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3 REVISÃO DE LITERATURA

3.2 ATENÇÃO À SAÚDE DA CRIANÇA NA ESTRATÉGIA SAÚDE DA

A ESF pode ser compreendida como um modelo de atenção à saúde eficiente e, adequado ao fortalecimento da atenção básica no país. Constitui a porta de entrada do SUS, sendo considerado eixo central de organização do sistema. Compreende o desenvolvimento de um conjunto de ações de caráter individual e coletivo, que visam à promoção da saúde, prevenção de agravos e tratamento, reabilitação e manutenção da saúde da população atendida (BRASIL, 2008a).

A prioridade de implantação da ESF ocorreu das áreas mais carentes de serviços de saúde para as menos carentes, estas áreas são em sua maioria compostas por uma população de risco, em situações socioeconômicas e ambientais desfavoráveis. Desta forma, são áreas que tendem a apresentar um maior número de agravos à saúde, e no que se refere à saúde da criança, uma maior morbidade por doenças prevalentes na infância, e maior demanda por assistência à saúde. (MONTEIRO; FERRIANI, 2000).

Na consecução de suas ações as equipes da ESF adotam uma série de princípios visando atender as necessidades de saúde da população. Considerando a necessidade de articulação com outros espaços sociais, o princípio da intersetorialidade é apontado por Mendes (1999) como uma forma de resposta articulada, de outros setores da sociedade e dos serviços de saúde, a complexidade dos problemas de saúde da população.

Com o intuito de reduzir a morbimortalidade das crianças e melhorar as ações desenvolvidas pelos profissionais, o Ministério da Saúde tem desenvolvido através da saúde da família ações específicas, destacando-se o incentivo ao aleitamento materno, promoção de

alimentação saudável, acompanhamento do crescimento e desenvolvimento, ampliação da cobertura vacinal e controle das doenças prevalentes da infância.

No que concernem às doenças prevalentes da infância na década de 1990 foi instituída a estratégia de Atenção Integral as Doenças Prevalentes da Infância (AIDPI), a qual tinha por finalidade promover uma rápida e significativa redução da mortalidade na infância. Consistindo em uma abordagem da atenção à saúde na infância, desenvolvida inicialmente pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância e a Adolescência (UNICEF), esta estratégia possui como característica a abordagem simultânea e integrada do conjunto de doenças de maior prevalência na infância (BRASIL, 2002b).

No Brasil, a estratégia AIDPI, utilizou-se de tecnologias de baixo custo e alta eficácia e foi implantada gradativamente a partir de 1997, sendo incorporadas as ações desenvolvidas pela ESF, inicialmente nos estados do Ceará, Pará, Pernambuco e Sergipe, locais com altos índices de mortalidade infantil, alcançando em 2001 todo o país. Essa estratégia encontra sustentação em três pilares básicos: a capacitação dos recursos humanos, a reorganização dos serviços de saúde e a educação em saúde, na família e na comunidade. Assim, engloba as ações de promoção, prevenção e tratamento das doenças prevalentes na infância, dentre elas as infecções perinatais, as doenças respiratórias, as doenças diarréicas e a desnutrição. (BRASIL, 2002b).

Para Samico; et al., (2005) a incorporação da estratégia Saúde da Família e da estratégia AIDPI à política de saúde do Brasil tem possibilitado maior acesso da população as ações básicas de saúde. E, por conseguinte, essas iniciativas tem o potencial de tornar mais resolutiva à assistência no âmbito da atenção primária.

Desta forma, a estratégia saúde da família é uma proposta sintonizada com os princípios do SUS que se destaca como estratégia de reorganização do sistema de saúde visando à reversão do modelo de atenção vigente através do desenvolvimento de ações de promoção da saúde (SAITO, 2008).

O UNICEF aponta no documento Situação Mundial da Infância (2008) que a cada dia cerca de 26 mil crianças menores de cinco anos morrem em todas as partes do mundo. As causas desses óbitos são na sua maioria, evitáveis, dentre elas as doenças diarréicas e as infecções respiratórias, cerca de 50% dessas mortes estão associadas à desnutrição. Contudo, entre os anos de 1990 e 2006 as taxas de mortalidade de menores de cinco anos caíram em quase 25% em todo o mundo, chegando a ser superior a isso na América latina e Caribe onde as taxas caíram de 55 para 27 por mil nascidos vivos, nesse mesmo período de tempo. No

Brasil essas taxas vêm decrescendo ainda mais alcançando uma marca próxima de 20 por mil nascidos vivos, esses bons resultados estão associados a ações desenvolvidas pelo programa de agentes comunitários de saúde, e a estratégia saúde da família como parte de ampla iniciativa de cuidados básicos a saúde desenvolvida no país. (FUNDO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A INFÂNCIA, 2008).

