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Sabe-se que nas causas de valor até vinte salários mínimos, as partes podem ser assistidas ou não de advogados. No entanto, para causas de valor superior a assistência faz-se obrigatória, de acordo com o caput do art. 9º da Lei 9.099/95. Em seguida, o §1º do referido artigo dispõe que sendo facultativa a assistência, se uma das partes comparecer assistida por advogado, ou se o réu for pessoa jurídica ou firma individual, terá a outra parte, caso queira, assistência judiciária prestada por órgão instituído junto ao Juizado Especial, na forma da lei local. Destaque-se, por fim, que no recurso, as partes serão obrigatoriamente representadas por advogado, conforme art. 41 § 2º.

A Constituição de 1988 determina que o Estado deve prestar assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos, em consonância com o artigo 5º, inciso LXXIV da Constituição Federal. Assim, é direito de todo cidadão sem condições de pagar um advogado que o Estado lhe indique uma pessoa habilitada a providenciar sua orientação jurídica bem como a defesa de seus direitos perante o Poder Judiciário ou fora dele. À Defensoria Pública, instituição essencial à função jurisdicional do Estado de acordo com o art. 134 da Constituição Federal, organizada pela Lei Complementar, n. 80, de 12 de janeiro de 1994, lhe foi atribuído esse labor, sendo a Defensoria Pública da União a

responsável de atuar na Justiça Federal. A lei exige, em seu art. 24, que o ingresso na Carreira da Defensoria Pública da União far-se-á mediante aprovação prévia em concurso público, de âmbito nacional, de provas e títulos.

Cabe questionar se a Defensoria Pública da União vem realizando seu ofício de forma adequada. Para isso, deve-se observar alguns dados apurados por um estudo realizado, em 2004, pelo Ministério da Justiça, intitulado de A Defensoria Púbica no Brasil. O Brasil possui 1,86 defensores públicos, contabilizados todos da carreira da Defensoria Pública, para cada 100.000 habitantes, enquanto dispõe de 7,7 juízes para cada 100.000 habitantes. Com relação aos defensores públicos da União especificamente a situação é ainda mais alarmante. Pois bem, até maio de 2004, havia 111 cargos de Defensor Público da União criados e 96 defensores públicos na ativa, apresentando, pois, o quadro da carreira uma vacância de 13,5%. Segundo o Relatório de Gestão da Defensoria Pública Geral da União, de fevereiro do corrente ano, o contingente de pessoal da Defensoria Pública da União, em 31 de dezembro de 2004, era de 605 servidores, sendo 95 Defensores Públicos da União, 01 Advogado de Ofício, 40 servidores do Quadro, 01 servidor sem vínculo, 35 servidores requisitados, 384 estagiários e 49 terceirizados, distribuídos por 36 núcleos de atendimentos nas diversas Unidades da Federação, quais sejam, Brasília/DF, Brasília/DF (Juizado Especial Federal), Rio Branco/AC, Manaus/AM, Salvador/BA, Goiânia/GO, Belo Horizonte/MG, Juiz de Fora/MG, Cuiabá/MT, Belém/PA, Teresina/PI, Porto Velho/RO, Palmas/TO, Rio de Janeiro/RJ, Vitória/ES, Campinas/SP, Santos/SP, São Paulo/SP, Guarulhos/SP, Campo Grande/MS, Bagé/RS, Uruguaiana/RS, Caxias do Sul/RS, Porto Alegre/RS, Santa Maria/RS, Pelotas/RS, Curitiba/PR, Umuarama/PF, Florianópolis/SC, Recife/PE, Fortaleza/CE, Campina Grande/PB, João Pessoa/PB, Natal/RN, Aracajú/SE, Maceió/AL. Ressalte-se que somente 35 subseções judiciárias da Justiça Federal são atendidas pelos serviços da Defensoria Pública da União. Note-se que o quantitativo é insuficiente para atender a demanda de 36 núcleos em todo o Brasil, e que o número de Defensores Públicos diminuiu, tendo havido apenas um crescimento no número de estagiários. Segundo dados supracitados de 30 de setembro de 2005, a Justiça Federal possui 1486 cargos criados e 1102 cargos providos de juízes. Com isso, deduz-se, por meio de uma simples divisão aritmética, que, no Brasil, existem aproximadamente 11,5 Juízes Federais para cada Defensor Púbico da União. Vale salientar que, para a defesa do Estado, no âmbito federal, existem mais de cinco mil cargos de advogados, entre Procuradores Federais, da Fazenda Nacional, do Banco Central e de Advogados da União. A população estimada do Brasil, segundo o IBGE, no dia 22 de outubro

de 2005, era de aproximadamente 184.800.000. Assim, tem-se 1.925.000 pessoas para cada Defensor Púbico da União.

