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MULTIDIMENSIONAL: UMA PROPOSTA DE DISCUSSÃO ENTRE OS AUTORES FUNDACIONAIS DA CLASSIFICAÇÃO BIBLIOGRÁFICA

PARTE IV – RELATOS DE PESQUISA SOBRE PRODUÇÃO, ORGANIZAÇÃO E DESCRIÇÃO DE ACERVOS

MULTIDIMENSIONAL: UMA PROPOSTA DE DISCUSSÃO ENTRE OS AUTORES FUNDACIONAIS DA CLASSIFICAÇÃO BIBLIOGRÁFICA

Rosana Portugal Tavares de Moraes

Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação | Universidade Federal Fluminense | rosanaportugal@id.uff.br

Maria Luiza de Almeida Campos

Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação | Universidade Federal Fluminense | maria.almeida@pq.cnpq.br

INTRODUÇÃO

Os ambientes informacionais, como apresentados na atualidade, configuram-se como complexos, considerando tanto os aspectos relacionados ao seu conteúdo como os de forma e suporte. Quanto ao seu formato, documentos em papel compartilham seu espaço com documentos eletrônicos e digitais, os quais possibilitam maior interconexão de dados de origens diversas, e com variadas formas de apresentação e acesso às informações.

Quanto ao conteúdo, observa-se que as questões colocadas pela realidade fenomênica levaram a ciência a trabalhar em equipes de pesquisa, congregando diferentes especialidades na busca de respostas aos complexos problemas ambientais, sociais e de saúde pública, dentre outros. Estes estudos são chamados de integrativos ou inter-transdisciplinares, denominados nesta pesquisa por um termo mais abrangente de ‘conhecimento multidimensional’, os quais geram conteúdos que impactam diretamente o trabalho dos profissionais da informação na construção e/ou adaptação de estruturas classificatórias para representação do conhecimento.

Os documentos, agregados a estes ambientes de múltiplos objetivos, fogem ao escopo do princípio de recorte classificatório mais conhecido, o disciplinar, ou seja, a forma e os pontos de vista a partir dos quais foram estudados. Podem não apresentar características que façam sobressair um tipo de estudo, mas estão reunidos de modo a congregar diferentes perspectivas e/ou objetivos. Szostak, Gnoli e López-Huertas (2016, p. 18) argumentam sobre a necessidade de elaboração de estruturas classificatórias mais eficazes que as existentes, com o objetivo de facilitar as ligações entre os objetos estudados em diferentes disciplinas.

Diante do cenário apresentado com suas configurações multidimensionais, a pesquisa de tese que está sendo desenvolvida apresenta a seguinte questão: dentre os princípios teóricos de classificação geral relatados na literatura, quais apresentam, em sua teoria, elementos que possam

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ser úteis para a representação do conhecimento? As motivações que levaram a colocar tal questão apoiam-se na hipótese de que, sendo os domínios, como dispostos na atualidade, em sua grande maioria, multidimensionais, a abordagem teórica que melhor se aplica ao tratamento informacional é aquela de alcance universal, que busca respostas não para domínios especializados do conhecimento, mas para os de abrangência geral. As teorias de classificação, elaboradas para estruturar classes gerais do conhecimento, possuem princípios que poderão contribuir para a formulação de uma base teórica para classificação em domínios multidimensionais.

Neste sentido, estuda-se propostas teóricas de classificacionistas consagrados que se debruçaram sobre as classificações gerais, como: James Duff Brown (1862-1914); Ernest Cushing Richardson (1860-1939); Henry Evelyn Bliss (1870-1955) e Shiyali Ramamrita Ranganathan (1892-1972), aqui chamados de autores fundacionais. Esta escolha recaiu sobre o fato de serem reconhecidos na literatura como os principais teóricos da classificação e, por além de elaborarem esquemas de Classificação Bibliográficas Gerais, terem desenvolvido e publicado os princípios teóricos que se apoiaram. Seus trabalhos situam-se no final do Século XVIII até, aproximadamente, metade do Século XIX, trabalharam com a representação geral do conhecimento, empenhados em demonstrar que suas teorias são úteis, sugestivas ou precursoras de ideias que poderiam se mostrar válidas para a representação do conhecimento multidimensional.

