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Atividades e atores envolvidos na logística reversa dos resíduos de embalagens de vidro de Florianópolis

SUMÁRIO

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5 LOGÍSTICA REVERSA DE EMBALAGENS DE VIDRO PÓS-CONSUMO: UM ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO

5.4.2 Atividades e atores envolvidos na logística reversa dos resíduos de embalagens de vidro de Florianópolis

Os resíduos de embalagens de vidro gerados em Florianópolis, quando não encaminhados à aterros, passam por diversos atores até serem reintroduzidos à cadeia produtiva. Entre as atividades executadas pelos atores estão: separação e descarte; coleta e transporte; triagem; beneficiamento e destinação final dos resíduos, descritos a seguir. 5.4.2.1 Separação e descarte

De acordo com a Lei Complementar Municipal nº 113/2003, edificações multifamiliares e comerciais, beneficiadas pela coleta porta a porta, devem acondicionar os resíduos, tanto na coleta convencional quanto na seletiva, em contentores de polietileno de alta densidade (com cores distintas segundo o tipo de coleta), de forma a possibilitar a coleta a partir de caminhões dotados de elevadores hidráulicos. As residências unifamiliares, por sua vez, podem acondicionar os resíduos ou em contentores, de modo similar às edificações multifamiliares e comerciais, ou em embalagens plásticas (transparentes no caso da coleta seletiva) devidamente fechadas, e no caso de cacos de vidro e objetos pontiagudos e cortantes, estes estarem bem embrulhados de modo a evitar acidentes. Em alguns locais de difícil acesso aos caminhões coletores, tais como morros, ruas estreitas e escadarias, são instaladas lixeiras comunitárias

e/ou contentores para que os moradores possam dispor adequadamente seus resíduos.

Embora na coleta seletiva porta a porta predomine o método de separação single-stream, como mencionado, existem alguns geradores que dispõe o vidro em fração única para coleta. Alguns condomínios fazem, inclusive, a pré-seleção dos recicláveis em geral. Nos Ecopontos e nos PEVs, por sua vez, o descarte das embalagens de vidro ocorre sempre em fração única, ou seja, separado dos demais recicláveis. Nos Ecopontos, as embalagens de vidro são acondicionadas em caixas estacionárias tipo brooks, ou caçambas, de 5 m³ (Figura 5.1a), e nos PEVs, em contêineres com capacidade de 1000 kg, ou 2500 litros. Nos PEVs, além do contêiner de vidro, é também disponibilizado contêiner para o descarte de outras embalagens recicláveis (Figura 5.1b), ou então lixeiras para o descarte de sacolas plásticas e caixas de papelão (Figura 5.1c), visando garantir que o vidro seja descartado em fração única. Figura 5.1: Acondicionamento das embalagens de vidro (a) nos Ecopontos e (b) e (c) nos PEVs.

Fonte: (a) Foto tirada pela autora no local; (b) Pinho (2017); (c) Santos (2014). 5.4.2.2 Coleta e transporte

Os resíduos de embalagens de vidro descartados nas coletas convencional e seletiva são coletados pela Comcap, à exceção das embalagens descartadas no Ecoponto localizado na comunidade com dificuldades de acesso, que são direcionadas à Associação de Recicladores Esperança (Aresp), localizada ao lado do mesmo. Ressalta- se também, que embora existam catadores autônomos atuando na coleta informal de materiais recicláveis no município – principalmente nos últimos anos devido à crise econômica no país –, a coleta de embalagens de vidro entre esses é incomum, conforme apontam os dados do último levantamento sobre a coleta informal no município, realizado em 2014. No que diz respeito à execução da coleta pela Comcap, cada sistema apresenta características distintas, que cabem ser destacadas.

A coleta porta a porta convencional é realizada três vezes por semana, porém, em áreas densamente povoadas como a zona central de Florianópolis, é feita seis vezes por semana. Na alta temporada a frequência da coleta é ampliada em alguns locais, de três para seis vezes por semana, devido à grande produção de resíduos, que chega a quadruplicar em alguns balneários. Cerca de 98% dos moradores do município se beneficiam desse serviço, e os outros 2% utilizam as lixeiras comunitárias. Na execução da coleta são utilizados, em sua maioria, veículos compactadores. Em áreas de difícil acesso são empregados veículos utilitários com carroceria aberta, e em algumas comunidades, caminhões poliguindaste, os quais são utilizados para recolher as caixas do tipo brooks instaladas no local para o descarte dos resíduos. Cada equipe de coleta é composta por um motorista e três garis (quatro na alta temporada), os quais recolhem os resíduos nos pontos de coleta. Em locais de difícil acesso é comum que os garis acondicionem os resíduos em tapetes ou bags e os arrastem até pontos de mais fácil acesso do caminhão ou até lixeiras comunitárias.

