• Nenhum resultado encontrado

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE DIREITO CURSO DE DIREITO

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2018

Share "UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE DIREITO CURSO DE DIREITO"

Copied!
101
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

FACULDADE DE DIREITO

CURSO DE DIREITO

OS JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS CÍVEIS E O ACESSO À

JUSTIÇA

Felipe Barbosa Ferreira Gomes

Matr.: 0102733

(2)

FELIPE BARBOSA FERREIRA GOMES

OS JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS CÍVEIS E O ACESSO À

JUSTIÇA

Monografia apresentada como exigência parcial para a obtenção do grau de bacharel em Direito, sob a orientação de conteúdo do Professor João Luís Nogueira Matias e orientação metodológica do Professor Flavio José Moreira Gonçalves.

(3)

FELIPE BARBOSA FERREIRA GOMES

OS JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS CÍVEIS E O ACESSO À

JUSTIÇA

Monografia apresentada à banca examinadora e à coordenação do Núcleo de Monografia em Direito do Curso de Direito da Universidade Federal do Ceará.

Fortaleza (CE), 28 de outubro de 2005.

João Luís Nogueira Matias, D.Sc.

Professor Orientador da Universidade Federal Ceará

Tiago Araújo Filgueiras, M.Sc.

Professor Examinador da Faculdade Farias Brito

William Paiva Marques Júnior, Esp.

Professor Examinador da Universidade Federal do Ceará

Flávio José Moreira Gonçalves, M.Sc. Professor Orientador de Metodologia

Flávio José Moreira Gonçalves, M.Sc. Supervisor de Monografia

(4)

Dedico este trabalho a Deus, razão maior da minha

existência, por me estar dando a oportunidade de

obter um dos maiores tesouros da vida: o

conhecimento.

Aos meus pais e aos meus irmãos, por todo o amor e

dedicação que me deram ao longo desta caminhada,

sempre com palavras de incentivo e afeto.

A minha namorada, pela enorme compreensão e

paciência que nunca me faltou, e, sobretudo, pelo

apoio e ajuda nas horas difíceis.

Sem a participação deles não teria sido possível o

(5)

AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer aos professores William Paiva Marques Júnior e Tiago Araújo Filgueiras, por terem, de pronto, aceito o nosso convite para compor a mesa examinadora, e, em especial, a meu mestre e orientador João Luís Nogueira Matias, pelo apoio e esforço desprendidos no sentido de lapidar os passos de nossa pesquisa a ponto de transformá-la em uma monografia.

(6)

RESUMO

Os Juizados Especiais Federais Cíveis foram projetados e criados com o escopo de facilitar o acesso à justiça pelo cidadão comum, especialmente pela população carente e de parcos conhecimentos, enfim, pela grande massa de hipossuficientes. Estes, desprovidos de recursos para suportar as custas processuais, seja por receio, por falta de orientação ou por ignorância, dificilmente recorriam ao Poder Judiciário à procura de amparo aos seus direitos violados ou ameaçados de violação. Esse instituto veio para solucionar, de forma mais célere e simples, os conflitos intersubjetivos, intentando, assim, tomar parte no processo de diminuição dos feitos na Justiça Federal. No entanto, apesar dos benefícios que têm trazido à sociedade, os Juizados Especiais Federais ainda têm muito a evoluir. No presente trabalho monográfico, faz-se, de início uma abordagem sobre o que é o acesso à justiça. Em seguida, trata-se dos aspectos gerais do instituto, dos princípios que o regem, quais casos lhe tocam conhecer, quem pode socorrer-se dos mesmos e como se dá o processo no âmbito dos Juizados Especiais Federais Cíveis. Empós, são identificados, diagnosticados e criticados alguns pontos estruturais e de funcionamento dos órgãos em comento. Em arremate, conclui-se que o instituto dos Juizados Especiais melhorou o acesso à justiça para a população, entretanto, algumas mudanças devem ser feitas para melhor atender aos anseios da sociedade.

(7)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 08

1 DO ACESSO À JUSTIÇA COMO DIREITO FUNDAMENTAL ... 11

2 NOÇÕES GERAIS SOBRE JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS CÍVEIS ... 18

2.1 Estrutura e organização ...18

2.2 Aplicação subsidiária da Lei n°. 9.099/95 ... 19

2.3 Princípios norteadores ... 21

2.4 Competência ... 22

2.5 Das partes ... 26

2.5.1 Da parte autora ... 26

2.5.1.1 Da indispensabilidade de advogado e o jus postulandi ...26

2.5.2 Da parte ré ... 27

2.6 Processo judicial ...28

2.6.1 Citação e intimação ... 28

2.6.2 Conciliação e instrução ... 31

2.6.3 Provas ... 31

2.6.4 Sentença ... 32

2.6.5 Recursos ... 33

2.6.6 Execução ... 36

3 O ACESSO À JUSTIÇA NOS JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS CÍVEIS ... 38

3.1Da quantidade de juizados especiais federais cíveis e de pessoal ... 39

3.2Relação entre os jurisdicionados e os juizados ... 42

3.3Juizados virtuais ... 44

3.4Assistência judiciária ... 48

3.5 Estrutura, mobiliário e equipamentos ... 51

(8)

3.7Localização ... 55

CONCLUSÃO ... 57

REFERÊNCIAS ... 59

ANEXOS ... 65

(9)

INTRODUÇÃO

A Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 05 de outubro de 1988, rica em direitos e garantias, despertou na população brasileira o entusiasmo pelo exercício dos direitos subjetivos, levando-na a uma maior procura ao Judiciário para a solução de seus conflitos. No entanto, esse sistema, em grande parte, não garante os meios necessários à resolução de tais demandas. Com o advento da Emenda Constitucional n. 22, de 18 de marco de 1999, previu-se a criação dos Juizados Especiais no âmbito da Justiça Federal, com a finalidade de atender grande parcela da população menos favorecida e proporcionar uma prestação de tutela jurisdicional de maneira mais simples, célere e efetiva, a fim de garantir um efetivo acesso à justiça.

A criação dos Juizados Especiais Federais foi um grande avanço na Justiça brasileira, tendo em vista que promoveu o acesso à justiça para qualquer cidadão, que por diversas razões de cunho social, econômico e cultural não buscava o amparo do Judiciário para a solução de seus conflitos. Com esse instituto, abriu-se espaço para a solução mais rápida dos litígios.

Desta forma, no decorrer deste trabalho monográfico, respondemos a determinados questionamentos, tais como: Quais as principais características que tornam os Juizados Especiais Federais Cíveis peculiares dentro do Poder Judiciário brasileiro? Para que fins foram criados os Juizados Especiais Federais Cíveis? A estrutura e funcionamento de tais Juizados são adequados para garantir à população o efetivo acesso à justiça? Os Juizados Especiais Federais Cíveis vêm atingindo os fins para os quais foram criados? Que medidas poderiam ser tomadas para tornar os Juizados Especiais Federais Cíveis mais acessíveis ao cidadão?

(10)

Especiais Cíveis na Justiça Federal brasileira, é de suma importância o estudo e a pesquisa dos principais temas a eles relacionados, a fim de elucidar alguns pontos relevantes, analisar novas alternativas para o seu melhor funcionamento, de modo a aproximar cada vez mais o Poder Judiciário da população, propiciando a democratização do acesso à justiça.

Tem-se, então, como objetivo geral, verificar se os Juizados Especiais Federais Cíveis estão cumprindo com suas funções perante a sociedade, no que se refere a uma justiça mais simples e menos burocrática, analisando, assim, a sua implementação no contexto do sistema judiciário brasileiro, bem como os principais temas a eles relacionados, a fim de elucidar os pontos mais relevantes acerca do efetivo acesso à justiça no seio dos Juizados Especiais Federais Cíveis e identificar novas medidas para o seu melhor funcionamento.

