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Atendimentos Ambulatoriais, Internações e Óbitos na População Indígena

2- POVOS INDÍGENAS, GLOBALIZAÇÃO, INTERCULTURALIDADE E SAÚDE-

4.2 Processo Saúde-Doença: o Discurso Oficial

4.2.7 Atendimentos Ambulatoriais, Internações e Óbitos na População Indígena

Destacam-se como principais causas dos atendimentos ambulatoriais e internações hospitalares, alguns agravos que, quando observados em sua tessitura, traduzem um quadro evidente de falta de acesso aos elementos determinantes de qualidade de vida e saúde. Os dados explorados são reveladores em apontar impactos provenientes das relações assimétricas de poder político, econômico, social e cultural que permeiam as mediações entre povos indígenas e sociedade local e global na busca pelo fortalecimento dos determinantes de saúde e qualidade de vida.

O grande número de atendimentos por problemas ortopédicos e dorsalgias, expressa, possivelmente, uma íntima relação com o desempenho de atividades ocupacionais de plantio, manejo e corte de eucaliptos, uma das poucas formas de sobrevivência na região. Essa relação fica bem ilustrada quando associada aos coeficientes, também, elevados, de procedimentos de Raio X de coluna que se encontram descritos na tabela 8. Se por um lado, os povos indígenas do Espírito Santo refutam ideologicamente o modelo monocultor da eucaliptocultura implementada há décadas pela empresa Aracruz Celulose em suas terras e arredores, por

outro, se vêem impulsionados pelo ganho certo e imediato proveniente desse trabalho para a subsistência de muitas famílias devido à inexistência de investimentos em outras parcerias economicamente viáveis.

Tabela 7 Atendimentos ambulatoriais na população Tupiniquim e Guarani

ATENDIMENTOS AMBULATORIAIS 2004 2005 Anemia 36 45 Diabetes Mellitus 46 47 Epilepsia 3 7 Hipertensão Arterial 302 182 Otite 132 31

Doenças do Trato Respiratório Superior 500 216

Pneumonia 57 38

Tuberculose 1 0

Asma 71 52

Gastroenterite 62 9

Parasitose Intestinal 102 45

Transtornos Mentais e Comportamentais 1 4

Paralisia Infantil 0 1 Piodermite 121 91 Dermatomicose 59 35 Parasitose Superficial 14 55 Neoplasia 1 0 Dorsalgia 58 11 Traumatismos 10 2 Fonte: FUNASA (2004, 2005)

Os elevados coeficientes de atendimentos oftalmológicos chamam a atenção por superarem os de pediatria, cardiologia e angiologia no ano de 2006. Entretanto, merece destaque especial para este mesmo ano, os atendimentos especializados em psiquiatria, neurologia e neuropediatria, pois, segundo Confalonieri (1993, p.18):

Como último desenvolvimento possível das transformações econômicas e sociais surgem os desequilíbrios psicossociais, onde o alcoolismo e as violências constituem suas conseqüências extremas. Esses constituem o pior dos flagelos pois, para sua prevenção , não existem nenhuma tecnologia médica ou esquema de atenção sanitária adequados.

Tabela 8 Atendimentos especializados na população Tupiniquim e Guarani em 2006 ATENDIMENTOS ESPECIALIZADOS 2006 Ortopedia 21 Otorrinolaringologia 55 Oftalmologia 200 Psiquiatrria 21 Neurologia 13 Cardiologia 41 Pediatria 45 Neuropediatria 8 Ginecologia 7 Angiologia 10 Mamografia 53 RX de Coluna 45 Fonte: FUNASA (2006)

As internações no hospital da rede referenciada apresentaram certa homogeneidade causal nos últimos anos, o que tornou possível considerar uma escala hierárquica entre ambas as categorias e os fatores associados. A industrialização da região provocou modificações

estruturais abrangentes, como a degradação do solo, do lençol freático, a poluição do ar atmosférico e o confinamento territorial, associado ao aumento da concentração demográfica dos povos indígenas Tupiniquim e Guarani. Dessa forma, as altas taxas de internação por gravidez, parto e puerpério, já discutidas anteriormente, e os elevados coeficientes de doenças do aparelho respiratório, digestivo e circulatório são o reflexo das transformações de ordem estrutural e simbólica ocorrida entre os grupos indígenas de Aracruz nas últimas décadas.

