gerir as receitas dos baldios. Hoje há baldios que gerem muita mais receita do que gerem as Juntas de Freguesia, [...] portanto, já não é aquela ingenuidade que havia antigamente. Há aqui uma evolução um bocado... a maior parte [dos CD], 80%, daqui tem 10 anos, como o nosso e outros [...]

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portanto a existência deles já não é bem a mesma com que existiu aqui há 30 anos atrás (MCS1).

Não obstante, existe agora necessariamente um maior envolvimento das populações na gestão do baldio e toda uma dinâmica em torno da gestão, ainda que em alguns casos consista em pouco mais do que a implementação das medidas agroambientais da UE. Como consequência, o número de baldios sob gestão de juntas de Freguesia é hoje diminuto no território do PNPG.

Não obstante, ainda que certamente incentive a gestão comunitária e a responsabilização das comunidades, a organização dos compartes em CD não se traduz necessariamente num reforço da acção colectiva para a formulação de projectos e sua adopção. Na prática, em muitos casos o CD acaba por assumir grande parte das responsabilidades da gestão, centralizando em grande medida as decisões no seu presidente. Esta situação parece derivar, por um lado, da falta de participação da comunidade nos processos de decisão, e por outro da forma como a equipa do CD perspectiva o exercício da sua função e o seu lugar na comunidade. Embora a lei preveja duas assembleias obrigatórias, uma para apresentação de contas e a outra para planeamento do trabalho anual, estas acabam por ter um papel formal, sobretudo para aprovação das propostas do CD pelos presentes, que raramente constituem um número representativo da comunidade. Propostas pensadas em conjunto e discutidas em assembleia não fazem parte do modus operandi destes órgãos. Diz o presidente do CD do baldio de Fafião:

Temos duas [reuniões da Assembleia] obrigatórias. Uma é a 31 de Março quando se apresentam as contas, e uma até 31 de Dezembro onde se faz o planeamento. O que tu esperas gastar e onde é que pensas investir, e coisas desse género [...].As pessoas aí [na reunião de planeamento] é que são informadas do que é que se vai fazer no ano, mas as coisas já estão delineadas. Tipo, nesta parte aqui vai-se limpar forrageira ou vai-se limpar um caminho não sei onde, também se informa [...] poderá alterar-se, se for uma coisa que as pessoas achem que é melhor aqui do que ali [...] (MF1).

Ressalta a forma como o presidente se refere ao trabalho do CD como sendo da sua autoria e responsabilidade exclusivas. Isto é assumido também pela comunidade, e é sobre ele, presidente, que as eventuais críticas recaem, assim como os elogios. Portanto, a noção de gestão comunitária encontra-se hoje muito associada à confirmação ou não

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das opções de gestão da equipa eleita, ou mesmo apenas do seu presidente. Igualmente, em Tourém, o presidente do CD parece assumir um papel central na apresentação de propostas e ainda monitorização do funcionamento e uso do baldio. Em contrapartida, a tomada de decisão parece seguir os trâmites esperados num processo democrático:

[Os corpos] são três: é o conselho fiscal, é a assembleia de compartes e é o CD, é a direcção do CD… normalmente toca sempre ao mesmo, que é o presidente da direcção… que é a regra… é isso que acontece nas câmaras, é isso que acontece nas juntas, é sempre a mesma pessoa que faz isso, neste caso é o presidente do CD, ou o presidente da Junta, ou… porque também quando são muitas pessoas a mandar também não dá muito certo… é melhor… as decisões sim, têm que ser tomadas por todos em assembleia, juntamo-nos todos toma-se a decisão de limpar acolá e toma-se a responsabilidade de limpar… de fazer uma queimada em tal sítio, sim senhor a decisão é tomada mas depois é executada, neste caso pelos sapadores e, ou eu ou outro membro do CD, vai lá… (MT1).

A premissa de que “quando são muitas pessoas a mandar não dá muito certo” parece comandar e reflecte-se na forma como a responsabilidade, assim como a liberdade de acção ou o poder de decisão, acabam por recair sobre o presidente do CD. Desta forma, a acção do CD apoia-se no tempo e trabalho do seu presidente e mais um ou outro elemento mais activo, cujas propostas e acção são validadas (ou não) pela Assembleia. O desinteresse demonstrado pela população em participar nas reuniões pode ser explicado por situações com natureza oposta. Se em algumas situações é a confiança depositada no CD (ou no seu presidente) que contextualiza a falta de participação, noutros casos é a resignação perante o facto de que nada se pode fazer para influenciar o que já vai decidido para as assembleias. Este último caso foi-nos transmitido em várias conversas informais e entrevistas durante a segunda fase de campo estabelecida em duas aldeias e será analisado em maior detalhe noutro capítulo. Perante essa convicção e/ou desagrado, ou perante as críticas que mais ou menos frequentemente acabam por surgir, mais do que um presidente de CD recorre a uma frase que parece assumir um lugar-comum entre os elementos que já passaram pela direcção dos baldios: “Nem Deus agradou a todos, quanto mais nós”. Contudo, é de realçar o efeito dissuasor sobre a acção dos compartes.