Por outro lado, a procura pelos serviços prestados pelos Núcleos vem crescendo de forma exponencial. Segundo dados do Relatório de Gestão, foram assistidas, no ano de 2003, 133.730 pessoas. Já em 2004 o número de atendimentos passou para 163.936 cidadãos. O ritmo de crescimento segue também este ano. Oportuno transcrever o resultado de um levantamento comparativo de atendimentos prestados no primeiro semestre do corrente ano realizado pela Defensoria Pública Geral da União (ver anexo F):

Ano 2001 2002 2003 2004 2005

Atendimentos 4.918 21.313 56.178 67.276 106.047

Crescimento

anual - 333,37% 163,59% 19,76% 57,63%

Devido ao reduzido número de defensores, entre outros motivos, como o baixo grau de institucionalização e a não-autonomia orçamentária, a instituição não tem patrocinado campanhas periódicas para a divulgação de seus serviços, nem mesmo existe programa ou campanha regulares de educação para a cidadania, voltada diretamente para os usuários.

O estudo conclui (2004, p.73):

A construção de um sistema de justiça republicano e democrático depende de uma Defensoria Pública forte e atuante. Assim, as informações colhidas a partir dos questionários permitem constatar que é necessário empreender esforços tanto no sentido de propiciar a autonomia orçamentária e financeira das Defensorias Públicas, como de reforçá-las como um instrumento de inclusão e de efetivação da cidadania.

Assim, faz-se necessário, de imediato, as seguintes medidas: um aumento significativo dos quadros da Defensoria Pública da União; a criação de novos núcleos de atendimento, seguindo a tendência de interiorização da Justiça Federal; a estruturação das já existentes; a autonomia orçamentária para a Defensoria Pública da União; criação de um projeto de divulgação dos trabalhos prestados pela Defensoria Pública da União.

Não há como negar que o jurisdicionado desses Juizados Especiais é um autêntico hipossuficiente, no entanto, como o Estado não vem desempenhando o seu papel de dar completa assistência jurídica e gratuita, nos casos previstos em lei, disposto no art. 5º, LXXIV, algumas iniciativas vêm auxiliando prestando este serviço. Pode-se citar a parceria Universidade-Juizado Especial.

A implantação de Juizados Especiais em Universidades ou Faculdades traz benefícios para o Estado, na medida em que os custos de assistência judiciária diminuem entre outras vantagens, para a população, que poderá contar com uma assistência judiciária, realizada por alunos e professores, que não lhe é prestada pelo Estado, e para a Universidade, à medida que auxiliará na formação dos seus alunos, inclusive na formação de conciliadores para os Juizados. Os Juizados Especiais, no âmbito da Justiça Estadual, já possui diversos Juizados em Universidades, faz-se necessário apostar nesta iniciativa no âmbito da Justiça Federal. Vale destacar o depoimento do Juiz de Direito, Rômulo Russo Júnior (2002, p.58):

O testemunho que se pode dar, com a cautela que a experiência exige, é que o cidadão passou a procurar o Juizado Especial da Universidade Santa Cecília para recolher informações de natureza jurídica; desabafar o mau atendimento e o descaso de alguns órgãos públicos; clamar por seu direito lesado, sentindo-se confortado, na maioria das vezes, somente pela cortesia do atendimento dado pelo ‘homem- estudante-universitárioconciliador’, transpirando um estado de satisfação decorrente da circunstância de ser ouvido e bem recebido. Não houve o desafogo da carga de trabalho da chamada ‘Vara comum’. Na verdade, aqueles que nunca foram à Justiça, por tantas e históricas razões, passam a procurá-la!

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