Tabela 9 Causas de Internação na População Tupiniquim/Guarani

CAUSAS DE INTERNAÇÃO 2004 2005 2006

Gravidez, parto e puerpério 52.2% 36.5% 46.6%

Aparelho respiratório 10.3% 21.1% 15.5%

Aparelho circulatório 4.4% 2.8% 3.1%

Aparelho geniturinário 4.4% 6.7% 2.5%

Aparelho digestivo 2.95 10.5% 6.2%

O relatório anual de 2006 faz menção especial aos casos de óbito, referindo que suas principais causas foram as “externas” (afogamento e agressão física) que representaram 40% do total e foram associadas, em parte, às tensões que eclodiram entre povos indígenas e a sociedade envolvente, fortemente influenciada pelas manipulações midiáticas da Empresa Aracruz Celulose. Dessa forma, o documento muito bem ilustra o quadro de conflitos decorrentes dos interesses distintos sobre assuntos comuns a ambos os grupos na busca de melhores condições de qualidade de vida e saúde.

Tabela 10 Taxas de Óbitos na População Tupiniquim e Guarani

ÓBITOS (CAUSAS) 2004 2005 2006

Doenças do aparelho circulatório 2 0 1

Doenças do aparelho respiratório 2 0 2

Doenças do aparelho digestivo 1 0 0

Doenças do aparelho geniturinário 0 1 0

Doenças metabólicas 0 1 0

Neoplasias 0 0 1

Ferimento causado por arma branca 0 0 1

Afogamento 0 0 2

Agressão física 0 0 1

Sem causa definida 0 0 2

Fonte: Secretaria Municipal de Saúde de Aracruz (2004, 2005, 2006)

A dificuldade de se estabelecer parâmetros precisos sobre a situação de saúde dos Guarani Mbya do Espírito Santo devido à não categorização dos coeficientes disponíveis por aldeias ou etnias, pela descontinuidade no fluxo das informações e pela subnotificação dos dados demonstra a fragilidade do modelo adotado para nortear a implementação de programas de atenção à saúde para e com esses povos. As tensões se estendem às esferas políticas locais e inviabilizam a transferência de informações e a articulação entre os órgãos envolvidos com a atenção à saúde indígena, impedindo a solidificação de vínculos intersetoriais de promoção, proteção e recuperação da mesma, conforme pontuado nesses documentos.

A constatação de que os principais determinantes de saúde se situam fora dos setores responsabilizados pelo seu tratamento não é algo novo. A Declaração da Primeira Conferência Internacional de Promoção de Saúde realizada em Otawa (1986), Canadá, postulou a íntima relação entre saúde e qualidade de vida, como resultado da multiplicidade de fatores que lhes são determinantes, tais como: os políticos, econômicos, sociais, culturais, ambientais, comportamentais e biológicos.

Contudo, embora os estudos epidemiológicos possibilitem conhecer as desigualdades de acesso aos bens e serviços determinantes de qualidade de vida e saúde, mostram-se, ainda, insuficientes para esclarecer a forma como os sujeitos vivenciam os eventos mórbidos e quais os recursos materiais e simbólicos legitimados socialmente para se promover, proteger e recuperar a saúde em sua ampla dimensão.

Buchillet (2004) sinala que é imprescindível que os profissionais de saúde não se limitem às definições ocidentais das patologias e invistam em conhecimentos sobre as nosologias indígenas, para identificar como os índios nomeiam e categorizam os sintomas e os agrupam em entidades patológicas. Fica claro que sem este empreendimento corre-se o risco de se anular a co-produção de sujeitos e instituições comprometidos com a co- construção de um modelo de atenção à saúde baseado no respeito, na valorização e no diálogo entre as diferenças étnico-culturais, conforme preconiza a Política Nacional de Atenção à Saúde Indígena (2002). Resta afirmar que cada aldeia, independente de etnia, possui suas peculiaridades sociais, culturais, econômicas e políticas que influenciam de forma direta e indireta no processo saúde-doença.

