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Características e desafios na logística reversa das embalagens de vidro no Brasil

SUMÁRIO

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3.4.6 Características e desafios na logística reversa das embalagens de vidro no Brasil

Apesar das várias possibilidades de recuperação do valor dos resíduos de embalagens de vidro, seu baixo valor no mercado de reciclagem e os elevados custos logísticos, muitas vezes, comprometem sua reciclagem no Brasil. Segundo a gerente de Projetos de Embalagem da ABIVIDRO, em regiões distantes dos grandes centros ou onde o consumo de embalagens de vidro não é intenso, a receita com a venda desse material não cobre os custos de transporte (LAMPERT, 2016).

Figura 3.6: Canais reversos voltados para a recuperação do valor das embalagens de vidro pós-consumo.

Além do alto custo do transporte, a coordenadora de Sustentabilidade da Owens-Illinois, também destaca outros aspectos que desafiam a reciclagem do vidro no Brasil, entres eles (ABIVIDRO, 2016c): o baixo volume coletado pelos catadores; a informalidade do mercado de sucata; e a qualidade do vidro abaixo dos padrões mínimos necessários para o seu reaproveitamento. Esses aspectos apontados pela coordenadora, confirmam alguns fatos já constatados por alguns autores, como por exemplo, o desinteresse dos catadores em trabalhar com o vidro, devido ao seu baixo valor agregado e aos riscos de acidente envolvidos em seu manuseio (DEMAJOROVIC et al., 2014), assim como as exigências da indústria quanto aos volumes mínimos e à qualidade do material para compra, que fazem com que, em geral, as organizações de catadores que comercializam o vidro, o façam com intermediários e não com a indústria pois, o baixo valor agregado do material beneficiado torna muito longo o tempo de retorno do investimento em maquinários, principalmente se comparado ao valor de mercado de outros recicláveis beneficiados (LEMOS, 2012). Além disso, a necessidade de acúmulo de grandes volumes compromete o espaço das MRFs (CAMPOS, 2013b).

De acordo com Corrêa e Xavier (2013), a indústria de reciclagem não possui requisitos rígidos quanto aos prazos de entrega, mas estipula volumes mínimos para compra e transporte de materiais, devido à inviabilidade econômica de se coletar pequenas quantidades de insumos de um grande número de organizações de catadores. Quanto às exigências em relação à qualidade do material, estas são estabelecidas considerando- se os possíveis prejuízos na produção, como a contaminação de lotes e consequente produção de embalagens com defeito, bem como os danos nos equipamentos, entre eles o forno, que tem um alto investimento (ESTIVAL et al., 2006; MOTA, 2012).

A integração das organizações de catadores como fornecedoras das empresas também apresenta uma série de dificuldades, podendo se destacar a falta de infraestrutura e equipamentos, a existência de problemas organizacionais, incluindo relações pessoais e deficiências de autogestão, bem como a falta de capacitação e de regularização, e até mesmo de capital de giro (DEMAJOROVIC et al., 2014, MOTA, 2012, RIBEIRO; BESEN, 2007). Muitos catadores também têm dificuldade em estabelecer vínculos e compromissos com as organizações, seja pelo histórico de exclusão social (SOUZA et al., 2012), ou pela baixa remuneração do setor, o que acaba ocasionando alta rotatividade entre os membros e, consequentemente, uma instabilidade na sustentabilidade das operações das mesmas (GUTBERLET, 2015).

Algumas organizações de catadores são exceção, como é o caso da Cooperativa Vira Lata, que comercializa os resíduos de embalagens de vidro diretamente com a indústria vidreira, devido à sua participação no projeto Glass is Good, idealizado pela Diageo, o qual tem algumas particularidades que merecem ser destacadas. Uma delas, é que antes do projeto ser estabelecido, a Diageo cogitou implantar um SLR com seus distribuidores, valendo-se do canal de distribuição para retornar as garrafas vazias. Tal alternativa se mostrou inviável, contudo, devido ao número de garrafas vazias acumuladas nos pontos de venda serem maiores que o lote de produtos a ser entregue. A disponibilização de outro caminhão para coleta, por outro lado, elevaria muito o custo da atividade, o que tornaria o retorno do material inviável financeiramente. Logo, para viabilizar a logística reversa das garrafas, era preciso pensar em uma alternativa que unisse uma coleta em grande quantidade, com custos adequados, o que foi possível a partir da parceria com a Vira Lata, em novembro de 2010 (DEMAJOROVIC et al., 2014).

A partir dessa parceria, a cooperativa pôde viabilizar o fluxo reverso, ao realizar as atividades que pouco interessam às empresas, tais como, coleta, transporte, armazenamento e comercialização, o que a tornou, portanto, elo fundamental entre geradores e reciclador (DEMAJOROVIC et al., 2014). É importante ressaltar, no entanto, que tal parceria só foi possível, porque a cooperativa estava devidamente organizada e regularizada no momento das negociações e, portanto, atendia às exigências legais necessárias para atuar como fornecedora (DEMAJOROVIC et al., 2014; MOTA, 2012). Tanto a Prefeitura, como empresas públicas e organizações não governamentais (ONGs) foram fundamentais nesse sentido. A Prefeitura de São Paulo cedendo espaço e exigindo documentação legal, entre elas CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica) para que a mesma pudesse participar do programa de coleta seletiva da Prefeitura, e a Petrobras e a Fundação Banco do Brasil garantindo recursos para investimento em equipamentos, tais como prensas, trituradores e caminhões (DEMAJOROVIC et al., 2014).

Essa parceria com a cooperativa é benéfica às empresas fabricantes de bebidas no sentido de impedir que a parcela de garrafas coletadas chegue ao mercado de bebidas falsificadas, e também por trazer vantagens intangíveis pela ação de responsabilidade social e ambiental, que são revertidas em benefício da marca. Para a cooperativa a parceria é vantajosa sob vários aspectos. Um deles diz respeito à profissionalização da mesma, uma vez que relatórios de controle de processos devem ser elaborados mensalmente para serem entregues à Diageo. Outro aspecto

relevante é o aumento significativo dos valores de comercialização dos materiais recicláveis (DEMAJOROVIC et al., 2014).

Nos casos analisados por Mota (2012), foi possível verificar que, a comercialização do vidro com a indústria em algumas organizações de catadores representou um incremento entre 40 e 60% em relação aos preços praticados por intermediários, sendo que para a cooperativa Vira Lata esse incremento foi de 75%. Isso ocorre porque os materiais recicláveis são commodities e, portanto, para a indústria, o valor da matéria-prima secundária independe da quantidade de intermediários. Ressaltando que, o preço do material também varia em função da distância do fornecedor, e da necessidade de beneficiamento pela indústria. Portanto, quanto mais distante o fornecedor estiver em relação à unidade operacional, menor o preço devido aos custos do frete (MOTA, 2012), e quanto menor for a agregação de valor por meio das atividades de classificação e beneficiamento, menor o preço devido a necessidade da indústria em realizar tais operações.

3.4.7 Alternativas para viabilizar a logística reversa das embalagens