Diante dos bons resultados que vem sendo alcançados com as ações da ESF na redução da mortalidade das crianças menores de cinco anos, e das modificações obtidas quanto ao modelo de atenção à saúde, o Brasil busca reduzir ainda mais esse índice. Nesse sentido o Ministério da Saúde instituiu desde 2004, a “Agenda de Compromissos para a Saúde Integral da Criança e Redução da Mortalidade Infantil” tal documento compreende as principais diretrizes e linhas de cuidado que norteiam as ações a serem desenvolvidas no âmbito da atenção a criança através de uma rede única integrada de assistência a saúde, com vistas a redução da mortalidade infantil (BRASIL, 2005b).

Dentre os princípios norteadores das ações a serem desenvolvidas destaca-se o planejamento e o desenvolvimento de ações intersetoriais, através deste princípio são definidas as prioridades de saúde da população infantil e estabelecidas as interfaces necessárias, com a articulação das diversas políticas sociais e iniciativas da comunidade implementadas no município e na área da unidade de saúde, de forma a tornar mais efetivas as intervenções para os diversos problemas demandados pela população. Nesse aspecto, a saúde da criança na escola e educação infantil devem ser contempladas. Despertando a necessidade da participação da unidade de saúde nas redes sociais locais, na defesa dos direitos da criança (BRASIL, 2005b).

Em consonância com as ações já estabelecidas, destacam-se como prioridades pactuadas entre governo federal, estados e municípios no Pacto pela vida em 2006, referentes à saúde da criança: reduzir a mortalidade infantil em 5%; reduzir em 50% as mortes por diarréia e em 20% por pneumonia; apoiar a elaboração de propostas de intervenção para qualificação da atenção as doenças prevalentes; e criação de comitês de vigilância de óbito infantil em 80% dos municípios com população acima de 80.000 habitantes (BRASIL, 2006b).

Nesse sentido, torna-se evidente a necessidade de articulação de esforços na consecução de uma atenção multiprofissional e proporcionalmente capaz de assegurar uma maior resolutividade frente à complexidade das ações enfrentadas pela Saúde da Família. (SAITO, 2008). Assim, na atenção as crianças institucionalizadas têm-se uma lacuna entre as ações desenvolvidas pelas equipes da ESF aos menores de cinco anos, posto que o

acompanhamento programático do crescimento e do desenvolvimento infantil que acontece regularmente para as crianças menores de dois anos passa a ser realizado anualmente. Além disso, a ação referente ao cuidado ferramenta essencial para a promoção da saúde da criança no cotidiano das instituições de educação infantil e espaços sociais não são articuladas pela ESF, sendo por vezes desenvolvidas ações de caráter pontual e/ou curativa.

“Cuidar é mais que um ato; é uma atitude” (BOFF, 1999, p.33). O cuidado da criança em creches tem sido referido como uma ação que objetiva atender as necessidades de higiene, alimentação e prevenção de acidentes, limitando o cuidado a atenção prestada ao corpo da criança. Por outro lado, entendendo o cuidado como uma “atitude”, precisamos perceber que, embora o cuidado seja concretizado na maioria das vezes por ações relativas ao corpo e ambiente físico, ele está carregado de intenções, sentimentos, significados, que são significativos ao seu contexto sociocultural. Constituindo-se em atitudes e procedimentos destinados a atender às necessidades da criança no seu processo de crescimento e desenvolvimento. E, para sua execução é requerido uma série de conhecimentos específicos que interrelacionam os saberes da saúde e da educação (MARANHÃO, 2000a).

Desta forma o cuidado pode ser percebido como uma ação de saúde, ao ser capaz de promover a saúde das crianças, bem como prevenir danos e agravos que possam comprometer seu crescimento e desenvolvimento. No entanto, para que este cuidado se revista de um caráter promotor de saúde, ele necessita ser realizado com qualidade, requerendo para isso que o profissional responsável conheça a criança de que vai cuidar, seu processo de desenvolvimento, suas características e vulnerabilidades e de seu contexto sócio-econômico e cultural. A ausência da compreensão desses aspectos acaba por tornar o trabalho coletivizado, onde as individualidades de cada criança ficam suprimidas e as escolhas são feitas a partir do que é conveniente para o adulto, não respeitando as necessidades e interesses da criança em função da promoção do seu bem-estar e desenvolvimento (PACHECO; DUPRET, 2004, VERÍSSIMO; REZENDE, 2004).

