• Nenhum resultado encontrado

2 POPULARIZAÇÃO DA CIÊNCIA E COMUNICAÇÃO PÚBLICA DA

3.2 A Teoria da Ação Comunicativa

3.2.1 Linguagem na busca do entendimento: atos de fala e pretensões de validade

3.2.1.1 Atos de fala e críticas à situação de fala

Para formular a TAC e incluir em suas reflexões as três pretensões de validade universais, Habermas (2012) vai buscar em Austin e sua teoria dos atos de fala os fundamentos para tal proposta. A teoria dos atos de fala cuida de descrever as regras pelas quais os falantes alcançam o feliz emprego das expressões, o que caracteriza sua competência comunicativa, que, conforme diz Habermas (1996), é tão universal quanto a competência linguística, pela qual são capazes de construir frases compreensíveis apoiado em regras gramaticais. A competência comunicativa refere-se à capacidade do falante de orientar-se para o entendimento, concebendo expressões em relação com a realidade. Enquanto a primeira é analisada pela Linguística, a segunda é passível de análise por meio da pragmática, e a teoria dos atos de fala é considerada pelo autor como excelente ponto de partida para a pragmática universal.

Como explica Goldkuhl (2000), a tese fundamental de Austin era de que o discurso é um tipo especial de ação. O discurso vai além de descrever o mundo. Ao mesmo tempo que descreve, a fala promete, ameaça, agradece, emite, etc. Do mesmo modo como a frase é a unidade elementar da linguagem, o ato de fala é a unidade elementar no discurso. Ele é composto por duas partes (dupla estrutura do discurso): uma descritiva (aspecto locutivo ou proposicional), pela qual se expõe o conteúdo objetivo sobre o qual se busca o entendimento, e uma parte que expressa o caráter de ação da fala (aspecto ilocucionário ou performativo), pautado na intersubjetividade, pelo qual falante e ouvinte estabelecem uma relação e podem chegar ao entendimento mútuo sobre algo no mundo (conteúdo proposicional).

Nessa linha, os atos de fala podem ser locutórios, ilocutórios e perlocutórios. No nível locutório, o falante expõe algo, um conteúdo proposicional qualquer, acionando a dimensão cognitiva da linguagem. São frases declarativas, que geralmente serão classificadas como verdadeiras ou falsas e sua dimensão mais forte é a do significado. Já no nível ilocutório, dá-se algum tipo de interação entre os participantes da conversa; é o ato de fala que faz utilização interativa da linguagem e seu resultado final permite classificá-lo em bem ou malsucedido. A ação comunicativa se dá principalmente com o nível ilocutório. Porém, atos locutórios e ilocutórios caminham lado a lado nas orações, não sendo possível um caso isolado de ato locucionário. Ao dizer, por exemplo, “Eu te asseguro que não há nenhum problema em utilizar esse medicamento”, o trecho “não há qualquer problema em utilizar esse medicamento” estaria no nível locutório, proposicional, da interpretação segundo a classificação como falso ou verdadeiro. Já o trecho “Eu te asseguro” está no nível ilocutório, pelo qual o falante entra em relação com o ouvinte, colocando-se como alguém capaz de dar uma certeza, de garantir, e esperar que o ouvinte dê crédito ao conteúdo seguinte.

Por fim, os atos de fala perlocucionários são aqueles utilizados para sustentar um argumento no sentido de persuadir ou convencer alguém; aqueles em que o falante pretende levar o ouvinte a uma ação determinada, ou seja, carrega a intenção de provocar no ouvinte algum efeito premeditado. Está, portanto, mais ligado à esfera estratégica manifesta. Seguindo a linha de reflexão anterior, identificaríamos nível perlocutório na frase “Se você não utilizar esse medicamento imediatamente, não vou te acudir caso tenha uma crise agora”. Aqui, há a clara intenção do falante em levar o ouvinte a um comportamento. Assim, no nível ilocutório ocorre o entendimento e aceitação dos atos de fala, e no nível perlocutório há objetivos e efeitos que vão além. Habermas (1996), no entanto, diferencia três tipos de efeitos perlocutórios possíveis: 1) aquele que resulta do significado do ato de fala e não envolve manipulação por parte do falante. Por exemplo, se um falante pede a um ouvinte que dê algum dinheiro a um

