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Deve-se antes diferenciar os vocábulos “virtual” e “digital”. A digitalização consiste no simples processo de transferir dados ou imagens para o meio magnético, no caso para o computador. Já a virtualização, segundo Bruno Augusto Santos Oliveira (2004, p.10), seria:

(...) ‘ato de fazer as vezes do outro, em virtude ou em atividade’ – vai além da simples eliminação do papel, pois atribui ao computador funções repetitivas anteriormente executadas pelos servidores da Justiça Federal: a máquina faz as vezes do homem nas atividades automáticas, deixando ao ser humano apenas as atividades criativas e mais elaboradas.

Assim, o Juizado Especial Federal Virtual é um sistema de informática que visa à eliminação de qualquer movimentação física de processos no âmbito do Juizado Especial Federal. O Tribunal Regional Federal da 3ª Região, em especial a seção de São Paulo, foi pioneira neste processo de virtualização. Em 2002, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região tornou-se o segundo a desenvolver e lançar a tecnologia do Juizado Virtual.

O funcionamento do Juizado Virtual começa com a petição inicial e os documentos trazidos pela parte. Estes podem ser levados por meio magnético ou através de papel. Todos os documentos em papel serão digitalizados por meio de scanners, disponíveis no próprio Juizado. As partes serão cadastradas e o atermador autua o processo com o número gravado pelo sistema, nele juntando a petição inicial e os documentos escaneados. Em seguida, o processo é distribuído e o próprio computador busca para o servidor próxima data da audiência de conciliação, sendo esta de pronto agendada, se necessário será agendada também a perícia. As citações e intimações são feitas por meio de correio eletrônico. Ao ser aberto o e- mail pelo destinatário, o sistema enviará um aviso para a Secretaria do Juizado. As contestações e demais petições são enviadas por meio do sistema denominado de e-proc. Estas serão recebidas e juntadas automaticamente ao processo pelo sistema. Assim como os mandados e despachos, os magistrados podem sentenciar simultaneamente vários processos. Depois de assinadas, por meio de canetas eletrônicas, o processo virtual segue para o próximo passo. Ressalte-se que toda a movimentação é feita eletronicamente, inclusive o trâmite entre os setores internos do Juizado Especial Federal.

Segundo a cartilha sobre os Juizados Especiais Virtuais da 1ª Região, as vantagens do Juizado Virtual são:

ELIMINAÇÃO DO PAPEL. Todos os documentos trazidos são escaneados e

juntados aos autos. É o processo da digitalização influindo no uso racional do papel.

AUTUAÇÃO AUTOMÁTICA PELO SISTEMA. A numeração única para todas

ASSINATURA DIGITAL. Para documentos que necessitem de assinatura, o

sistema disponibiliza a captura eletrônica de assinaturas, que é realizada por canetas eletrônicas.

MARCAÇÃO AUTOMÁTICA DE AUDIÊNCIAS. O próprio computador indica

a próxima data disponível para a audiência.

CONFECÇÃO AUTOMÁTICA DE DOCUMENTOS PELA ‘MESCLAGEM DE DADOS’. Uma vez cadastrados os dados das partes pelo número do processo,

qualquer documento (mandado, decisão, despacho) será automaticamente montado pelo computador, com os dados específicos de cada espécie, mediante o simples lança mento do número do processo.

MARCAÇÃO AUTOMÁTICA DE PERÍCIAS. Além de buscar a próxima data

disponível para a realização da perícia, o computador identifica a especialidade da perícia e os horários livres para a sua marcação.

CONTESTAÇÃO, PETICIONAMENTO INICIAL E INCIDENTAL VIA E- PROC. Os advogados não precisam comparecer ao serviço de protocolo do

Judiciário. Suas peças processuais e documentos podem ser enviados pela internet.

CITAÇÃO, INTIMAÇÃO, OFÍCIOS, ETC. POR E-MAIL. O réu é citado por e- mail; também por e-mail ocorrem as intimações, o envio de ofícios e outros atos que, pela forma tradicional, exigiriam o uso de oficial de justiça ou serviços dos Correios.

LANÇAMENTO DE FASES. A fase processual, hoje lançada em sistema à parte,

pode ser registrada manualmente no próprio sistema do JEF Virtual. Nos procedimentos padronizados, o computador poderá fazer o lançamento de forma automática, após reconhecer a situação do processo.

ASSINATURA DIGITAL CRIPTOGRAFADA. No caso de documentos que

precisam da assinatura de juízes, o sistema possui um cadastro de assinaturas gravadas com senhas criptografadas. Sendo assim, basta o juiz digitar sua senha para que o documento seja assinado, o que lhe permite assinar vários processos ao mesmo tempo e, conseqüentemente, aumentar a celeridade da prestação jurisdicional.

VERIFICAÇÃO DE PREVENÇÃO AUTOMÁTICA PELO SISTEMA. O

sistema verifica se ocorreu a prefixação de competência decorrente da conexão ou continência.

TRAMITAÇÃO VIRTUAL. O Juizado Virtual permite o controle de toda a

tramitação do processo. Um exemplo disso é a possibilidade de se encaminhar para a caixa de e-mails do servidor responsável pelas citações e intimações os documentos para envio, o que alivia sobremaneira o trabalho do setor de publicação e termina com o cansativo trabalho de movimentação de volumosos autos de um setor para outro.