O cuidado cotidiano da criança, base da promoção de sua saúde, inclui atividades que integram igualmente em sua educação: acolher, alimentar, limpar, confortar, proteger, consolar e prover ambiente lúdico e interações, que lhe propiciem situações de aprendizagem sobre si mesma, o outro e a cultura onde está inserida. Desta forma, os cuidados, estão alicerçados em uma constante interação entre adultos e crianças, tornando-se o elo que integra saúde e educação ao promover no processo de ensino-aprendizagem o atendimento das necessidades humanas básicas e o aprendizado de regras sociais e práticas culturais. (MARANHÃO, 2000a).

Vale ressaltar que o cuidado não é algo que se realiza empiricamente. O cuidado exige um corpo de conhecimentos, habilidades e instrumentos que extrapolam a dimensão pedagógica. Para cuidar de criança é necessário bem mais do que apenas “gostar de crianças e ser mulher”. A capacidade para cuidar é determinada muito mais pelo aprendizado decorrente das experiências, do que apenas pela biologia humana, é necessário saber assistir as crianças (SILVA; et al., 1985).

Na literatura consultada, a respeito da assistência a saúde da criança institucionalizada, com enfoque na integração a equipe de ESF e instituição de educação infantil é evidente uma escassez de estudos que revelem a atuação de profissionais da equipe saúde, como a equipe saúde da família, em espaços públicos de ensino infantil. Algumas propostas são encontradas com a participação de classes profissionais isoladas através de projetos desenvolvidos pelas universidades.

Para assistir à criança numa perspectiva de promoção da saúde, prevenção de agravos e na garantia de um atendimento resolutivo para seus problemas de saúde, faz-se necessário uma equipe multiprofissional que assegure a estas crianças acesso ao serviço de saúde e uma atenção voltada para suas necessidades de crescimento e desenvolvimento. A legislação pertinente, Resolução 321/1988, prevê que as creches devem possuir em seu quadro de funcionários um auxiliar de enfermagem (BRASIL, 1988a). E somente este profissional é citado. Uma vez que suas ações demandam a supervisão direta e/ou indireta de um enfermeiro, conforme estabelecido nas legislações pertinentes ao exercício profissional (Lei n. 7.498, 1986; Resolução nº146, 1992; Decreto nº 94.406, art.13, 1997), é notório que esta equipe mínima não é suficiente para dar conta de todo o contexto da saúde das crianças, funcionários e famílias da creche.

Nesse sentido, o incremento dos programas de educação continuada e o aprimoramento de ações intersetorias que envolvam articulação entre serviços de saúde e creches locais, devem ser considerados com vistas a prevenir, detectar e controlar agravos e promover a saúde integral das crianças.

Para possibilitar à criança, na creche e pré-escola, um ambiente com o menor risco possível de adoecer e de se acidentar, torna-se necessário que os profissionais de saúde estejam envolvidos com a assistência, visando à promoção da saúde da criança, que se encontra em fase de grande vulnerabilidade (SANTOS; QUIRINO, 2004, p.17).

E, neste contexto, uma equipe multiprofissional seria necessária, tendo em vista a atenção integral à criança.

As ações a serem desenvolvidas por essa equipe multiprofissional são norteadas dentro de uma proposta intersetorial das ações junto à estratégia saúde da família através das linhas de cuidado apresentadas pela Agenda de Compromissos para atenção integral a saúde da criança e redução da mortalidade infantil, dentre essas linhas destaca-se o acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento da criança como eixo centralizador das demais ações, quais sejam: imunização, práticas educativas, fornecimento de medicamentos, vigilância nutricional, atenção às doenças prevalentes, prevenção de acidentes/maus tratos/violência/trabalho infantil, atenção à criança com deficiência, atenção à saúde mental, etc. (BRASIL, 2005b). A consecução de tais contribui conjuntamente para o alcance das metas pactuadas para a saúde da criança no Pacto pela Vida (BRASIL, 2006b).

De acordo com a realidade que permeia o cotidiano dos diversos CMEIs situados nos bairros menos favorecidos, a articulação com as equipes da ESF torna-se uma demanda em potencial, sendo de suma necessidade a atuação sistematizada da equipe de ESF nestas instituições, considerando que essas demonstram uma carência de profissionais de saúde para o acompanhamento de saúde das crianças, desenvolvimento de ações educativas e de promoção da saúde junto a pais, educadores e crianças.

3.3 ASSISTÊNCIA À SAÚDE DA CRIANÇA INSTITUCIONALIZADA: A PROMOÇÃO