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CAPÍTULO 5 – A VISÃO SOCIAL DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA AO LONGO

5.1 ATITUDES EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA E SUAS

A história da deficiência confunde-se com a história da humanidade. Carmo (1991); Mazotta (2005); Silva (1987) fazem alusão ao assunto em suas publicações, alegando que pessoas com deficiência sempre existiram. Silva relata que: “anomalias físicas ou mentais, deformações congênitas, amputações traumáticas, doenças graves e de consequências incapacitantes, sejam elas de natureza transitória ou permanente, são tão antigas quanto a própria humanidade” (SILVA, 1987, p. 21).

Pode-se tentar dividir essa história em vários períodos ou visões. Alguns autores assim evidenciam, e entre eles, Miranda (2003) a divide dessa forma: Antiguidade, apresentando eliminação física ou abandono das pessoas com deficiência, assim como mínima assistência; Idade Média, com sua prática dúbia; Idade Moderna, trazendo a visão patológica e o

menosprezo da sociedade. A autora contempla sua exposição de Idade Contemporânea, da seguinte maneira:

Na década de 70 surgiu o movimento da Integração, com o conceito de normalização, expressando que ao deficiente devem ser dadas condições as mais semelhantes às oferecidas na sociedade em eu ele vive. Em meados da década de 90, no Brasil, começaram as discussões em torno do novo modelo de atendimento escolar denominado Inclusão Escolar (MIRANDA, 2003, p.1).

Apesar dessa sugestão para divisão histórica, há um período anterior denominado pré- história, ou período primitivo (o qual se inicia há cerca de dois (2) milhões de anos e vai até 5000 A.C) que vale a pena ser mencionado, mediante as informações de Silva (1987) já citadas. Esse período, dividido por Idades (Pedra Lascada, Pedra Polida, do Bronze e do Ferro) corresponde a milhares de anos obscuros. Os tempos que costumamos chamar de históricos começaram a ser vislumbrados com a Idade do Bronze e definidos com a Idade do Ferro (SILVA, 1987).

Segundo relatos de Gugel (2007), não se têm indícios de como os primeiros habitantes na Terra se comportavam em relação às pessoas com deficiência; ao que se presume, essas pessoas não sobreviviam ao seu ambiente hostil. É suficiente pensar que não havia abrigo satisfatório para dias e noites de frio intenso ou de calor insuportável; não havia fartura de alimentos; era preciso caçar para garanti-los e, ao mesmo tempo, guardá-los para o período de inverno.

Figura 1 - Tribos nômades primitivas Fonte: http://phylos.net/direito/pd-historia/

Há mais ou menos dez mil anos, ainda de acordo com Gugel “quando as condições físicas e de clima na Terra ficaram mais amenas, os grupos começaram a se organizar para ir à caça e garantir o sustento de todos”. A mesma autora informa que “Na Pré-História a inteligência do homem começou a se manifestar e os integrantes do grupo passaram a

perceber melhor o ambiente onde viviam, começando a adorar o sol, a lua e os animais” (Ibidem, p. 2).

Figura 2 - Tribos nômades com aspecto mais humanizado. Fonte: http://phylos.net/direito/pd-historia/

Ainda na pré-história, os procedimentos da sociedade em relação às PDs variavam de acordo com as necessidades das tribos nômades, segundo Carmo (1991). Este autor esclarece que enquanto em umas elas eram abandonadas, sob a justificativa de que prejudicariam as movimentações de fuga, em outras, essas pessoas eram jogadas em locais que, sabidamente, eram habitados por ursos para serem devoradas; o urso bem alimentado adquiriria melhor qualidade de pele, e esta serviria de agasalho para as pessoas da tribo durante o inverno.

Havia ainda tribos que protegiam e cuidavam bem das pessoas com deficiência, pois criam que o demônio habitava em seus corpos; enquanto lá eles estivessem, nada de mal ocorreria com os outros membros.

Há relatos de tribos protetoras de seus deficientes, porém essa não era uma conduta habitual.

Presente em todas as épocas, a exclusão predominou na maior parte das decisões humanas e, na ótica de Akashi & Dakuzaku (2001), o ser humano adotou diferentes formas de lidar com as PDs, como revelam:

Isso variou de acordo com o lugar, o tempo e o momento histórico: desde o infanticídio, o abandono, o exílio, o esmolar, o assistencialismo, o paternalismo, a internação e o asilamento até a solicitação da participação social, porém, sem as reais condições que permitem a integração (AKASHI & DAKUZAKU, 2001, p. 6012).