CONSULTA VIA INTERNET. Através do site do Tribunal Regional Federal da

Primeira Região (www.trf1.gov. br), as partes têm acesso ao andamento do processo, o que lhes permite usufruir de toda a tranqüilidade, comodidade, segurança e tecnologia que a internet pode oferecer.

PUBLICIDADE MÁXIMA. Pela internet, o processo pode ser consultado em

qualquer parte do planeta, o que garante a publicidade dos atos judiciais em tempo real.

SEGURANÇA DOS DADOS E DAS INFORMAÇÕES. Cada documento

cadastrado possui um código identificador único, o que assevera a confiabilidade dos dados existentes e das novas informações.

ARMAZENAMENTO DE DADOS. O Juizado Virtual possui um banco de dados

baseado em projeções de crescimento do número de feitos, de modo a suportar os dados que serão armazenados.

VELOCIDADE DE OPERAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DOS DADOS. Uma

das principais críticas ao Poder Judiciário diz respeito à lentidão das soluções. O Juizado Virtual foi concebido, então, para eliminar a morosidade e responder em tempo hábil às necessidades dos servidores e dos jurisdicionados.

MAIOR SEGURANÇA CONTRA PERDA DE AUTOS. O Juizado Virtual

possui um completo sistema de becape (cópias de segurança), visando à recuperação de qualquer informação que possa ser perdida. Com essa rotina de segurança, termina o penoso trabalho de reconstituição de autos perdidos ou extraviados.

REDUÇÃO DO SERVIÇO BUROCRÁTICO. Com o advento do Juizado Virtual,

serviços repetitivos e cansativos como a numeração de páginas de autos foram suprimidos, passando a ser realizados pelo computador. Além disso, toda a movimentação do processo é feita eletronicamente, inclusive o trâmite entre os departamentos do Juizado.

SIMPLICIDADE DE ROTINAS. A redução do serviço burocrático e repetitivo

torna as rotinas mais simples e ágeis.

MELHOR APROVEITAMENTO DO TEMPO PARA OS SERVIÇOS TIPICAMENTE JURÍDICOS. As vantagens decorrentes da implantação do

Juizado Virtual permitem que o tempo hoje perdido com serviços burocráticos possa ser utilizado no desenvolvimento de atividades tipicamente jurídicas, tais como elaboração de minutas de sentenças e decisões e atermações de pedidos, o que contribui para o aumento da qualidade da prestação jurisdicional.

O Juizado Especial Virtual visa, por meio da eliminação de qualquer movimentação física do processo, com a redução do serviço burocrático, que consome enorme quantidade de tempo e de forca de trabalho, a maior celeridade, simplicidade, publicidade, segurança e eficiência da Justiça.

Segundo dados do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, cada autos do processo- papel custa à Justiça Federal em torno de R$ 20,00. Já o custo de virtualização de um Juizado fica em torno de R$ 50.000,00. Assim, a distribuição de 2.500 processos cobre os custos de implantação do Processo Eletrônico. Destaque-se que é de intenção de muitos a implantação da virtualização em Varas Federais comuns.

Apesar desta gama de vantagens e benefícios trazidos pelos Juizados Virtuais, um fato de grande relevância que deve ser posto em pauta, e que não vem sendo tratado é o grau de “exclusão digital” da sociedade brasileira. Segundo estudos do Centro de Políticas Sociais/Fundação Getúlio Vargas, em 2001, somente 12,46% da população brasileira dispunha de acesso em seus lares a computadores. Ademais, somente 8,31% à Internet. Assim, vislumbra-se um alto grau de “exclusão digital” no Brasil. Importante trazer a colação o grau de “inclusão digital” das cidades que possuem Varas Federais ou que foram contempladas pela Lei n. 10.772/03 no estado do Ceará, ainda que não instaladas em alguns casos. De 5084 municípios, Fortaleza aparece na 196ª posição, com 12,31% de incluídos; Crato, na 1272ª posição, com 4,88%; Sobral, na 1438ª posição, com 4,42%; Juazeiro do Norte, na 1545ª posição, com 4,15%; Limoeiro do Norte, na 1581, com 4,02%; Iguatú, na 2279ª posição, com 2,55%; Crateús, na 2717ª, com 1,89%; Quixadá, na 2819ª posição, com 1,75%; por fim, Tauá, na 4061ª posição, com 0,72%.

Assim, apesar de em algumas Regiões tem-se a idéia de instalar atendimento em praças, prefeituras e repartições públicas, para permitir uma maior interação do Poder Judiciário com a população, crê-se que se torna complicado para os cidadãos parcos de recursos compreenderem a digitalização do processo, pois muitos sequer utilizaram um computador em sua vida. Com isso, fazem-se necessárias uma série de políticas públicas a fim de intentar diminuir a exclusão digital, sob pena de futuramente, quando da disseminação pelas outras varas da Justiça, ou até hoje, dado que Juizados Especiais Virtuais estão sendo criados pelos rincões deste Brasil, ser isto mais um obstáculo ao acesso à Justiça. Destaque-se que a inovação em torno da implantação do sistema virtual representa muito mais do que um avanço tecnológico criado para facilitar o trabalho dos juízes e serventuários da Justiça. Representa um verdadeiro instrumento a serviço do cidadão comum que acessa à justiça em busca de fazer valer os seus direitos de forma mais célere.

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