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Observa-se que, o registro civil do apelante passará a ter a seguinte redação:

• Nome da descendente (antes): ...;

• Nome da descendente (depois): ...;

• Nome do genitor: ...;

• Nome da genitora: ..., entre outras

forma-lidades.

Diante dos fatos narrados, os apelantes objetivam a

cas-sação da sentença monocrática, baseado no artigo 515, § 3º, do

Código de Processo Civil.

“Art. 515. A apelação devolverá ao tribunal o conheci-mento da matéria impugnada.

§ 3º. Nos casos de extinção do processo sem julgamento do mérito (art. 267), o tribunal pode julgar desde logo a lide, se a causa versar questão exclusivamente de direito e estiver em condições de imediato julgamento.”

O nobre desembargador do TJSC, Jaime Luiz Vicari, no

julgamento da apelação cível, n. 2010.014974-3, decidiu que:

“RELATÓRIO

P. E. R. e M. M. M. da S., em 14 de agosto de 2009, ajui-zaram ação de reconhecimento de paternidade consensual alegando, em suma, que a autora somente teve registrado na sua certidão de nascimento o nome de sua mãe.

Relatou a autora ser maior e capaz, bem como que sua mãe está residindo nos Estados Unidos da América, o que torna muito difícil o contato entre elas.

Afirmaram, também, que, depois de muitos anos, os autores encontraram-se, ocasião em que o pai manifestou o desejo de registrar a autora como sua legítima descendente.

Relataram que o Cartório de Registro Civil negou-se a efetuar o registro, ao argumento de que ele somente po-deria ser feito na presença dos dois genitores, razão pela qual requereram o reconhecimento da paternidade de M. M. M. da S. no registro de nascimento de P. E. R., passando ela a se chamar P. E. R. M. da S..

O Ministério Público opinou pela remessa do feito à Vara de Registros Públicos (fls. 16-17).

Na sentença (fls. 19-21), o Dr. Rodolfo C. R. S. Tridapalli extinguiu o feito com base no artigo 267, inciso VI, do Código de Processo Civil, por entender ausente interesse processual, já que o pedido poderia ser formulado admi-nistrativamente no Cartório de Registro Civil.

Os vencidos apelaram (fls. 23-25) aduzindo, em resumo, que o Juízo a quo não se ateve ao argumento de que houve a negativa do Cartório de Registro Civil em proceder ao reconhecimento da paternidade, impedimento inclusive que ensejou o ajuizamento da presente demanda, pelo que requereram seja a sentença reformada, com o conhecimento e o provimento do apelo.

O Ministério Público, em primeiro grau, manifestou-se pela reforma da sentença (fls. 27-29).

Intimada a Procuradoria-Geral de Justiça, o Dr. Paulo Ro-berto de Carvalho Roberge opinou por conhecer do apelo e provê-lo (fls. 35-37).

Os autos vieram conclusos para julgamento. Este é o relatório.

VOTO

O que os autores, ora apelantes, pretendem é o reconheci-mento consensual da paternidade de M. M. M. da S. no registro civil de P. E. R..

O Magistrado a quo entendeu que o pleito deveria se fazer perante o Cartório de Registro Civil, motivo por que a causa padeceria de interesse processual.

A sentença merece ser cassada e, com base no artigo 515, § 3º, do Código de Processo Civil, o apelo é conhecido e provido.

Preenchidos os requisitos extrínsecos e intrínsecos de admissibilidade recursal, o apelo é conhecido.

Dos autos se extrai a comunhão de vontades da descendente e de seu genitor, ambos maiores e capazes.

Ora, é claro o texto do artigo 1º da Lei n. 8.560, de 29 de dezembro de 1992, que regula a investigação de pa-ternidade de filiação. Aliás, trata-se do teor constante do artigo 1.609 do Código Civil de 2002:

Art. 1°. O reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento é irrevogável e será feito:

I - no registro de nascimento;

II - por escritura pública ou escrito particular, a ser ar-quivado em cartório;

III - por testamento, ainda que incidentalmente mani-festado;

IV - por manifestação expressa e direta perante o juiz, ainda que o reconhecimento não haja sido o objeto único e principal do ato que o contém.

Não bastasse a possibilidade expressamente prevista na lei, ruma nesse sentido a doutrina de Sílvio de Salvo Venosa:

Tradicionalmente, no sistema do Código Civil de 1916, a ação de investigação de paternidade, típica ação de estado, era promovida pelo filho, ou se respectivo representante legal, contra o indigitado pai. A Lei n. 8.560/92 [...] assi-milando tendência do direito comparado, introduziu em nosso ordenamento nova modalidade de investigação de paternidade, com iniciativa atribuída ao juiz, que po-derá ocorrer quando do assento de nascimento do infante constar apenas o nome da mãe e for indicado o presumido pai. Qualquer que seja a modalidade de reconhecimento, porém, seus efeitos são idênticos.

[...] O reconhecimento é ato unilateral, porque gera efeitos pela simples manifestação de vontade do declarante. Não depende de concordância, salvo com relação ao maior de idade, de vez que o art. 1.614 do vigente Código, assim como o art. 4º da Lei n. 8.560/92, exige seu consentimento (Direito civil: direito de família. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 239, sublinha-se).

E complementa:

O escrito particular pode redundar em expresso reco-nhecimento. Pode ser formalizado em uma simples de-claração ou missiva, por exemplo, mas com a finalidade precípua de reconhecimento. É evidente que o escrito particular, menos formal, fica mais sujeito às vicissitudes da dúvida e da anulabilidade.

[...] O reconhecimento por instrumento particular deve também identificar e qualificar as pessoas do declarante e do filho. O documento particular será levado ao registro civil para averbação, onde ficará arquivado (art. 29, § 1º, da Lei dos Registros Públicos (op. cit., p. 243).

Ademais, o artigo 26 do Estatuto da Criança e do Ado-lescente assevera que:

Os filhos havidos fora do casamento poderão ser reconhe-cidos pelos pais, conjunta ou separadamente, no próprio termo de nascimento, por testamento, mediante escritura ou outro documento público, qualquer que seja a origem da filiação (original sem destaques).

In casu, é inegável que o provimento jurisdicional pode ser enquadrado na expressão “outro documento público”. Sob o mesmo rumo, vale salientar que se encontra pre-servado o bem jurídico de maior relevo, no caso, o direito de a apelante ter o registro civil do seu genitor e ascendentes paternos.

Ao arremate, é da jurisprudência deste Tribunal:

“O reconhecimento voluntário da filiação, regulado pela Lei n. 8.560/1992 e reproduzido pelo art. 1.609 do Código Civil

de 2002, pressupõe a manifestação de vontade de quem se imputa a paternidade” (Ap. Cív. n. 2008.035230-5, de La-ges, rel. Des. Joel Dias Figueira Júnior, j. em 16-12-2010). Em assim sendo, a sentença é cassada e, com base no artigo 515, § 3º, do Código de Processo Civil, o apelo conhecido e provido, pelo que deve constar do registro civil de nascimento de P. E. R., no campo relativo ao pai, o nome de M. M. M. da S..

No tocante aos avós paternos, devem constar os nomes de M. M. da S. e M. M. A. M. da S..

Ademais, a apelante passa a assinar P. E. R. M. da S.. Após o trânsito em julgado, retornem os autos ao Juízo a quo, que oficiará ao cartório de registro civil, para a devida inserção.

Ex positis, vota-se por cassar a sentença e, com base no artigo 515, § 3º, do Código de Processo Civil, conhecer do apelo e provê-lo.

Este é o voto.”

O entendimento jurisprudencial do TJSC, é favorável aos