A história das pessoas com deficiência confunde-se, assim, com a história da exclusão e segregação política, econômica, cultural e social das pessoas com deficiência, ficando essas pessoas à margem de qualquer convivência e, o mais notório: ausente do poder decisório da

sociedade. A consequência mais grave era o veto ao trabalho, condição indispensável de sobrevivência e dignidade humanas.

Na Antiguidade existe a constatação que apenas em um local essa triste realidade foi afastada: existem relatos que no Egito Antigo (cerca de 5.000 anos atrás) pessoas com deficiência não sofriam qualquer discriminação ou preconceito em nenhuma das castas às quais pertenciam. É de Silva (1987) o seguinte relato:

A partir de 2.500 a.C., com o aparecimento da escrita no Egito Antigo, há indicativos mais seguros quanto à existência e às formas de sobrevivência de indivíduos com deficiência. Dentre os povos da chamada História Antiga, os egípcios são aqueles cujos registros são mais remotos. Os remanescentes das múmias, os papiros e a arte dos egípcios apresentam-nos indícios muito claros não só da antiguidade de alguns “males incapacitantes”, como também das diferentes formas de tratamento que possibilitaram a vida de indivíduos com algum grau de limitação física, intelectual ou sensorial (SILVA, 1987, s/p.).

Figuras e esculturas da época assim o demonstram:

Figura 3 - Músico Anão – V Dinastia - Oriental Institute of Chicago. Fonte: http://phylos.net/direito/pd-historia/

Pela escultura acima, percebe-se que o nanismo não interferiu nas atividades artístico- laborais do indivíduo, demonstrando que atitudes cerceadoras como preconceito, discriminação e exclusão não eram praticadas socialmente.

Figura 4 - Estela Votiva35 - XIX Dinastia – Museu Ny Calsberg, Glypotec, Copenhagen, Dinamarca. Fonte: http://phylos.net/direito/pd-historia/

De forma idêntica, vê-se que no Egito Antigo, deformidades físicas como a ilustrada acima não representaram empecilhos na atividade laboral de seus cidadãos.

Para o povo hebreu da Antiguidade, no entanto, “tanto a doença crônica quanto a deficiência física ou mental, e mesmo qualquer deformação por menor que fosse, indicava um certo grau de impureza ou de pecado” (SILVA, 1986, s/p.). Tanto isso é verdade que chegou a ser determinado por Moisés no seu livro Levítico (conjunto de normas e orientações para os sacerdotes): "O homem de qualquer das famílias de tua linhagem que tiver deformidade corporal, não oferecerá pães ao seu Deus, nem se aproximará de seu Ministério; se for cego, se coxo, se tiver nariz pequeno ou grande, ou torcido; se tiver um pé quebrado ou a mão; se for corcunda...”

De acordo com este mesmo autor,

No tratado de Bekhorot são citados oito tipos de defeitos, inclusive a falta de orelhas, seu tamanho ou formato defeituoso, como impedimento para os serviços do templo. A discriminação contra pessoas portadoras de qualquer deficiência era, portanto, aberta e manifesta nas próprias leis. E certos livros da Bíblia dão-nos algumas indicações de costumes ou de ambientes, além de apresentar relatos às vezes elaborados na própria época, sobre os preconceitos contra pessoas e mesmo contra animais defeituosos (SILVA, 1987, s/p.).

Da Grécia Antiga, têm-se relatos de que Platão em sua obra A República, e Aristóteles em sua obra A Política, indicavam a eliminação de pessoas disformes. Gugel (2007) assim relata: “A eliminação era por exposição, ou abandono ou, ainda, atiradas do aprisco de uma

cadeia de montanhas chamada Taygetos, na Grécia”. Complementa sua informação com o seguinte:

A República, Livro IV, 460 c – Pegarão então os filhos dos homens superiores, e levá-los-ão para o aprisco, para junto de amas que moram à parte num bairro da cidade; os dos homens inferiores, e qualquer dos outros que seja disforme, escondê-los-ão num lugar interdito e oculto, como convém (GUGEL, 2007, p. 63).