As pessoas vêm aqui quando são chamadas, raramente [intervêm na gestão do baldio] … raramente. Falam comigo no caminho, na rua, não importa. [...]

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organizamos [as assembleias] e fazem-se. E aparecemos, aparecem sempre os mesmos, uns 10, 11, é a assembleia e um ou dois mais [...] é como te digo, falam comigo onde me encontram. Mas faço tudo correctamente… ‘então vais à assembleia, à reunião’ ‘não, falo contigo depois, não preciso de nada hoje, depois quando precisar falo contigo’… e pronto, o que é que eu hei-de fazer… ‘então está bem, tu é que sabes’ (AGav1).

Verifica-se de facto um misto de confiança no trabalho do presidente do CD e de falta de vontade de perder tempo com situações que, quer se participe quer não, vão ser tratadas e resolvidas. Ao mesmo tempo, ressalta a ideia de que a participação na assembleia coincide com algum interesse particular ( “[...] não preciso de nada hoje, depois quando precisar falo contigo”). No baldio de Sezelhe, diz o presidente do CD:

[Estou no CD] aí há 18 anos. Não, eu vou ser sincero, nem se opõem, no dia das coisas nem fazem listas nem… também já fui secretário da Junta oito anos ou doze. Eu tenho uma coisa comigo que é que eu sou daqueles que ao fim do ano digo quanto se recebeu e digo quanto se gastou à frente das pessoas todas. Essas pessoas sabem bem, deve ser por isso que confiam… (MS1).

A verdade é que se passam mandatos sem que haja renovação dos órgãos de gestão, embora seguindo os procedimentos democráticos formais. Falando apenas com quem está no cargo, infere-se naturalmente que a população está de acordo com o trabalho desenvolvido e que essa é a razão de ser da sua permanência. Contudo, aprofundando, a complexidade da situação fica evidente, deixando a claro pelo menos parte das minudências que suportam a teia de relações numa aldeia serrana. De uma maneira ou de outra, parece poder afirmar-se que o facto de o CD assumir a fronte no processo de decisão tem um efeito dissuasor sobre a participação da comunidade, ao mesmo tempo que a oposição se manifesta em conversas pelas ruas da aldeia e cafés. As demonstrações de oposição face ao trabalho do CD tanto podem ser sinal de um conflito latente que vai além da situação específica, como de algum desacordo face ao trabalho desenvolvido, mas sobretudo parecem evidenciar uma dinâmica inerente ao funcionamento da comunidade, na qual esta se sustenta. Efectivamente, o princípio de que os conflitos são parte estrutural da interacção, assumindo-se mesmo como um dos motores do processo de evolução social, parece ganhar aqui sentido. Nesta perspectiva, a sua inexistência, ao invés de constituir um indicador de paz social, poderá sim indiciar indiferença.

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Assim, no que respeita à participação dos compartes nos processos democráticos de gestão, constata-se que independentemente da maior ou menor ligação ou dependência do monte e do tipo de órgão gestor, as comunidades são pouco assíduas e participativas nos processos de discussão e decisão. Na generalidade dos baldios, por muito dinâmica que seja a acção local através do CD da Junta de Freguesia, de associações de proprietários ou de associações de desenvolvimento local, as presenças nas assembleias ordinárias reduzem-se, muito frequentemente, à equipa de gestão.

O cenário altera-se quando a reunião tem um carácter extraordinário para discussão de qualquer questão específica que diga respeito a elementos e acções definidas. Nestes casos é de esperar, além dos elementos do CD e restantes órgãos da direcção, pelo menos a presença das pessoas directamente interessadas. Diz o presidente do CD do baldio de Sistelo,

Isso é complicado, qualquer assembleia, tanto a dos compartes, como as de freguesia como as assembleias municipais, só são concorridas se houver uma matéria de interesses, se não, não são. Portanto nós temos dificuldade… [...] Muitas vezes temos dificuldade em fazer reuniões (ASi1).

Contudo, em situações particulares a assembleia pode tornar-se muito participada, como se percebe no discurso do presidente do CD do baldio de Entre- Ambos-os-Rios e da Associação Foral que gere o Foral de Ermida, Froufe e Lourido:

[O pessoal é] pouco interveniente, [é] mais na Foral. Mesmo assim, quando tivemos agora uma reunião em Junho... não, Maio, por causa dos problemas que apareceram agora com a redução das áreas de pastagem e que isso tinha implicações nas candidaturas relacionadas com a pastorícia e os efectivos e tudo o mais, isso criou aí um alvoroço e alteraram as regras da afectação, digamos assim, da área comunitária para as candidaturas e pronto, tivemos de tomar alguma posição e tivemos uma reunião bastante participada na Foral, no baldio menos, muito menos, as pessoas estão um bocado desligadas, só se houver assim algum alarme… (PE1).