Em relação aos aspectos metodológicos, as hipóteses são investigadas através de pesquisas bibliográfica e documental. No que tange à tipologia da pesquisa, isto é, segundo a utilização dos resultados, é pura, visto ser realizada com a finalidade de aumentar o conhecimento do pesquisador para uma nova tomada de posição. A abordagem é qualitativa, Quanto aos objetivos a pesquisa é descritiva, buscando descrever fenômenos, descobrir a freqüência que um fato acontece, sua natureza e suas características, e exploratória, procurando aprimorar, buscando maiores informações sobre o tema em questão.

No primeiro capítulo, busca-se inicialmente fazer uma abordagem sobre o conceito e elementos dos conflitos intersubjetivos, formando assim uma base para se adquirir uma noção de prestação jurisdicional, jurisdição, direitos fundamentais, para finalmente chegar ao conceito de acesso à justiça e sua relação com a criação dos Juizados Especiais Federais.

Em seguida, no segundo capítulo, faz-se uma abordagem acerca das considerações gerais sobre os Juizados Especiais Federais Cíveis, em um aspecto geral, tecendo comentários quanto à sua estrutura, aos princípios que os norteiam, à sua competência e, finalmente, com relação ao processo judicial nos Juizados Especiais Federais Cíveis.

(11)

Juizados, quanto à localização dos mesmos, quanto aos Juizados itinerantes e a realização de mutirões e, por derradeiro, quanto aos Juizados virtuais.

(12)

1 DO ACESSO À JUSTICA COMO DIREITO FUNDAMENTAL

Em toda a historia da humanidade, sempre houve relatos de conflitos entre os indivíduos. A eliminação desses conflitos ocorrentes na vida em sociedade pode se dar por obra de um ou ambos os sujeitos em conflito, ou por obra de terceiro. O primeiro caso, denominado de autocomposição, ocorre quando uma das partes em conflito ou ambas consentem no sacrifício total ou parcial do interesse ou parte dele, tendo como espécies a

desistência,em que há renúncia à pretensão, a submissão, em que há renúncia à resistência

oferecida à pretensão e a transação, com renúncias recíprocas. Ainda na primeira situação,

tem-se a autodefesa, também chamada de autotutela. Assim, quem pretendesse alguma coisa que outrem o impedisse de obter haveria de, com o uso de sua própria força e meios, tratar de conseguir a satisfação de sua pretensão. No segundo caso, pode-se citar a mediação, a arbitragem e o processo.

Na fase primitiva da civilização, o Estado se limitava a definir os direitos, entretanto, não se comprometia a solucionar os conflitos que surgissem do convívio social, assim, os indivíduos valiam-se de meios privados para resolver os conflitos. Nesta época prevalecia a “lei do mais forte”. Com o fortalecimento do Estado, este, na qualidade de Estado-juiz, assumiu o encargo de dizer qual é a vontade do ordenamento jurídico para o caso concreto, passando, assim, da aplicação da justiça privada para a justiça pública. À atividade estatal que dirime os conflitos e tensões numa sociedade dá -se o nome de jurisdição.

Afirma Lima Júnior (2002, p.39):

Como conquista evolutiva dos povos modernos, fundada no objetivo de preservar a paz e harmonia sociais, o Estado evocou para si a prerrogativa de solucionar os conflitos intersubjetivos de interesses, afastando a possibilidade de recurso ao

exercício arbitrário das próprias razões, também denominado ‘justiça com as próprias mãos’.

(13)

à justiça não deve ser confundido com o acesso ao Judiciário. Oportuno trazer à colação as palavras de Ada Pellegrini Grinover (1985 apud Humberto Theodoro, 2002, p.417), abaixo transcritas:

Acesso à justiça, longe de confundir-se com acesso ao judiciário, significa algo mais profundo; pois importa no acesso ao justo processo, como conjunto de garantias capaz de transformar o mero procedimento em um processo tal, que viabilize, concreta e efetivamente, a tutela jurisdicional.

Assim, este direito social não se resume ao acesso formal ao Judiciário, mas sim, garante um acesso à ordem jurídica justa, isto é, garante um justo processo, sem morosidade, a fim de solucionar o conflito de forma justa, célere e segura.

A questão do efetivo acesso à justiça tem sido identificada como sendo de vital importância entre os novos direitos individuais e sociais. Pode-se dizer, inclusive, que se trata do mais essencial dos direitos humanos de um organismo jurídico igualitário, que pretende garantir, e não apenas anunciar, os direitos de todos.

As hodiernas declarações jurídicas deram um destaque à garantia de todo homem receber dos tribunais remédio efetivo para os atos que violem os seus direito. Ressalte-se, primeiro, o disposto na Declaração Universal de Direitos do Homem, de 10 de dezembro de 1948, da seguinte forma:

Artigo VIII. Todo homem tem direito a receber dos tribunais nacionais competentes remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei.

Transcrevo, por oportuno, como ilustração, algunstrechos de constituições estrangeiras:

Constituição Espanhola, de 29 de dezembro de 1978:

Artículo 24

1. Todas las personas tienen derecho a obtener la tutela efectiva de los jueces y tribunales en el ejercicio de sus derechos e intereses legítimos, sin que, en ningún caso, pueda producirse indefensión.

(14)

mismos, a no confesarse culpables y a la presunción de inocencia.

La ley regulará los casos en que, por razón de parentesco o de secreto profesional, no se estará obligado a declarar sobre hechos presuntamente delictivos.

Constituição Nacional da Argentina, de 1º de maio de 1853:

Art. 43.- Toda persona puede interponer acción expedita y rápida de amparo, siempre que no exista otro medio judicial más idóneo, contra todo acto u omisión de autoridades públicas o de particulares, que en forma actual o inminente lesione, restrinja, altere o amenace, con arbitrariedad o ilegalidad manifiesta, derechos y garantías reconocidos por esta Constitución, un tratado o una ley. En el caso, el juez podrá declarar la inconstitucionalidad de la norma en que se funde el acto u omisión lesiva.

Podrán interponer esta acción contra cualquier forma de discriminación y en lo relativo a los derechos que protegen al ambiente, a la competencia, al usuario y al consumidor, así como a los derechos de incidencia colectiva en general, el afectado, el defensor del pueblo y las asociaciones que propendan a esos fines, registradas conforme a la ley, la que determinará los requisitos y formas de su organización. Toda persona podrá interponer esta acción para tomar conocimiento de los datos a ella referidos y de su finalidad, que consten en registros o bancos de datos públicos, o los privados destinados a proveer informes, y en caso de falsedad o discriminación, para exigir la supresión, rectificación, confidencialidad o actualización de aquéllos. No podrá afectarse el secreto de las fuentes de información periodística.

Cuando el derecho lesionado, restringido, alterado o amenazado fuera la libertad física, o en caso de agravamiento ilegítimo en la forma o condiciones de detención, o en el de desaparición forzada de personas, la acción de hábeas corpus podrá ser interpuesta por el afectado o por cualquiera en su favor y el juez resolverá de inmediato, aun durante la vigencia del estado de sitio.

Constituição da República Portuguesa, de 2 de abril de 1976: Artigo 20.º

(Acesso ao direito e tutela jurisdicional efectiva)

1. A todos é assegurado o acesso ao direito e aos tribunais para defesa dos seus direitos e interesses legalmente protegidos, não podendo a justiça ser denegada por insuficiência de meios económicos.

2. Todos têm direito, nos termos da lei, à informação e consulta jurídicas, ao patrocínio judiciário e a fazer-se acompanhar por advogado perante qualquer autoridade.

3. A lei define e assegura a adequada protecção do segredo de justiça.

4. Todos têm direito a que uma causa em que intervenham seja objecto de decisão em prazo razoável e mediante processo equitativo.

