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ATIVOS CULTURAIS E SUA INTANGIBILIDADE: INFORMAÇÃO, CONHECIMENTO E PRODUÇÃO DE VALOR

PARTE IV – RELATOS DE PESQUISA SOBRE PRODUÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DESCRIÇÃO DE ACERVOS

ATIVOS CULTURAIS E SUA INTANGIBILIDADE: INFORMAÇÃO, CONHECIMENTO E PRODUÇÃO DE VALOR

Daniele Cristina Dantas

Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação | Universidade Federal do Rio de Janeiro | Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia | danielecdantas @gmail.com

Marcos Bezerra do Couto Cavalcanti

Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação| Universidade Federal do Rio de Janeiro | marcos@crie.coppe.ufrj.br

INTRODUÇÃO

O reconhecimento de informação e conhecimento como ativos estratégicos e seu uso na gestão e produção de valor são centrais na Sociedade do Conhecimento. Sua validação como

commodity é cada vez mais comum em diferentes domínios sociais. Ativos importantes – também

produtores de valor – informação e conhecimento representam parcela importante da riqueza atualmente, tanto para organizações empresariais quanto para países, podendo-se relacionar a capacidade de produção de valor no Produto Interno Bruto (PIB) de algumas nações com a dimensão do ativo representado por informação e conhecimento, dinamizados interna e externamente (CAVALCANTI, 2002).

Questão destacada, o uso da informação em diferentes contextos e em suas diferentes formas de representação e entendimento, também é especialmente no campo da gestão e das políticas culturais no Brasil no Século XXI. Assim, a proposta de pesquisa doutoral fundamenta- se na possibilidade de relacionar as temáticas Gestão do Conhecimento e Avaliação de Ativos Intangíveis, compreendendo a investigação sobre os ativos intangíveis no contexto da gestão e das políticas culturais brasileiras e o reconhecimento da produção de valor em suas práticas. Isto considerando a relevância do papel da informação e do conhecimento em áreas de fluxos de valores não materiais expressivos, como a cultura, e as implicações de tais aspectos nos contextos simbólicos e econômicos.

O desenvolvimento da pesquisa de tese pretende traduzir a contribuição de informação e conhecimento na produção de valor no campo cultural, considerando-as matrizes da composição de bens e serviços culturais, bem como componentes dos fluxos existentes nas relações de consumo e fruição. Busca-se sumarizar referenciais teóricos que favoreçam o entendimento dos ativos intangíveis culturais e aspectos relacionados aos conceitos de valor, possibilitando reconhecer e situar estrategicamente as políticas culturais em relação a seus bens e serviços.

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Neste contexto, o presente trabalho tem como objeto as contribuições das teorias da classificação para que se alcancem os objetivos específicos da pesquisa doutoral, contribuindo para o objetivo principal, no tocante a tradução da contribuição de informação e conhecimento na produção de valor no campo cultural. São objetivos, neste texto, versar sobre as contribuições das teorias da classificação para a construção dos argumentos da tese e identificar referenciais teóricos sobre classificação para a extração de informação no campo cultural.

DESENVOLVIMENTO

A gestão e as políticas culturais contemporâneas, e os interesses em evidenciar a relevância estratégica do campo nos contextos econômico e simbólico, suscitam questões relacionadas aos ativos culturais como vetor econômico relevante. Contudo, ainda se encontram limitações para verificar os processos e aspectos que se traduzam como melhores indutores da produção de valor. Tendo em vista o estudo do problema, busca-se identificar recursos para analisar a informação como identificador e produtor de valor no campo da gestão e das políticas culturais.

Contextualizado no momento da gestão e das políticas culturais, na avaliação de teóricos sobre a gestão da informação e do conhecimento como ativos e na importância de sua representação, abrem-se inúmeras questões relacionadas a este potencial vetor de desenvolvimento de aspectos simbólicos e econômicos. Reconhece-se a necessidade de melhor compreensão da representação do valor de tais ativos, dada sua representatividade. Assim, são questões centrais da investigação os conceitos de informação e conhecimento vinculados a produção de valor, assim como os métodos apropriados para as considerações acerca da avaliação de intangíveis e de que modo pode ser aplicável para sua verificação em relação a bens e serviços culturais.

Neste sentido, uma perspectiva analítica a partir do modelo dos Capitais do Conhecimento (CAVALCANTI; GOMES; PEREIRA, 2001) traz contribuições para o entendimento dos processos de produção de valor na cultura, tendo a avaliação dos ativos intangíveis culturais como referência. A investigação encaminha a considerações favoráveis para a melhor compreensão da representação do valor dos ativos culturais orientada pela análise conjugada de fatores que considerem aspectos interconectados, particularmente pelo entendimento de informação e do conhecimento como insumos principais. Isso se confirma quando tais fatores compõem um quadro sinérgico no qual se compreende que, potencialmente, a fonte das riquezas está na interação entre capital ambiental, capital intelectual, capital estrutural e capital de relacionamento, os Capitais do Conhecimento (CAVALCANTI; GOMES; PEREIRA, 2001).

A teoria da classificação e os recursos para organização do conhecimento, recuperação de informação, aliando aparatos técnicos a outros ligados ao conteúdo semântico (HADI; FAVIER,

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2014), são de grande contribuição para os estudos sobre ativos culturais e aspectos relacionados à produção de valor. Isto porque o recorte apresentado da pesquisa vincula-se às contribuições das teorias da classificação para que se alcancem objetivos específicos da pesquisa, contribuindo para o objetivo principal no proposto para a tradução da contribuição de informação e conhecimento na produção de valor neste campo. Isto se explica substancialmente pelo fato de os mesmos termos serem comumente utilizados com sentidos diversos, produzindo resultados analíticos com complexidades avaliativas, dado o baixo poder de explicação e comparabilidade entre eles, em função do desnível conceitual que representem. Carecendo de alinhamento conceitual para tais termos, tem-se o risco de uso não apropriado. Usam-se termos diferentes indistintamente para comunicar a mesma ideia, bem como os mesmos termos para expressar ideias diferentes, como financiamento, investimento, retorno, contrapartida, cultura, valor, entre outros.