5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

Através do desenvolvimento desta pesquisa que tem como objeto, “As tensões interculturais que impactam o processo saúde-doença na população Guarani Mbyá do município de Aracruz no estado do Espírito Santo”, tivemos a oportunidade de nos aproximar da forma como alguns membros desse grupo étnico radicados nessas aldeias entendem saúde- doença e mobilizam recursos simbólicos e materiais para lidar com este processo.

No intuito de alcançar os objetivos propostos, criamos um instrumento de coleta de dados que possibilitou explorar através dos depoimentos dos sujeitos da pesquisa, os impactos no processo saúde-doença decorrentes das tensões nos relacionamentos interculturais entre os Guarani dessas aldeias e o seu entorno social, suas instituições, valores e práticas.

Assim, foram entrevistadas onze pessoas no total, entre lideranças nativas17, agentes indígenas de saúde e educadores indígenas, todos membros do grupo Guarani das aldeias localizadas no município de Aracruz, no estado do Espírito Santo. Optamos por entrevistar as lideranças locais face ao seu profundo conhecimento a respeito dos saberes autóctones, assim como, dos conflitos que emergem das articulações e confrontos políticos com a sociedade em âmbito local e global, pois, segundo Onocko Campos e Campos (2006, p.674), “a política deveria ser (e é, ainda que não consigamos apreciar este fato) ponto de criação e de regulação de autonomia.” Da mesma forma, consideramos importante entrevistar os agentes indígenas de saúde e educadores indígenas por conhecerem bem as tensões que permeiam as relações interculturais no exercício de sua função, campo evidente de co-construção de autonomia

entre os diferentes sujeitos envolvidos com a promoção, proteção e recuperação da saúde indígena.

A coleta de dados possibilitou identificar diferentes modos de discurso que caracterizavam as posições sociais que os depoentes ocupavam em seu grupo. Os discursos dos anciãos foram pontuados, de uma forma geral, pela lembrança da sua responsabilidade em salvaguardar os saberes xamânicos através do desempenho da função de conselheiros internos e reguladores dos infortúnios sociais, demonstrando descontentamento com relação à falta de compromisso das novas gerações com os valores e práticas essenciais à manutenção da vida social no tekoa (aldeia). Os discursos das demais lideranças18 que se encontravam ligadas ao poder dos caciques ou até mesmo de certos núcleos familiares de maior representatividade política nas suas aldeias, destacaram-se pela propriedade com que tratavam os assuntos relativos aos interesses atuais da coletividade, as articulações e as tensões internas e externas decorrentes dos relacionamentos interculturais, demonstrando certo grau de autoridade em sua fala que os diferenciava dos outros depoentes, confirmando as observações de Pizzolato (2006, p.60):

Tais “lideranças” manifestam-se ora como falas que querem afirmar-se frente a outra na aldeia, ora como representantes do cacique, que convoca entre as mesmas indivíduos que o representem ou à “comunidade” em contextos de participação extra-aldeã, geralmente envolvendo negociações com outras localidades mbya e com os brancos.(grifos do autor).

Fora destes contextos de afirmação política e de autoridade xamânica, foi possível identificar de forma unânime, um discurso Mbyá marcado pela tranqüilidade e serenidade no falar e ouvir, caracterizando extrema diplomacia na maneira de lidar com os seus pares e com a alteridade.

Os dados foram reveladores em apontar impactos na maneira de se viver a saúde em sua dimensão ampliada, que engloba para os Guarani, os aspectos simbólicos e materiais

como os seus determinantes principais. As tensões identificadas no âmbito dos relacionamentos interculturais foram descritas como determinantes para a escolha do itinerário terapêutico a ser seguido pelos sujeitos em caso de enfermidades, evidenciando como a aceitação ou refração dos recursos e dos agentes das instituições públicas envolvidas na prestação dos serviços de atenção à saúde exercem, também, importantes influências no processo saúde-doença.