5. Para defesa dos direitos, liberdades e garantias pessoais, a lei assegura aos cidadãos procedimentos judiciais caracterizados pela celeridade e prioridade, de modo a obter tutela efectiva e em tempo útil contra ameaças ou violações desses direitos.

Constituição da República Italiana, de 22 de dezembro de 1947: Art. 24.

Tutti possono agire in giudizio per la tutela dei propri diritti e interessi legittimi [113].

La difesa è diritto inviolabile in ogni stato e grado del procedimento.

Sono assicurati ai non abbienti, con appositi istituti, i mezzi per agire e difendersi davanti ad

ogni giurisdizione.

(15)

Art. 113.

Contro gli atti della pubblica amministrazione è sempre ammessa la tutela giurisdizionale dei diritti e degli interessi legittimi dinanzi agli organi di giurisdizione ordinaria o amministrativa [241, 1031,2, 1251].

Tale tutela giurisdizionale non può essere esclusa o limitata a particolari mezzi di impugnazione o per determinate categorie di atti.

La legge determina quali organi di giurisdizione possono annullare gli atti della pubblica amministrazione nei casi e con gli effetti previsti dalla legge stessa.

Carta dos Direitos Fundamentais da União Européia, de 07 de dezembro de 2000:

Artículo 47

Derecho a la tutela judicial efectiva y a un juez imparcial.

Toda persona cuyos derechos y libertades garantizados por el Derecho de la Unión hayan sido violados tiene derecho a la tutela judicial efectiva respetando las condiciones establecidas en el presente artículo.

Toda persona tiene derecho a que su causa sea oída equitativa y públicamente y dentro de un plazo razonable por un juez independiente e imparcial, establecido previamente por la ley. Toda persona podrá hacerse aconsejar, defender y representar.

Se prestará asistencia jurídica gratuita a quienes no dispongan de recursos suficientes siempre y cuando dicha asistencia sea necesaria para garantizar la efectividad del acceso a la justicia.

Em nossas plagas, a primeira Constituição que fez alusão ao princípio da inafastabilidade do controle judicial foi a de 1946, que, no seu art. 141, § 4º, disciplinava: “A lei não poderá excluir da apreciação do Poder Judiciário qualquer lesão de direito individual”. A Constituição de 1967 manteve a mesma redação, em seu art. 150, §4º. Em seguida, com o advento da emenda constitucional n. 7, de 13 de abril de 1977, o texto foi cambiado para: “A lei não poderá excluir da apreciação do Poder Judiciário qualquer lesão de direito individual. O ingresso em juízo poderá ser condicionado a que se exauram previamente as vias administrativas, desde que não exigida garantia de instância, nem ultrapassado o prazo de cento e oitenta dias para a decisão sobre o pedido.”

A atual Carta Magna, de 5 de outubro de 1988, intitulada de “Constituição Cidadã” pelo então Deputado Ulisses Guimarães, dado que uma de suas principais marcas é o reconhecimento de direitos individuais e coletivos, assegura a todos, sem qualquer discriminação, a garantia de acesso ao Poder Judiciário como um direito básico e fundamental do homem. Trata do tema, no art. 5º, XXXV, da seguinte forma:

(16)

omissis

XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.

Ademais, foi garantido no mesmo rol, no art. 5º, LXXIV, que:

LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos.

Este ofício é realizado pela Defensoria Pública, que é o caminho estabelecido pela Constituição Federal para o acesso à justiça. Ressalte-se que a Defensoria Pública é instituição essencial a quem o constituinte incumbiu de garantir às pessoas carentes o acesso à Justiça. Ademais, de acordo com art. 134 da Constituição Federal, este órgão púbico é considerado, ao lado do Ministério Púbico e da Advocacia Pública, uma das funções essenciais à Justiça. Enfim, incumbe-lhe a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados, na forma do art. 5º, LXXIV. Ora, a criação e implantação de mecanismos com o objetivo de permitir que qualquer ente possa pleitear seus direitos, independentemente de seus recursos materiais, é um fator fundamental e imprescindível para consolidar um regime democrático.

Outrossim, entrou em vigor a emenda constitucional n. 45, no dia 31 de dezembro de 2004, a qual produziu profundas alterações na Carta Constitucional de 1988, entre eles a inserção ao extenso rol dos direitos e garantias fundamentais do direito púbico subjetivo à celeridade processual, a seguir transcrito o inciso LXXVIII: “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”.

Não basta, porém, a previsão constitucional, se na prática não é garantido um sistema judicial acessível a todos. O movimento de acesso à justiça trata de analisar e buscar os caminhos para superar as dificuldades ou obstáculos que fazem inacessíveis as liberdades civis e políticas.

(17)

A Carta de 1988, na verdade, ratificou todos os direitos, de primeira, segunda e terceira gerações, alem de contemplar os direitos individuais, sociais e coletivos. Dessa forma, tornou-se uma Constituição absolutamente paradigmática e uma das mais avançadas do mundo do ponto de vista da legalização dos direitos, ajudando, também, no retorno a um velho tema do debate brasileiro: a distância entre a legalidade e a realidade. O fato de a Constituição ter consagrado tantos direitos não fez com que se tornassem efetivos. Pelo contrário, a distância continua sendo um fator bastante considerável e apontado em várias análises. Ou seja, a despeito de termos tantos direitos consagrados, vivemos ainda em um País de poucos direitos reconhecidos e efetivados e de imensas injustiças sociais.

Sabe-se que as “portas de entrada” para o sistema judicial cresceram em gênero, número e grau, no entanto, a “porta de saída” não teve o mesmo desempenho. Ora, o simples fato de ter acesso, não significa a pacificação do conflito. Muitas vezes o que ocorre é justamente o contrário, pois o indivíduo pede a prestação jurisdicional para resolver um conflito, entretanto, o que recebe do Estado-Juiz é a demora em resolver a lide. Com isso, gera-se um outro conflito, sendo este entre a sociedade e o Poder Judiciário. Assim, não basta a aceitação de que pode o cidadão recorrer ao Poder Judiciário quando se sentir lesado ou ameaçado de lesão em seus direitos subjetivos. Faz-se necessário algo mais, qual seja, a necessidade de encurtamento dos litígios.

No dizer de Dinamarco (1999 apud Ednilson Andrade Arraes Melo, 2000, p.269), sempre se deve buscar no processo a pacificação social de forma mais rápida possível sem prejuízo da qualidade das decisões.

É notório que o sistema de justiça brasileiro não possui organização suficiente para por em prática o disciplinado pelo constituinte de 1988, tendo em vista os entraves ao acesso à justiça. Entraves estes de toda ordem, a titulo de ilustração, pode-se citar:

Entraves sociais - quadro social marcado por iniqüidades profundas;

Entraves legais - morosidade na prestação jurisdicional, ressalte-se a possibilidade de utilização de inúmeros recursos e incidentes processuais torna a tramitação dos processos judiciais extremamente morosa;

(18)

Entraves econômicos - a falta de condições materiais de boa parte dos cidadãos impede o exercício do direito de ação e do direito de defesa;

Entraves psicológicos, já que muitos temem ou não acreditam no Poder Judiciário.

Nesta ambição, isto é, facilitar o acesso à justiça, a fim de garantir a completa cidadania civil e social a toda à população, é que a Constituição Federal, de início, previu a criação de juizados especiais, em seu art. 98, da seguinte forma:

Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão:

I - juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau;

Em seguida, com a Emenda Constitucional n.22, de 18 de marco de 1999, a Constituição tornou obrigatória também a criação dos Juizados Especiais, no âmbito da Justiça Federal: “§ 1º Lei federal disporá sobre a criação de juizados especiais no âmbito da Justiça Federal”.

