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Canais reversos organizados pela indústria para o reúso de embalagens de vidro

SUMÁRIO

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3.4.3 Canais reversos organizados pela indústria para o reúso de embalagens de vidro

O uso de embalagens de vidro no Brasil é direcionado, principalmente, ao setor de bebidas, que as utiliza para envasar cervejas, bebidas destiladas, vinhos, refrigerantes, sucos e águas (ver OWENS- ILLINOIS DO BRASIL, 2017). Dentre esses, o setor cervejeiro se destaca, tanto em relação ao uso das embalagens de vidro (ABIVIDRO, 2009), quanto ao consumo da bebida pelos brasileiros. Segundo dados da Euromonitor International (2016 apud VIANA, 2017), a cerveja foi responsável por praticamente 70% do consumo de bebidas alcoólicas no país no ano de 2015, sendo a segunda bebida mais comercializada pela indústria de bebidas brasileira no mesmo ano, conforme indicam os dados da Pesquisa Industrial Anual (PIA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2015), ficando atrás apenas dos refrigerantes, os quais são envasados principalmente em embalagens PET e de alumínio (CERVIERI JÚNIOR et al., 2014). Em vista disso, maior destaque é dado ao setor cervejeiro, sobretudo quanto ao canal reverso voltado para o reúso, uma vez que, dos três tipos de embalagens utilizadas para envasar

a bebida nas grandes cervejarias7, as garrafas de vidro retornáveis são predominantes, com representatividade de 51,1%, seguida das latas de alumínio com 45,4%, e garrafas de vidro descartáveis com 3,5% (CERVBRASIL, 2016).

Embora as garrafas retornáveis de cerveja apresentem penetração significativa no segmento doméstico em algumas regiões do país (53,3% no Norte e 61,2% no Nordeste), seu principal destino são bares e restaurantes (RIBEIRO, 2016; VALENTE JUNIOR; ALVES, 2016). A Ambev, por exemplo, maior cervejaria do país, tem como seus principais pontos de venda os bares, nos quais predomina esse tipo de garrafa (AMBEV, 2016). Nesses casos, o retorno das embalagens se dá pelo próprio canal de distribuição, o qual é organizado pela indústria (LARSEN et al., 2009) que, em alguns casos, faz a distribuição direta nos pontos de venda, a partir de centros de distribuição próprios, ou então a partir de distribuidores terceirizados (VALENTE JUNIOR; ALVES, 2016).

Uma mudança estratégica vem sendo adotada pelas grandes cervejarias, no sentido de redirecionar as garrafas retornáveis ao segmento doméstico, uma vez que, devido à recessão econômica no país (2014 a 2016), foi verificada uma queda nas vendas do varejo de balcão (bares) e aumento nas vendas pelo canal de autosserviço (supermercados). Em vista disso, e visando estimular o consumo, as grandes cervejarias passaram a fazer promoções e ofertas de garrafas retornáveis (RIBEIRO, 2016).

A Ambev, por exemplo, disponibiliza máquinas de coleta de garrafas retornáveis em supermercados, nas quais após a devolução, um cupom de desconto é emitido para a compra de um outro retornável, o qual deve ser entregue no caixa para que o desconto no preço do produto seja efetuado. A partir de tal prática o consumidor pode adquirir a bebida por um preço até 30% menor, não havendo data de validade para o uso do cupom. Cabe destacar que, em 2016, as retornáveis responderam por 23% do volume de vendas da Ambev nos supermercados, o qual em 2015 era de 14% (AMBEV, 2016; AMBEV, 2017b). Vale ressaltar ainda, que a empresa investiu R$1,5 milhão no desenvolvimento de máquinas próprias de coleta de garrafas retornáveis no ano de 2017, as quais, até então, eram importadas (AMBEV, 2017a).

7 As maiores fabricantes de cerveja no Brasil são: Ambev; HEINEKEN Brasil; Grupo Petrópolis e Brasil Kirin (adquirida pela Heineken), as quais representam cerca 96% do mercado cervejeiro do país (CERVBRASIL, 2016).

Em relação às microcervejarias – nas quais geralmente são produzidas as cervejas artesanais (SEBRAE, 2016) – é comum o uso de embalagens de vidro descartáveis (RIBEIRO, 2016), pois não existe um padrão de garrafa entre as cervejarias que viabilize seu retorno. A fabricante mundial de embalagens de vidro, Owens-Illinois, lançou recentemente um novo modelo de embalagem de vidro voltada para esse segmento, porém, com o intuito de evidenciar o produto nas prateleiras (ABIVIDRO, 2016b) e não para promover o reúso. Algumas alternativas vêm sendo observadas nesse segmento visando impulsionar o consumo – também afetado pela crise econômica –, as quais, além de apresentar um menor custo ao consumidor, evita a geração de resíduos de embalagens de vidro. Tal alternativa envolve a comercialização da bebida em growlers (garrafas específicas para o armazenamento do chope proveniente dos barris), os quais são adquiridos pelos consumidores, e podem ser reabastecidos em pontos de venda que dispõem da bebida em barris. Para tais estabelecimentos a venda a partir de barris também é vantajosa, pois reduz o preço do produto devido ao fato dos barris serem retornáveis (RIBEIRO, 2016).

Embora o setor cervejeiro seja o principal adepto às garrafas de vidro retornáveis, estas também são empregadas no envase da cachaça industrial, bebida também bastante popular no Brasil. Na empresa líder global do segmento, Companhia Müller de Bebidas, uma parcela das garrafas de vidro retorna à fábrica para reúso pelo próprio canal de distribuição, de forma semelhante às garrafas de cerveja retornáveis (ABIVIDRO, 2016a; CIA MÜLLER DE BEBIDAS, 2017). Nos percursos menores as garrafas são acomodadas em engradados apropriados, que evitam o atrito entre elas, e para longas distâncias as garrafas são transportadas a granel, pois para que a viagem se torne viável economicamente, é preciso dobrar a quantidade de garrafas transportadas. Neste caso, as garrafas são devidamente acomodadas na carroceria do caminhão, de modo a reduzir os impactos ocasionados durante a viagem (ABIVIDRO, 2016a). Cerca de vinte caminhões carregados com vasilhames retornáveis (a granel ou em engradados), provenientes de diversos locais do Brasil chegam à Companhia Müller, por dia (ABIVIDRO, 2016a).

Deve se atentar, contudo, que embora a Companhia Müller venha, há muitos anos, empregando o reúso de suas embalagens, a mesma adota uma prática que dificulta o reúso de embalagens retornáveis pelas demais fabricantes de cachaça industrial. Isso porque, ao invés de utilizar garrafas lisas padronizadas como as demais, a Companhia Müller utiliza garrafas

com a logomarca da cachaça em relevo, o que segundo as concorrentes, compromete o processo de produção das fabricantes menores, devido à dificuldade em se separar manualmente as garrafas da marca que são recolhidas junto às lisas no mercado (GARRAFAS, 2011).

3.4.4 Canais reversos voltados para reciclagem dos resíduos de