Silva (1986) relata que na História da Grécia existem citações relativas ao atendimento destinado a pessoas deficientes que são muito mais claras e específicas do que aquelas encontradas em culturas anteriores, contemporâneas ou posteriores. Havia, por exemplo, em Atenas e em Esparta determinações oficiais que proviam os soldados feridos e seus familiares de diversas vantagens de diferentes naturezas. Existiam leis relacionadas à alimentação, como as que eram consequentes a uma de Sólon (640 a 558 A.C.) que determinava: "Soldados feridos gravemente e os mutilados em combate serão alimentados pelo Estado".

Plutarco (45/50 a 125 D.C.), historiador e moralista grego, atesta que esse tipo de procedimento, favorecedor de pessoas consideradas incapazes de obter seu próprio sustento, foi tornado lei por experiência de Sólon com alguns amigos mutilados. Assim refere Silva (1987):

Na verdade, a compreensão mais aguda do problema que o grande estadista demonstrara originara-se do conhecimento que tivera das dificuldades vividas por alguém que Plutarco chega a identificar em sua obra apenas pelo nome, não lhe dando, porém, maiores qualificativos. O historiador grego afirma que essa famosa determinação legal "foi promulgada devido ao fato de Térsipo ter ficado inválido, e essa mesma lei foi usada mais tarde para uma outra semelhante, de Pisistrato" (SILVA, 1986).

Homero, o maior poeta grego, era cego. Ele colocou na Ilíada, um de seus mais expressivos poemas, um personagem com deficiência – Hefesto, o ferreiro divino. Esse personagem possuía uma das pernas atrofiada. No poema, ele compensa suas dificuldades desenvolvendo outras habilidades manuais.

De acordo com Gugel (2007) em Esparta (cidade grega dedicada à arte de guerrear) as crianças com deficiência eram eliminadas, por não servirem a esse propósito.

Na Roma Antiga, as leis eram bastante desfavoráveis às pessoas que nasciam com deficiência. Aos seus pais era permitido eliminar crianças que apresentavam deformidades

físicas, através do afogamento. É conhecido que os pais abandonavam seus filhos em cestos no Rio Tibre, ou em outros lugares sagrados. A maioria das crianças, portanto, morreu. As pessoas com deficiência que sobreviveram, passaram a ser explorados como pedintes ou a fazer parte de algum circo para distrair os mais abastados. Os relatos daquela época são hediondos, como se segue:

Matam-se cães quando estão com raiva; exterminam-se touros bravios; cortam-se as cabeças das ovelhas enfermas para que as demais não sejam contaminadas; matamos os fetos e os recém-nascidos monstruosos; se nascerem defeituosos e monstruosos, afogamo-los, não devido ao ódio, mas à razão, para distinguirmos as coisas inúteis das saudáveis (Sêneca, Apud Silva, 1986, p.129).

No entanto, a história relata, segundo Gugel (2007), a existência de imperadores, em Roma que apresentavam algum tipo de deficiência, especificamente, malformações nos pés. Como exemplos, são citados Galba, que governou de 3 a 69 A.C – e Othon, de 32 a 69 D.C., em uma clara demonstração de discriminação em relação às pessoas com deficiência entre as classes sociais da época, privilegiando umas e castigando severamente outras.

No período da expansão do império romano as guerras inerentes às conquistas deixaram inúmeros soldados amputados e com outras lesões físicas, incrementando o número de pessoas com deficiência.

Nesse poderoso império surgiu o cristianismo, trazendo as ideias de caridade, de ajuda ao próximo, enfim, de amor entre as pessoas. Esta doutrina, com suas bases teológicas combateu a eliminação das pessoas com deficiência.

Segundo Gugel (2007), os cristãos foram perseguidos, porém, alteraram as concepções romanas a partir do Século IV. Nesse período é que surgiram os primeiros hospitais de caridade que abrigavam indigentes e pessoas com deficiências.

Dentre os muitos documentos antigos que nos falam sobre deficiências ou sobre pessoas deficientes, os mais explícitos são os Evangelhos. Eles mostram, por exemplo, que o povo hebreu - e com ele quase todos os povos ao seu redor – estava acostumado não apenas à existência das doenças e das deficiências que levavam o homem a uma vida de quase certa indigência ou total dependência, mas também à busca de soluções naturais e sobrenaturais, quando possível, para sua eliminação (SILVA, 1986).

Figura 5 - Jesus e o Sermão da Montanha.

