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CAPÍTULO 2 CAMINHOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS

2.4 TRATAMENTO DOS DADOS

2.4.2 História Oral como provedora de significados na construção histórica

Assim como a memória, a história apresenta uma diversa gama de definições e concepções, algumas das quais podem ser compiladas a seguir: No Michaelis18 encontramos que a história pode ser definida de duas formas: 1) Narração ordenada, escrita, dos acontecimentos e atividades humanas ocorridas no passado; 2) Ramo da ciência que se ocupa de registrar cronologicamente, apreciar e explicar os fatos do passado da humanidade em geral, e das diversas nações, países e localidades em particular.

Essa é uma interpretação essencialmente técnica, isenta de emoções e sentimentos que permeiam as pessoas: é como se não fossem pessoas responsáveis pela construção da história e, sim, os fatos pura e simplesmente. É uma forma engessada de construção.

Le Goff afirma: “os historiadores modernos observam que a história é a ciência da evolução das sociedades humanas. Mas a evolução das ciências levou a pôr-se o problema de saber se não poderia existir uma história diferente daquela do homem” (LE GOFF, 1924, p. 11). Também de acordo com este autor, há um paradoxo da ciência histórica, quando ela tornou-se um elemento essencial da necessidade de identidade individual e coletiva.

Esse mesmo autor também chama a atenção de que “o passado é uma construção e uma reinterpretação constante e tem um futuro que é parte integrante e significativa da história” (Ibidem, p.19). Pode-se perceber que o conceito de história vem sofrendo modificações e se tornando mais abrangente, tomando com indicadores a não dependência cronológica, afastando-se da rigidez em relação ao tempo, a forma de se apresentar, suas fontes e formas de apresentação, chegando atualmente, às narrativas.

Halbwachs, (1990) após minuciosamente analisar as várias dimensões da memória (individual, coletiva e histórica), estabeleceu uma nítida diferenciação entre memória e história. Para este autor, enquanto a memória é múltipla, a história é única. Diferencia também no seguinte aspecto:

Por um lado, a memória trabalha com o vivido, o que ainda está presente no grupo, enquanto a história trabalha e constrói uma representação de fatos distantes, ou mesmo onde ou quando se encerra a possibilidade de encontrar testemunhas daquela lembrança (HALBWACHS, 1990, p.80,).

Deve-se ressaltar que tudo que compõe um registro de memória resulta não de uma simples operação, e sim, de uma série de operações complexas e seletivas. Estas operações se

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Moderno Dicionário da Língua Portuguesa. Melhoramentos Ltda. © 2009 UOL. Disponível em

iniciam desde o início do processo perceptivo, quando se desenvolve a construção das memórias, que vão se acumulando e que são indissociavelmente, individual e coletiva. Elas trabalham promovendo reelaborações e ressignificações em tudo o que se apresenta aos sentidos. Deduz-se, com isto, que não há nem percepção nem memória puras.

Essas tensões são de fundamental relevância, já que representam os elementos motivadores deste movimento constante de construções e desconstruções de significados. Elas podem, em determinados momentos, bloquear as lembranças, proporcionando uma ruptura na linha do tempo.

A respeito de releituras, Bosi (2010) fez uma análise, na qual desvela dois aspectos interessantes, dentro da sua perspectiva de se estar lendo novamente um livro: em primeiro, na capacidade do desenvolvimento de novas percepções que não haviam surgido na primeira leitura; em segundo, o livro parece estar caminhando no sentido contrário, quando situações que antes haviam provocado impacto, não mais apresentam esta capacidade, perdendo sua relevância.

O que é perceptível nessa análise é uma transformação nas emoções, como se os efeitos advindos desta releitura houvessem sofrido significativas modificações.

É fato que transformações, mudanças de paradigmas vem ocorrendo e provocando profundas modificações no âmbito das ciências, de uma forma geral. A própria Física moderna assume que não existem mais coisas com qualidades intrínsecas, pois elas dependem do meio ambiente. Isto provocou uma mudança no seu foco de análise, que não mais seria o objeto, e sim, as relações, já que de forma isolada, a natureza não desvelaria nenhum objeto no nível subatômico.

À exemplo da Física, a História não poderia fugir a este contexto. Veyne (1998) destacou que no âmbito da História os objetos, as coisas, os seres, de forma isolada, nada podem expressar, além do seu significante.

Na ótica de Foucault (1979, p. 5), “o problema é ao mesmo tempo distinguir os acontecimentos, diferenciar as redes e os níveis a que pertencem, e reconstituir os fios que os ligam e que fazem com que se engendrem, uns a partir de outros”. Desta forma, para se conseguir criar formas para obter um entendimento histórico, é necessário estudar as relações, as práticas, as conexões, as redes, os fios que são associados aos acontecimentos.

Demonstra-se, mais uma vez a relevância das relações, promovendo outras formas de entendimento, no sentido de perceber o equívoco da existência de uma única forma de associar o objeto, a coisa, à palavra. O foco da História passa a ser, portanto, o estudo das relações.

Em que pese à construção de um entendimento histórico, é imprescindível atentar para o fato de que, a depender de fatores diversos, e em especial, a conotação política, este entendimento está sujeito a várias formas de dominação e poder. Percebem-se, ao longo do tempo, várias deformações no contexto histórico de fatos que foram marcantes retratos de determinadas épocas.

