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Assim, o novo exame deverá ser feito em laboratório dis- dis-tinto, pois envolve direito personalíssimo

O nobre desembargador do TJSC, Victor Ferreira, no

jul-gamento da apelação cível, n. 2011.060599-0, decidiu que:

“RELATÓRIO

J. G. B., representado por sua genitora M. A. B., ingressou com Ação de Investigação de Paternidade contra F. A. A. Alegou que foi concebido no período em que sua mãe viveu maritalmente com o Réu. Requereu a procedência do pedi-do, inclusive para condenação dele ao pagamento de pensão alimentícia no valor de 20% dos seus rendimentos.

Apesar de citado, o Requerido não apresentou contestação (fl. 28). Por se tratar de direitos indisponíveis, o MM. Juiz determinou a realização de exame de DNA (fl. 31).

O laudo concluiu pela exclusão da paternidade (fls. 46 a 48).

O Autor requereu novo exame (fls. 53 a 60).

A realização de nova prova técnica foi indeferida, e o pe-dido julgado improcedente (fls. 66 a 68).

Irresignado, interpôs apelação. Repisou as alegações ex-pendidas na inicial, às quais acrescentou que, diante da falibilidade do exame, seria necessária a realização de outro para se ter a certeza do resultado (fls. 71 a 77).

Apesar de intimado, o Apelado não apresentou contrar-razões (fl. 87).

VOTO

1 O art. 130 do Código de Processo Civil prevê que “caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar as provas necessárias à instrução do processo, indeferindo as diligências inúteis ou meramente protelatórias”.

Estabelecida essa premissa, tem-se que o exame de DNA não pode ser tido como uma verdade insofismável.

De fato, a despeito de esse exame ser considerado uma das poucas provas seguras nas ações negatórias ou de investigação de paternidade, não se pode olvidar que efetivamente existe uma possibilidade, ainda que remota, de erro no resultado.

Deve-se levar em conta, ainda, o fato de que a mãe do Apelante afirma que à época da concepção do infante convi-via e mantinha relações exclusivamente com o Apelado, com o qual teria inclusive uma filha mais velha, circuns-tâncias que fazem gerar dúvida quanto ao resultado do exame, sendo necessária a busca da verdade real.

Recomendável, pois, uma segunda análise.

Nesse sentido é a orientação do professor de Medicina Legal da Universidade Federal de Santa Catarina Zulmar Vieira Coutinho, que, questionado sobre a possibilidade de uma falsa exclusão de paternidade com o método do DNA, asseverou:

Sim, com certeza absoluta. Nos procedimentos técnicos, aparentemente simples, já detalhados no capítulo 2, podem ocorrer problemas técnicos, cuja interpretação pode re-sultar em uma falsa exclusão de paternidade. Descartando a possível troca de frascos acidental ou intencional, são relatados em livros especializados os seguintes possíveis erros para as três técnicas:

a) Na etapa de desnaturação, na transformação da cadeia dupla em cadeia simples, são necessários, no mínimo, tem-peratura e tempo adequados. Caso não ocorram as con-dições ideais necessárias, as cadeias simples se hibridizam (juntam) novamente por completo ou parcialmente, ge-rando o mesmo DNA e dificultando a ação das sondas ou marcadores, podendo gerar falsas bandas de exclusão. b) No momento de hibridização, é necessário, no mínimo, tempo específico para as sondas atuarem, comprimento e sequência das sondas adequadas, pois variações da tem-peratura podem acarretar uniões incompletas das sondas ou uniões inespecíficas das sondas com outras sequências inespecíficas, podendo gerar falsas bandas de exclusão.

c) Mutações genéticas pontuais no DNA causadas por infecções (virais?), doenças hereditárias, tumores (?) ou desconhecidas podem eliminar o sítio de ação das enzimas de restrição que fragmentam o DNA. Isso gera fragmentos de tamanhos diferentes do que deveriam ser, resultando na falta de uma banda ou originando falsa(s) banda(s) ou bandas mais intensas, ou seja, falsas bandas de exclusão. Questiona-se a mutação das próprias sondas, assim como alterações das enzimas na formação de falsas bandas. d) Na etapa de eletroforese, pode ocorrer o aparecimento de bandas extras devido à contaminação de DNA não humano (bacteriano), de DNA oriundo de uma transfusão sanguínea ou fragmentação incompleta do DNA pela enzima de restrição. Dúvidas em relação à altura e à to-nalidade das bandas podem ocorrer, e variações mínimas podem ser imperceptíveis, inclusive com os aparelhos automatizados. Bandas de um mesmo tamanho podem correr de forma diferente devido ao excesso de sais, con-taminações e outras desconhecidas e fragmentos pequenos demais podem ser imperceptíveis, o que gera dificuldade ou erros de leitura. Além disso, bandas várias vezes mais intensas podem estar relacionadas com oncogenes. As técnicas automatizadas ou digitalizadas mais recentes utilizam modelos matemáticos estatísticos, ainda não total-mente perfeitos, porque as variáveis que surgem são, aos poucos, incluídas nos dados. Ou seja, o erro na leitura das bandas pode ocorrer com os ditos aparelhos automa-tizados porque os procedimentos técnicos acima descritos, na prática, continuam os mesmos.

e) Eventuais falhas ainda desconhecidas.

f) Extra-oficialmente, dizem que alguns laboratórios uti-lizam metade dos reagentes para realizarem mais exames com um só kit e obterem mais lucro. Na década de setenta, era comum esse procedimento com alguns exames da rotina laboratorial, pois havia certa segurança. E com o DNA, é possível? (Exames de DNA: Probabilidade de falsas exclusões e inclusões: 100%? Florianópolis: OAB/SC Editora, 2006. p. 40 a 42).

A questão é por demais delicada e envolve direito persona-líssimo, o que recomenda a realização de um novo exame. Em decorrência, voto por se dar provimento ao recurso, para desconstituir a sentença e para que as partes se sub-metam a novo exame de DNA, em outro laboratório. Considerando-se que o Autor/Apelante é beneficiário de assistência judiciária, necessário que a nova perícia seja agendada pelo Juízo a quo, e realizada em um dos labora-tórios conveniados.”

O entendimento jurisprudencial do TJSC, é favorável aos

pedidos do recorrente dessa peça.

“Apelação cível. Ação de investigação de paternidade. Exame de DNA que a afastou. Possibilidade de erro. Novo exame recomendável.

Recurso conhecido e provido.”

(TJSC – Apelação Cível n. 2011.060599-0. Relator: Des. Victor Ferreira. Data: 19/12/2011).

DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer o provimento do recurso para