Fonte: http://cristianismototal.files.wordpress.com/2010/06/cristianismo-jesus.jpg

Em Jerusalém dos tempos de Jesus Cristo, por exemplo, havia bem ao lado do templo uma piscina ou tanque destinado à purificação de animais que eram sacrificados e que era por esse mesmo motivo conhecida como piscina probática (do grego "probatikón", ou seja, carneiro ou relativo a ovinos em geral), ou como Betsaida na língua hebraica. Às suas bordas, a despeito dos objetivos principais, mantinha-se verdadeira multidão de enfermos, coxos, cegos e paralíticos porque, segundo todos acreditavam, várias vezes ao dia um anjo de Deus ali descia para movimentar as águas. Era, como se pode bem imaginar, um momento muito esperado, muito tenso, pois apenas o primeiro que ali se banhasse teria seus males curados.

Silva (1987) relata que “foi exatamente nesse ambiente que Jesus realizou um dos seus famosos milagres, beneficiando um homem paralítico há 38 anos e que nunca havia conseguido ser o primeiro a chegar às águas de Betsaida por não ter pessoa alguma que o ajudasse”.

No entanto, apesar desse olhar voltado à caridade, como afirmam Fernandes, Schlesener e Mosquera (2011, p. 3), “na história da humanidade o estigma que muitos deficientes carregavam era a imagem de deformação do corpo e da mente. Tal imagem denunciava a imperfeição humana”. Esses mesmos autores afirmam que “o nascimento de indivíduos com deficiência era encarado como castigo de Deus; eles eram vistos como feiticeiros ou como bruxos. Eram seres diabólicos que deveriam ser castigados para poderem se purificar” (Ibidem, p. 3).

Na Idade Média o atendimento aos deficientes é discordante entre alguns autores. No entanto, Silva (1986) traz a Idade Média como o período de maior violência contra as pessoas com deficiência. O descaso, a superstição, os cruéis castigos e alguma assistência à saúde caracterizaram a Idade Média ou Medievo. Esse período, inteiramente dominado pela Igreja

Católica, trouxe uma carga de relevante violência contra as pessoas em geral e especificamente, às PDs.

Os mil anos desse período foram marcados pelo temor da prática da magia e da possessão das pessoas pelos demônios. A Igreja assumiu atitudes ambivalentes e incoerentes: algumas vezes considerava as PDs como obras do demônio e outras, como possessões divinas. Destarte, algumas eram enviadas a hospitais para tratamento e outras eram queimadas em fogueiras, por se tratarem de bruxos, de acordo com a interpretação e julgamento da Igreja.

Percebe-se com bastante clareza, a forma paradoxal com a qual a Igreja Católica contribuiu nesse período: por um lado, incentivou de modo negativo ao pregar o homem como imagem e semelhança de Deus, a ser obrigatoriamente perfeito.

Como afirma Mazzotta (2005, p.16) a própria religião, ao colocar o homem como imagem e semelhança de Deus, portanto, como ser perfeito, acrescia a ideia da condição humana, incluindo-se aí a perfeição física e mental. E, não sendo parecidos com Deus, os portadores de deficiências (ou imperfeições) eram postos à margem da condição humana, e tidas como culpadas de apresentarem sua própria deficiência.

Figura 6 - Os Mendigos – de Pieter Brueghel (1568), Museu do Louvre, Paris. Fonte: www.paulimbh.blogger.com.br

Por outro lado, o clero cuidou das pessoas com deficiência abandonadas, pois o surgimento do cristianismo trouxe incentivo à ajuda ao próximo e a prática da caridade. Porém, isso não trouxe benefícios reais às pessoas com deficiência, pois o foco da abordagem estava na deficiência, na incapacidade, e não em suas potencialidades.

Tal circunstância foi uma constante cultural no decorrer da História. Outro fato relevante é a permanente ausência das PDs no mercado de trabalho; o processo de exclusão vigente não o permitia.

Da mesma maneira, os hospitais e asilos de caridade com o objetivo de abrigá-los, protegê-los e educá-los, acabavam mantendo-os isolados do convívio social por longos períodos, causando sua exclusão social.

Figura 7 - Hospital da Idade Média como expressão da caridade cristã.

Fonte: http://advhaereses.blogspot.com.br/2011/07/hospital-medieval-como-expressao-da.html

A Idade Moderna teve seu início no ano de 1453 (Século XIV), na ocasião da tomada de Constantinopla pelos Turcos otomanos, e se prolongou até 1789 (Século XVIII) encerrando-se com a Revolução Francesa. Representou um período de significativas transformações, saindo de uma época de ignorância, violência e domínio clerical para um período de grande evolução em vários sentidos, sendo a arte a mais privilegiada.

