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A ORGANIZAÇÃO DO PODER POLÍTICO APÓS A REVISÃO CONSTITUCIONAL DE

12. Modalidade de fiscalização jurisdicional da constitucionalidade

12.7. Atos excluídos da fiscalização de constitucionalidade pelos Tribunais

Tendo em conta as exceções mencionadas, estão excluídos do controlo da constitucionalidade todos os demais atos públicos sem caráter normativo, sejam eles: atos políticos, sem caráter normativo, ainda que todos eles devam obediência à CRDSTP de 2003, por força do princípio da constitucionalidade; atos administrativos, sem caráter normativo, igualmente submetidos ao império da CRDSTP de 2003, sem possibilidade de serem sindicados; atos jurisdicionais, sem caráter normativo, ainda sujeitos à efetividade da CRDSTP de 2003, que também subordina os tribunais na sua atividade conformadora(247).

Em 19 Dezembro de 2012, o diário Téla Nón publicou que o «Tribunal Supremo

Administrativo indeferiu o requerimento da ADI que pedia a nulidade dos actos praticados

(247) Cf. GOUVEIA, Jorge Bacelar – Direito Constitucional de Língua Portuguesa: Caminhos de um

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pela Assembleia Nacional»(248). Tratou-se de um recurso interposto pelo Secretário-geral da ADI que requereu ao Supremo Tribunal Administrativo, a declaração de nulidade de todos os atos formais e materiais praticados após a renúncia do Presidente da Assembleia Nacional.

«(…) os juízes do Supremo Tribunal Administrativo concluíram que têm por conceito de «atos administrativos, as decisões dos órgãos da Administração que ao abrigo de normas de direito público, visem produzir efeitos jurídicos numa situação individual e concreta(art.114º da lei nº25/2005, Lei do procedimento administrativo santomense)», diz o acórdão, para depois detalhar que «os atos praticados pelos deputados da oposição em exercício de funções na Assembleia Nacional, não constituem atos administrativos susceptíveis de anulação por parte do Supremo Tribunal Administrativo, mas sim atos meramente políticos regulados no Direito Constitucional ou seja, a Constituição Política, lei pragmática, que só podem ser atacados no Tribunal Constitucional» (…).

A decisão do Supremo Tribunal Administrativo é mais contundente. «Fica dito, o Supremo Tribunal Administrativo não é o Tribunal competente para o conhecimento dos atos políticos dos deputados da Assembleia Nacional», frisa o acórdão»(249).

Como já foi referido, cabe ao STJ/TC julgar, a requerimento dos Deputados, nos termos da lei, os recursos relativos à perda do mandato e às eleições realizadas na Assembleia Nacional (cf. art.º 133.º, n.º 2, al. g) da CRDSTP-2003). Fora as exceções supra mencionadas, ato meramente político, que não normativo, não pode merecer a sindicância do STJ/TC.

A solução mais concordante com o princípio da constitucionalidade seria o de alargar o controlo da constitucionalidade a todos os atos, mesmo não normativos, que executem imediatamente a Lei fundamental. Todavia, com as exceções assinaladas, a CRDSTP-2003 é expressa em não admitir a fiscalização da constitucionalidade senão de normas(250).

(248) VEIGA, Abel - Tribunal Supremo Administrativo indeferiu o requerimento da ADI que pedia a nulidade dos

actos praticados pela Assembleia Nacional. In Téla Nón. [Em linha]. 19 Dezembro 2012 [Consult. 19 de Fevereiro de 2012]. Disponível em http://www.telanon.info/politica/2012/12/19/12059/tribunal-supremo- administrativo-indeferiu-o-requerimento-da-adi-que-pedia-a-nulidade-dos-actos-praticados-pela-assembleia- nacional/.

(249) VEIGA, Abel - Tribunal Supremo Administrativo indeferiu o requerimento da ADI que pedia a nulidade dos

actos praticados pela Assembleia Nacional. In Téla Nón. [Em linha]. 19 Dezembro 2012 [Consult. 19 de Fevereiro de 2012]. Disponível em http://www.telanon.info/politica/2012/12/19/12059/tribunal-supremo- administrativo-indeferiu-o-requerimento-da-adi-que-pedia-a-nulidade-dos-actos-praticados-pela-assembleia- nacional/.

(250) Cf. CANOTILHO, J.J. Gomes e MOREIRA, Vital - Fundamentos da Constituição. Coimbra: Coimbra

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Também entendemos que as decisões judiciais em si mesma não são suscetíveis de fiscalização da constitucionalidade, salvo as de caráter normativo. Pode-se recorrer de uma decisão judicial para o STJ/TC se ela aplicou uma norma arguida de inconstitucionalidade ou se deixou de aplicar uma norma por motivo de inconstitucionalidade. Mas não se pode impugnar junto do STJ/TC uma decisão judicial, por ela mesma ofender, por qualquer motivo, a Constituição. «A exclusão das decisões dos tribunais significa sempre que a

intervenção do sistema de fiscalização da constitucionalidade pretende surpreender o parâmetro normativo utilizado, e não o entendimento que certo juiz formulou acerca da sua conformidade com a CSTP, ainda que nalguns casos as decisões jurisdicionais possam ser em si mesmo sindicadas pelo sistema judicial na medida em que se apresentem como autónomos critérios materiais de decisão»(251).

Quanto ao ato administrativo não normativo, se este afronta diretamente a constituição, pode ser contenciosamente impugnado junto dos tribunais competentes, por ilegalidade. Mas a decisão que for proferida não é recorrível para o STJ/TC (a não ser que o ato administrativo revista a forma legislativa, então pode este ter de ser concebido como ato normativo, para efeito de fiscalização da constitucionalidade).

A ausência de um mecanismo de controlo da constitucionalidade, no caso de atos administrativos não normativos, assim como no caso de atos jurisdicionais não normativos, podem ser colmatados ou controlados através de válvulas existentes durante as diversas fases do procedimento e do processo. No primeiro caso, podemos observar que existe todo um contencioso administrativo, a quem está deferida a atividade de verificação da legalidade em sentido amplo, da atuação administrativa pública, incluindo a que se expressa nos atos administrativos. No segundo caso, temos que ter em conta a importância da fiscalização que os tribunais superiores podem realizar sobre os atos dos tribunais inferiores e o parâmetro dos recursos jurisdicionais em geral, os quais integram a necessidade das decisões dos tribunais não poderem violar a lei, “lei” em sentido amplo e obviamente incluindo nessa aceção a própria CRDSTP-2003(252).

(251) GOUVEIA, Jorge Bacelar – Direito Constitucional de Língua Portuguesa: Caminhos de um

Constitucionalismo Singular. V. N. de Famalicão: Almedina, 2012, p. 332.

(252) Cf. GOUVEIA, Jorge Bacelar – Direito Constitucional de Língua Portuguesa: Caminhos de um

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«Já o caso dos atos políticos não normativos, se afigura mais complexo porque não existe, a seu respeito, nenhum outro mecanismo cumulativo de aferição da sua juridicidade, como o contencioso administrativo ou os recursos jurisdicionais.

Embora verberando a lamentável existência de zonas de insindicabilidade constitucional, violadoras da efetividade da CSTP, perante o fato de tais atos não poderem ser objeto de processos de fiscalização da constitucionalidade com vista à respetiva eliminação da Ordem Jurídica, é sempre possível chegar a esse mesmo resultado pela construção de desvalores jurídicos que, com o objetivo da respetiva decretação, não careçam de uma intervenção necessária por parte dos órgãos jurisdicionais, como pode suceder com inexistência»(253).