terceiro, no nível ilocucionário dá-se a aceitação da prerrogativa do falante para o pedido e a compreensão; no perlocutório, inicialmente, um efeito natural é que o ouvinte faça a doação; 2) aquele que ocorre de forma acidental. Dentro do exemplo anterior, um efeito perlocutório desse nível seria o fato de ficar feliz a esposa do recebedor da doação e 3) aquele que é um efeito planejado pelo falante, mas não revelado ao ouvinte (falta de veracidade), ligado à comunicação estratégica. Seguindo no exemplo anterior, ocorreria se o recebedor da doação utilizasse o dinheiro para praticar um crime e isso fosse previsto pelo falante e não revelado ao ouvinte. Note-se que o agente só consegue chegar ao nível 3 se conseguir sucesso nas etapas anteriores, sem que se descubram as falhas de suas pretensões de validade. Nesse último caso, trata-se de um ato de fala estratégico latente, porque simula a ação comunicativa, mas deixa o ouvinte na ignorância sobre a violação dos pressupostos do entendimento e aos planos traçados. É diferente do ato de fala manifestadamente estratégico, como uma ordem proferida em um assalto, por exemplo: as pretensões de validade são minadas, a força ilocucionária enfraquecida e a linguagem tem mera função informativa.

Habermas (1996) menciona, ainda, outra situação que é diferente do uso estratégico da linguagem: a comunicação indireta subordinada aos objetivos da ação comunicativa. Ocorre quando atos de fala são empregados para facilitar o alcance do entendimento, mesmo que não tenham seus objetivos tematizados. O exemplo citado pelo autor é de um professor pedagogicamente sensível que incute autoconfiança nos seus alunos através de elogios, de forma a que estes possam aprender a levar a sério as suas ideias. Caso ao final do processo comunicativo seja revelado que o professor proclamou atos de fala para incutir confiança e facilitar o trabalho intersubjetivo, isso não destruiria os objetivos da ação comunicativa empreendida.

Retomando, temos que as frases de conteúdo proposicional são proferidas para representar ou referir-se a uma experiência ou estado de coisas; as expressões intencionais são utilizadas para expressar a intenção do falante, e o estabelecimento de relações entre falante e ouvinte é feito por meio das expressões performativas. Essas são as três funções pragmáticas gerais de uma expressão, que são a base de todas as funções específicas que uma expressão pode assumir. Com expressões constativas, de conteúdo proposicional, concentramo-nos nos atos locutórios e na ideia de correspondência com os fatos (verdade); com as performativas, a atenção é à força ilocucionária, em que se dá centralidade temática às relações pessoais (dimensão performativa), em que se reporta à validade do pano de fundo normativo do ato de fala.

A teoria dos atos de fala foca-se no exame da força ilocucionária das expressões que visam ao estabelecimento de relações interpessoais. Dessa forma, para Austin, no âmbito do significado da frase dá-se o ato locutório, e no âmbito da força da frase, relativa à tentativa de se conseguir entendimento, dá-se o ato ilocutório.

As expressões performativas são, assim, essenciais à TAC e à formulação da ideia das pretensões de validade. Por isso Habermas (1996) dedica-se a explorar a teoria dos atos de fala. Considerando a existência dos dois níveis de comunicação - o da intersubjetividade e o dos conteúdos proposicionais - um deles pode ser tomado como o mais importante e o outro torna- se uma simples menção. Se o destaque é para o conteúdo proposicional, prioriza-se o uso cognitivo da linguagem; se para a intersubjetividade, o uso interativo é o eleito. No segundo caso, a pretensão de validade acionada é a de pano de fundo normativo, enquanto no primeiro a verdade é a pretensão de destaque. No terceiro modo de comunicação, o expressivo, o tema são as intenções do falante, e a pretensão de validade é a veracidade, também uma implicação universal do discurso.

Dessa forma, o autor argumenta que o compromisso do falante define-se por dois aspectos: a relação interpessoal que ele quer estabelecer e a pretensão de validade universal que irá destacar. Tomando os atos de fala como tendo o objetivo de se chegar a um entendimento, teremos aí duas subcategorias de objetivos: fazer com que o ouvinte entenda o significado do que é dito e reconheça a validade da expressão. Assim, o sucesso ilocutório depende fundamentalmente da concordância racionalmente motivada do ouvinte. Ou seja, o sucesso só pode ser alcançado cooperativamente. Na ação estratégica, as pretensões de validade ficam minadas. Os atos de fala têm a força ilocucionária enfraquecida. A linguagem desempenha apenas função informativa, já que a busca do entendimento não está em cena.