Procuramos analisar e discutir os impactos identificados, contrapondo o real e o ideal, apoiando-nos para isto, nas propostas político-normativas que dispõem sobre o reconhecimento dos direitos dos povos indígenas no que tange à melhoria da sua qualidade de vida e saúde.

Atendendo ao critério de repetição e relevância, proposto por Turato (2003) como essencial para o agrupamento dos dados, emergiram as seguintes categorias, a saber:

• Processo Saúde-Doença em uma Dimensão Espaço-Temporal;

• Tensões Interculturais e a Atenção à Saúde Guarani, uma Mediação entre o Local e o Global.

O método de análise de conteúdo foi definido em seus primórdios pelo norte- americano Bernard Berelson, em seu livro Contents Analysis in Communications Research , publicado em 1952, como: “[...]uma técnica de pesquisa para a descrição objetiva, sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto na comunicação.” (BERELSON, 1952, p.18 apud TURATO, 2003, p.443).

Apesar de a metodologia tradicional recomendar a sistematização quantitativa dos dados brutos, Turato adverte para o fato de que a sua transformação em dados trabalhados não deve necessariamente apoiar-se em métodos matemáticos, pois:

É questionável que a abordagem qualitativa requeira a matematização das ocorrências em que se configure uma reiteração de falas (freqüência calculada), mas

devemos entender que o critério da repetição de colocações por parte dos sujeitos informantes é apenas um critério que sugere ao interpretante uma certa atenção às falas para tornarem-se possivelmente um tópico categorizado. (TURATO, 2003, p.446).

Deste modo, o autor ressalta que a formalidade metodológica não deve repousar na regularidade do surgimento do elemento pesquisado no conjunto de todo o material registrado, mas, na busca da essencialidade do fenômeno estudado. Turato (2003, p.452), recomenda aos pesquisadores que utilizam este método de análise/tratamento dos dados, que tenham em mente que “as palavras embutem silêncios” e, portanto, os mesmos devem discutir os dados sem ficar colado ao que foi concretamente falado nas entrevistas, “já que palavras, paradoxalmente, são emudecedoras das verdades subjacentes.”

Em concordância com este princípio metodológico, é importante destacar que o critério para o agrupamento, sistematização e discussão dos dados desta pesquisa teve como objetivo central, identificar os mitos, símbolos e sentidos mais profundos que se reiteraram nos enunciados, mesmo que, sob o véu das diferenças que poderiam configurar falsas categorias. Na busca por conduzir a categorização e interpretação dos dados à essência do que se propõe a dissertação, foi preciso destacar enunciados que, por ampliar o espectro da linguagem, permitiram que se ampliasse o olhar acerca dos significados e dos fenômenos ligados à saúde-doença.

Para atender ao critério de diferenciação dos temas evidenciados através da fala dos sujeitos da pesquisa, foram criadas oito subcategorias dentro das duas categorias principais, em função da repetição com que foram abordados os temas e da relevância social que lhes foi atribuída pelos enunciantes. Dessa forma, a repetição e a relevância com que a essência do conteúdo aparecia na falas dos depoentes foi o critério determinante para a sua diferenciação em subcategorias distintas.

As contribuições dos relatos que se destacam do conjunto das repetições podem também, segundo o autor, tornarem-se categorias de análise, desde que encaminhem a discussão para o pressuposto inicial do projeto, como destaca:

O outro critério, o da relevância, fugindo portanto a uma certa ortodoxia da classe de análise de conteúdo, trata-se de considerar em destaque um ponto falado sem que necessariamente apresente certa repetição no conjunto do material coletado, mas que, na ótica do pesquisador, constitui-se de uma fala rica em conteúdo a confirmar ou refutar hipóteses iniciais da investigação.(Ibid, p.446).

