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CAPÍTULO IV. O ENQUADRAMENTO INSTITUCIONAL DOS BALDIOS

2. Actores e interacções institucionais na gestão dos baldios

2.3 A Questão da Cogestão

Para se organizarem e constituírem os órgãos de gestão, os compartes poderiam manter o Estado como cogestor do baldio, integrando na equipa do CD um elemento do Ministério respectivo. Neste caso, a entidade estatal beneficiaria de 40% do valor total da venda de madeira de povoamentos plantados pelo Estado, e de 20% das receitas de povoamentos provenientes de regeneração natural ou já existentes na altura da florestação. Em autogestão, a divisão das receitas só se faria quando estas tivessem origem em povoamentos plantados pelo Estado, situação em que este receberia 30% (artigo 15º do DL nº 39/76 de 19 de Janeiro). Na prática, nos baldios do PNPG que estão em cogestão os 40% são assumidos sem diferenciação entre povoamentos florestais. Segundo um técnico do ICNF que trabalha directamente com os órgãos de gestão dos baldios:

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[...] quando é na b) há uma prática do ICN, que foi um bocado dos colegas florestais, que dizem que como há outro tipo de investimentos lá… nós temos de pensar que os sapadores os 35 000 euros são pagos pelo ICN, por isso têm sempre apoio… pronto e há a teoria que é 40% sempre (ICNF).

Contudo, fazendo uma leitura do decreto-lei (DL nº 8, de 9 de Janeiro de 2017) que hoje regula a criação das equipas de sapadores florestais, apercebemo-nos que a parte paga pelo Estado corresponde no fundo ao pagamento do período em que a equipa se encontra ao serviço…do Estado. De acordo com o decreto existe um período de 110 dias por ano em que o Estado pode contar com a exclusividade das equipas para que efectuem serviço público. Além disso, “aquando da execução de ações de vigilância armada, primeira intervenção em incêndios florestais, apoio a operações de rescaldo e vigilância ativa pós-rescaldo, a equipa de sapadores fica exclusivamente adstrita à realização dessas ações” (artigo 17º, nº 2). No fundo trata-se de uma partilha equilibrada de benefícios e de custos, entre a entidade responsável pela implementação do Programa que opera a nível nacional, e a entidade responsável pela propriedade comunitária. Neste contexto, é também o ICNF que garante a continuidade da formação das equipas. Mas no que respeita a manutenção das equipas os custos são efectivamente partilhados uma vez que os benefícios também o são, como fica claro no artigo 19º, ponto 1 “A concessão de apoio ao funcionamento das equipas de sapadores florestais reveste a forma de subsídio a fundo perdido e tem como contrapartida a prestação de serviço público”. De acordo com os compartes a quantia que lhes cabe iguala ou muitas vezes excede o valor garantido pelo Estado sendo que, tal como qualquer entidade que assuma a contratação de uma equipa, de acordo com o artigo 18º alínea b, estes devem “suportar as despesas decorrentes da contratação dos sapadores florestais, incluindo salários, encargos sociais e seguro de acidentes de trabalho, as despesas de funcionamento e as de enquadramento técnico da equipa”. Desta maneira, se é verdade que a partilha facilita o acesso do CD à equipa, não é inteiramente verdade que se trate de um “investimento no Parque” ou que constitua uma relação exclusiva com os baldios. Na verdade o referido decreto garante o apoio do Estado a todos os proprietários elegíveis, desde os CD dos baldios às autarquias, ou cooperativas e associações reconhecidas pelo ICNF (artigo 9º e artigo 19º do DL nº 8/2017 de 1 de Setembro).