A coleta seletiva porta a porta é realizada semanalmente pela Comcap. Em alguns locais a frequência pode ser mais alta: duas ou mais vezes por semana, como é o caso da região central, onde essa coleta é realizada seis vezes por semana. Atualmente todos os bairros são atendidos pelo serviço, mas não necessariamente todas as ruas. Para aproximadamente 70% da população a coleta dos recicláveis é feita porta a porta, e para 22% o descarte dos recicláveis deve ser feito em ruas principais ou em depósito comunitário. Embora alguns caminhões compactadores (com menor grau de compactação que os da convencional) sejam empregados nos roteiros de maior produção, predomina nesse tipo de coleta o uso de caminhões do tipo baú (Figura 5.2a), nos quais são alocados dois ou três tonéis de 200 litros, especialmente para o acondicionamento das embalagens de vidro separadas dos demais recicláveis na fonte geradora. Em cada veículo operam três funcionários, além do motorista, sendo que dois coletam os materiais recicláveis nos vários pontos de coleta e os entrega ao terceiro, que acomoda nos tonéis os resíduos de vidro devidamente separados.

Nos Ecopontos, quando o volume de resíduos de vidro depositados atinge a capacidade máxima da caçamba, em aproximadamente uma semana, o funcionário responsável pelo local solicita a coleta à Comcap, que encaminha uma caçamba vazia ao Ecoponto e coleta aquela com resíduos. Nos PEVs de vidro a coleta é feita de uma a duas vezes por semana, dependendo do ponto, empregando-se um caminhão equipado

com guindaste tipo sucateiro (Figura 5.2b) e provido de uma caçamba basculante de 25 m³, capaz de acomodar até 6 toneladas de resíduos de embalagens de vidro. Para execução da coleta são necessários dois funcionários, um motorista e um auxiliar, e para facilitar o descarregamento das embalagens na caçamba, o contêiner dispõe de uma trava no fundo, que quando acionada por toque, promove a abertura, ou fechamento, do equipamento.

Figura 5.2: Execução da coleta seletiva (a) porta a porta e (b) nos PEVs de vidro.

Fonte: (a) Byron (2018) e (b) Mafalda (2018).

Após a execução dessas coletas, os resíduos são encaminhados ao Centro de Valorização de Resíduos (CVR) da Comcap para pesagem. Feito isso, os resíduos advindos da coleta convencional são descarregados em carretas maiores, e em seguida transferidos para o aterro sanitário do município de Biguaçu, distante cerca de 40 km do CVR. Tais carretas são de propriedade da Proactiva, empresa que opera o aterro, a qual também realiza o transporte até o mesmo, cobrando para isso (transporte e disposição no aterro), R$ 147,00 por tonelada. Os resíduos provenientes da coleta seletiva, após a pesagem, são doados às associações de catadores de Florianópolis, assim como às associações de catadores do município vizinho, São José. Tal procedimento ocorre porque as associações de catadores de Florianópolis não conseguem absorver toda a demanda do município e também porque não funcionam aos finais de semana. Cerca de 50% dos materiais são destinados à ACMR, associação de catadores instalada no CVR da Comcap, 5% são encaminhados às outras duas associações de catadores de Florianópolis, Aresp e Recicla Floripa, e os 45% restantes são doados às associações de São José. As embalagens de vidro provenientes dos Ecopontos e PEVs, entretanto, são destinadas apenas à ACMR, em função desta dispor de área para o armazenamento desse material.

De acordo com as últimas estimativas oficiais, referentes ao ano de 2015, do total de resíduos de embalagens de vidro gerados em Florianópolis, 26% são coletados a partir da coleta seletiva, e os 74% restantes são dispostos no aterro por serem descartados na coleta convencional. É importante ressaltar, no entanto, que tais valores podem não refletir a realidade atual do município visto que a Comcap vem investindo em ações voltadas para a sensibilização da população em relação ao descarte adequado desse resíduo, conforme será apresentado ao longo deste trabalho.

