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Políticas, práticas e planos de gestão de resíduos

SUMÁRIO

PÓS-CONSUMO: UM ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO DE FLORIANÓPOLIS

2 O PLANEJAMENTO DE SISTEMA DE GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS COM FOCO EM

2.3.7 Políticas, práticas e planos de gestão de resíduos

Muitas vezes os autores tratam tanto de questões relativas ao contexto quanto de características de um sistema de gestão de RSU em particular, e descrevem ou analisam políticas, práticas ou planos de gestão de resíduos adotados em determinadas regiões. Em alguns trabalhos, um panorama do sistema de gestão é apresentado, com o intuito de identificar suas vantagens e/ou deficiências, e aspectos relacionados à composição dos resíduos, sistemas de coleta adotados, opções de tratamento, financiamento do sistema e políticas regulatórias são examinados pelos autores. É o caso do trabalho desenvolvido por Wilson (2002), na região de Pamplona, na Espanha; Popović et al. (2013), no município de Belgrado, na Sérvia; e Jacobi e Besen (2011) no município brasileiro de São Paulo. Troschinetz e Mihelcic (2009), por sua vez, realiza levantamento em vinte e três países em desenvolvimento e identificam 12 fatores que influenciam os sistemas de reciclagem nesses países, dentre os quais se incluem: políticas governamentais, caracterização dos resíduos, sistema de coleta e separação, educação, mercado local de produtos reciclado, disponibilidade de área, dentre outros.

Trabalhos apresentando alternativas de melhoria para a gestão de resíduos também foram identificados, podendo se citar Grodzińska- Jurczak (2001) e Taşeli (2007), que apresentam alternativas de melhoria para a gestão de resíduos na Polônia e na Turquia, respectivamente, nos quais os aspectos relativos ao contexto eram semelhantes: ambos os países estavam buscando se adequar às exigências da UE para se tornarem membro desse bloco econômico e político. Além disso, pode se citar Shekdar (2009), que identifica questões relevantes para a gestão de RSU em países asiáticos e desenvolve um plano de ação, visando melhorias na gestão integrada de RSU, e Wang e Geng (2012), que a partir da análise de como os atributos da gestão integrada de RSU estavam sendo interpretados e implementados na cidade de Dalian, na China, identificam as mudanças necessárias para aprimorar esse sistema de gestão.

Descrições de casos de sucesso de sistemas de gestão são apresentadas nos trabalhos de: Fehr et al. (2010), que trata de um modelo de gestão de resíduos em um condomínio brasileiro, onde próprios

condôminos se responsabilizaram pela destinação adequada dos resíduos recicláveis e orgânicos, por meio de parcerias com processadores desses materiais; Rudden (2007), que apresenta o plano de gestão de resíduos adotado na Irlanda, que viabilizou a redução da taxa de geração de resíduos encaminhados a aterros de 95% para 65%, em cerca de dez anos; e Silva et al. (2017), que apresentam três estudos de caso (São Francisco, Flandres e Japão) com o intuito de ilustrar diferentes abordagens para a gestão de RSU. Nessa mesma linha, Mannarino et al. (2016), por meio de um levantamento dos processos de tratamento e dos instrumentos adotados na política de gestão de RSU na Suíça, identificam alternativas que podem ser adotadas no Brasil.

Além disso, vale citar trabalhos que não se limitam a tratar de aspectos voltados para a reciclagem de resíduos, mas às possibilidades de redução dos volumes de resíduos gerados. Esse é o caso de Salhofer et al. (2008), que analisam o potencial das práticas de prevenção de resíduos de embalagens, dentre outros resíduos, na cidade de Viena, na Áustria, e mostram que há um potencial de redução da geração resíduos de embalagens de 1,4 % do fluxo total de RSU. Também com este foco, Song et al. (2015) destacam a importância da aplicação de práticas de Zero Waste (desperdício zero) e os requisitos necessários para implantar essa estratégia em municípios ou empresas, sugerindo uma abordagem sistemática para implementar as práticas Zero Waste.

Tendo em vista os diversos desafios que as autoridades locais, regionais, nacionais ou internacionais enfrentam na aplicação das políticas de gestão voltadas para a recuperação de resíduos, alguns trabalhos identificam barreiras e propõem alternativas de ação para os governos. Esse é o caso do trabalho desenvolvido por Macdonald e Vopni (1994), em que os autores citam barreiras e alternativas para atingir as metas e atender as políticas regulatórias adotadas em alguns países, tal como o desvio do fluxo de resíduos do aterro por meio da redução, reutilização e reciclagem. São tópicos abordados pelos autores: as estruturas de gestão, as formas de incentivar a coleta com separação na fonte e o mercado de recicláveis, bem como as dificuldades em se alocar o custo adicional desse desvio dos resíduos do aterro. Ainda relacionado às políticas regulatórias, Moh e Abd Manaf (2017) identificam os principais desafios para a separação de materiais recicláveis na fonte, uma vez que, por lei, a separação é obrigatória na Malásia.