No intuito de salvaguardar a gestão da floresta, as comunidades optaram na sua maioria pela cogestão com os Serviços Florestais do Estado. Nesta modalidade, estes

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ficariam responsáveis pela gestão da floresta, sendo as transacções reportadas aos compartes e sendo-lhes entregue a parte que lhes cabia. Esta era a expectativa das comunidades ao assumirem essa relação com o Estado. Dadas as escolhas efectuadas na altura e desde então, hoje existe uma variedade de situações e de tensões a este respeito. A possibilidade de alteração da modalidade de gestão assumida quando o CD foi formado está consagrada na lei. Contudo, esse foi um procedimento raro. Além dos três baldios que se encontram em autogestão desde há décadas (Fafião e Ermida e o monte aforado em Campo do Gerês), na zona do território do PNPG nenhum outro baldio assumiu essa alteração; contudo, nos últimos tempos vem-se assistindo ao aumento do número de baldios que expressam essa vontade, e inclusive ao incentivo por parte de associações que trabalham com os órgãos de gestão dos baldios do Parque, para que cessem formalmente a colaboração com o Estado. No PNPG, pelo menos dois (Pitões das Júnias e Pincães) dos 24 CD de baldios em cogestão já formalizaram o pedido, encontrando-se a aguardar resolução. Em Pitões das Júnias,

Ainda estamos em cogestão mas já temos o pedido feito para a autogestão… não temos outra hipótese não é… aliás eu não vejo aqui… os Serviços Florestais a mim nunca… não me dizem nada, aqui no território, dizem-me só no sentido de ter uma equipa de sapadores… (MPi1).

Também para o presidente do CD do baldio de Pincães, a autogestão é já uma necessidade, face à forma como as coisas têm decorrido:

[...] melhoraria porque faríamos o acompanhamento contínuo ao povoamento e as necessidades que ele tivesse, íamos a fazê-las a tempo e horas, está a perceber [...] e depois ficávamos com a receita toda, e aí já dá para investir (MPin1). Entre os restantes baldios, vários mostraram vontade de efectivar o fim da cogestão, não por ansiarem pela gestão autónoma, mas sim por serem confrontados com a alegada inércia de um Estado que continua a arrecadar uma parte considerável das receitas da floresta que efectivamente não gere. Como referido, a actuação do actual ICNF, no que se refere à gestão florestal, reduz-se à marcação dos pinheiros para abate e à organização da venda do material lenhoso, frequentemente criticada pelos compartes por ser mal negociada. Diz o presidente do CD do baldio de Sistelo:

[...] ainda temos de estar a pedir para eles virem ver as madeiras, para vir marcar, e para vender mal vendida, que vendem mal vendida, levam muito

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tempo a pagar [...] é uma muito má gestão, não tem princípios, não tem meios, não tem fim, não sabem o que andam a fazer. Portanto se fossemos nós a vender a madeira vendíamos muito melhor. Pagávamos… se fossemos nós dávamos mais rápido o dinheiro. (ASi1).

Em Sezelhe,

[...] só estamos a perder por estarmos em cogestão. [...]. Eu já me estive a…, já disse a um engenheiro para me mandar os documentos para ver o que eles diziam, ainda não me deu resposta. Assim que me der resposta isso é logo, porque assim estamos… assim faça conta que estamos a produzir e 40% vão para o Estado, praticamente sem produzir nada (MS1).

Nos casos em autogestão, a colaboração do Estado reduz-se às questões que lhe dizem respeito como gestor da área protegida e do território como um todo. No PNPG, os baldios de Fafião e da Ermida e o monte aforado do Campo do Gerês não têm qualquer colaboração pré-estabelecida com o Estado, podendo evidentemente colaborar pontualmente em projectos. A decisão sobre a venda da madeira é feita pelo CD, com assentimento da Assembleia de Compartes, quando muito com uma participação do ICNF na selecção das árvores a abater. Segundo o presidente do CD de Fafião, este não se encontra obrigado a dividir receitas com o ICNF. Nas suas palavras:

Nós somos dos poucos conselhos directivos, não sei se há mais alguém, que estamos na alínea a), os outros estão na alínea b), estão em cogestão com o Parque, com o ICN… e nós fazemos, por exemplo, a madeira marcamos e vendemos, não precisamos que o parque venha marcar e que depois pagam ao ICN, e o ICN é que paga o dinheiro aos conselhos directivos, a nós não, é directamente, nós é que fazemos essa gestão… (MF1).

