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UNIVERSITÁRIAS: UMA EXPERIÊNCIA DE INTEROPERABILIDADE SEMÂNTICA

PARTE III – CONTROLE TERMINOLÓGICO E INTEROPERABILIDADE SEMÂNTICA

UNIVERSITÁRIAS: UMA EXPERIÊNCIA DE INTEROPERABILIDADE SEMÂNTICA

Mariângela Spotti Lopes Fujita

Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação | Universidade Estadual Paulista | fujita@marilia.unesp.br

INTRODUÇÃO

O uso de tesauro provido de recursos para a interoperabilidade semântica e tecnológica com outros vocabulários é essencial para as bibliotecas universitárias que necessitam de contínua e permanente atualização de linguagens de indexação, com a finalidade de representação e recuperação da informação científica e tecnológica, com especificidade e exaustividade para obter precisão na recuperação. Por outro lado, considera-se que o acesso do usuário à linguagem de indexação traz vantagens de conhecimento da terminologia utilizada pela biblioteca e a finalidade de controle terminológico da linguagem natural.

Cleveland e Cleveland (2013) apontam que o vocabulário tende a crescer diante dos novos documentos adicionados ao sistema. A diversidade de áreas do conhecimento e o aumento da interdisciplinaridade entre áreas científicas faz com que as bibliotecas universitárias procurem realizar o controle terminológico com uso de tesauros cada vez mais especializados e exaustivos. Para isso, precisam realizar o compartilhamento terminológico mediante interoperabilidade tanto metodológica, tecnológica quanto semântica para aumentar cada vez mais a abrangência de seu vocabulário a fim de atender à demanda crescente por novos termos.

Com o avanço tecnológico alcançado, “Os tesauros atuais são ferramentas eletrônicas interoperáveis que se relacionam com outros vocabulários e que permitem o intercâmbio de formatos e protocolos para recuperar informação de todo tipo de recursos de informação” (MOREIRO, 2018, p. 36).

A Parte 2 da Norma ISO 25964 (INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION, 2013) é dedicada à interação dos tesauros com outros sistemas de organização do conhecimento. Em síntese, apresentada por Garcia-Marco (2017, p. 306), a Norma identifica três modelos estruturais de mapeamento:

- de unidade estrutural, em que os conceitos e as estruturas relacionais de ambos os sistemas são equivalentes, por exemplo, entre dois tesauros; - de ligação direta, na qual todos os vocabulários se ligam entre si; - de hub ou eixo central, no qual os vocabulários se mapeiam em ambos os sentidos em relação a um que funciona como núcleo do sistema de vocabulários estruturados.

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Dessa forma, entende-se que as linguagens de indexação estão sempre em processo de construção. Para isso, é importante abordar a interoperabilidade entre as linguagens de indexação. A interoperabilidade semântica está relacionada à capacidade do sistema de construção de linguagens de indexação que utiliza a fusão com outros vocabulários controlados existentes.

Para conhecer a realidade em catálogos online de bibliotecas universitárias, realizou-se estudo analítico (FUJITA; CRUZ; PATRÍCIO, 2018) sobre linguagem na política de indexação de bibliotecas universitárias com objetivo de verificar o uso de linguagem de indexação pelos profissionais. Para isso, foi construído e aplicado um questionário em uma amostra de 60 bibliotecas universitárias da região sudeste do Brasil. Entre outros, o estudo analítico obteve como resultado que 20 bibliotecas constroem linguagem de indexação que necessitam de manutenção com interoperabilidade semântica e que 17 fazem a manutenção da linguagem de indexação por meio da interoperabilidade semântica. As linguagens de indexação utilizadas por seis bibliotecas para a interoperabilidade são: Vocabulário controlado da USP (VocaUSP), os Descritores em Ciências da Saúde (DeCs), o Vocabulário Controlado Básico do Senado Federal (VCB); Medical Subject Headings (MeSH), Terminologia de assuntos da Biblioteca Nacional (TBN) e Library of

Congress Subject Headings (LCSH). Os demais resultados demonstram que ainda é incipiente a

interoperabilidade em bibliotecas para a construção e manutenção de linguagens de indexação porque sete não especificaram as linguagens de indexação utilizadas e quatro não indicaram linguagens de indexação e sim padrões e códigos para catalogação descritiva.

O projeto ‘Linguagem de indexação na perspectiva da política de indexação para bibliotecas’ foi desenvolvido no âmbito da rede de bibliotecas universitárias da Unesp para fornecer às bibliotecas propostas teóricas e metodológicas para elaboração, implantação e manutenção de linguagem de indexação com os objetivos de: elaborar linguagens para bibliotecas obterem boa recuperação por assunto de seus catálogos online; fornecer subsídios teóricos e metodológicos para elaboração, implantação e manutenção de linguagens de indexação em ambientes de bibliotecas; e avaliar estratégias de intervenção metodológica mediante formação de equipes de elaboração, implantação e manutenção de linguagens de indexação em bibliotecas.

Decorrente desse estudo de linguagem de indexação para bibliotecas, este trabalho tem como objetivo apresentar a sistematização da construção e manutenção do Tesauro da Unesp no que se refere à fusão de outras linguagens de indexação para atualização, incorporação de novos termos e construção da estrutura hierárquica.

Tal investigação desenvolveu-se tendo em vista que um dos problemas discutidos pelos catalogadores da rede de bibliotecas universitárias da Unesp foi justamente a falta de controle de vocabulário no catálogo online Athena. Os catalogadores não adotavam e nem atualizavam

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nenhuma linguagem. Além disso, utilizavam mais de uma linguagem de indexação e, também, linguagem natural, quando não encontravam o descritor que representasse o conceito identificado. Por outro lado, os usuários do catálogo online utilizam somente a linguagem natural porque não há disponibilidade de vocabulário controlado a ser consultado durante a estratégia de busca por assuntos na interface de busca.

Essa falta de articulação entre os vocabulários controlados utilizados durante a indexação e o uso de linguagem natural sem controle de vocabulário pelo indexador e usuário provocavam, principalmente, a recuperação de grande quantidade de itens sem compatibilidade com o assunto desejado. É o que constatou Boccatto (2009, p. 128) em sua pesquisa qualitativa com uso de Protocolo Verbal em grupo sobre avaliação dos princípios de especificidade, exaustividade, revocação e precisão na análise de assunto por catalogadores e usuários de bibliotecas universitárias da Unesp:

Os resultados muito abrangentes apresentados pelo sistema foram um dos aspectos mais importantes apontados pelos usuários como fator da realização de buscas por assuntos não condizentes com suas necessidades investigativas, ocasionando uma alta revocação na recuperação da informação.

Em sua avaliação final, a autora ponderou que a linguagem utilizada “obteve um desempenho insatisfatório, demonstrando a incompatibilidade entre a linguagem documentária adotada pelo sistema e a de busca do usuário” (BOCCATO, 2009, p. 128).

Em pesquisa quantitativa sobre avaliação da mesma linguagem do estudo anterior em comparação com outra linguagem e a linguagem natural, os autores Boccato, Fujita e Gil Leiva (2011) constataram que o índice de precisão da linguagem na recuperação foi mais baixo.

As evidências demonstradas pelos resultados apresentados foram a motivação principal para a decisão de construção e manutenção de um tesauro para o controle do vocabulário utilizando as diferentes linguagens de indexação em um processo de interoperabilidade semântica e tecnológica para a fusão dos vocabulários.

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