(19)

2 NOÇÕES GERAIS DE JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS

CÍVEIS

Instituídos pela Lei n°. 10.259/01, os Juizados Especiais Federais têm como principal função tornar a Justiça Federal mais célere e acessível aos jurisdicionados, no que respeita às causas de menor complexidade.

Em virtude dessa função, considerada primordial, tais juizados foram criados com características peculiares relativas à sua estrutura, organização, funcionamento e atos processuais, para tornar possível a realização de uma Justiça mais simples e efetiva do que na Justiça Comum.

Assim, faz-se imprescindível, preambularmente, para a compreensão e análise acerca do acesso à justiça nos Juizados Especiais Federais Cíveis o estudo de suas principais características estruturais e de funcionamento.

2.1 Estrutura e Organização

O artigo 19 da Lei n. 10.259/01 dispõe que: “Art. 19. No prazo de seis meses, a contar da publicação desta lei, deverão ser instalados os Juizados Especiais nas capitais dos Estados e no Distrito Federal”. Tal prazo estabelecido esgotaria em 13 de janeiro de 2002, quando completariam seis meses da publicação da lei supracitada.

(20)

Faz-se mister ressaltar que não houve uma padronização dos procedimentos para as cinco Regiões da Justiça Federal.

Os Juizados Especiais Federais estão vinculados aos respectivos Tribunais Regionais Federais. No entanto, tal vinculação é apenas administrativa, pois o Tribunal não julga nenhuma ação de competência desses Juizados e nem determina como os juízes devem julgar as ações.

A coordenação dos Juizados Federais ocorre de maneira a propor medidas de natureza administrativa, para agilizar os procedimentos, tornando mais efetiva a atividade jurisdicional. A Coordenação Geral, como é chamada, é também um foro de discussão jurídica de temas ligados aos juizados, estando a cargo de juiz do respectivo Tribunal Regional Federal. Regularmente os juízes se reúnem para debater questões comuns e uniformizar procedimentos.

Os juizados especiais no âmbito da Justiça Federal são compostos por juízes togados e conciliadores. Os juízes federais titulares e substitutos, com posição ativa, devem buscar a melhor solução para a lide, utilizando-se, para tanto, das regras ditadas pela experiência comum ou técnica, de acordo com o disposto no artigo 5° da lei dos juizados especiais, devendo também adotar em cada caso a decisão que reputar mais justa e equânime, atendendo aos fins sociais da lei e às exigências do bem comum, como estabelece o artigo 6° da mesma lei.

As turmas recursais são os órgãos de segundo grau dos juizados federais e são compostas por três juízes federais, em exercício no primeiro grau de jurisdição, e três suplentes. Com a atribuição de julgamento dos recursos contra as decisões dos juízes dos juizados especiais federais, tais órgãos devem nortear-se pelos mesmos princípios que regem os juizados. As decisões nos mesmos são colegiadas e tomadas por maioria de votos. Cada turma recursal tem uma secretaria que funciona nos juizados especiais federais das respectivas regiões.

2.2 Aplicação Subsidiária da Lei n°. 9.099/95

(21)

instituídos os Juizados Especiais Cíveis e Criminais da Justiça Federal, aos quais se aplica, no

que não conflitar com esta Lei, o disposto na Lei n. 9.099, de 26 de setembro de 1995.”

Assim, a lei estabelece que o seu operador utilize-se, como fonte supletiva de suas disposições, não das regras do processo comum, contidas no Código de Ritos, mas das insertas na Lei n°. 9.099/95, levando em conta, precipuamente, os princípios informadores desta, salvo se houver conflito com as especificidades inerentes aos Juizados Federais.

Ressalte-se que, para o sucesso da desafiante missão confiada à Juizados Especiais, isto é,

conferir o acesso à justiça aos mais carentes, de forma barata, simples e célere, o exegeta, diante das omissões da Lei e das dúvidas porventura surgidas, deverá recorrer aos princípios do próprio Juizado Especial – oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, como fonte supletiva das suas disposições, salvo se colidentes com as especificidades vivenciadas por aquele ramo do Judiciário. Assim, não deverá se valer das regras do processo comum, insertas no CPC, mas das contidas na Lei n. 9.099/95.

No mesmo diapasão, Antonio Fernando Schenkei do Amaral e Silva, (2004, p. 3): “Ora, se fosse vontade do legislador socorrer-se no velho regime, bastava ter ficado silente e mandado observar, de forma subsidiária, o CPC”.

A única forma de superação do atual sistema é o gradativo abandono do Código de Processo Civil, adotando-se soluções inteiramente novas e peculiares aos Juizados, inspiradas, como vimos, nos princípios da nova modalidade de se fazer Justiça, verdadeira contraposição ao antigo modo de pensar a jurisdição.

Oportuna é a transcrição das palavras do à época Ministro do STJ, Ruy Rosado de Aguiar (2002, p.195):

A aplicação subsidiária do Código de Processo Civil é que não deve ser feita, pois não está dito na Lei. Entendo que as questões procedimentais dos juizados, quando surgirem e não estiverem reguladas na Lei, devam ser resolvidas de acordo com os princípios desta lei, para preencher a lacuna, mas não usar, subsidiariamente, o formalismo do Código de Processo Civil.

(22)

dos Códigos Penal e Processual Penal, para solucionar as omissões da lei ou qualquer conflito no âmbito dos Juizados, deve-se recorrer aos princípios que os regem.

No entanto, deve-se observar a ressalva feita no artigo mencionado, que só deverá haver tal aplicação subsidiária, quando não houver conflito entre as leis. Sobre isto, oportuna é a transcrição das palavras de J. E. Carreira Alvim (2002, p.195):

Como a Lei 9.099/95 disciplina um procedimento de resolução das lides entre particulares (pessoas físicas, jurídicas e morais), não poderia o legislador prever a sua aplicação no âmbito federal sem fazer essa ressalva legal expressa, porquanto a Lei nº 10.259/01 trata da solução de conflitos diversos, entre particulares e a Administração Pública federal, autárquica e fundacional; e muitos dos preceitos aplicáveis aos juizados especiais estaduais não se ajustam aos juizados especiais federais, razão pela qual a aplicação subsidiária da Lei nº 9.099/95 à Lei nº 10.259/2001 deve respeitar esse requisito da compatibilidade.

2.3 Princípios norteadores

A Lei n°. 10.259/01 não dispõe sobre os princípios processuais que devem ser aplicados aos Juizados Especiais Federais. Assim, norteiam-se estes pelos princípios estabelecidos no art. 2º, da Lei nº. 9.099/95, por não se conflitarem, quais sejam, o da oralidade, da simplicidade, da informalidade, da economia processual e da celeridade.

(23)

preceitua que não deve haver um lapso temporal muito grande entre a prática de um ato processual e outro.

O princípio da simplicidade quer dizer que os atos processuais devem ser realizados da maneira simples, não se devendo oportunizar a ocorrência de incidentes processuais. O objetivo, na aplicação de tal princípio, é a desburocratização do processo, tornando possível o resultado da prestação jurisdicional de forma mais célere e eficaz.

O critério da simplicidade significa que o processo não deve oferecer oportunidade para incidentes (obstáculos) processuais, contendo-se toda a matéria de defesa na contestação, inclusive eventual pedido contraposto do réu, em seu favor, exceto as argüições de suspeição ou impedimento do juiz (exceções processuais), que se processam na forma do Código de Processo Civil. (ALVIM, 2002, p. 48)

O princípio da informalidade aponta para uma restrição no tocante ao registro dos atos processuais (da petição inicial à execução da sentença), ficando estes eivados com o mínimo de formalidade possível. As formas e ritos que possam comprometer a finalidade dos juizados devem ser desconsiderados.

