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3 REVISÃO DE LITERATURA

3.3 ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA CRIANÇA INSTITUCIONALIZADA: A

Reconhecidamente, as crianças em idade pré-escolar, que vivenciam a experiência de institucionalização, pré-escolas ou creches, possuem um perfil de saúde demarcado por peculiaridades epidemiológicas, dentre elas os maiores riscos: de adoecimento por doenças transmissíveis; violência institucional ou negligência; além dos possíveis riscos para o desenvolvimento cognitivo e comportamental, decorrente da sobrecarga de trabalho vivenciada pelos profissionais no cotidiano das instituições (EICKMANN; et al., 2009; SANTOS; FERRIANI, 2009; SANTOS; et al., 2009; BÓGUS; et al., 2007; NESTI; GOLDBAUM, 2007).

Na perspectiva da assistência a criança institucionalizada, na literatura, é possível encontrar o desenvolvimento de ações que buscam manejar e/ou reduzir esses fatores de risco

aos quais as crianças estão expostas. Rezende (2004) definiu uma proposta de cuidados a crianças em creches e pré-escolas, buscando a superação dos determinantes sócios históricos brasileiros. Essa proposta, a ser aplicada pela instituição, compreendeu como pontos chaves a adaptação da criança e familiares à instituição, alimentação, sono, repouso, prevenção de acidentes e doenças, e interação entre crianças e adultos.

Nessa proposta foi evidenciada a importância do enfermeiro, no cuidado de crianças em creches e pré-escolas, salientando que a atuação desses profissionais pode estar atrelada a propostas específicas para a situação da criança em instituições de educação. Numa perspectiva intersetorial e interdisciplinar de articulação de saberes que visem o desenvolvimento da criança em todas as suas potencialidades (REZENDE, 2004).

Contudo, garantir uma assistência à saúde satisfatoriamente articulada à educação, requer não apenas a participação de um profissional de saúde, mas de toda uma equipe que busque estar inserida na instituição para uma atuação conjunta a educadores e família. A atuação dessa equipe necessita considerar, tanto o processo de crescimento e desenvolvimento da criança, quanto à articulação às instituições responsáveis pelo cuidado, uma vez que essas crianças estão sujeitas a diversos agravos e morbidades decorrentes de fatores ambientais e pessoais (ARAÚJO; PEREIRA, 2009).

O estudo de Araújo e Pereira (2009) constitui mais uma estratégia, exitosa, de possibilidade de inserção de profissionais de saúde nas instituições de educação infantil. Através de um projeto de extensão, utilizando-se do histórico de enfermagem buscou identificar as necessidades de saúde das crianças e suas famílias, a fim de elaborar um plano de ações em saúde a ser desenvolvido na creche.

Algumas outras experiências denotam a inserção de equipes de saúde, na promoção a saúde em instituições infantis, sendo estas de caráter privado como no estudo de Gonçalves (2008) realizado em um centro infantil particular que recebia recursos financeiros do Tribunal de Justiça do Ceará. Nesta experiência, as ações de promoção da saúde eram integradas desde o projeto pedagógico e foram desenvolvidas por uma equipe multidisciplinar (fonoaudiólogo, dentista, médico, enfermeiro, pedagogos).

Essas experiências constituem-se em ações que seriam ideais, mas que não condizem com a realidade enfrentada no cotidiano das instituições públicas, que ainda vivenciam a falta de articulação com os serviços de saúde e enfrentam as carências emanadas das precárias condições de vida da população e das estruturas ainda inadequadas das instituições.

No contexto familiar, outro fator a ser observado decorre das necessidades sociais das famílias, e que implicam em demandas as instituições infantis, são as privações e o sofrimento

pelos quais passam essas famílias para suprir as necessidades de higiene, dentre outras necessidades básicas da criança. Essas dificuldades enfrentadas pela família para os cuidados adequados de higiene nem sempre são identificadas pelos profissionais da saúde (REMOR; et al., 2009). Por conseguinte, as instituições de educação infantil exercem um papel que ultrapassa a dimensão educativa envolvendo também a assistência social e a promoção da saúde da criança, ao possibilitar um espaço que promova hábitos de higiene, alimentação saudável e estímulos à formação da cidadania da criança, permitindo assim que a mãe/família possa trabalhar e tentar melhorar suas condições sociais, durante o período que a criança está na instituição.

Nesse sentido, é necessário considerar que para as famílias, a creche/pré-escola exerce importante papel na formação dos hábitos saudáveis e de higiene da criança. O estudo realizado por Remor; et al., (2009) salienta a importância de perceber o modo como a mãe/família compreende esse reforço exercido pela creche nos hábitos de higiene. A prática de higiene pode ser percebida pela família como um hábito que promove a inclusão social e o acesso ao mercado do trabalho. À medida que as precárias condições de vida enfrentadas pelas famílias conduzem a dificuldades, práticas e de conhecimento, para a realização das ações de higiene as intervenções de promoção da saúde na instituição podem fazer com que a própria mãe/família aprenda com a rotina da creche.

Diante do arcabouço que recobre a situação das crianças institucionalizadas, esses espaços podem de acordo com a maneira como acontecem as ações, passar a constituir-se em espaços de maus tratos e violência, ao invés de um espaço de promoção do pleno desenvolvimento e proteção à criança. Santos e Ferriani (2009) pontuam em seu estudo sobre a violência institucional em creches e pré-escolas sob a ótica das mães, que nesses ambientes a violência.