No Brasil também foram identificados trabalhos analisando a influência das políticas, mais especificamente, da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), aprovada em 2010 no país. Chaves et al.

(2014), por exemplo, citam desafios enfrentados por alguns municípios brasileiros para se adequarem aos requisitos impostos por essa política, principalmente em relação à capacidade e conhecimento técnico das autoridades locais para lidar com esse instrumento jurídico complexo e abrangente. Campos (2014), por sua vez, identifica as deficiências e sugere reformas para o modelo de recuperação de RSU a ser implementado no país, com base na PNRS, enquanto Bauer et al. (2015), abordam o Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos, exigido pela a PNRS para todos os municípios brasileiros, avaliando como esse plano foi desenvolvido em dez municípios paranaenses, e como está sendo colocado em prática.

Outro estudo que trata de modelos de casos particulares foi conduzido por Bozec (2008), que apresenta as dificuldades enfrentadas pelos municípios franceses para equilibrar os orçamentos durante os anos de implementação do sistema de cobrança PAYT, e faz recomendações para os tomadores de decisão que almejam implementar esse sistema de cobrança.

DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

A estrutura adotada para classificar os trabalhos permite constatar que um dos temas mais abordados na literatura, no âmbito dessa revisão, diz respeito às políticas, práticas e planos de gestão de resíduos, como se pode observar no Quadro 2.1. Os resultados desses trabalhos, que analisam regiões específicas, permitem afirmar que o planejamento de um sistema de gestão de resíduos deve considerar as variáveis relacionadas ao contexto. Portanto, o desenvolvimento de trabalhos, como meta- análises, que sintetizem resultados das análises de implementação de práticas e planos em regiões distintas, inclusive comparando os procedimentos metodológicos usados são significativos.

Com relação aos mecanismos de incentivo, embora alguns trabalhos identifiquem suas vantagens e limitações, estes se restringem ao estudo de um ou dois mecanismos. Há carência de estudos que apresentem as vantagens e limitações dos mecanismos, sejam regulatórios, econômicos, educacionais ou informativos, bem como seus diversos instrumentos de aplicação. Ainda se pode afirmar que pouca atenção tem sido dada aos mecanismos educacionais, talvez porque haja uma tendência das autoridades locais e nacionais de utilizar mecanismos econômicos e legais como forma de promover a participação da população em programas de reciclagem (MOH; ABD MANAF, 2017). Vale ressaltar que, conforme destacado na literatura, a informação, a

educação e a conscientização, tem impacto significativo na participação da população nos programas de reciclagem e, consequentemente, na eficácia dos sistemas de gestão de RSU (MILIUTE-PLEPIENE; PLEPYS, 2015). De nada adianta realizar investimentos em sistemas de coleta e tratamento de resíduos, bem como na reciclagem de resíduos, se esses não estarão disponíveis em volumes suficientes para o mercado de recuperação.

Quadro 2.1: Aspectos relacionados ao PSGR e autores que os abordam. Aspectos do PSGR Autores Número de publicações 2.3.1 Mecanismos de incentivo

Fuller (1978); Pearce e Turner (1993); Michaelis (1995); Hong (1999); Bor et al. (2004); Grodzińska- Jurczak et al. (2006); Loughlin e Barlaz (2006); Dahlén et al. (2007); Cahill et al. (2011); Loukil e Rouached (2012); Massarutto (2014); Jaeger e Eyckmans (2015); Matter et al. (2015); Willman (2015); Morlok et al. (2017)

15

2.3.2 Mercado de recuperação de resíduos

Não foram identificados estudos abordando esse

aspecto em específico nesta revisão 0

2.3.3

Comportamento da população

Wang et al. (1997); Vicente e Reis (2008); Han et al. (2010); Feo e Polito (2015); Starr e Nicolson (2015) 5 2.3.4 Canais

reversos Fuller (1978) 1

2.3.5 Sistemas de coleta e triagem

Jahre (1995); Chaves e Batalha (2006); Dahlén et al. (2007); Zhuang et al. (2008); Han et al. (2010); Tai et al. (2011); Cimpan et al. (2015); Miliute-Plepiene e Plepys (2015); Xu et al. (2015); Bing et al. (2016)

10

2.3.6 Atores e organização dos canais reversos

Yhdego (1991); Wang et al. (2008); Tremblay et al. (2010); Coelho et al. (2011); Paul et al. (2012); Souza et al. (2012); Jesus e Barbieri (2013); Barreto et al. (2015); Rutkowski e Rutkowski (2015); Fei et al. (2016); Moura et al. (2016); Scheinberg et al. (2016); Vaccari e Perteghella (2016); Rebehy et al. (2017)

14

2.3.7 Políticas, práticas e planos de gestão de resíduos

Macdonald e Vopni (1994); Grodzińska-Jurczak (2001); Wilson (2002); Rudden (2007); Taşeli (2007); Bozec (2008); Salhofer et al. (2008); Shekdar (2009); Troschinetz e Mihelcic (2009); Fehr et al. (2010); Jacobi e Besen (2011); Wang e Geng (2012); Popović et al. (2013); Campos (2014); Chaves et al. (2014); Bauer et al. (2015); Song et al. (2015); Mannarino et al. (2016); Moh e Abd Manaf (2017); Silva et al. (2017)

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Fonte: Elaboração própria.