Neste sentido, partimos do princípio que a noção de cultura aponta para a relação do homem com o mundo a partir das conversações que marcam suas relações com o outro através da linguagem, instrumento que antecede todas as suas características fundadoras. A linguagem não só antecede como é a ação geradora das características culturais (MATURANA, 2004), pois é nela e por meio dela que é construída a leitura da vida com seus significados, valores e práticas que refletem a totalidade das relações em sociedade. A linguagem configura-se como elemento central para a compreensão do homem como ator e sujeito das suas transformações sociais, culturais e históricas e a língua transparece, assim, como um signo, um instrumento, um material concreto que possibilita que as ideologias se expressem na materialidade. (SOUZA, 2001).

Segundo Bakhtin (1930, p.4), todo discurso é dotado de uma natureza ativamente responsiva, pois, “todo enunciado é feito em função de um ouvinte, isto é, da sua compreensão e da sua resposta”. Isto implica, necessariamente, em compreender os enunciados enquanto produto de uma relação hierárquica e social entre os interlocutores que determina a formulação social dos “gêneros do discurso”. Os gêneros são as regras do dizer, que definem o que é dizível e não dizível no diálogo entre membros dos diferentes sistemas culturais e lingüísticos. (BAKHTIN, 1930,1992).

Apoiando-nos nestes conceitos, entendemos que os Guarani contemporâneos são bilingües, falam a sua língua materna e o português ou o espanhol e, portanto, transitam entre duas linguagens de mundo que lhes possibilitam dialogar com duas formas, também, de entender saúde e doença e de conjugar recursos para lidar com o processo.

Para uma compreensão mais aproximada dos conteúdos dos enunciados Guarani feitos em língua portuguesa é necessário que se leve em conta as limitações impostas pela situação histórica determinante para a utilização do gênero do discurso a ser utilizado atualmente nos diálogos com os representantes da sociedade ocidental. Analisar e discutir os conteúdos existentes nas entrelinhas destes enunciados implica necessariamente abordá-los como fruto de uma ideologia construída em cinco séculos de contato intercultural, marcados pelo conflito e pela tensão com o outro, representado na figura do homem branco invasor e ameaçador e consubstanciado genericamente na figura do pesquisador.

O trabalho intercultural exige que o profissional de saúde empreenda esforços para compreender a dimensão ecológica, social, religiosa e lingüística do grupo com o qual atua e as expressões culturais que emergem da interação com outras realidades sociais. É necessário compreender também como essas relações influenciam a forma como as pessoas do grupo vivenciam saúde e doença e quais os recursos materiais e simbólicos mobilizados para manter um equilíbrio no processo. A Organização Panamericana da Saúde ressalta que:

En este universo dinámico, la búsqueda de estrategias conjuntas en el abordaje del nexo salud-enfermidad, implica una reconceptualización de las prácticas de los otros y el encuentro de dos o más visiones sobre las posibles soluciones a los problemas de salud que parten de marcos contextuales distintos. Además, urge un cambio en los paradigmas pues esta búsqueda lleva aun análisis, no desde la visión biomédica sino desde aquella generada a través de la sensibilidad y el respecto hacia la diferencia y fundamentada en un principio básico, el de la vida.

Embora não seja possível afirmar que o processo saúde-doença sofra influências unicamente das relações interculturais, é importante que se destaque que elas constituem uma importante categoria para se compreender os seus impactos atualmente.

Os Mbyá estrategicamente, omitem, resguardam e protegem aspectos essenciais da sua cultura, fazendo-nos relembrar a todo o momento a dívida que herdamos com a sua sociedade, ao conduzir o seu discurso por uma flutuação espaço temporal que remonta o processo histórico de etnocídio impetrado pelo projeto de expansão colonial. Mostram-nos, também, que este mesmo modelo de relacionamento é reproduzido atualmente através dos interesses políticos e econômicos nacionais e internacionais que ameaçam a preservação dos seus territórios e consequentemente a reprodução do seu modo de ser e de viver neste mundo.