Acontece por deficiência na criação e na organização das creches e pré-escolas, originando as equipes mínimas e não qualificadas para o trabalho; falta de recursos financeiros para atender a necessidade das crianças; estruturas físicas deficientes e improvisações inadequadas para o funcionamento das instituições; ausência de proposta pedagógica e de planejamento de atividades, e além de inadequação do planejamento para a população atendida (SANTOS; FERRIANI, 2009, p.46).

Destarte, a inserção dos profissionais da equipe da ESF nessas instituições, para o desenvolvimento de ações na perspectiva de promoção da saúde dispõe de potencialidades para a melhoria das condições de saúde do público infantil, através do desenvolvimento de ações intersetoriais junto aos centros de educação, dentre elas: a capacitação da equipe para

cuidado e manejo da criança, ações programáticas e continuadas de atenção à saúde, atividades educativas junto às famílias.

Nas legislações pertinentes as creches e pré-escolas são previstas ações de higiene e saúde, as quais podem ser estimuladas e melhoradas através das equipes do ESF “com ações relacionadas à vigilância à saúde no controle das doenças diarreicas, e problemas respiratórios, vigilância do crescimento e desenvolvimento, avaliação da situação vacinal, e ações de saúde bucal” (GRADIM; ALMEIDA, 2004, p.212.).

Considerando, que assim como na ESF o atendimento a criança em centros de educação infantil acontece prioritariamente dirigido a população de uma área geograficamente determinada devido ao cumprimento dos requisitos da Lei 11.700/2008 que assegura as crianças a partir de 4 anos de idade vaga em instituições o mais próximos possível de suas residências (BRASIL, 2008b). Desta forma, o público atendido pelo serviço de saúde e pelo CMEI tende a ser de uma mesma área de abrangência e comportar as necessidades de saúde para as quais a equipe da ESF já está familiarizada, o que pode vir a contribuir para o desenvolvimento das ações de saúde pela ESF na educação infantil.

No que tange a educação infantil, articular equipe de trabalho da instituição à equipe de saúde da ESF constitui-se em uma ação de promoção da saúde pautada na integralidade. Contudo, para que essas ações se processem neste âmbito da saúde é necessário considerar que esta aponta “para uma percepção integrada, ampliada, complexa, intersetorial relacionando saúde a meio ambiente, ou modo de produção, ao estilo de vida, etc”. (LEFEVRE, F.; LEFEVRE, A., 2004 p.27).

Sob essa ótica a promoção da saúde, pode ser vista como uma das estratégias de produção de saúde, ou seja, como um modo de reordenar o modelo de atenção à saúde, envolvendo as formas “de pensar e de operar articulado às demais políticas e tecnologias desenvolvidas no sistema de saúde brasileiro, contribui na construção de ações que possibilitam responder às necessidades sociais em saúde” (BRASIL, 2010, p.10).

As estratégias e intervenções pautadas na promoção a saúde e na integração de ações visam, portanto ampliar o escopo da saúde, tendo por base os problemas, as necessidades de saúde e os determinantes e condicionantes do processo saúde-doença. De modo, que ao atribuir a saúde todo o seu caráter social, ela se desprenda do seu conceito arraigado de “ausência de doença, decorrente de ações de assistência médica proporcionadas pelos serviços de saúde, passando a adquirir uma nova conotação de promoção de qualidade de vida” (LEFEVRE, F.; LEFEVRE, A., 2004, p.28).

Desta forma, as ações de promoção à saúde compreendem o modo de organização da atenção e do cuidado envolvendo, ao mesmo tempo, as ações e os serviços que operem sobre os efeitos do adoecer e aqueles que visem ao espaço para além dos muros das unidades de saúde e do sistema de saúde, incidindo sobre as condições de vida e favorecendo a ampliação de escolhas saudáveis por parte dos sujeitos e das coletividades no território onde vivem e trabalham (BRASIL, 2010).

Um dos espaços sociais encontrados pelas equipes da ESF para o desenvolvimento dessas ações são as creches e pré-escolas, considerando, sua integração com as famílias para o atendimento da criança. Sendo essa integração junto à família e aparelhos sociais, uma peculiaridade do fazer da estratégia saúde da família que compreende um conjunto de ações envolvendo a promoção da saúde, além das ações de vigilância epidemiológica e sanitária (GRADIM; ALMEIDA, 2004).

Com vista a essa complexidade das condições que envolvem a saúde, Saito (2008) aponta que fazer promoção da saúde é envolver e movimentar a sociedade, tornando as ações transversais a partir das políticas de estado. Consiste, pois, em um trabalho de diagnóstico, planejamento, construção e aplicação das estratégias, monitoramento e avaliação das respostas aos problemas de saúde identificados.

Nesse sentido, a inserção e manutenção das creches e pré-escolas nas áreas descritas à ESF podem favorecer uma integração de ações de educação em saúde, e principalmente as ações de vigilância a saúde da população infantil da área. À medida que, as ações educativas podem ser consideradas práticas de excelência a ser implementada nesses espaços (GRADIM; ALMEIDA, 2004).