Outro aspecto que tem recebido atenção limitada na literatura envolve a análise do comportamento da população quanto aos

mecanismos de incentivo e sistemas de coleta adotados, em especial no Brasil. Estudos identificando as alternativas que possuem aceitação e participação da população merecem atenção, uma vez que, o planejamento do sistema de logística reversa de embalagens, e dos planos municipais, está em fase de desenvolvimento no país.

Com relação aos sistemas de coleta e triagem, o destaque é dado para o trabalho de Jahre (1995), que apresenta uma classificação dos tipos de sistemas de coleta. Não foram identificados, no entanto, artigos abordando os fatores que devem ser levados em consideração na decisão de sistemas de coleta, como por exemplo, a existência de um volume mínimo de resíduos para comercialização e a existência de mercado para esses. Talvez análises terciárias com base em estudos que analisam sistemas em diferentes regiões possam contribuir para preencher esta lacuna da literatura. Além disso, como sistemas de coleta seletiva vêm sendo implementados nos municípios brasileiros para atender as exigências da PNRS, o desenvolvimento de estudos que orientem o planejamento e implementação desses sistemas, podem ser de grande valia para as municipalidades.

Em relação à organização dos canais reversos, a revisão da literatura mostra que esta é uma tarefa complexa, principalmente devido à necessidade de integrar os atores do setor informal de forma efetiva, garantindo a eficiência do sistema. Essa talvez seja a razão pela qual, muitos trabalhos tratam desta problemática. No entanto, há necessidade de trabalhos que apresentem alternativas de organização do setor informal, bem como suas vantagens e limitações.

CONCLUSÕES DO CAPÍTULO

A possibilidade de recuperação do valor dos RSU vem, cada vez mais, motivando os pesquisadores a desenvolver trabalhos na área de gestão de RSU, o que explica o grande volume de artigos científicos nessa área. Diversos aspectos são abordados nesses trabalhos e dentre os que abordam os aspectos voltados para o PSGR, e que foram analisados nessa revisão, identifica-se uma tendência em apresentar experiências ou barreiras/soluções para realidades locais, as quais, muitas vezes, não podem ser replicadas, devido às particularidades de cada região, que exigem soluções adequadas ao contexto.

Esse estudo buscou ilustrar os aspectos tratados na literatura e que devem ser levados em consideração no desenvolvimento ou melhoria de um sistema de gestão de resíduos voltado para a recuperação do valor desses. Vale ressaltar, que dadas as características da população, dos

resíduos gerados, das alternativas de tratamento, dos recursos disponíveis, etc., cada região, ou cada munícipio, devem adotar soluções considerando a realidade local.

O esquema apresentado contém elementos que auxiliem a estruturação de um processo de tomada de decisão relativo a um SGR sólidos urbanos e, embora não apresentem instrumentos ou detalhe aspectos a serem contemplados, identifica os artigos que podem embasar este processo. Deve-se destacar, contudo, que embora vasta, a literatura sobre o tema é rica em exemplos, estudos de casos e relatos de experiências, mas ainda carece de estudos que apresentem sínteses destas experiências, razão pela qual, são sugeridas neste estudo, algumas oportunidades de pesquisas.

Embora neste estudo os artigos abordando opções de recuperação de resíduos de embalagens não tenham sido considerados para análise, devido ao caráter específico, esse aspecto também deve ser levado em consideração no planejamento, principalmente pelo fato de que, as opções de recuperação de resíduos de embalagens mais viáveis economicamente e ambientalmente podem variar de acordo com o material e a região. Contudo, as principais formas de evitar a geração de resíduos de embalagens ou então recuperar o seu valor é por meio da redução, reutilização ou reciclagem. A geração de energia, por meio da incineração, é adotada em alguns casos, contudo, essa opção só deve ser considerada se o reúso ou a reciclagem for ambientalmente ou economicamente inviável.

No que se refere às limitações deste trabalho, destaca-se que foram considerados apenas artigos científicos obtidos das três bases de dados citadas, embora existam inúmeros relatórios técnicos e estudos de instituições públicas e privadas que tratam do tema. Além disso, na etapa inicial de seleção dos artigos, baseada na leitura dos títulos e resumos, há também a possibilidade de eliminação de trabalhos sobre o tema, que tragam uma contribuição científica relevante.