É necessário ponderar que a) os objetivos ilocutórios na racionalidade comunicativa estão vinculados ao telos do entendimento; b) que o falante deve ter em mente que deve ingressar no diálogo ciente de que o ouvinte deve ser considerado livre para dizer sim ou não; c) e que embora essa não seja a prioridade, os atos de fala podem originar coisas, ou seja, produzir efeitos perlocutórios. Porém, na ação comunicativa, as consequências de atos de fala devem ocorrer como resultado de efeitos ilocutórios. Os efeitos perlocutórios dão-se de forma discreta (não programada).

Cabe aqui mencionar a distinção feita na obra de Habermas (1996) entre atos de fala institucionalmente dependentes e institucionalmente independentes. Os primeiros são aqueles vinculados a normas e protocolos de determinadas instituições sociais. A força ilocucionária deles está na própria instituição que os regulamenta. Um exemplo é o tipo de sermão feito por

um padre. Já os institucionalmente independentes não atendem a tais relações, não podem ser definidos a partir de instituições específicas e sua força ilocucionária estará no reconhecimento das pretensões de validade universais.

Traçando um paralelo entre as reflexões acerca dos atos de fala e os textos de PC, podemos avaliar que os atos de fala da ciência podem ser, sob certo enfoque não desejável, entendidos como “institucionalmente dependentes” (HABERMAS, 1996, p.63), na medida em que sua força ilocucionária está, muitas vezes, apoiada em suposta autoridade da ciência – os questionamentos a ela são preteridos em função dessa autoridade. Sendo assim, se a ciência pode ser reconhecida como infalível, o ouvinte não precisa se dar ao trabalho de interrogar verdade, correção normativa ou sinceridade. Porém, se adotarmos o entendimento da PC como constituída por atos de fala institucionalmente independentes, teremos à vista o desafio de provocar envolvimento - motivar o ouvinte para reconhecimento das pretensões de validade. Assim, a ação de popularizar a ciência poderá ser referenciada como ato ilocucionário.

Segundo Massarani e Moreira (2005), os textos de divulgação científica podem ser avaliados como prioritariamente epidícticos, ou seja, empregam a ostentação com a finalidade principal de celebrar as pesquisas, ao passo que deveriam trabalhar no caminho da validação das informações. No entanto, falar, por exemplo, em popularizar a ciência por meio do jornalismo científico terá uma nova roupagem se os textos forem construídos com ênfase no ato ilocucionário que tenha o objetivo de suscitar e subsidiar o diálogo e buscar o entendimento acerca do tema divulgado. Mesmo que a interação do leitor não possa se dar no âmbito direto do texto, o que é o caso nos veículos impressos ou de rádio e televisão, é a partir do texto jornalístico que o debate pode migrar para outros fóruns de interação. No caso de um jornalismo científico praticado por meio da internet, o caráter interativo do público com o texto pode ser mais direto, tornando mais visível o nível ilocucionário de comunicação. É nessa perspectiva, de atos ilocucionários, que a comunicação ciência-sociedade poderia ser efetiva nos termos da TAC. Assim, o texto que populariza a ciência buscará garantir que seu conteúdo seja compreendido e que as pretensões de validade sobre o assunto sejam aceitas. Mas esse sucesso ilocutório depende de uma postura cooperativa entre falante e ouvinte. Não pode ser imposto ou manipulado. Uma comunicação da ciência que mascare objetivos mercadológicos, por exemplo, já não está no nível da busca do entendimento, mas no nível estratégico, em que a força ilocucionária é enfraquecida e as pretensões de validade são minadas, e expressaria o nível perlocucionário como ato de fala.

Embora considere que a ação comunicativa tenha sua força nos atos ilocucionários, Habermas (1996) reconhece que ela pode resultar em efeito perlocutório de forma espontânea

e não programada. Isso nos leva a pensar que, sob esse prisma, os atos de fala de PC podem também levar a efeitos perlocutórios, como a utilização dos consensos dos debates científicos na formulação e revisão de leis e políticas públicas. Nesse caso, entretanto, para que se caracterize como agir comunicativo, os efeitos perlocutórios devem ser uma consequência não premeditada/calculada em primeiro plano pela PC (o objetivo primeiro da PC é submeter o texto à apreciação pública).

