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Relação entre os jurisdicionados e os juizados

A relação entre os jurisdicionados e os Juizados é de grande importância para o efetivo acesso à justiça. A Ministra Nancy Andrighi (apud Sueli Pereira Pini, texto 16, p.60) costuma dizer que o cidadão tem direito ao seu dia na Justiça, e que deve ser muito bem recebido. Além disso, pensa Pini que ele deve ser, também, muito bem orientado, devendo-lhe ser dada uma satisfação, para que se sinta melhor do que quando chegou, decorrência do princípio da eficiência insculpido no caput do art. 37 da Constituição Federal.

Além dos obstáculos estruturais, soma-se a falta de sensibilidade de alguns magistrados e servidores e a inaptidão de outros na comunicação com o jurisdicionado. O jargão que se utiliza no Direito muitas vezes se faz incompreensível para os jurisdicionados. Assim, a postura dos servidores e dos magistrados quando do atendimento deve ser adequada ao relacionamento com o povo e a comunicação deve fluir em linguajar simples. Deve-se olvidar de “tecnicismo” e não das palavras técnicas, que são essenciais. Roberto Portugal Bechallar (2004, p.2) cita uma série de situações inusitadas em que o desnível de linguagem entre o magistrado e as partes gerou incompreensões, como por exemplo:

Outro magistrado do Juizado Especial Cível de Curitiba , ao finalizar uma conciliação, em resposta à indagação do autor sobre o eventual descumprimento do

acordado, afirmou, como é de praxe:

- ‘Se o acordo não for cumprido, a ré vai ser executada’. A ré, ao escutar a afirmação do juiz, indignada, “deu um pulo na cadeira” e com

euforia indagou:

- ‘No Brasil tem pena de morte? Essa eu não sabia!?’

Demorou um pouco para que todos na sala percebessem que a indignação da ré, era pura e verdadeira, e não se tratava de uma brincadeira. Tratava-se de pessoa comum, simples e de boa-fé, acreditando “ao pé da letra” nas palavras que o magistrado havia pronunciado.

Casos como este supracitado ilustram como, em grande número de vezes, operadores do direito são incompreendidos pela população.

Outro ponto a ser discutido trata-se do horário de funcionamento dos Juizados Especiais Federais Cíveis. O horário de funcionamento dos órgãos do Poder Judiciário brasileiro ocorre normalmente das 12 às 19 horas. É de se supor que os jurisdicionados tenham dificuldades para compreender que, diferentemente dos postos do INSS, do Detran, da Secretaria da Receita Federal e de outros órgãos públicos, a Justiça funcione em horários diferenciados. Para André Macedo de Oliveira (2001, p. 87), os hospitais, delegacias, estão sempre de plantão, no entanto, a Justiça, não. Defende que esta não pode e não deve dormir, devendo o Fórum permanecer “aceso” para o povo. No mesmo diapasão, Pini (2002, p.59) costuma dizer que, se padaria não fecha, a Justiça também não pode fechar. Ademais, defende a idéia de haver pelo menos um sistema de plantão.

O estudo Diagnóstico da estrutura e funcionamento dos Juizados Especiais Federais trata do horário de funcionamento de todas as Regiões. Na 1ª Região, os Juizados à época da coleta de dados, tinham dois Juizados que funcionavam, em média, 12 horas por dia, sendo o atendimento ao público em tempo integral. Em outros, o atendimento era de 13 às 19h. Na maioria, a demanda é muito grande e esse horário não era suficiente para supri-la, muitas vezes, por carência de pessoal. Na 2ª e 4ª Regiões, o horário de funcionamento é de 12h às 19h, sendo considerado, pelos juízes, como adequado à demanda. No caso específico de São Paulo, diferentemente da maioria dos Juizados visitados, o Fórum Social funciona em três turnos contínuos de atendimento e audiências das 9 às 21 horas, sendo considerado pela juíza adequado para atendimento à demanda. Em arremate, na 5ª Região, apenas um dos entrevistados considerou o horário de funcionamento adequado à demanda, os demais juízes consideram que o horário não tem sido suficiente. Pode-se concluir que ficaria mais claro à população se o horário de atendimento fosse similar aos de outros órgãos púbicos e, ademais, que ha de haver um sistema de plantão para os Juizados Especiais.

Interessante analisar também se a Justiça Federal tem patrocinado campanhas periódicas para a divulgação de seus serviços, voltada diretamente para os usuários. O referido estudo também se dedicou ao tema. Ora, a forma como estão sendo ou foram divulgados à sociedade determina o conhecimento dessa nova modalidade de Justiça e a acessibilidade para o cidadão. A Coordenadora dos Juizados da 1ª Região assinalou textualmente em relatório encaminhado ao Conselho da Justiça Federal, em março de 2002, que os Juizados não estão

sendo divulgados nos Estados, a despeito de revelar que mesmo com a discretíssima divulgação da instalação dos Juizados Especiais Federais da 1ª Região, em poucos meses a litigiosidade contida revelou sua face. Os juízes da 2ª Região consideraram a divulgação

ampla e abrangente. No entanto, persistem dúvidas quanto à competência entre os jurisdicionados e advogados inexperientes. A divulgação, na 3ª Região, segundo a juíza entrevistada, foi adequada à estrutura e que, para ampliar a divulgação, seria necessária uma ampliação na capacidade de atendimento. Na 4ª Região, a divulgação foi ampla.Por derradeiro, na 5ª Região, os juízes informaram que houve uma ampla divulgação. Os juízes, em geral, opinaram que não havia diferencia significativa, quanto ao conhecimento da população sobre a competência dos Juizados Especiais, entre as comunidades onde receberam maior divulgação e outras onde a divulgação foi deficiente. No entanto, oportuno citar as palavras de Maria Tereza Sadek (2002, p. 46):

(...) é necessário o apoio da instituição como um todo, e, mais do que isso, é necessário o que os cientistas políticos chamam de accountability, que tenhamos transparência em relação a esses juizados, que a população saiba quantos, como e em quanto tempo estão sendo atendidos, com ou sem a presença de advogados, e que esses dados se tornem públicos. É preciso que o Judiciário dê respostas imediatas sobre esse tipo de demanda, e, mais do que isso, que dê um passo à frente. Apenas dessa forma teremos uma sociedade na qual o Estado de direito encontre no Judiciário o seu verdadeiro sustentáculo ou, ao contrário manteremos uma situação de crítica a ele, da qual será muito difícil escapar, porque o número de processos permanece crescendo, e tudo indica que a defasagem entre os entrados e os julgados continuará.

Campanhas educativas e informativas destinadas à população desempenham um papel importante, apesar do constatado pela pesquisa acima.

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