As transformações atingiram setores primordiais: econômico, político, religioso, cultural e social. Influenciado pelo humanismo, esse período conhecido como Renascimento (Século XIV a XVI) trouxe incontestável progresso para as artes e as ciências. A grande impulsão da ciência foi decorrente da liberdade advinda dessa nova era surgida após o rompimento com o clero.

Esse movimento influenciado pelo classicismo provocou uma ruptura profunda com o fanatismo religioso e trouxe o materialismo e o antropocentrismo; esse último, colocando o homem como ponto central, ao invés do Divino.

Alguns eventos relevantes dessa época de intenso desenvolvimento são citados a seguir: Galileu prova que a Terra não é o centro do Universo; Kepler desenvolveu importantes estudos sobre o movimento dos planetas. O Renascimento assistiu Ambroise Paré dar os primeiros passos para a futura ortopedia; próteses rudimentares foram criadas. Os pobres e miseráveis de vários países arquitetaram organizações próprias para sua sobrevivência, culminando na “lei dos pobres”, promulgada na Inglaterra.

O progresso da ciência tem seu ícone no Homem Vitruviano, de Leonardo Da Vinci, representação gráfica do modelo ideal para o ser humano idealizado por Vitrúvio, cujas

proporções são perfeitas, segundo o modelo clássico de beleza. Mais uma vez, evidencia-se a padronização social, quando ideais de beleza são incentivados e protagonizados, tornando-se o tema central dos trabalhos artísticos e científicos, como no mais famoso quadro do mundo, visto a seguir:

Figura 8 - Gioconda (Mona Lisa) de Da Vinci. Museu do Louvre, Paris. Fonte: http://www.suapesquisa.com/leonardo/

Apesar da influência dos ideais clássicos, grandes avanços para as pessoas com deficiência marcaram esse período excepcionalmente criativo. A primeira relevante iniciativa foi a criação de um método de comunicação para pessoas surdas. Pessoas com deficiência tornam-se célebres, como Luíz de Camões, na literatura; Navaret “El mudo”, na pintura; o autor cego de músicas para órgão, Antonio de Cabezón influenciou vários países com suas composições; Lejeune, padre cego, foi o maior pregador do século XVII, entre outros.

Alguns pintores retrataram em suas telas cenas em que aparecem pessoas portadoras dos mais variados males incapacitantes, em uma clara atitude liberal, desprovida de preconceitos.

Deve-se ressaltar, no entanto, que até o século XVI, os deficientes mentais eram considerados entidades não humanas. A partir desse século, segundo Silva (1986), as crianças inglesas abandonadas, doentes ou portadoras de males incapacitantes começaram a ser assistidas por organismos vinculados à Coroa Britânica e por iniciativa das comunidades que procuravam manter seus esquemas com alguns objetivos definidos e incluíam, pelo menos na teoria ou nos seus postulados, o seguinte:

A obtenção de trabalho para essas crianças ao chegarem à idade requerida para uma atuação rentável; a definição de alguma proteção para elas fora dos orfanatos e dos abrigos provisórios, ficando aos cuidados de famílias que delas se dispusessem a cuidar por baixo custo para o governo ou para instituições privadas bem organizadas; a internação definitiva em orfanatos,

caso nenhuma dessas duas alternativas chegasse a se concretizar ou a se mostrar viáveis (SILVA, 1987, s/p.).

Desta forma, o maior impulso em relação à mudança de conduta para com as pessoas com deficiência deve-se ao Renascimento, com seu pensamento mais humanitário e trazendo um pouco de dignidade para essas pessoas.

A idade Contemporânea teve início no século XIX e vai até nossos dias, porém não obstante o impulso dado às questões da população com deficiência durante o Renascimento, só no século XX, com o advento das duas guerras mundiais, houve uma mudança de paradigmas em relação a esse segmento social.

Antes, porém, no início do século XIX, algumas iniciativas em relação á educação das pessoas com deficiência foram realizadas com sucesso. Sabe-se que Jean Marc Itard, médico, elaborou as primeiras tentativas de educar uma criança chamada Vitor, de doze anos de idade, cognominada como o Selvagem de Aveyron.

Este médico foi, segundo Miranda (2003, p.2), “reconhecido como o primeiro estudioso a usar métodos sistematizados para o ensino de deficientes”. Ele estava convicto de