A argumentação racional defendida pela TAC estaria, no entanto, ligada a uma situação ideal de fala, capaz de afastar deformações da comunicação ao estabelecer, mesmo que no plano do ideal, simetria comunicativa entre os sujeitos. Como lembram Bamber e Crowther (2012), para isso Habermas pressupõe que o debate atende às regras da boa argumentação, em que são reconhecidas as competências de todos os sujeitos para participar do discurso, as afirmações podem ser questionadas e nenhum orador pode ser impedido de se manifestar. Assim, ficaria garantida a participação e garantida a racionalidade. Como comentamos no capítulo 2, o “caráter inalcançável desse cenário ideal” seria um impeditivo para se pensar a PC e a CPC sob bases habermaseanas.

Esse último ponto é um dos que mobiliza mais críticas ao trabalho de Habermas em âmbito geral. Mas, diante da suposta utopia que a situação ideal de fala confere à proposta da TAC, o próprio autor faz alguns esclarecimentos:

a) Habermas (1997b, p. 410) chega a comentar que, certamente, o conceito de racionalidade comunicativa (que move a TAC) contém também uma perspectiva utópica, mas deixa claro que sua proposta não precisa ser lida como um ideal futuro, quase inalcançável, como um dever-ser ("must-be"). Assegura que não pretende oferecer ideal algum. Ele argumenta que, mesmo reprimida, a racionalidade comunicativa está encarnada nas formas de interação existentes. Rebate as críticas que realçam a opção das pessoas pela atitude orientada ao êxito: diz que há essa possibilidade de escolha individual e de opção pela racionalidade estratégica, mas adverte que as estruturas simbólicas do mundo da vida (cultura, sociedade e personalidade) só passam pelo processo de reprodução e renovação a partir da ação orientada ao entendimento. Como os indivíduos, para afirmar suas identidades, devem seguir tradições, pertencer a grupos sociais e participar de integrações socializadoras, apenas em um sentido abstrato eles podem optar entre a ação comunicativa e a estratégica. O abandono, em longo prazo, da ação comunicativa, segundo Habermas (1997b), é autodestrutivo, pois leva ao isolamento monádico.

Dessa forma, o autor (1997b) defende que as interações estratégicas na verdade são derivadas da ação orientada ao entendimento. A ação estratégica pode ser entendida como caso

limite da ação comunicativa. Ocorre quando os atores passam a adotar atitudes objetivantes frente aos outros e os comportamentos passam a ser movidos por interesses em maximizar ganhos e minimizar perdas. É uma escolha individual dos sujeitos quando ao menos uma das pretensões de validade fica suspensa ou fracassa, impedindo a ação comunicativa de prosseguir. Nesse momento, é possível que os atores passem à ação estratégica, ou simplesmente interrompam a comunicação, ou tentem retornar à argumentação com vistas ao entendimento, revendo a pretensão de validade que estava suspensa. Porém a opção pela ação estratégica não poderia ser a regra no decorrer do tempo, pois isolaria o sujeito nas dinâmicas do mundo da vida.

Ainda dentro da ação comunicativa, é possível que os atores continuem simulando-a, mas abandonem a racionalidade comunicativa. São os casos da manipulação (quando o sujeito age estrategicamente de forma proposital e não revela isso ao interlocutor) e da comunicação sistematicamente distorcida (quando o sujeito age estrategicamente sem perceber, mas engana também a si mesmo sobre estar agindo comunicativamente). Habermas (1997b) que é possível destruir os autoenganos com meios argumentativos, pela autorreflexão induzida metodologicamente, por exemplo.