Um técnico do ICNF corrobora esta relação:

[...] há dois baldios que estão numa alínea diferente, estão na alínea b), que não tem… a), peço desculpa… [...]. Então quem gere são eles. Nós só vamos vendo, mas quem faz autos de marca e tudo… com a nossa autorização, temos de ver se está bem feito ou não… (ICNF).

Contudo, apesar disso e de o actual presidente do CD referir que não existe divisão de receitas da floresta, desde 1976 a lei, confere ao Estado 30% das receitas originadas em floresta por ele plantada, alegando hoje o investimento feito há 50 a 80 anos atrás.

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O crescente número de pedidos de rescisão da relação de cogestão tem deixado a claro a ineficácia que lhe é associada. Contudo, a morosidade do processo e o estabelecimento de valores proibitivos de ressarcimento ao Estado têm demovido os baldios que requereram a rescisão, como foi o caso de Sistelo: “ [...] eu já tentei [passar para a autogestão] mas isso é muito complicado. Eles exigem muito dinheiro, querem fazer avaliações, querem receber [...] ” (ASi1). Em 2016/2017, os dois baldios do PNPG que submeteram o pedido de término da cogestão (os de Pitões das Júnias e Pincães), aguardavam ainda a resposta. Em Sistelo, o presidente do CD refere ter iniciado o processo mas ter sido demovido, sobretudo pelas quantias requeridas para compensação ao Estado. Esta questão tem gerado alguma controvérsia e o Decreto-Lei nº 165/2015, que pretendia regulamentar “a formalização da transferência para os compartes da administração do baldio em regime de associação e da compensação devida no termo daquela administração” (DL nº 165/2015 de 17 de Agosto), acabou por ser revogado, cessando vigência em Fevereiro de 2016. Acerca da regulamentação proposta, o anterior presidente do CD do baldio de Cabana Maior comenta simplesmente, “ [...] pois, possivelmente queriam que lhes pagássemos as sementeiras que fizeram há 100 anos atrás [RISOS] … É muito dinheiro, é muito dinheiro…” (ACm1). De facto previa-se no documento o ressarcimento do Estado pelo investimento feito, tendo em conta as estruturas actualmente existentes no baldio e os povoamentos florestais plantados entre 1938 e 1968, o que se torna ainda mais contestável face à alegada desresponsabilização do ICNF na gestão do património florestal deixado pelo Estado nos baldios. Face à dificuldade sentida pelos compartes em reclamar e exercer os seus direitos, e face também ao coincidente alheamento do ICNF no seu baldio, em Pincães considerava-se seriamente passar a actuar no território como se estivesse já em gestão autónoma.

Ainda que a possibilidade de autogestão animasse grande parte dos CD em cogestão, o receio de virem a perder certos benefícios tornou-os cautelosos. A possível influência da exclusão do Estado do órgão de gestão sobre o lugar do baldio na política de apoios suscitou desde logo alguma retracção. Punha-se a hipótese de condicionamento dos baldios em autogestão no acesso ao financiamento das medidas agroambientais, que estaria associado à cogestão. Esse receio está evidente por exemplo no discurso do presidente do CD de Outeiro, Montalegre:

Eles [no Secretariado dos Baldios] falaram já nisso [de assumirmos a autogestão do baldio], propuseram, numa reunião que tivemos… eu não sei, nós aqui para

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rendimento do nosso baldio, para nós gerirmos isso, só se houver outro subsídio. O subsídio que nos dá o Estado também manda não é [...]. Se não se perderem a gente com isso já pode funcionar. Agora se disserem assim “vocês tomam conta do baldio, têm uma equipa de sapadores, têm que ter rentabilidade da floresta e disto para pagar e ter lucro”, nós não… aqui a nossa parte não dá porque é uma coisa fraca não é… é mais pastoreio do que floresta [...] mesmo que se plantasse floresta para o futuro quando é que ela chega a dar o rendimento? (MO1).

Também no baldio de Sezelhe

Autogestão, autogestão… é isso que lhe disse há bocado, que ando a pensar nessa… deixar o Estado de parte… só que há aí uma coisa que ainda quero saber… é que nós ao deixarmos o Estado de parte também não sabemos se nos vão cortar os subsídios que temos [...]. (MS1).