É uma pesquisa teórica que apresenta como objetivo geral: sistematizar princípios classificatórios para a representação do conhecimento em domínios multidimensionais, e como objetivos específicos: identificar e sistematizar princípios teóricos de classificação apresentados pelos teóricos fundacionais do domínio da Organização do Conhecimento; identificar e analisar os requisitos referenciados na literatura da Organização do Conhecimento como essenciais para a representação do conhecimento em domínios multidimensionais, no cumprimento deste objetivo, estes requisitos serão transformados em categorias de análise; identificar nas teorias de autores fundacionais elementos possíveis de serem aplicados em domínios multidimensionais; relacionar os requisitos identificados na literatura com os princípios classificatórios apresentados pelos autores fundacionais.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

De acordo com a afirmação de Gil (1999, p. 28), o método indutivo é o que melhor se aplica a esta pesquisa, pois “[...] parte-se da observação de fatos ou fenômenos cujas causas se deseja conhecer. A seguir, procura-se compará-los com a finalidade de descobrir as relações existentes entre eles.” Depois, com base nos fatos e fenômenos, busca-se alcançar a generalização.

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A pesquisa de tese busca identificar nas abordagens teóricas de autores fundacionais da classificação bibliográfica, os princípios que podem ser aplicados à representação do conhecimento multidimensional. Para atender às exigências de objetivo prático, ela se enquadra no tipo de pesquisa documental, por ter como fontes as obras originais dos autores fundacionais.

A técnica de análise e interpretação de dados a ser utilizada é a ‘Análise de Conteúdo’ de Laurence Bardin (2016), os princípios metodológicos definidos por essa técnica serão utilizados para direcionar a leitura dos autores fundacionais e para extrair as categorias de análise nos autores contemporâneos.

Na primeira fase foi realizada extensiva busca pelos termos ‘interdisciplinaridade’, ‘transdisciplinaridade’ e ‘conhecimento multidimensional’, combinadas com os termos ‘organização do conhecimento’ e ‘classificação’ e suas variações na língua inglesa, visando ao entendimento das questões envolvendo a problemática da pesquisa sobre a organização do conhecimento em espaços multidimensionais. Dessa revisão bibliográfica, resultaram a formulação da questão de pesquisa, o estabelecimento da hipótese e dos objetivos. Das discussões apresentadas pelos autores contemporâneos, serão compiladas as categorias de análise que favorecem a representação do conhecimento multidimensional e relacionadas com o aporte teórico apresentado pelos autores fundacionais. Foram identificados os comentadores dos autores fundacionais em bases de dados nacionais e estrangeiras e priorizado os trabalhos com objetivos teóricos, neste caso foi feito uma análise quantitativa buscando localizar a inserção teórica destes autores na área de Organização do Conhecimento (MORAES; CAMPOS, 2017).

RESULTADOS PARCIAIS

Nesta comunicação serão apresentados resultados parciais, destacando alguns importantes princípios teóricos dos autores fundacionais. Estes serão apresentados em ordem cronológica de publicação da primeira edição de suas obras.

O primeiro autor foi James Duff Brown. Em seu esquema de classificação o conhecimento foi agrupado em quatro grandes áreas: Matéria e Força, Vida, Inteligência e Registro. Sayers (1955, p. 178) afirma que esta ordem demonstra a aparência das coisas no tempo. Trata-se de uma ordem evolucionária, no sentido de uma progressão das coisas simples para as complexas, ainda que o autor não tenha usado esta expressão para se referir a ela. A Matéria e a Força geram a Vida que produz a Inteligência e esta, por sua vez, o Registro dos fatos (BARBOSA, 1969, p. 115). Brown (1914, p. 17) explica que a ideia fundamental do seu esquema é relacionar qualquer coisa semelhante a um tópico a um lugar constante ou inconfundível, de forma a manter, tanto quanto possível, sua proximidade com a ciência na qual se baseou. O assunto concreto reuniria todos os

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documentos relacionados em um só lugar, e eles seriam subdivididos por seus vários aspectos e pontos de vista.

O segundo autor foi Ernest Cushing Richardson, suas ideias podem ser resumidas no seguinte axioma: ‘a ordem da ciência é a ordem das coisas’ e ‘a ordem das coisas é a ordem de sua complexidade’. Ele separa a classificação das ideias da classificação das coisas concretas, ou seja, a classificação teórica da classificação prática. Para classificação das ideias ou teórica, Richardson (1912, p. 35-36) preconizou a ordem evolucionária, ou seja, do mais simples para o mais complexo; para a classificação prática, ele inverteu a ordem lógica, passando do mais complexo para o mais simples. Sendo assim, procede a algumas adaptações para a classificação de livros, justificando que não está lidando com ideias, mas com coisas concretas, e isso não só acontece apenas com livros, mas com todos os concretos complexos.