Assim, o autor não ignora os desafios à ação comunicativa, materializados na presença constante de desvios em direção à ação estratégica.

b) Aos que argumentam que Habermas desconsidera as relações de poder que inviabilizariam a ação comunicativa, ele diz que a violência ocupa, na verdade, uma posição central na TAC. O que ocorre quando não se mantém a tendência primeira (a ação orientada ao entendimento) é a imposição da violência de uns sobre os outros, característica da ação estratégica. Ele reconhece que essa violência "penetra nos poros da prática comunicativa cotidiana e o mundo da vida fica entregue a subsistemas funcionais automatizados e coisificados pelas senhas de uma racionalidade unilateral" (HABERMAS, 1997b, p. 459, tradução nossa). Chega a dizer que a integração de três conceitos (violência, poder e dominação) institucionaliza as relações de violência (que se transformam em poder legitimado), mas ele demonstra reservar a discussão sobre poder para outro plano. O autor lembra que a situação ideal de fala foi utilizada por ele com certa “crueza” (1997b, p. 419); explica que foi uma tentativa de deixar claros os pressupostos pragmáticos formais da fala argumentativa. Mas garante não afirmar que o consenso só possa ocorrer nesses termos ideais. Diz que o dissenso, quando sob elaboração discursiva, não terá o acordo como horizonte se os participantes não estão abertos a reconhecer a pertinência do melhor argumento ou se alguma das partes emprega recursos estratégicos. Ele admite que o discurso, em um acordo racionalmente motivado, tem

que satisfazer a condições inverossímeis, mas reforça a necessidade de ter em pauta essas condições:

No discurso argumentativo, mostram-se estruturas de uma situação de fala que está particularmente imunizada contra a repressão e a desigualdade: ela apresenta-se como uma forma de comunicação suficientemente aproximada de condições ideais. (...) hoje ainda, parece-me acertada a intenção de reconstruir aquelas condições universais de simetria que todo falante competente, na medida em que pensa entrar de todo numa argumentação, tem que pressupor como suficientemente preenchidas (HABERMAS, 1989b, p. 111).

Entretanto, o autor (1989b, p. 114) avalia que é necessário se contentar com aproximações do atendimento às regras do discurso, sendo elas preenchidas de forma aproximativa e suficiente. Diz que as regras do discurso, elencadas por Alexy (1978 apud HABERMAS, 1989b) a partir de sua análise2, na verdade, não são constitutivas dele, como as regras do xadrez são constitutivas do jogo; são “apenas a representação de pressuposições pragmáticas, feitas tacitamente e sabidas intuitivamente, de uma prática discursiva privilegiada”. As regras necessariamente constitutivas da argumentação, e que precisam ser seguidas, são as relativas às pretensões de validade.

Refletindo sobre as diversidades que tornam distante a situação ideal da fala, o autor recorre a Alexy (1978 apud HABERMAS, 1989b) para defender a institucionalização de dispositivos que façam valer o conteúdo pragmático das pressuposições argumentativas sob condições empíricas.

Ora, visto que os Discursos estão submetidos às limitações do espaço e do tempo e têm lugar em contextos sociais; visto que os participantes de argumentações não são caracteres inteligíveis e também são movidos por outros motivos além do único aceitável, que é o da busca cooperativa da verdade; visto que os temas e as contribuições têm que ser ordenados, as relevâncias asseguradas, as competências avaliadas; é preciso dispositivos institucionais a fim de neutralizar as limitações empíricas inevitáveis e as influências externas e internas evitáveis, de tal sorte que as condições idealizadas, já sempre pressupostas pelos participantes da argumentação

2 Regras do discurso elaboradas por Alexy a partir das análises de Habermas: É lícito a todo sujeito capaz

de falar e agir participar de Discursos. É lícito a qualquer um problematizar qualquer asserção. É lícito a qualquer um introduzir qualquer asserção no Discurso. É lícito a qualquer um manifestar suas atitudes desejos e necessidades. Não é lícito impedir falante algum, por uma coerção exercida dentro ou fora do Discurso, de valer-se de seus direitos estabelecidos na primeira e na segunda regras aqui citadas. Essa citação a Alexy está em Habermas (1989b, p. 112).

possam ser preenchidas pelo menos numa aproximação suficiente. Essas necessidades triviais da institucionalização de Discursos não contradizem de modo algum o conteúdo parcialmente contrafactual das pressuposições do Discurso (HABERMAS, 1989b, p. 115).

Eis aí um indicativo de Habermas sobre como é possível lidar com as ameaças à ação comunicativa.

c) sobre a aparente difícil meta, para os sujeitos, de deixarem de lado seus interesses pessoais ao ingressar na ação comunicativa, Habermas (1997b, p. 386, tradução nossa) diz que o risco de instrumentalização não implica que os "sujeitos que atuam comunicativamente não