O incentivo à autogestão dos baldios tem vindo de vários lados, incluindo o Secretariado dos Baldios de Trás-Os-Montes e Alto Douro. Em alguns baldios, ouve-se dizer que o próprio ICNF estaria a motivar os compartes, facilitando o processo. De facto, a ausência do ICNF na gestão dos recursos naturais ecoa em vários meios e contextos. Ainda assim, em Outeiro como noutros, a falta de recursos directos com valor de mercado, como a floresta de pinheiro, associada à receada perda de acesso aos apoios à gestão, acentuam a desconfiança num futuro de gestão autónoma.

Na prática, não existe fundamento para este receio. Todos os baldios do PNPG actualmente em autogestão são contemplados pelos apoios do Estado e da UE à gestão, nos mesmos termos dos baldios em cogestão. Parece assim existir algum desconhecimento no que se refere aos contornos da aplicação da lei dos baldios e das medidas agroambientais. Por outro lado, existem casos que, tendo conhecimento desses contornos, consideram ainda assim proveitoso manter a cogestão, uma vez que prezam o facto de não terem as responsabilidades ainda assumidas pelo ICNF (marcação do desbaste de árvores e negociação da venda), mantendo 60% das receitas. Um elemento da mesa da Assembleia de Compartes de Travassos do Rio e actual presidente da Junta de Freguesia esclarece:

Nós não sairíamos da cogestão com o Estado porque o benefício não é… [...]. Nós temos técnicos do ICNF a… por exemplo, quando o pinheiro seca eles vêm ver porque é que seca. Temos, pouco agora, mas temos algum acompanhamento

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[...], há sítios em que são os técnicos que vão marcar quais são os pinheiros a abater. (MTR2).

O presidente do CD do baldio de Cela e Sirvoselo argumenta do mesmo modo:

Eles [o ICNF] recebem e depois dão-nos a nossa parte… é 60%. São eles que cuidam, foram eles que tomaram a iniciativa de plantar, ou de cuidar [...] eles têm de ter a preocupação de gerir a questão da doença dos pinheiros, isso não tem lucro não é, isso só dá prejuízo [...] isso nesse caso são eles, fui eu que os avisei mas são eles que o estão a fazer, portanto... [...] quem tiver muita floresta compensa-lhe estar em autogestão, agora nós se calhar até não temos muito prejuízo (MCS1).

Note-se que, apesar de efectivamente não reconhecerem um serviço público consistente na região, os nossos entrevistados atribuem um papel fundamental aos técnicos presentes, particularmente aqueles que integram a Estrutura Local de Apoio à implementação das ITI. Assim, se ao nível da instituição ICNF/PNPG se pode afirmar um distanciamento generalizado, ao nível dos técnicos as referências são em geral em forma de louvor, evidenciando-se ao mesmo tempo o carácter individual desse bom desempenho. Diz o presidente do CD do baldio de Britelo,

[...] esse é o engenheiro do Parque, muito boa pessoa, é uma belíssima pessoa, está em Braga, está. Uma belíssima pessoa. E o Carlos Jorge também é uma belíssima pessoa, faz parte dos serviços… dos antigos serviços florestais, que acabaram… faz parte do Parque. São umas belíssimas pessoas, tenho umas boas relações sempre com eles (PB1).

Ou em Cabana Maior,

[...] se perguntar em qualquer aldeia às pessoas idosas se se lembram do engenheiro Oliveira vão-lhe dizer “era uma bondade de pessoa”… era um ser humano 100%, sei lá, carinhoso, amigo das pessoas [...] A engenheira Maria do Carmo…, ela é a responsável… ela está em Braga, ela é que é a responsável máxima pela gestão [...] O engenheiro Célio Silva é excelente, tenho uma relação muitíssimo boa com ele, mas tanto um como o outro são pessoas 100%, tanto como seres humanos, como como profissionais, excelentes. A engenheira foi sempre, além de uma técnica… de uma engenheira digna do cargo que lhe foi

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confiado, é um ser humano extraordinário, muita dedicação, muito respeito, muita delicadeza, são pessoas do melhor que se podia encontrar (ACm1).