Embora esta ideia da fraca participação da comunidade seja comum à maioria dos baldios, em Fafião, o presidente do CD do baldio revela uma visão mais optimista justificada por uma população mais jovem e participativa, mesmo no que respeita às assembleias:

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Mas o pessoal ainda vai aparecendo [nas assembleias]. Muita gente que se interessa… e aqui tem uma coisa boa, que tem muitos jovens, durante a semana até nem estão cá quase nenhuns, tem uns no Porto, tem outros em Lisboa, tem muitos em Braga, e ao fim de semana volta toda a gente para aqui. Aqui o pessoal, esta malta nova gosta disto, esta aldeia vai viver muitos anos. Por exemplo, temos um em Lisboa na Marinha que sempre que pode ao fim de semana vem cá, e não era qualquer pessoa que fazia isso… também já foi presidente do Conselho Directivo (MF1).

Nesta aldeia existe de facto uma dinâmica associada à população mais jovem, até aos 30-40 anos de idade que, embora muitos tenham saído para estudar e trabalhar, mantêm uma relação de proximidade com o local. Mais do que isso, a preocupação com o desenvolvimento e bem-estar locais parece enquadrar-se dentro das prioridades de muitos destes membros mais jovens.

As assembleias para as eleições dos órgãos de gestão assumem um carácter particular, no que respeita o nível de participação da comunidade. Esta situação parece poder atribuir-se por um lado ao incentivo que as equipas candidatas à Direcção exercem sobre as populações para que participem nas eleições, e por outro ao facto de esta reunião ser muitas vezes agendada para o período de vinda dos emigrantes, precisamente para fomentar uma participação mais alargada. Esta questão leva-nos a uma outra que gera controvérsia aos mais variados níveis, do nacional ao local, e que se prende na definição de comparte, ou de utilizador legítimo do baldio, que define também o direito de voto. Em regiões afectadas pela saída de grande parte da população, a emigração faz parte da realidade e inscreve-se nas dinâmicas actuais das comunidades como um traço cultural. O calendário anual é dividido também pela movimentação da população emigrante que determina, em última análise, a programação de actividades e cerimónias. E se sua a importância para a manutenção das comunidades se pode generalizar ao conjunto das aldeias, a forma como é encarada a sua participação nos processos de decisão da aldeia difere entre povoações.

O caderno tem 470 e poucos compartes, mas nós temos mais de 60% da população emigrada, portanto os emigrantes fazem parte da, são considerados compartes. Um emigrante, é assim, desde sempre que foi considerado… por mim, desde que comecei a gerir os baldios, os emigrantes estão recenseados, podem-se deslocar a votar em actos eleitorais como se podem deslocar para

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participar numa assembleia de compartes. Estão no estrangeiro, ou que estão em Lisboa, ou que estão no Porto, ou que estão não sei onde, ou em Viana do Castelo. Os emigrantes não são pessoas que percam os seus direitos só porque estão ausentes, na questão dos baldios… porque eles têm a sua residência fixa, têm os seus bens na freguesia, têm toda a sua vida ali, eles de um momento para o outro podem ser obrigados a regressar e têm aqui a sua vida (ACm1).

Além deste ex-presidente do CD e da Junta de Freguesia, ele próprio emigrado em tempos durante largos anos, entre as 30 unidades de baldio existentes no PNPG, existe mais quem defenda que os emigrantes devem poder participar nas decisões e discussões acerca do presente e do futuro da aldeia. Contudo, há também quem se oponha, fundamentando-se na ausência destas pessoas ao longo do ano inteiro, o que invalidaria que os emigrantes pudessem ser encarados como compartes no sentido completo do termo. De acordo com esta visão, comparte será quem habita no local e estabelece com o baldio uma relação activa de uso e gestão. Quanto à inscrição no caderno eleitoral e à existência de um caderno de recenseamento de compartes, aqui as coisas confundem-se. Em alguns baldios, estar inscrito no caderno eleitoral da freguesia parece ser assumido como um pré-requisito obrigatório. Noutros, qualquer pessoa que chegue e se estabeleça na comunidade, após um tempo determinado (e.g., de seis meses) passa a ser considerada comparte, sem necessidade de ser natural ou lá recenseado. A quantidade de critérios inscritos numa ou duas frases do presidente do CD de Covelães, até algo contraditórios entre si, demonstra a confusão que parece existir hoje associada