O princípio da economia processual diz respeito ao fato de que se deve obter o máximo resultado com o mínimo de dispêndio econômico e temporal na atividade processual, com o uso racional dos instrumentos e formas processuais. Trata-se de um dos princípios informadores da teoria geral do processo, segundo o qual deve haver uma proporção necessária entre fins e meios, de forma que exista o equilíbrio do binômio custo-benefício.

O princípio da celeridade significa que o processo deve ser rápido, findando no menor tempo possível, tendo em vista que envolve demandas simples, sem complexidade jurídica.

2.4 Competência

(24)

O artigo 3°, da Lei dos Juizados Federais, dispõe que compete aos juizados especiais federais cíveis “processar, conciliar e julgar causas de competência da Justiça Federal até o valor de sessenta salários mínimos, bem como executar suas sentenças.”.

A fim de definir o que cabe aos Juizados Especiais Federais, primeiro deve-se acentuar que somente lhes toca apreciar feitos que se encontrem sob a alçada da Justiça Federal, enumerados, em rol taxativo, no art. 109, I a XI, da Constituição Federal, in verbis:

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:

I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;

II - as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa domiciliada ou residente no País;

III - as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo internacional;

IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;

V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;

V- A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo;

VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira;

VII - os "habeas-corpus", em matéria criminal de sua competência ou quando o constrangimento provier de autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição;

VIII - os mandados de segurança e os "habeas-data" contra ato de autoridade federal, excetuados os casos de competência dos tribunais federais;

IX - os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça Militar;

X - os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta rogatória, após o "exequatur", e de sentença estrangeira, após a homologação, as causas referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização;

XI - a disputa sobre direitos indígenas.

Além disso, a causa deve ter valor de até sessenta salários mínimos. No entanto, vale fazer a ressalva de que quando se tratar de parcelas vincendas, o somatório das doze parcelas não poderá exceder a tal limitação imposta, de acordo com o art. 3º, §2º da Lei n. 10.259/01.

(25)

causas: entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa domiciliada ou residente no País; fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo internacional; a disputa sobre direitos indígenas; as ações de mandado de segurança; de desapropriação; de divisão e demarcação; ações populares; execuções fiscais; ação de improbidade administrativa; as demandas sobre direitos ou interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos; sobre bens imóveis da União, autarquias e fundações públicas federais; para a anulação ou cancelamento de ato administrativo federal, salvo o de natureza previdenciária e o de lançamento fiscal; que tenham como objeto a impugnação da pena de demissão imposta a servidores públicos civis ou de sanções disciplinares aplicadas a militares.

De acordo com as regras de direito processual civil, a competência fixada em razão do valor da causa é relativa. No entanto, pela sistemática instituída pela Lei n.º 10.259/01, a competência fixada pelo critério valorativo é absoluta, diferentemente do regime dos Juizados Especiais Estaduais, em que se ofertou a possibilidade de escolha do demandante entre o regime dos Juizados Especiais e o da Justiça Comum, conforme o disposto no art. 3º, §3º.

Entretanto, verifica-se que essa competência é absoluta apenas quando e onde houver Vara de Juizado instalada. Nas jurisdições onde não existe sede de Juizados, as ações poderão ser ajuizadas na justiça comum, ainda que sejam de valor inferior a sessenta salários mínimos. Importante, observar ademais o art. 20 da Lei n. 10.259/01, que dispõe que: “Onde não houver Vara Federal, a causa poderá ser proposta no Juizado Especial Federal mais próximo do foro definido no art. 4o da Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995, vedada a aplicação desta Lei no juízo estadual”.

Ademais, deve-se destacar a preocupação do legislador em evitar que, no início de sua atuação, os juizados federais vejam-se acometidos por um grande número de feitos, tendo em vista que grande parte das demandas ajuizadas na Justiça Federal estão na alçada daquele patamar limite de sessenta salários mínimos.

(26)

23, a competência dos juizados cíveis, conforme a necessidade da organização dos serviços judiciários ou administrativos.

No que diz respeito à competência territorial, vale atentar para o fato de que as ações promovidas contra a União poderão ser aforadas na seção judiciária em que for domiciliado o autor, naquela onde houver ocorrido o ato ou fato que deu origem à demanda ou onde esteja situada a coisa, ou, ainda, no Distrito Federal. Diferentemente, quando se tratar de ação intentada contra os demais entes públicos deve-se observar o disposto no art. 4º da Lei 9.099, quanto à escolha do lugar abrangido pelo juizado especial federal, in litteris:

Art. 4° - É competente, para as causas previstas nesta lei, o juizado do foro:

I – do domicílio do réu ou, a critério do autor, do local onde aquele exerça atividades profissionais ou econômicas ou mantenha estabelecimento, filial, agência, sucursal ou escritório;

II – do lugar onde a obrigação deva ser satisfeita;

III – do domicílio do autor ou do local do ato ou fato, nas ações para reparação de dano de qualquer natureza.

Assim, nas demandas que tenham no pólo passivo a União, o autor poderá optar pelo local onde irá ajuizá-la, que poderá ser no domicílio do autor, no local do ato ou fato que deu origem à demanda ou onde esteja situada a coisa, ou, ainda, no Distrito Federal. Deste modo, o autor poderá optar por não submeter o caso ao Juizado, ajuizando a ação no local onde ainda não tenha sido instalado, diversamente do que ocorre nos casos de competência absoluta, onde não se admite prorrogação e nem escolha das partes quanto ao juízo competente para a ação, em virtude do interesse público que envolve a matéria.

Por fim, ressalte-se que onde não houver Vara Federal, a causa poderá ser proposta no Juizado Especial Federal mais próximo do foro definido no art. 4º da Lei n. 9.099/95, vedada a aplicação desta Lei no juízo estadual, de acordo com o art. 20 da Lei n. 10.259/01.

(27)

2.5 Das Partes

A legitimidade pode ser conceituada como a atribuição específica para agir concretamente, conferida aos titulares da ação, podendo, outrossim, ser conferida a terceiros, que não integram diretamente a lide firmada em juízo.

O autor é o titular da situação jurídica submetida a juízo. O réu é a outra parte legítima no processo, de quem o autor pretende um determinado bem.

2.5.1 Da parte autora

A Lei dos Juizados Especiais Federais estabelece que são possuidores de legitimidade ativa para demandar em tais instituições, as pessoas físicas e as microempresas e empresas de pequeno porte.

Com relação à capacidade de estar em juízo do autor, deve ser feita uma interpretação ampliativa para considerar que o incapaz, o preso e o insolvente civil também possuem legitimidade para pleitear nos Juizados Federais, tendo em vista que a Lei 10.259/01 não dispõe sobre o tema, aplicando-se, assim, o disposto no caput do art. 8º da Lei n. 9.099/95.

2.5.1.1 Da indispensabilidade de advogado e o

jus postulandi

O artigo 133 da Constituição Federal dispõe que “o advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei”. De acordo com tal dispositivo a participação de advogado no processo é obrigatória.

(28)

Deveras, enquanto no processo comum as partes deverão, obrigatoriamente, estar representadas por advogado, com as exceções dos casos de habeas corpus e ações

trabalhistas, conforme o disposto no art. 791 da CLT, nos juizados especiais essa representação é facultativa. Sabe-se que nas causas de valor até vinte salários mínimos, as partes podem ser assistidas ou não de advogados. No entanto, para causas de valor superior a assistência faz-se obrigatória, de acordo com o caput do art. 9º da Lei 9.099/95. Em seguida, o

§1º do referido artigo dispõe que sendo facultativa a assistência, se uma das partes comparecer assistida por advogado, ou se o réu for pessoa jurídica ou firma individual, terá a outra parte, caso queira, assistência judiciária prestada por órgão instituído junto ao Juizado Especial, na forma da lei local. Destaque-se, por fim, que no recurso, as partes serão obrigatoriamente representadas por advogado, conforme art. 41 § 2º da Lei n. 9.099/95.