Embora as quantidades de resíduos de embalagens de vidro coletadas em cada sistema de coleta seletiva nos últimos anos não estivessem disponíveis, foi possível obter os valores referentes aos PEVs, bem como a quantidade processada pela ACMR. Tais valores estão apresentados nas Tabelas 5.1 e 5.2, respectivamente, e na Figura 5.3 tem- se os gráficos com a evolução das quantidades coletadas nos PEVs e processadas pela ACMR. Em relação aos Ecopontos, no website da entidade é informado que foram coletadas 553 toneladas de embalagens de vidro nos PEVs e Ecopontos em 2017. Como nesse ano foram coletadas 240,3 toneladas de embalagens de vidro pelos PEVs, então foram coletadas nos Ecopontos 312,7 toneladas.

Tabela 5.1: Número de PEVs e quantidade coletada nesses, de dezembro de 2014 a abril de 2018. Nº de PEVs Ano Quantidade coletada (t) Média mensal (t) Média mensal por PEV (t) 9 2014 3,83 3,83 0,43 9 2015 68,05 5,67 0,63 9 2016 121,30 10,11 1,12 23 2017 240,30 20,02 0,87 28 2018a 137,35 34,34 1,23

Fonte: Elaborado pelos autores com base em dados de relatório técnico da Comcap disponibilizado por representantes da Autarquia

a Os valores de 2018 referem-se aos meses de janeiro a abril.

Como se pode observar, a quantidade de embalagens de vidro coletada nos PEVs vem aumentando gradativamente ao longo dos anos, assim como o número de PEVs implantados no município. De 2015 para 2017, por exemplo, a média mensal coletada nos PEVs apresentou um aumento de 253%. No entanto, como a participação da população leva

alguns meses para ocorrer, quando na instalação de um novo PEV, a média por PEV foi menor em 2017, devido à grande quantidade de pontos instalados no mês de agosto (Figura 5.3a). Os resultados dessa ação, por sua vez, foram refletidos no início de 2018, em que já foi superada a quantidade coletada em todo o ano de 2016.

Na ACMR também houve um aumento expressivo na quantidade de resíduos de vidro processada nos últimos anos, conforme mostra a Figura 5.3b. De 2014 a 2017, o aumento foi de 159%, sendo que nesse mesmo período, a produção total da associação aumentou apenas 37%. Destaca-se, contudo, que tal aumento não se deve, exclusivamente, à quantidade de vidro coletada nos PEVs pois, embora a representatividade dessa coleta no volume processado pela ACMR tenha aumentado – de cerca de 5,4% em 2015 para 11,8% em 2017 –, os resíduos de vidro chegam à ACMR principalmente pela coleta seletiva porta a porta, uma vez que os Ecopontos responderam por 15,4% da quantidade de resíduos de vidro processada pela ACMR em 2017. O aumento da representatividade do vidro na ACMR pode, por sua vez, ter relação com o aumento do número de catadores autônomos atuando nas ruas e coletando os materiais de maior valor agregado, bem como devido à instalação e divulgação do PEVs de vidro, que de certa forma favoreceu na conscientização da população.

Tabela 5.2: Indicadores de produção da ACMR (total e de vidro). Ano Quantidade total processada (t) Quantidade de vidro processada (t) Média mensal de vidro processado (t) 2014 3.473,10 785,35 65,45 2015 3.597,42 999,80a 99,98a 2016 - - - 2017 4.757,50 2031,54 169,29

Fonte: Elaborado pelos autores com base em indicadores de produção disponíveis no website da ACMR.

a Valores referentes até o mês de outubro (valores de novembro e dezembro não estavam disponíveis).

Figura 5.3: Evolução das quantidades de embalagens de vidro (a) coletadas nos PEVs de vidro e (b) processadas pela ACMR.

Fonte: Elaborado pelos autores com base (a) em dados de relatório técnico da Comcap disponibilizado por representantes da Autarquia e (b) em indicadores de produção disponíveis no website da ACMR.

Nota 1. Os valores dos meses de novembro e dezembro de 2017 em (a) foram estipulados. Não foram obtidas as quantidades reais desses meses, apenas a quantidade coletada entre janeiro e outubro e total coletada em 2017.