Assim, o recorte inicial de apreciação sobre a aplicação da teoria da classificação na estruturação do estudo sobre informação e conhecimento na produção de valor no campo cultural parte da teoria da classificação facetada, pela perspectiva de Ranganathan (1951, 1963a, 1963b, 1967), visando a otimização da organização e classificação dos conceitos relevantes para o campo, assim como da recuperação da informação. A partir do trabalho de Ranganathan, busca-se verificar meios de identificar padronizações para os termos utilizados no campo, buscando facilitar a comunicação entre os diferentes profissionais e públicos desta área de conhecimento, favorecendo avanços mais perenes nos estudos acadêmicos e científicos da gestão e das políticas culturais, especialmente no tocante as contribuições de informação e conhecimento na produção de valor.

Reconhece-se, na experiência do Ministério da Cultura, realizada em 2016, uma ação em busca de estruturar reflexões sobre a temática para os diferentes agentes do campo da gestão de das políticas culturais. Um grupo de trabalho sobre organização do conhecimento e produtos terminológicos (chamado GT Glossário da Cultura) se reuniu, durante meses, desenvolvendo um trabalho de reflexão e estruturação de conhecimentos com vistas a propor uma forma de lidar com os desafios da classificação em um campo complexo e diverso em conteúdos sensíveis, envolvendo entes e interlocutores ligados às variadas linguagens e formas de expressão.

Acredita-se que a fundamentação de um trabalho de organização da informação, no campo da gestão e das políticas culturais, pautado na teoria da classificação facetada alcance resultados positivos por suas contribuições no entendimento dos domínios e classificação dos termos (RANGANATHAN, 1967). Tal entendimento é reiterado quando se pensa na importância de uma abordagem clara de termos que venham a orientar o diálogo no campo da gestão e das políticas culturais em um contexto ampliado, especialmente quando relacionado a temáticas transversais, como a contabilidade e a economia, assim como a aspectos técnicos (das metodologias avaliativas

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sobre valor, por exemplo) e sensíveis (da percepção de valor por referenciais simbólicos, como a estética e história para diferentes grupos), como é o caso da pesquisa de doutorado em desenvolvimento.

Reconhecendo a diversidade e as dinâmicas do campo da cultura, acredita-se que um trabalho fundado em Ranganathan tende a oferece uma base no tocante a classificação favorecendo as abordagens interdisciplinares que o campo demanda. O trabalho iniciado no Ministério da Cultura, que não tem informações atualizadas, evidencia a importância que esta etapa ainda está em processo para profissionais do meio cultural no Brasil.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considera-se informação e conhecimento elementos centrais para a avaliação dos ativos culturais, seus intangíveis e valor no campo da gestão e das políticas culturais no Século XXI. Buscando pautar o mapeamento dos processos de construção de valor, da avaliação de ativos intangíveis na cultura e de seu valor, propõe-se o uso da teoria da classificação facetada, de Ranganathan, para o alinhamento teórico-conceitual a partir do conhecimento produzido no campo, possibilitando avanços na pesquisa.

Considerando alguns trabalhos iniciados, é necessário seguir de forma perene em busca de avanços, com vistas a consolidação de referenciais. A teoria da classificação e o trabalho de Ranganathan têm muitas contribuições para processos de organização do conhecimento na base do desenvolvimento de ações estratégicas – a médio e longo prazos –, como podem se consolidar estudos sobre os ativos intangíveis culturais. Isto é reforçado por ser um campo permeado por abordagens interdisciplinares, transversais e subjetivas.

Com isso, acredita-se ser viável, reconhecendo os recursos metodológicos apropriados, em Ranganathan, para o entendimento dos domínios e classificação dos termos (1967), contribuir para a tradução da representação de informação e conhecimento em áreas de fluxos de valores não materiais expressivos, como a cultura, e suas implicações nos contextos simbólicos e econômicos.

REFERÊNCIAS

CAVALCANTI, M. Conhecimento e desigualdade. Trabalho e Sociedade, Rio de Janeiro, v. 2, dez. 2002. Número especial. Disponível em: <www.iets.inf.br/biblioteca/Conhecime

nto_e_desigualdade.pdf>. Acesso em: 18 jun. 2014.

CAVALCANTI, M.; GOMES, E.; PEREIRA, A. Gestão de empresas na sociedade do

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HADI, W. M.; FAVIER, L. Bridging the Gaps between Knowledge Organization and Digital Humanities. INTERNATIONAL ISKO CONFERENCE, 13., 2014, Cracovie. Proceedings... Cracovie: ISKO, 2014. p. 477-487.

RANGANATHAN, S. R. Colon Classification. Bombay: Asia Publishing House, 1963a. 126 p. RANGANATHAN, S. R. Philosophy of Library Classification. New Delhi: Ejnar Munksgaard, 1951.

RANGANATHAN, S. R. Prolegomena to Library Classification. Bombay: Asia Publishing House, 1967. 640 p.

RANGANATHAN, S. R. The Five Laws of Library Science. Bombay: Asia Publishing House, 1963b. 449 p.

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GESTÃO DE DOCUMENTOS NO ÂMBITO DAS POLÍTICAS ARQUIVÍSTICAS DO

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