O tema em questão é alvo de grande controvérsia. De um lado, os defensores da capacidade postulatória advogam que tal prerrogativa propicia um maior e mais fácil acesso à justiça pelos jurisdicionados, tendo em vista que a maioria das pessoas que procuram os juizados especiais são carentes, impossibilitadas de pagar um advogado.

Em contrapartida, parte dos estudiosos no assunto defende a indispensabilidade de advogado nos processos judiciais. Dentre estes, J.J. Calmon (1998, p. 41), que assevera que “cercear o advogado é cercear o cidadão. Limitar as prerrogativas do advogado é limitar as prerrogativas do cidadão. Constrangê-lo é constranger aquele”. Essa corrente argumenta que, mesmo inexistindo vedação expressa na lei, a capacitação postulatória direta não poderá ser aplicada aos juizados especiais, sob pena de ferir o disposto no artigo 134, da Constituição Federal.

2.5.2 Da parte ré

(29)

Federal, somente se admitirá que esta ocupe o pólo ativo da ação e o particular o passivo, no caso de pedido contraposto, o que não se configura propriamente numa inversão.

As pessoas jurídicas de direito público serão representadas, em juízo, por suas respectivas advocacias ou procuradorias.

Não poderão ser partes nos Juizados Federais, o condomínio, o espólio, as associações ou sociedades beneficentes, assistenciais ou sociedades civis sem fins lucrativos.

A Lei n.º 10.259/01 não faz qualquer restrição expressa quanto aos incapazes e presos serem partes nos processo dos Juizados, entretanto, por aplicação subsidiária da Lei n.º 9.099/95, no caso em tela, o caput do art. 8º, aplica-se a mencionada restrição.

2.6 Processo Judicial

Segundo CINTRA et all (2001, p.23), pode-se conceituar processo, “como instrumento por meio do qual os órgãos jurisdicionais atuam para pacificar as pessoas conflitantes, eliminando os conflitos e fazendo cumprir o preceito jurídico pertinente a cada caso que lhes é apresentado em busca de solução”.

Para um melhor entendimento sobre a atuação dos Juizados Especiais Federais Cíveis e a efetividade de sua prestação jurisdicional, faz-se necessário uma análise sobre as regras principais relativas aos atos processuais em tais órgãos.

O sistema utilizado pela lei dos juizados federais baseou-se no princípio da instrumentalidade, preocupando-se em aproveitar ao máximo os atos praticados, ainda que contenham algum vício, desde que alcancem a finalidade e não se verifique prejuízo às partes.

2.6.1 Citações e Intimações

(30)

De acordo com o art. 213 do Código de Processo Civil, de 11 de janeiro de 1973, citação é o ato pelo qual se chama a juízo o réu ou o interessado a fim de se defender. O art. 234 do CPC define intimação como o ato pelo qual se dá ciência a alguém dos atos e termos do processo, para que faça ou deixe de fazer alguma coisa.

A Lei 10.259/01 estabeleceu distinção entre a citação da União e a das autarquias, fundações e empresas públicas, devendo aquela ser pessoal. De acordo com seu artigo 7°, em se tratando da União Federal, as citações e as intimações dar-se-ão na forma prevista nos artigos 35 a 38 da Lei Complementar n° 73, de 10 de fevereiro de 1993, in verbis:

Art. 35. A União é citada nas causas em que seja interessada, na condição de autora, ré, assistente, oponente, recorrente ou recorrida, na pessoa:

I - do Advogado-Geral da União, privativamente, nas hipóteses de competência do Supremo Tribunal Federal;

II - do Procurador-Geral da União, nas hipóteses de competência dos tribunais superiores; III - do Procurador-Regional da União, nas hipóteses de competência dos demais tribunais;

IV - do Procurador-Chefe ou do Procurador-Seccional da União, nas hipóteses de competência dos juízos de primeiro grau.

Art. 36. Nas causas de que trata o art. 12, a União será citada na pessoa: I - (Vetado);

II - do Procurador-Regional da Fazenda Nacional, nas hipóteses de competência dos demais tribunais;

III - do Procurador-Chefe ou do Procurador-Seccional da Fazenda Nacional nas hipóteses de competência dos juízos de primeiro grau.

Art. 37. Em caso de ausência das autoridades referidas nos arts. 35 e 36, a citação se dará na pessoa do substituto eventual.

Art. 38. As intimações e notificações são feitas nas pessoas do Advogado da União ou do Procurador da Fazenda Nacional que oficie nos respectivos autos.

Por sua vez, as citações das autarquias, fundações e empresas públicas devem ser feitas na pessoa do representante máximo da entidade, no local em que ajuizada a ação ou no lugar em que a entidade estiver sediada, caso não haja escritório ou representação da pessoa jurídica no local do ajuizamento da demanda.

(31)

caso de necessidade de utilização de carta precatória, tal providência será efetuada pelo modo mais rápido possível.

Por seu turno, o art. 8º, caput, da Lei dos Juizados Federais, com relação às intimações,

dispõe, in litteris:

Art. 8o As partes serão intimadas da sentença, quando não proferida esta na audiência em

que estiver presente seu representante, por ARMP (aviso de recebimento em mão própria). § 1o As demais intimações das partes serão feitas na pessoa dos advogados ou dos Procuradores que oficiem nos respectivos autos, pessoalmente ou por via postal. § 2o Os tribunais poderão organizar serviço de intimação das partes e de recepção de

petições por meio eletrônico.

As intimações da União serão feitas ao advogado da União ou ao procurador da Fazenda Nacional que oficiar nos autos. Quanto às autarquias, fundações e empresas públicas, estas serão intimadas na pessoa dos seus representantes judiciais que oficiem perante os autos, alternativamente, mediante cientificação pessoal ou pela via postal.

No que pertine à intimação da sentença, esta será feita, em regra, na própria audiência em que estiverem presentes as partes ou seus representantes. No entanto, quando esta for proferida fora da audiência, sem que as partes tenham sido intimadas previamente para estarem presentes, far-se-á a intimação por aviso de recebimento em mão própria.

Entretanto, este mecanismo não poderá ser utilizado para a intimação da União, em vista do que preceitua o artigo 38, da Lei Complementar n. 73/93.

(32)

2.6.2 Conciliação e Instrução

Após o recebimento da ação, serão designadas data e hora para a realização da audiência de conciliação, que será realizada pelos conciliadores, à qual ambas as partes devem comparecer. A ausência da parte ré ou do preposto à mesma acarretará os efeitos da revelia. Ausentando-se, no entanto, a parte autora a tal audiência, o processo será extinto sem exame do mérito, em conseqüência da desídia, havendo condenação em custas, conforme disposto no artigo 51, da Lei 9.099/95.

Caso haja êxito na conciliação, o acordo deverá ser reduzido a termo pelo conciliador e apresentado ao juiz, que irá homologar a transação por sentença. No entanto, se a audiência de conciliação não lograr êxito, será realizada audiência de instrução e julgamento.

Na hipótese de a conciliação não ter sido obtida, terá início a fase de instrução e julgamento, que somente poderá ser dirigida por juiz togado. É nessa oportunidade que o réu apresentará sua defesa escrita ou oral, podendo, também, formular pedido contraposto, tendo este que ser fundado nos mesmos fatos que constituíram o pedido inicial do autor e sendo decidido na mesma sentença que o pedido exordial. A parte autora responderá ao pedido contraposto na própria audiência ou em outra a ser designada.

Com relação aos incidentes processuais, se interferirem no prosseguimento da audiência, serão dirimidos de plano. Os demais serão decididos na sentença. As decisões interlocutórias, nessa fase processual, não são passíveis de agravo, podendo, no entanto, a matéria ser apreciada de ofício na sentença ou impugnada via recurso da decisão definitiva. Não se admite a reconvenção.