O terceiro autor foi Henry Evelyn Bliss, autor de duas importantes obras teóricas que influenciaram o desenvolvimento na área, como: a indexação coordenada, o método analítico sintético, a flexibilidade e relatividade da classificação e a localização relativa de assuntos (BROUGHTON, 2008). Bliss utiliza como base para sua classificação a ordem natural, coerente com a realidade complexa da natureza e da vida. Associada a esta realidade e as suas relações, os diferentes estudos e ciências se desenvolvem, portanto, seguem a ordem da natureza. Pauta seu esquema no consenso educacional e científico, as classes principais, organizadas de forma coordenada em séries, são sucessivamente subordinadas em gradação por especialidade (BLISS, 1929).

O último autor foi Shialy Ramamrita Ranganathan, sua contribuição centra-se no desenvolvimento da teoria dinâmica da classificação, na abordagem analítico sintética e na identificação de facetas como elementos representativos de conhecimentos diversos, que se reúnem para compor um assunto. Suas realizações foram influenciadas pelo contexto da recuperação da informação na indústria e a classificação de micro assuntos com significados cada vez mais especializados (RANGANATHAN, 1967). Demonstrou preocupações em como o conhecimento surge, neste processo reconheceu os assuntos básicos, compostos e complexos. Os diferentes modos para formação dos assuntos facilitam a identificação de seus componentes: as ideias, os conceitos e os isolados que revelam o grau de relacionamento entre eles e o domínio que se inserem, e sinalizam o estabelecimento de categorias e facetas que pode se apresentar isento da divisão disciplinar.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo dos princípios teóricos da classificação mostra-se útil para os profissionais da informação, desafiados pela tarefa de pensar instrumentos de representação conceitual em qualquer ambiente informacional. Esta pesquisa busca contribuir com a sistematização de princípios teóricos, já relatados na literatura da área, que possam suscitar ideias para construção de estruturas classificatórias além da divisão disciplinar ou das que tomam como base os pontos de vista pelos quais os assuntos são estudados. Que possam alcançar, se não o todo, ao menos diferentes aspectos da produção discursiva do domínio, que não mais se restringem a um único saber, mas a um conjunto de conhecimentos advindos das mais diferentes disciplinas.

REFERÊNCIAS

BARBOSA, A. P. Teoria e prática dos sistemas de classificação bibliográfica. Rio de Janeiro: IBBD, 1969. 441 p. (Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação: Obras didáticas, 1). BARDIN, L. Análise de conteúdo. 4. ed. Lisboa: Edições 70, 2016. 281 p.

BLISS, H. E. The organization of knowledge and the system of the sciences. New York, NY: Henry Holt and Company, 1929.

BROUGHTON, V. Henry Evelyn Bliss: the other imortal, or a prophet without honour? Journal

of Librarianship and Information Science, [S.l.], v. 40, n. 1, 2008.

BROWN, J. D. Subject Classification: with tables, indexes, etc., for the subdivision of subjects. 2nd ed. London: Grafton, 1914. 406 p.

GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999. 206 p. MORAES, R. P. T.; CAMPOS, M. L. A. A construção teórica de Brown, Richardson, Bliss e Ranganathan: uma análise quantitativa a partir de seus comentadores. In: ENCONTRO

NACIONAL DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 18., 2017, Marília. Informação, sociedade e complexidade. São Paulo: Ancib, 2017. Não paginado. Disponível em:

<http://enancib.marilia.unesp.br/index.php/xviiienancib/ENANCIB/paper/viewFile/301/1170>. Acesso em: 16 abr. 2018.

RANGANATHAN, S. R. Prolegomena to Library Classification. 3rd ed. NewYork, NY: Asia Publishing House, 1967. 640 p.

RICHARDSON, E. C. Classification Theoretical and Practical: together with an Appendix containing an Essay towards a Bibliographical History of System of Classification. NewYork, NY: Charles Scribner’s Sons, 1912. 149 p.

SAYERS, W. C. B. A manual of Classification for Librarians and Bibliographers. 3rd ed. rev. London: Grafton, 1955. 346 p.

SZOSTAK, R.; GNOLI, C.; LÓPEZ-HUERTAS, M. Interdisciplinary Knowledge Organization. [S.l.]: Springer International, 2016. 227 p.

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PARTE V – RELATOS DE PESQUISA SOBRE AQUISIÇÃO, SELEÇÃO E

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