Um exemplo desta deformação pode ser identificado nas publicações referentes ao ex- presidente João Goulart:

[...] produziu-se em torno do ex-presidente João Goulart uma história carregada de significados negativos. E essa produção (como assinalam os autores) foi instituída tanto por setores adversários (partidos e grupos políticos dos mais diferentes matizes ideológicos e segmentos da sociedade civil) como pelos partidos e grupos políticos que o apoiavam. Em razão desse cenário, desconstruir essa história que hoje opera como uma memória não é algo instantâneo nem uma operação que ofereça facilidade aos historiadores (GOMES e FERREIRA, 2007, p. 280).

Esta é uma vertente que leva à ponderação sobre as influências sofridas em fatos históricos, que não se limitam apenas aos fatores de ordem política, mas aos econômicos e sociais. A manipulação é um processo real, intencional, que obedece aos interesses de forças dominantes, que, sem compromisso com a repercussão futura, se limitam a determinar a intencionalidade do momento, com a finalidade de adquirir seus próprios benefícios.

Montenegro em seu texto “Travessias e desafios” postulou:

Somos nós, por meio de nossas redes sociais que construímos e significamos o mundo. Em outros termos, vivemos nos discursos que acreditamos, ou aprendemos a acreditar como verdadeiros por meio de nossas redes sociais e culturais. O real é o que e como aprendemos a significar o mundo ao nosso redor (MONTENEGRO, s/data, p. 9).

Toda uma gama de emoções e sentimentos permeia as relações entre os atores sociais que vivenciam uma mesma experiência; a forma de se expressarem evidenciando ou não suas emoções, seja por variações de temperamento ou por atitudes preconcebidas, são perceptíveis de identificação através desta forma de análise, por meio de suas possibilidades de interpretação.

Bosi chama a atenção para o fato de que: “[...] é o indivíduo que recorda. Ele é o memorizador e das camadas do passado a que tem acesso pode reter objetos que são, para ele, significativos dentro de um tesouro comum” (BOSI, 1994, p. 411). Dessa chamada de atenção

decorre um reforço no cuidado com as entrevistas, fontes que compuseram o principal material de análise desse trabalho.

O trato meticuloso se fez necessário tanto no campo da memória individual como na social para que não ocorressem alterações de sentidos e significados nas informações obtidas, pois a História Oral, devido a suas características peculiares, pressupõe um cuidado e uma vigilância no processo de interpretação dos relatos obtidos.

Por sua vez, essa técnica, devido a suas características peculiares, pressupõe um cuidado e uma vigilância no processo de interpretação dos relatos obtidos, respaldando a escolha desta forma de análise não só em relação aos sentidos e significados, mas às inferências das mensagens, as quais advêm das nuances de comportamento, típicas do ser humano, das variações culturais e sociais, enfim, do contexto de formação da mensagem.

Finalizando, neste capítulo foram mencionados os teóricos que serviram como âncoras nesta pesquisa, assim como suas teorias pertinentes à mesma. Em seguida discorreu-se sobre o caminho percorrido para a execução de todas as etapas necessárias à sua execução.

No próximo capítulo abordou-se o referencial teórico, iniciando pela Educação, sua versatilidade e possibilidades, demonstrando a riqueza de transformações que a torna mutável, dinâmica e passível de assumir novas formas. Foi dada ênfase à Educação não formal e destacou-se a Educação Física Adaptada, cujo conteúdo é essencial ao ensino do esporte para pessoas com deficiência. Concluíu-se o capítulo versando sobre a Educação Humanizadora, preconizada por João Francisco de Souza.

CAPÍTULO 3 - A EDUCAÇÃO, SUA VERSATILIDADE E POSSIBILIDADES

“Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo no qual estamos inseridos”.

Paulo Freire.

As várias formas de educação trazem incontestáveis produtos às pessoas que delas usufruem, em sua individualidade e identidade, porém, coletivamente, originam mudanças relevantes no seio da sociedade. O ensino formal, o não formal e o informal, independentemente dos seus pressupostos e plasticidades, têm implicações reais na vida cotidiana.

A educação, considerada desde os primórdios da humanidade como ponto central na questão social, ainda hoje é foco de muitas tensões e debates. Permeada por ideologias, modismos, correntes de pensamento filosófico e sociológico, interesses políticos, entre outros, tornou-se ao decorrer do tempo, palco de disputas de poder e criações simbólicas. Apesar dessa trajetória conturbada, ela segue seu curso, influenciando pensamentos e ações da humanidade através de suas ações pedagógicas.

Neste capítulo buscou-se discorrer sobre a educação, traçando um perfil da sua versatilidade e algumas de suas inúmeras possibilidades. Sua capacidade de incontáveis mudanças, de assimilar novas ideias e teorias foi abordada, assim como suas probabilidades de alcançar um número incontável de associações, permutas, influências, capacidade de absorção foram levantadas. Versou-se sobre a Educação não formal, a Educação Física Adaptada e a Educação Humanizadora.

3.1 A EDUCAÇÃO, A EDUCAÇÃO NÃO FORMAL E SUAS CARACTERÍSTICAS