2.6.3 Provas

(33)

disponíveis na audiência de conciliação. No entanto, essas poderão também ser produzidas para a audiência de instrução e julgamento, ainda que não requeridas previamente, cabendo ao juiz limitar ou excluir as que considerar excessivas, impertinentes ou protelatórias. O registro das provas será feito através de sistema eletrônico de gravações, em respeito ao princípio da celeridade.

As testemunhas serão ouvidas na audiência de instrução e julgamento, juntamente com as partes em litígio, e poderão ser de até três para cada umas destas. As mesmas devem ser levadas pela parte que as arrolou, independente de intimação. Na hipótese de a parte não poder levá-las, deverá requerer a intimação das mesmas até cinco dias antes da audiência de conciliação, instrução e julgamento. Deve-se ressaltar que a prova oral não será reduzida a escrito, devendo ser gravada em fitas magnéticas.

No que pertine à prova documental, o ônus em relação às questões de fato, no que respeita à causa, pertence às entidades públicas, que deverão apresentá-los até a realização da audiência de conciliação. Caso isto não ocorra, não havendo conciliação e sendo instalada a audiência de instrução e julgamento, a omissão tornará incontroversas as alegações iniciais, na medida do convencimento do juiz. Vale salientar que é possível a colação de documentação não juntada pelo autor na exordial.

Com relação à prova pericial, nas causas em que houver necessidade de exame técnico, o juiz nomeará pessoa habilitada, que apresentará o laudo até cinco dias antes da audiência, independentemente da intimação das partes. Os honorários do perito serão antecipados à conta de verba orçamentária do respectivo Tribunal, e, no caso de derrota da entidade pública, seu valor será incluído na ordem de pagamento a ser feita em favor do tribunal. Nas ações previdenciárias e relativas à assistência social, havendo designação de exame, serão as partes intimadas para, em dez dias, apresentarem quesitos e indicar assistentes. Poderá, outrossim, o juiz, na audiência de instrução, de ofício ou a requerimento das partes, realizar inspeção em pessoas ou coisas ou determinar que pessoa de sua confiança o faça.

2.6.4 Sentença

(34)

ato, deverá ser observado o disposto na Lei n. 9.099/95 sobre esse assunto. Em seu artigo 38, temos que esta há de mencionar os elementos de convicção do juiz, com breve resumo dos fatos relevantes ocorridos em audiência, sendo dispensado o relatório.

Apesar de concisa, deverá a sentença ser fundamentada, observando o exposto no art. 98, IX, da Constituição Federal, in litteris:

Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação.

Constata-se, com isso, que, não obstante vigorar nos Juizados Especiais Federais o princípio da informalidade, a sentença não poderá ser omissa quanto à motivação.

Com relação ao disposto no artigo 38, parágrafo único, da Lei dos Juizados Estaduais, que reza que a sentença condenatória deverá fixar a obrigação a ser cumprida de modo líquido, ainda que genérico o pedido, poderá o juiz utilizar-se dos serviços da contadoria do foro.

Por fim, deve-se observar o regulamentado no artigo 39 da mesma lei que declara ineficaz a sentença condenatória na parte que exceder a alçada estabelecida a mesma.

2.6.5 Recursos

De acordo com o artigo 98, inciso I, da Constituição Federal, os recursos nos Juizados Especiais Federais serão julgados por uma Turma composta por juízes em exercício no primeiro grau de jurisdição, seguindo a mesma sistemática dos juizados especiais estaduais.

(35)

Federais, com a exceção das decisões relativas às medidas cautelares. Tal restrição se dá em respeito ao princípio da celeridade.

Da sentença cabe recurso. Não havendo na lei uma denominação específica, utiliza-se a empregada na esfera estadual, qual seja, recurso inominado, que deverá ser interposto no prazo de dez dias, contados da intimação da sentença em audiência, para a turma recursal (art. 41 da Lei 9.099/95). Este terá efeito, em regra, devolutivo e, em casos de provável dano irre-parável para a parte, pode-se conferir efeito suspensivo, de acordo com o artigo 43 da Lei dos Juizados Especiais. Além deste recurso, os embargos de declaração também são aceitos, devendo ser interpostos em cinco dias, contados da ciência da decisão. Tal recurso é permitido pelo artigo 48, da Lei 9.099/95, permanecendo, no entanto, impassíveis de recurso as sentenças homologatórias de acordo ou laudo pericial, segundo estabelece o artigo 26, da mesma lei. Veja-se os artigos da lei dos juizados especiais, verbis:

Art. 41. Da sentença, excetuada a homologatória de conciliação ou laudo arbitral, caberá recurso para o próprio Juizado.

§ 1º O recurso será julgado por uma turma composta por três Juízes togados, em exercício no primeiro grau de jurisdição, reunidos na sede do Juizado.

§ 2º No recurso, as partes serão obrigatoriamente representadas por advogado.

Art. 42. O recurso será interposto no prazo de dez dias, contados da ciência da sentença, por petição escrita, da qual constarão as razões e o pedido do recorrente.

§ 1º O preparo será feito, independentemente de intimação, nas quarenta e oito horas seguintes à interposição, sob pena de deserção.

§ 2º Após o preparo, a Secretaria intimará o recorrido para oferecer resposta escrita no prazo de dez dias.

Art. 43. O recurso terá somente efeito devolutivo, podendo o Juiz dar-lhe efeito suspensivo, para evitar dano irreparável para a parte.

Art. 44. As partes poderão requerer a transcrição da gravação da fita magnética a que alude o § 3º do art. 13 desta Lei, correndo por conta do requerente as despesas respectivas. Art. 45. As partes serão intimadas da data da sessão de julgamento.

Art. 46. O julgamento em segunda instância constará apenas da ata, com a indicação suficiente do processo, fundamentação sucinta e parte dispositiva. Se a sentença for confirmada pelos próprios fundamentos, a súmula do julgamento servirá de acórdão.

(36)

motivação para se recorrer a um meio alternativo de solução do conflito é justamente a possibilidade de se pôr fim ao processo. Assim, se o processo não findasse com a conciliação ou a arbitragem, a parte autora deixaria de utilizar tais meios.

No processo de execução, em virtude da previsão expressa na Lei dos Juizados Especiais, em seus artigos 52 e 53, de aplicação subsidiária do Código de Processo Civil, é cabível a interposição de agravo em caso de medida liminar ou antecipação de tutela.

No que pertine ao pedido de uniformização de interpretação de lei federal, situação prevista no artigo 14 da Lei 10.259/01, parte dos doutrinadores defende a inconstitucionalidade de tal dispositivo, tendo em vista que atribui ao Superior Tribunal de Justiça competência para julgar os recursos provenientes das decisões proferidas pela Turma Recursal dos Juizados, que não se trata de tribunal, atribuindo ao STJ competência diversa daquela que já foi devidamente delineada pela Constituição Federal, em seu artigo 105, inciso III.

Ademais, a inconstitucionalidade do mencionado artigo da lei dos juizados federais também é alegada por doutrinadores no que respeita à determinação trazida pelo dispositivo de que o Coordenador da Justiça Federal, ministro do Superior Tribunal de Justiça integrante do Conselho da Justiça Federal, cuja função é meramente administrativa, é que deve presidir a Turma de Uniformização, integrada por juízes de Turmas Recursais.

A Lei dos Juizados Especiais Federais trata do recurso extraordinário em duas passagens, primeiro no art. 14, § 1, ao falar da composição dos órgãos e procedimentos a serem adotados para o processo e julgamento do recurso extraordinário, in verbis:

§ 10. Os Tribunais Regionais, o Superior Tribunal de Justiça e o Supremo Tribunal Federal, no âmbito de suas competências, expedirão normas regulamentando a composição dos órgãos e os procedimentos a serem adotados para o processamento e o julgamento do pedido de uniformização e do recurso extraordinário.