No que se refere directamente à gestão dos baldios e aos desígnios das autoridades locais face àquelas áreas, em particular à possibilidade de as autarquias assumirem a cogestão, de acordo com a informação recolhida essa vontade foi parcialmente demonstrada em dois municípios. Diz-se parcialmente porque a proposta pretendia abranger apenas a gestão das áreas florestais, face à alegada falência do Estado nesse campo. De acordo com os compartes, o município de Montalegre, e também de Ponte da Barca, avançou com a proposta de assumir o papel do Estado central na cogestão dos baldios, situação em que os CD deveriam anteriormente pôr fim à actual (e histórica) colaboração com o ICNF, assumindo a gestão autónoma do seu baldio. Em seguida seria então estabelecida a parceria com a Câmara Municipal, que assumiria a gestão da floresta, tomando parte igualmente nas receitas. A melhoria que se antevia nessa relação baseia-se sobretudo na expectativa de uma efectiva participação da entidade municipal na gestão, algo que, como vimos, a maioria dos CD considera que não acontece com o ICNF. Se em Montalegre a proposta foi bem recebida pelos presidentes do CD, já em Ponte da Barca foi vista com grande desconfiança. Por exemplo, em Germil (Ponte da Barca),

Isso nota-se que há um grande interesse em as câmaras, algumas câmaras, e até a nossa também já mostrou interesse há algum tempo atrás, de tomarem conta dos baldios portanto [...] As populações não aceitariam, eu pela minha parte não ia aceitar [...] As Câmaras Municipais, e a de Ponte da Barca também estava de acordo, através da Comissão Inter-Municipal, mostraram-se, digamos, interessadas, se os baldios não tinham gestão, gerir… Já se sabe porquê não é? [...] Segundo se ouve, e eu ouvi isto numa reunião que tivemos com a ACEB [Associação para a Cooperação Entre Baldios] que já aqui vai há 3 anos atrás, foi-nos informado que as Câmaras pronto, tinham interesses nisso e que tinham já empresas para [...] era para a plantação de eucaliptos [...]. E também me foi dito que aqui há poucos meses atrás, numa reunião da Comissão Inter-Municipal o presidente da Câmara de Ponte de Lima desvalorizou completamente os presidentes dos CD dos baldios, que o que era bom era as Câmaras gerirem (PG1).

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Em Montalegre, alguns dos CD abordados pela autarquia mostraram-se favoráveis a essa alteração, na medida em que, na sua perspectiva, não perderiam o valorizado apoio na gestão e ao mesmo tempo estariam a contribuir para que as receitas dessa gestão se mantivessem na região, para financiarem benefícios locais. Por exemplo, no baldio de Sezelhe, diz o presidente do CD:

Se fosse a Câmara que nos plantasse no lugar do Estado, se nós nos desvinculássemos do Estado, quando fosse no corte, os 40% que iriam para o Estado iam para a Câmara… não é? E era melhor que fosse para a Câmara, que eu preferia fazer essa parceria com a Câmara do que pôr no Estado… porque esses 40%... já não será na minha vida, mas preferia que esses 40% ficassem aqui na Câmara Municipal de Montalegre, se não fossem para Sezelhe podia ser para outra aldeia ao lado ou para fazer outros benefícios no concelho (MS1). Assim, face à hipótese de cogestão com as Câmaras Municipais, numa perspectiva realça-se a possibilidade de as Comissões Inter-Municipais virem a apropriar-se do património das comunidades, entregando-o aos interesses de terceiros, ao passo que na outra se valoriza a retenção local dos benefícios. Qualquer dos desfechos é verosímil, algo que dependerá em última análise do carácter dos actores envolvidos e das relações entre eles. No primeiro caso, parece também existir alguma influência da ACEB, patente na forma como é canalizada a informação. A distância institucional a que se encontram estas aldeias do governo central leva a que grande parte da sua actividade seja guiada, e a informação canalizada, por associações que ali se estabelecem para desenvolver esse trabalho de proximidade. Contudo, raramente essas entidades se encontram isentas no cenário político e económico nacional.