Dados atualizados em relação aos custos dos diferentes tipos de coleta seletiva não estavam disponíveis, mas de acordo com os últimos dados oficiais, de 2015, o custo para coletar os resíduos de embalagens de vidro na coleta porta a porta era de R$180,00 por tonelada, nos Ecopontos, R$117,00, e nos PEVs, R$100,00. Segundo representante da Comcap entrevistado, com a instalação de novos PEVs, a coleta por esse sistema está atualmente, em torno de R$130,00 por tonelada.

5.4.2.3 Triagem

A ACMR, como mencionado, é a associação de catadores que recebe a maior quantidade de resíduos de embalagens de vidro do município. Em peso, o vidro foi o principal material processado pela mesma no ano de 2017, com representatividade de 42,7% nas vendas, seguido do papel, com 38,1%. Nas instalações desta, os resíduos de embalagens de vidro são armazenados no chão, em um espaço disponível ao lado do galpão de triagem da associação (Figura 5.4). Um funcionário da ACMR fica responsável pela pré-triagem das mesmas, que consiste na retirada das embalagens nas quais os vidros vêm armazenados e dos rejeitos.

Figura 5.4: Armazenamento e pré-triagem das embalagens de vidro na ACMR.

Fonte: Imagem registrada pela autora no local.

Algumas embalagens de vidro em boas condições, são comercializadas com pessoas físicas que visam utilizar essas embalagens para propósitos diversos como, por exemplo, peças de artesanato. O maior volume, no entanto, é comercializado com a Catarina Vidros, uma

empresa beneficiadora de resíduos de vidro com sede no município de Tijucas, distante cerca de 60 km da associação. O valor do quilo do vidro é negociado por cerca de R$ 0,07, não havendo distinção de preço em função da cor ou da integridade da embalagem (inteira ou quebrada). Em intervalos que variam entre 7 a 15 dias, a empresa faz a coleta do vidro nas instalações da ACMR, com o auxílio de uma pá carregadeira.

Em ao menos duas associações – Recicla Floripa e Sorecicla de São José – o vidro triado é encaminhado a um intermediário, que apenas consolida um volume maior de embalagens de vidro para comercializar com a Catarina Vidros. No caso da Recicla Floripa, em particular, o vidro é doado tendo em vista o reduzido volume de embalagens de vidro processado por essa associação.

Em 2017, aproximadamente 77% dos resíduos coletados nos sistemas de coleta seletiva e processados pelas associações puderam ser recuperados. Os 23% restantes constituíram rejeitos após a triagem e foram encaminhados ao aterro sanitário pela Comcap, que realiza a coleta desses nas associações.

5.4.2.4 Beneficiamento e destinação final

A Catarina Vidros recebe grande parte das embalagens de vidro coletadas e triadas em Florianópolis, processando também vidros planos e de para-brisas. Assim como na ACMR, a Catarina Vidros executa a coleta dos resíduos de vidro nas instalações de seus demais fornecedores, entre eles intermediários e outras organizações de catadores. Nas instalações da empresa é feita uma nova triagem do material coletado, para retirada de todas as impurezas, bem como a trituração do vidro, que é comercializado com a indústria misto, isto é, sem segregação por cor. A venda de garrafas inteiras para reúso não é realizada pela empresa, apenas a venda dos cacos de vidro para reciclagem. Por mês são comercializadas em torno de 500 toneladas de cacos de embalagens de vidro (praticamente o triplo da quantidade processada pela ACMR), cujo transporte até a indústria recicladora é feito pela própria Catarina Vidros.

A qualidade do material recebido pela Catarina Vidros pode ser avaliada em função da quantidade de rejeitos que vem junto às embalagens de vidro: são geradas por mês, em torno de 20 a 30 toneladas de rejeitos, sendo grande parte, plásticos. As latinhas de alumínio são os únicos resíduos que, após triagem pela Catarina Vidro, são comercializadas. Como a disposição desses rejeitos no aterro tem um custo elevado para a empresa, há relatos que esta já chegou a devolver aos

seus fornecedores, os rejeitos encaminhados juntamente com as embalagens de vidros, pois a quantidade encaminhada à empresa estava sendo muito alta. A ACMR provavelmente estava entre esses fornecedores, pois foi mencionado por um representante da associação em 2016, que tal procedimento ocorria. Atualmente a empresa não usa mais desta prática, conforme informou uma funcionária da Catarina Vidros entrevistada.

5.4.3 Legislação voltada para a logística reversa das embalagens de