(37)

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:

omissis

III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância, quando a decisão recorrida:

a) contrariar dispositivo desta Constituição;

b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;

c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição. d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal.

2.6.6 Execução

O art. 3º da Lei n. 10.259/01 atribui aos Juizados Especiais Federais Cíveis a competência de processar, conciliar e julgar causas de competência da Justiça Federal até o valor de sessenta salários mínimos, bem como executar as suas sentenças. A rigor, sabemos

que não há no Juizado Especial a sentença condenatória clássica, que redunda na instituição de um título executivo que será objeto de uma ação autônoma.

O novo sistema visou remover os entraves até então enfrentados pelos administrados, com vistas a fazer cumprir as decisões lançadas em detrimento do Poder Público. O art. 16 da Lei n. 10.259/01 trata da execução da sentença, determinando que o cumprimento da obrigação de fazer, não fazer e entregar coisa será efetuado mediante cientificação da autoridade pública mediante ofício do magistrado, juntamente com a cópia da decisão exeqüenda. Dispõe o referido artigo da seguinte forma:

Art. 16. O cumprimento do acordo ou da sentença, com trânsito em julgado, que imponham obrigação de fazer, não fazer ou entrega de coisa certa, será efetuado mediante ofício do Juiz à autoridade citada para a causa, com cópia da sentença ou do acordo.

(38)

17, § 2º, o seqüestro do numerário suficiente ao cumprimento da decisão. Importante transcrever o art. 17 da lei supracitada:

Art. 17. Tratando-se de obrigação de pagar quantia certa, após o trânsito em julgado da decisão, o pagamento será efetuado no prazo de sessenta dias, contados da entrega da requisição, por ordem do Juiz, à autoridade citada para a causa, na agência mais próxima da Caixa Econômica Federal ou do Banco do Brasil, independentemente de precatório.

§ 1o Para os efeitos do § 3o do art. 100 da Constituição Federal, as obrigações ali

definidas como de pequeno valor, a serem pagas independentemente de precatório, terão como limite o mesmo valor estabelecido nesta Lei para a competência do Juizado Especial Federal Cível (art. 3o, caput).

§ 2o Desatendida a requisição judicial, o Juiz determinará o seqüestro do numerário

suficiente ao cumprimento da decisão.

§ 3o São vedados o fracionamento, repartição ou quebra do valor da execução, de modo que o pagamento se faça, em parte, na forma estabelecida no § 1o deste artigo,

e, em parte, mediante expedição do precatório, e a expedição de precatório complementar ou suplementar do valor pago.

§ 4o Se o valor da execução ultrapassar o estabelecido no § 1o, o pagamento far-se-á,

(39)

3 O ACESSO À JUSTIÇA NOS JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS

CÍVEIS

Um estudo realizado pelo Ministério da Justiça, em 2004, intitulado de Diagnóstico do Poder Judiciário, tem o objetivo de realizar um mapeamento de recursos humanos e materiais com todas as instituições que compõem o Poder Judiciário brasileiro. Algumas conclusões do estudo merecem ser destacadas com relação à Justiça Federal: a evolução do número de processos na 1ª instancia da Justiça Federal dos estados da Federação indica que as políticas de acesso à Justiça geram acréscimo da demanda (ver anexo A); desde de 2000, o número de processos nos Tribunais Regionais Federais vem diminuindo, que pode ser explicada pela crescente dos Juizados Especiais Federais (ver anexo A); A Justiça Federal registra 8,2% dos magistrados, incluídos os da 1ª e 2ª instâncias, do Brasil e recebe 11,9% do total de processos; a Justiça com menor proporção magistrado/processo é a Justiça Federal, o que justifica a criação de novas Varas Federais pela Lei 10.772/03; dos 17,3 milhões de processos distribuídos em 2003, 1.728.474 foram distribuídos para a 1ª instância da Justiça Federal, no entanto, somente 57% dos processos, ou 986.838 processos, foram julgados, registrando assim o mais baixo índice de processos julgados entre todos os tipos de tribunais de julgamento do país. Destaque-se que os números de processos julgados não incluem os dados dos Juizados Especiais Federais.

Em estatísticas especificas, a situação dos Juizados Especiais Federais, no que tange à quantidade de processos distribuídos, julgados e em tramitação, temos o seguinte quadro (ver anexo B):

Ano 2002 2003 2004

Distribuídos 348.809 916.442 1.553.647

Julgados 116.368 514.760 1.153.274

Tramitação 281.779 916.278 2.007.618

(40)

Chega-se à mesma conclusão do estudo anterior com relação à evolução do número de processos nos Juizados Especiais Federais, indicando que a sociedade brasileira é extremamente conflitiva e que as políticas de acesso à Justiça, ainda que insuficientes, geram acréscimo da demanda. Vislumbra-se também uma evolução na quantidade de processos julgados em relação à quantidade de processos distribuídos, porém ainda longe dos 100%, que seria o ideal.

Pois bem, esta é a situação que vive o Judiciário federal no Brasil. Assim, interessante analisar, diagnosticar e criticar o funcionamento, estrutura e ações dos Juizados Especiais Federais Cíveis sob vários aspectos, para melhor compreender a realidade dos mesmos e sugerir mudanças a fim de ampliar o acesso à justiça.

3.1 Da quantidade de Juizados Especiais Federais Cíveis e de pessoal

Para um amplo acesso à justiça, faz-se necessário um quadro de pessoal suficiente e qualificado para a prestação jurisdicional. Oportuno, então, analisar a situação dos servidores e magistrados, no âmbito da Justiça Federal.

Segundo dados de 30 de setembro de 2005, a Justiça Federal possui 1.486 cargos criados e 1.102 cargos providos de juízes (ver anexo C). A população estimada do Brasil, segundo o IBGE, no dia 22 de outubro de 2005, era de aproximadamente 184.800.000. Assim, tem-se aproximadamente 167.695 pessoas para cada Juiz Federal. Os salários dos juízes no Brasil, na esfera federal, quando comparados com os de outros países, em 2000, encontrava-se no topo da lista, de acordo com dados do Banco Mundial, considerando a paridade do poder de compra (ver anexo D). 69. Ademais, os juízes federais da 1ª instância apresentaram salários superiores aos de todos os países, à exceção do Canadá.

Com relação à questão de se o número de juízes é suficiente para a demanda, destaque-se o estudo realizado pelo Condestaque-selho da Justiça Federal, Subsídios para a ampliação do número de juízos federais. Segundo o estudo, para a 1ª e 2ª Região o número ideal de

Referências

Documentos relacionados

Vale ressaltar que o PNE guarda relação direta com o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) que tem como objetivo o desenvolvimento econômico e social, além de

Depois de exibido o modelo de distribuição orçamentária utilizado pelo MEC para financiamento das IFES, são discutidas algumas considerações acerca do REUNI para que se

intitulado “O Plano de Desenvolvimento da Educação: razões, princípios e programas” (BRASIL, 2007d), o PDE tem a intenção de “ser mais do que a tradução..

O caso de gestão estudado discutiu as dificuldades de implementação do Projeto Ensino Médio com Mediação Tecnológica (EMMT) nas escolas jurisdicionadas à Coordenadoria

Dessa forma, diante das questões apontadas no segundo capítulo, com os entraves enfrentados pela Gerência de Pós-compra da UFJF, como a falta de aplicação de

insights into the effects of small obstacles on riverine habitat and fish community structure of two Iberian streams with different levels of impact from the

Este estágio de 8 semanas foi dividido numa primeira semana de aulas teóricas e teórico-práticas sobre temas cirúrgicos relevantes, do qual fez parte o curso

In a multiple tidal inlet system, morphological adaptation to changes in hydrodynamic forcing and/or sediment supply is frequently profound and results in both short- and